Sam Winchester encarou a mulher a sua frente, ela os conhecia. Conhecia John Winchester. Isso seria um bom sinal ou encrenca? Sabia que seu pai era um homem difícil, ou se amava John ou se odiava. Saberia disso a qualquer momento.

— Então a senhora... Sam começava a titubear, ela seria uma aliada ou uma inimiga? E se fosse uma armadilha?

A mulher percebeu o que passava na cabeça do moreno e foi logo explicando.

— Oh, não. Não se preocupe. Seu pai costumava passar por aqui, eu fornecia bons ungüentos a ele. Meu marido era caçador e logo, éramos família. Como está John? — Vogel sentiu que a postura do rapaz havia alterado ao fazer a pergunta.

— Papai morreu há alguns meses. E eu e meu irmão ficamos para combater o mal que está tentando se apoderar do mundo. É acho que é isso. Permanecemos lutando, sabe — o moreno bebeu o ultimo gole de chá.

— Sinto muito, seu pai era um bom homem. Mundo pequeno, sempre quis conhecer vocês, ele falava muito de seus filhos queridos. Sinto muito de coração — Vogel pegou a xícara vazia do moreno e levou-a até a pia.

Sam apertou o lábio inferior. Lembrar de seu pai era dolorido. Lembranças boas e ruins estavam ao redor do nome de John Winchester. Um sussurro trouxe o moreno à realidade.

— Seu irmão parece estar delirando. Vá, vou fazer um remédio que aliviará a dor e conterá a febre dele — Kira disse antes de voltar para a prateleira onde continha diversas ervas medicinais.

O moreno levantou-se de imediato. E lá estava Dean Winchester, seu amado irmão sendo atormentado por seus demônios internos.

— Eu estou aqui, mano. Agüenta aí, ok? — Sam dizia segurando a mão do mais velho que pareceu compreender e acalmar-se.

Vogel analisava o cuidado que o moreno tinha com o loiro. Sentiu afeição pelos garotos. Eles lembravam seus próprios filhos, afinal se cria filhos para o mundo. Mas esses dois rapazes haviam sido criado para salvar o mundo das garras das trevas. Pelo menos era isso que sua amiga Missouri Moseley havia dito a muitos anos atrás.

Sam Winchester ajudou Vogel com os cuidados ao irmão e em seguida arrumou sua “cama” próximo ao irmão. Agradeceu aos cuidados de Kira e ficou ali pensativo. Dean queria férias dessa vida de caçador e Sam brigara com ele por isso. Lilith ainda estava a romper os selos e Sam sentia falta do sangue de Ruby. Aquela sede as vezes o enlouquecia e com esse pensamento assustou-se, Dean estaria com a razão? Castiel realmente pediu para que Dean parasse ele ou os anjos o fariam? E porque diabos raptaram Dean? Tantas perguntas sem respostas concretas. Esperaria o mais velho recuperar-se e então saberia o que fazer. E desta vez não iria falhar, era óbvio que Lilith estava por trás disso tudo. Algo lhe dizia isso. E com esses pensamentos acabara adormecendo.

Não muito longe Ruby estava em um quarto, esperando o próximo passo. Por muito pouco não dera um fim naquele loiro intrometido. Sam estava quase lá, e Dean estava atrapalhando os planos dos demônios. Mas tinha que tomar cuidado, Sam poderia desconfiar que havia sido ela a planejar o seqüestro do mais velho. Queria o loiro morto, mas nem isso seus capangas foram capazes de fazer. A mulher andava de um lado para o outro enraivecida. Agora teria que recuar e esperar a sorte sorrir para ela. Qualquer movimento em falso poria os planos de Lilith por água abaixo. Não, Ruby balançou a cabeça negativamente, não iria deixar os Winchester vencerem. Pelo contrário, Sam a ajudaria. De uma forma ou de outra, ele faria o que estava destinado a fazer. Era questão de tempo até Lilith romper o número de selos e trazer Lúcifer de volta a terra e caminhar entre os mortais.

— Eu serei reconhecida pelos meus feitos, enganei a todos com êxito. Não falharei com meu senhor! — a morena sorriu deixando os olhos escurecerem por completo.

Três dias se passaram. Dias que pareciam semanas para Sam Winchester. Dean recobrou a consciência no segundo dia, estava confuso e atormentado por pesadelos que se misturavam a realidade. Vogel explicou que era normal, já que alguns remédios dela deixavam a pessoa em um estado mais sensível a percepção e poderia confundir realidade com perturbações internas.

— Como está se sentindo Dean? — Sam perguntava vendo-o lutar contra o sono que ainda o dominava.

— Ainda sinto o gosto da fumaça — disse Dean fazendo uma careta.

— Cara, eu quase enlouqueci quando descobri que você havia sumido. Não faz mais isso, ok? — Sam dizia com muita emoção na voz.

— Afinal, como me encontrou? Como soube que eu simplesmente não peguei o carro e me mandei? — Dean perguntou apoiando-se nos travesseiros.

— Confesso que pensei isso. Tanto que só estranhei ao amanhecer. Sorte que havia câmeras e pude ver o que havia acontecido. Então rastreei o telefone do papai, já que o seu estava no quarto. E você, como fez o que fez? Cara aquilo parecia o inferno! — Sam disse passando os dedos pela cabeleira.

— Não lembro de muita coisa. Ainda está uma zona aqui dentro... disse Dean apontando para sua cabeça. Tinha medo de falar e misturar seus medos com a realidade. Era melhor esperar a mente voltar ao normal.

— Isso é normal meu jovem. Você tomou fortes remédios. Em breve tudo voltará, mas agora que tal os dois me acompanharem no almoço? — Vogel sorriu ao ver ambos concordarem.

— Somos muito gratos senhora Vogel. Sam me contou que se não fosse pelos seus cuidados, eu não estaria aqui — Dean estendeu a mão à velