Hora Marcada escrita por Sensei Arê


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Olá meus biscoitinhos amanteigados! Como estão todos?!

Bem, ainda nos prolongando no clima de Natal e Ano Novo, a titia Arê trouxe mais uma história - literalmente - doce e meiga pra todos! Essa em especial foi escrita para ser dada de presente a uma pessoa maravilhosa que é a Becca (~Arkos), que eu conheci através do grupo Curtidores da SasuHina BR/OFFICIAL. O porque do presente? Por que eu quis... Simples assim! ^^'
Então, sem mais delongas, já coloca a música tema pra rolar e bora ler:

https://listenonrepeat.com/?v=48VSP-atSeI#Maroon_5_-_Sugar_(lyrics)

Vejo vocês nas notas finais!
Boa leitura!!



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Hora Marcada

— Aqui está o seu pedido, senhor.

— Obrigado, gracinha...

A voz debochada do homem fez o sorriso cortês de Naruto sumir. Não era a primeira vez que recebia cantadas durante o seu atendimento e nem era a primeira vez a cantada vinha de um homem, no entanto, aquilo não deixava de ser incômodo e degradante. Por que diabos – só por que ele tinha de usar um avental cor de rosa?! – as pessoas se achavam no direito de fazer aquele tipo de coisa? Era nesses momentos em que ele jurava a si mesmo que nunca mais incomodaria outra mulher com suas cantadas descaradas... Pagou a língua!

— Tem algo mais que o senhor deseje? — O loiro se fingiu de desentendido, pegando seu bloco de notas para anotar qualquer coisa.

— Saber quando se encerra o seu expediente... — O homem sorridente respondeu, colocando o braço sobre a mesa e apoiando o queixo na mão. — Quem sabe a gente não sai daqui pra fazer algo mais interessante depois disso?

Naruto fulminou o homem com seus olhos azuis gelados. Queria mandar aquele imbecil aos quintos dos infernos, mas lembrou-se de como sua madrinha – e patroa – diminuiu seu salário da última vez que respondeu um mau cliente. “O freguês tem sempre razão, Naruto querido. Lembre-se disso se quiser manter o seu salário sem descontos!”, a voz cantada de Tsunade ainda reverberava em sua cabeça.

Maldita hora em que decidiu cursar administração na faculdade mais cara e bem-conceituada no mercado. Maldita hora em que decidiu dar ouvidos ao pai e ao padrinho sobre a oportunidade de emprego! Nunca mais ele trabalharia com alguém de sua família! “É temporário. Só pelo dinheiro.”, o loiro repetiu mentalmente ao mesmo tempo em que se obrigava a sorrir novamente. “É só pelo maldito dinheiro!”

— Eu perguntei se existe algo que o senhor queira do cardápio. — Naruto disse, na voz mais gentil que conseguiu fazer.

— Hmmm... Você, com toda certeza, seria um petisco muito saboroso, loirinho. E eu também não me incomodaria nem um pouco em ser provado!

“Agora chega!”, Naruto abriu a boca para mandar aquele indivíduo ‘ir encontrar sua progenitora de fama ruim’, porém o sininho da porta tilintou, anunciando a entrada de um novo cliente no café. O xingamento ao homem sorridente foi engolido a muito custo e substituído por um “Com licença.”, antes que o loiro se dirigisse à mesa em que a moça havia se sentado.

Era uma jovem morena, que trazia alguns flocos de neve no casaco e na touca. A pele e os olhos eram tão brancos igualmente que seria fácil confundi-la com uma fada da neve ou uma princesa de algum reino gelado. Naruto chacoalhou a cabeça para extirpar o pensamento infantil e tomou novamente o seu bloquinho de notas.

— Olá, posso anotar o seu pedido, senhorita?

Os olhos – que ele percebeu serem lilás perolados, na realidade – o encararam por algum tempo, como se ela estivesse pensando no que escolher. As bochechas dela, coradas pelo frio, tornaram-se ainda mais rubras por algum motivo enquanto os dois permaneceram em silêncio por um minuto inteiro, até que ela finalmente se pronunciou.

— P-poderia, por favor, ch-chamar o seu gerente?

Naruto arregalou seus olhos azuis para a moça. Imediatamente ele olhou para si mesmo, vendo se seu uniforme estava alinhado. Tudo certo, sem nem uma mancha. Depois ele olhou pelo reflexo do vidro espelhado, vendo se tinha algo de errado com seu rosto. Novamente, tudo em ordem. Então, finalmente voltou a olhar para a morena, como quem suplica diante de um tribunal de justiça.

— O-o gerente, se-senhorita? — Ele perguntou, apenas para se certificar, embora já sentisse a corda no pescoço. Estava frito!

— S-sim, por favor.

A voz dela era mansa, muito embora o seu pedido estivesse cravando uma faca imaginária em suas costas. Tsunade iria matá-lo por isso, e depois despedi-lo também! O pobre Uzumaki não fazia ideia do que poderia ter feito para irritar a moça, mas ele tinha de fazer o que ela queria. Resignado, ele foi até o balcão do caixa e conversou em tom baixo com sua madrinha, vendo sua face se enrugar com aquilo que poderia ser raiva ou desprezo.

A loira passou por ele, mandando-o ficar ali e não fazer nada de estúpido e plantou seu melhor sorriso para atender a moça. A velha – por Deus, que ela não lhe ouvisse! – era uma mulher muito complicada. Naruto suspirou e baixou a cabeça, pensando em como o dia estava sendo horrível. Qual não foi a surpresa quando Tsunade voltou com o rosto pensativo, estendendo a mão para ele.

— Naruto, querido, me dê o avental.

— Estou demitido? — Ele perguntou, resignado, já se levantando da cadeira e tirando o avental cor de rosa.

— Não, ainda não. — Sua madrinha o respondeu, com a voz denotando um tanto de surpresa. — Mas vai fazer um trabalho diferente hoje. Aquela moça comprou uma hora do seu tempo.

— Como é que é?!

Naruto ficou boquiaberto, olhando de Tsunade para a morena sentada no salão. Como assim ela havia ‘comprado’ uma hora com ele? Como assim a sua própria madrinha o vendeu como um simples objeto?! E por que diabos uma garota o queria por uma hora? Diante de tantas perguntas, o loiro não sabia se sentia ofendido, usado ou importante.

— Aquela moça é Hinata Hyuuga, filha do dono das indústrias petrolíferas Hyuuga. — A loira mais velha explicou, fechando a boca do afilhado com um dedo e depois alinhando o uniforme dele, como uma mãe — Ele me pediu para conversar com você, dizendo que pagaria por uma hora do seu tempo e ainda lhe daria uma gorjeta. Então, vá até lá e a trate como a boa moça que é. Seja educado e gentil, querido!

— Você pensa em me colocar no cardápio também, madrinha? — Naruto a fuzilou com o olhar, soando mais sarcástico do que nunca. — Acompanhado de creme ou chantilly?

— Não exagere, Naruto! — Tsunade abriu um meio sorriso, dando-lhe leves tapinhas no rosto. — Agora, ande logo com isso! Já já, eu levo algo pra vocês beberem!

Naruto fechou os olhos, apertou a base do nariz e suspirou pesarosamente com o sentimento da derrota. Realmente, ninguém se importava com a opinião dele ou com o que quer que ele quisesse. Bem, o jeito era tentar pensar pelo lado positivo: ao menos ele ficaria uma hora sentado, descansando as pernas ao lado de uma garota muito bonita.

Abrindo seus olhos azuis novamente, ele saiu detrás do balcão e foi até a mesa da morena. Á medida em que ele se aproximava, ela corava cada vez mais e desviava o olhar de vez em quando. “Oras, se for pra ficar tão tímida assim, por que pediu companhia?!”, Naruto pensou, erguendo uma sobrancelha. Ele soltou um leve pigarro quando chegou junto à mesa e abriu um pequeno sorriso.

— Olá de novo! — Ele ergueu uma mão em cumprimento e depois apontou para a cadeira a frente. — Posso me sentar aqui?

— Oh, s-sim... P-por favor!

Ela assentiu com a cabeça e abriu um doce sorriso para ele, fazendo o coração do jovem loiro bater um pouco mais forte. Era realmente adorável. Naruto se sentou à frente dela e se ajeitou, colocando os braços em cima da mesa. Os dois ficaram alguns instantes em silêncio, como se qualquer coisa que fosse dita pudesse simplesmente ser errado. “O que diabos eu devo dizer pra alguém que comprou uma hora comigo?!”, ele se martirizou, sentindo as bochechas arderem como se fosse um adolescente também. Talvez, começar do começo fosse a única opção possível.

— Bem, eu...

— E-eu gostaria de pedi-ir desculpas. — A morena o interrompeu, com os olhos fechados de tanta apreensão. — E-eu sei que n-não é comum t-ter... Ter alguém que ‘c-compre’ uma conversa, m-mas... E-eu não sabia c-como pedir. S-sinto muito se isso o ofend-d-deu...

— Prontinho! Aqui está! — Tsunade apareceu sorridente, carregando uma bandeja com duas canecas fumegantes de seu famoso chocolate quente com chantilly e marshmellow. — Trouxe alguns biscoitos amanteigados também, espero que gostem! Caso queiram mais alguma coisa, é só chamar!

Naruto estreitou os olhos com a ganância de sua madrinha, mas decidiu ficar de bico fechado. Esperou que ela estivesse longe novamente para pegar um dos biscoitos e começar a mordiscá-lo pelas beiradas. Realmente, eram deliciosos!

— Sinceramente, eu não sei muito bem como me sentir. — Ele confessou, sem olhar para ela diretamente. — Só hoje, eu já recebi: um esporro da minha madrinha desde que cheguei, além de uma um convite bem inapropriado do cara duas mesas atrás da gente e de ser ‘comprado’ por você. Em nenhuma das três vezes eu pude falar qualquer coisa. — E ele volveu o olhar para ela com um meio sorriso. — Então, eu não sei como me sentir. E você não tem que se desculpar por nada. Devo confessar que, apesar de tudo, o dia está sendo bem inusitado.

— Inusitado... — Ela murmurou, deixando um leve sorriso despontar nos lábios rosados — Essa é uma palavra neutra.

— Exato! E eu sou um cara neutro! — Naruto abriu um grande sorriso, estendendo a mão para ela por cima da mesa — Aliás, acho que começamos isso meio errado. Prazer, o meu nome é Naruto Uzumaki!

— Mu-muito prazer em conhece-lo, Naruto-kun. — Ela ergueu a mão delicada e apertou a mão calejada do loiro — Sou Hinata Hyuuga.

Os dois sorriram enquanto estavam de mãos dadas. Passadas as formalidades, os dois começaram a conversar enquanto bebericavam o chocolate quente e comiam dos biscoitos amanteigados.

Foi uma boa surpresa saber que ambos tinham várias coisas em comum, mesmo que fossem de ‘mundos’ completamente diferentes. Eles gostavam de coisas doces e tinham um fraco por chocolates, também torciam para o mesmo time de basquete e achavam que tanto Disturbed quanto Maroon 5 eram bandas maravilhosas. A única diferença mesmo ficou por conta das Casas de Hogwarts: ele da Grifinória e ela da Lufa-Lufa. Pelo menos eles liam!

Aos poucos, eles descobriam cada vez mais um do outro, mostrando-se curiosos a cada nova informação que recebiam. Ela se surpreendeu ao saber que ele estava no segundo ano da faculdade de administração e que sonhava em ter o próprio negócio. Ele ficou derretido ao saber que ela havia se formado em pedagogia no meio do ano e que agora pensava em fazer outros cursos de extensão para trabalhar com crianças especiais.

A conversa fluiu de uma maneira surpreendente, mesmo que Hinata fosse mais tímida e Naruto fosse um tagarela. E eles só perceberam que ‘a hora’ deles havia acabado quando Tsunade se aproximou sorrateiramente, com um sorriso falso no rosto:

— Gostariam de mais uma bebida? — Ela perguntou, olhando unicamente para Hinata. — Mais biscoitinhos para estender a conversa?

Naruto fechou a cara na hora. Era óbvio que a madrinha o estava utilizando como um produto para arrancar dinheiro da pobre morena. Mesmo que de pobre ela não tivesse nada, aquilo era terrivelmente injusto.

— Infelizmente, eu tenho de ir embora agora. — A morena sorridente respondeu, levantando-se delicadamente da mesa — Mas eu gostaria de fazer isso novamente, amanhã.

— Hinata, eu...

Antes que Naruto pudesse falar qualquer coisa, sentiu o salto de sua madrinha se afundando bem no meio do seu sapato. Aquilo era o sinal máximo para que ele se mantivesse de bico fechado. “Velha muquirana”, o loiro reprimiu as lágrimas de dor e tentou balbuciar qualquer desculpa.

— Vai ser uma alegria e tanto ter você conosco todos os dias que quiser, querida! — Tsunade o interrompeu mais uma vez, exibindo aquele sorriso grande e pretencioso.

— Então, tudo bem. — Hinata disse, com aquele sorriso de derreter qualquer coração. — Amanhã, no mesmo horário, certo?

— Claro, por mim, tudo bem.

Como o bom cavalheiro que era, o loiro a ajudou a colocar o casaco novamente e lhe entregou a bolsa. Esquecendo-se momentaneamente da madrinha e de todos os outros, Naruto se permitiu agir como um rapaz comum ao ajeitar a toca na cabeça de Hinata, certificando-se que ela estava bem agasalhada. A morena corou novamente, mas não evitou seu toque.

— B-bem, então... Até amanhã, Naruto-kun!

— Até amanhã, Hina-chan! — Ele a respondeu, sorrindo para ela e abrindo-lhe a porta.

Hinata saiu do café com aquele sorriso que o fez sentir-se único. Podia ser impressão sua ou um devaneio de sua mente, mas ele sentia que aquele sorriso era unicamente endereçado a ele, e a ninguém mais.

~*~*~*~

Os dias foram se passando como num piscar de olhos. Uma semana, duas, um mês. Três meses se passaram, e com a nova rotina, Naruto não poderia se sentir mais feliz. Sim, ele se sentia feliz por poder conversar todos os dias com Hinata. Logo ele sabia tudo sobre os seus desejos e anseios, todos os seus planos e cada mínima peculiaridade. Do mesmo modo que ele também tinha dito coisas para ela que nunca tinha imaginado em dizer pra nenhuma outra pessoa.

O inverno tinha dado lugar à primavera e, assim como as flores, os sentimentos novos foram se desabrochando no peito daqueles dois jovens. Com o passar do tempo, Naruto já não se sentia mais como um objeto, mesmo que aquelas “horas marcadas” ainda fossem pagas pela morena. Ele se lembrava exatamente das palavras que ela usou para descrever a situação, quando ele lhe questionou.

Certa vez, Tsunade havia acabado de deixar mais uma rodada de macarons coloridos na mesa para eles, ressaltando que se precisassem de mais alguma coisa, era só chamar. Faziam algumas semanas em que ele e Hinata estavam naquela nova rotina de ficarem sentados na mesa do café, conversando sobre tudo e qualquer coisa. A bela Hyuuga continuava pagando por essa conversa, e aquilo o deixava de certo modo ‘indignado’.

— Hein, Hina-chan, por que você continua pagando pra vir conversar comigo? — Naruto perguntou, franzindo o cenho. Ele percebeu como a morena ficou ainda mais tímida, interpretando mal as suas palavras, então colocou a mão por cima da dela, sobre a mesa — Hey, não me entenda mal. Eu gosto de conversar com você, mas não acho justo que fique gastando seu dinheiro com uma coisa que pode ser de graça.

— Psicólogos não são de graça. Psiquiatras não são de graça. — Hinata o respondeu, virando sua mão para cima, para apertar a dele com carinho. — Entre pagar alguém para me entupir de remédios por me ouvir falar por horas a fio, eu prefiro gastar meu dinheiro aqui, onde posso comer e beber coisas gostosas e ouvir alguém conversar comigo.

— E por que você precisaria de um psicólogo ou de um psiquiatra? — O loiro perguntou, erguendo uma das sobrancelhas. — Você é uma garota linda, com uma família rica e que pode ter o que quiser. Você não tem que se preocupar com nenhum problema.

— Dinheiro não é tudo no mundo, Naruto-kun. — Ela o respondeu, mirando-o intensamente. — Dinheiro só ajuda a conseguir o que se quer. Mas a verdadeira felicidade não se compra. Ás vezes, um copo de chocolate quente e uma boa conversa vale mais do que toda a minha soma de dinheiro no banco. — E então, ela lhe sorriu. O sorriso mais agradecido que ela poderia dar. — Eu agradeço muito por poder comprar uma hora do seu dia para mim. Pode parecer bobo ou até mesmo superficial, mas é algo realmente especial.

Foi naquele momento que Naruto percebeu que Hinata era uma pessoa realmente solitária. Sua família tinha rios de ouro negro – o petróleo nunca deixaria de valer menos do que isso –, no entanto, ela em si, não tinha nada que pudesse chamar de seu. Tudo para os Hyuuga não passava de uma transação comercial. Isso, diga-se de passagem, também valia para fusões ou arranjos entre famílias de poder. Sua nova amiga também não conseguia escapar daquele destino.

 Naquele instante que o jovem Uzumaki tomou sua decisão: independentemente do motivo pelo qual aquela jovem herdeira estivesse buscando sua companhia, ele faria o seu melhor apenas para vê-la sorrir mais e mais. Portanto, ele fazia questão de entretê-la a cada segundo que passassem juntos. Logo não era mais Tsunade que vinha trazer os bebes e comes para a mesa deles, o loiro mesmo já se garantia de deixar tudo preparado para quando Hinata chegasse.

Tudo por aquele sorriso caloroso que ela lhe direcionava. Aquilo era somente dele e de mais ninguém. E era só lembrar disso que seu coração já disparava, levando-o a imaginar coisas das quais ele não tinha o mínimo controle.

— Você está mais quieto do que de costume, Naruto-kun... — Hinata comentou, olhando-o com carinho. — Está pensativo hoje.

— Talvez... — Naruto suspirou e se debruçou sobre a mesa. — Hein, Hina-chan, como alguém como você está sozinha sempre?

— O-o-o... O que?! — A morena balbuciou, corando instantaneamente e desviando o olhar perolado. — E-eu... Bem... Na verdade, eu... Eu não posso... Eu não poderia...

— O que? — Ele tornou a perguntar, olhando-a como se fosse louca. — Não poderia ter um namorado? Por que não?

— Meu pai... Ele... — Ela sussurrou, como se fosse difícil demais pronunciar aquelas palavras. — Ele está decidindo com qual herdeiro eu devo me casar.

Naruto arregalou seus olhos, chocado demais para proferir qualquer coisa. Em pleno século 21, ainda existiam pessoas que faziam com que seus filhos servissem de moeda de troca para seus planos empresariais. Hinata era uma herdeira rica, logicamente, ela deveria se casar com alguém quase ou tão mais rico do que ela, para perpetuar esse valor monetário depois que seu pai morresse. Mas, por mais que pudesse parecer vantajoso, era a coisa mais estúpida que alguém poderia propor.

— Você não está falando sério, está? — Naruto murmurou depois de vários segundos em silêncio. Vendo os lábios cerrados e a expressão contrita da nova amiga, ele entendeu que realmente não era uma mentira. — Céus, isso é realmente bizarro! Fala sério, em que século o seu pai vive?! Casar você com um cara que sequer conhece, só por causa do dinheiro... Isso é insano! Quer dizer, você deseja fazer outras coisas além de se casar, não é, Hina-chan?!

— Sim, eu realmente desejo. — Hinata sussurrou, com os olhos enchendo-se de lágrimas. — Eu quero fazer alguma diferença. Quero poder escolher. Mas...

— Então, você tem que dizer a ele! — O Uzumaki sentenciou, colocando ambas as mãos no rosto bonito daquela morena que fazia seu coração bater mais forte. — Você não pode se casar com alguém que não a merece... Alguém que não sabe como você é obstinada, gentil e surpreendente...

— Naruto-kun...

— Então é aqui onde você vem se esconder da sua responsabilidade, não é, Hinata.

Ao ouvirem a voz torpe e austera, os jovens se viraram para a porta. Tão entretido como estava, Naruto sequer deu atenção ao sininho da porta, pois quando estava com Hinata, ele fazia questão de esquecer tudo ao seu redor e focar-se apenas nela. De repente, todos os clientes no café ficaram em silêncio e voltaram seu olhar para a porta.

Quando o olhar de Naruto se encontrou com o do homem que falara, não teve uma dúvida sequer. O terno de linho feito sob medida, os longos cabelos castanhos domados com um elástico na ponta, os olhos lilás perolados – a herança sanguínea dos Hyuuga. Aquele homem era Hiashi, o pai da sua bela fada das neves.

— Bem que eu suspeitei que você estivesse se escondendo em algum lugar, ao invés de ir aos encontros marcados com os herdeiros das grandes outras indústrias parceiras. — Hiashi continuou se aproximando da mesa deles, com a voz serena e o olhar gélido. — Mas eu não esperava que precisasse se esconder um lugar de baixa categoria, muito menos ao lado de um rapaz que não tem nem onde cair morto. Você me decepciona, Hinata.

— Papai! — Hinata tentou adverti-lo, mesmo sem tanta coragem.

— Como é que é?!

Naruto se ergueu num salto, com os olhos azuis cheios de ódio. Aquele homem podia ser podre de rico, mas não tinha direito algum de denegrir sua imagem e nem forçar sua filha a fazer algo que não queria. Porém, antes que pudesse dizer qualquer coisa, a cabeleira loira de sua madrinha surgiu em seu campo de visão. Tsunade estava com aquele olhar de desprezo mortal, o que era um péssimo sinal para qualquer ser vivo no universo.

— Agora, escute bem, meu caro senhor: independentemente de quem seja e quanto dinheiro possui, o senhor está no meu café a partir do momento em que entrou pela minha porta. — A voz dela era límpida e controlada, mesmo que a aura que emanasse de seu corpo berrasse como uma fúria nórdica. — Aqui dentro, o senhor não tem direito nenhum de ofender ou maltratar qualquer pessoa, ainda mais se essa pessoa for o meu querido afilhado. Nós não somos ricos, mas temos dignidade e respeito, isso é algo que dinheiro nenhum no mundo pode comprar. — E então, ela cruzou os braços embaixo dos seios volumosos. Naruto reconheceu aquele sinal que dizia: “estou me controlando para não voar no seu pescoço”. — Dito isso, peço que retire o que disse e se desculpe, ou que saia daqui imediatamente!

— Prefiro ficar com a segunda opção, senhora. — Hiashi murmurou, olhando-a de cima a baixo como se a avaliasse. — Vamos embora, Hinata. Nós já perdemos muito tempo aqui e temos que nos aprontar para um jantar com os Ootsutsuki essa noite. Toneri vai pedir a sua mão em casamento e eu pretendo concedê-la.

Toneri Ootsutsuki. Então, seria ele o homem a quem ela seria entregue como moeda de troca. Hinata se lembrava vagamente do garoto albino que estudou consigo durante o colégio primário. Os olhos eram azuis, mas não eram cheios de vida como os de Naruto. “Eu não desejo casar com ele. Não quero ter nada a ver com ele!”, era a voz que retumbava em sua cabeça e seu coração.

No entanto, como ela poderia lutar contra as vontades de seu pai? Como poderia dizer a ele que sabia muito bem o que queria para a vida e mostrar-lhe que também poderia ser bem-sucedida por si só? Não... Era uma causa perdida... A morena baixou a cabeça e pegou sua bolsa, resignada com o que o destino lhe guardava. Seu pai deu as costas para os outros e voltou para a porta como se nada de mais tivesse ocorrido, mas ela sabia que iria levar a maior das broncas durante todo o trajeto de volta.

Assim que levantou da cadeira, Hinata sentiu seu pulso ser agarrado por uma mão forte e calorosa. Naruto a encarava com tanta intensidade que era possível se perder naquelas esferas azuis. “Diga a ele o que pensa!”, era o que ele lhe dizia com o olhar. “Diga como se sente e como vai resolver as coisas.”. Mesmo tremendo de medo, a jovem Hyuuga queria algo a mais para si. Já bastava de tanta opressão numa vida sem sentido, movida a ouro negro. “Eu estarei com você!”, era o último alento que ela precisava.

— Papai... — Ela o chamou, sem sair do lugar. — E-eu não qu-quero me casar c-com Toneri Ootsutuski.

— Como disse? — Hiashi se voltou novamente, com um olhar que denotava descrença.

— Eu não quero me casar. Eu quero continuar a estudar para poder trabalhar melhor com as crianças. — Hinata ganhou mais força, com as mãos dadas com Naruto. Ela se virou e encarou o pai com o olhar destemido. — Eu quero seguir adiante com os meus planos sobre o instituto e com uma vida livre. Quero fazer jus ao seu nome, mas não sob os seus termos.

Hiashi parecia completamente incrédulo, ao mesmo passo que Naruto e até mesmo Tsunade exibiam sorrisos orgulhosos para a jovem Hyuuga. Eles sabiam que aquilo deveria ser um passo enorme para ela, tendo em vista que sempre foi a garota calada e obediente que seguia exatamente todos os passos do pai.

— Você está dizendo sandices e agindo como uma tola! — Hiashi disse entredentes. Sua postura era calma, mas seus olhos emanavam fúria. — Se vai se comportar como uma louca, posso garantir que viva entre eles.

— Encoste em um só fio de cabelo dela e vai se arrepender!

Hinata se sentiu pequena e protegida ao ser abraçada por Naruto. O loiro a abraçou de lado e virou o corpo, como se quisesse ser um escudo humano entre ela e o pai. Hiashi estreitou os olhos ainda mais, encarando aquele pequeno garçom com um olhar tão mortal que jamais pôde esperar. Por fim, ele olhou para a dona do café, que apoiou o afilhado colocando a mão sobre o ombro dele com a expressão tão determinada quanto a do mais novo. Foi então que o Hyuuga mais velho exibiu um sorriso dissimulado para sua filha mais velha.

— Vejo que está bem amparada por esses dois suburbanos, Hinata. Sendo assim, creio que saiba como se virar com eles. — A voz de Hiashi voltou a ser calma e plácida. — Você tem até o final do dia se hoje para tirar suas coisas de casa e ir viver onde bem entender. Você não terá acesso aos valores da pensão da sua mãe e será riscada da carta minha herança. Terá de se virar com o que tem até o dado momento. — E então, ele se voltou para a porta novamente, como se nada tivesse realmente acontecido. — Vamos ver até onde esse “sonho de amor e esperança” vai durar. Talvez eu seja condolente no futuro e permita que você volte para casa quando perceber os seus erros.

E foi com essas palavras que Hiashi Hyuuga deixou o café. O silêncio no salão era quase sepulcral, tamanho era o impacto que aquela aparição causara. Naruto começou a sentir Hinata tremendo em seu abraço e olhou-a profundamente, tentando entender o que se passava em sua cabeça e seu coração. E, para sua eterna surpresa, ela lhe ofertou um sorriso trêmulo.

— E-eu... Eu estou... Livre!

O sorriso logo se tornou uma risada nervosa, seguida de uma enxurrada de palavras desconexas ditas em uma velocidade quase inumana. Hinata estava tão nervosa e ansiosa que começou a especular todas as possibilidades de sua vida de uma vez só e, por mais que fosse louco ou engraçado, Naruto sabia que ela estava feliz pela primeira vez em muito tempo. Por isso, ele não hesitou em tomar-lhe o rosto com uma das mãos e baixar seu rosto, tomando os lábios dela pela primeira vez.

Hinata arregalou os olhos lilás perolados com a surpresa, mas logo fechou-os e se deixou envolver pelo sentimento que já permeava cada célula de seu ser. Para Tsunade não foi surpresa alguma ver aqueles dois se apaixonarem e foi por isso que ela aceitou cada valor que a Hyuuga pagava para ter sua ‘hora marcada’ com Naruto. Sendo quem era e tendo vivido o que viveu, a loira mais velha sabia que eles acabariam precisando do dinheiro hora ou outra. E ela não poderia ter ficado mais feliz por ter acertado em sua previsão.

Quando os dois se separaram por falta de ar, Naruto voltou a colocar suas mãos no rosto da morena, encarando-a profundamente. Foi quando ele soube que não se importaria em fazer mais horas extras no café e trabalhar cada vez mais duro na faculdade. Usar um avental rosa era o de menos, as cantadas poderiam vir de quem quer que fosse, porque agora ele tinha alguém para cuidar. Seu coração tinha sido completamente arrebatado por aquela pequena fada de olhar perolado.

— Eu vou cuidar de você. — Ele murmurou, olhando bem fundo nos olhos dela — Trabalharei dia e noite pelos nossos sonhos e farei com que você seja feliz. Poderemos enfrentar algumas dificuldades, mas se você acreditar em mim, eu prometo que seremos felizes!

— Eu acredito em você, Naruto-kun! — A voz de Hinata soou com uma determinação e um carinho que o fez se motivar ainda mais.

— Bem, creio que terei de dispensá-lo hoje para ajudar Hinata com a mudança, Naruto querido. — Tsunade disse, estendendo a mão para pegar o avental do afilhado. — Mas não pense que só por que está namorando que terá direito a mais folgas ou saídas antecipadas. Isto é apenas uma concessão especial. — E então, ela abriu um sorriso caloroso e gentil para a morena — Você será muito bem-vinda em nossa casa, Hina-chan. Avisarei os pais de Naruto e meu marido também. E, se quiser, posso lhe dar um emprego aqui, até que você arranje algo melhor!

Hinata sentia-se tão feliz que parecia que iria explodir de tanta felicidade. Naruto não estava diferente, exibindo um sorriso de orelha a orelha. Sem querer perder mais tempo, ele tirou o avental rosa e entregou à sua madrinha, dando-lhe um beijo no rosto com agradecimento e tomando sua nova namorada pela mão para fora do café. Os poucos clientes que estavam ali bateram palmas para os dois enquanto saíam, fazendo-os sorrir.

— Hein, Naruto-kun... — Hinata o chamou, recebendo um pequeno “hmm” como resposta para continuar. — Agora não terei mais como lhe pagar pelas ‘horas marcadas’...

— Posso pensar em outra maneira de você me recompensar. — O loiro disse, exibindo um pequeno sorriso malicioso.

— Ah, é? — A morena ergueu uma sobrancelha — Como?

E com toda certeza de ser o homem mais vendido – e feliz – do mundo, Naruto abraçou Hinata pela cintura, enquanto cobrava seu pagamento em beijos doces. E aquilo já lhe valia mais que qualquer coisa.


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Notas finais do capítulo

E então, meus docinhos, que tal acharam?! Antes de mais nada, também quero deixar registrado o meu agradecimento eterno à Lucy Moon e à d4anovo, minhas amigas amadas que ajudaram e apoiaram essa fic mais que tudo!
Becca, meu chuchu, espero do fundo do coração que tenha gostado de seu presente e espero que ele seja o doce que faltava pra te alegrar ainda mais! Você é uma pessoa especial e realmente merece!
Enfim, quem quiser mandar elogios, críticas, sugestões, flores, bolo, carta, sinal de fumaça, ou qualquer outra coisa, fique bem à vontade!

Beijos mil, até a próxima fic!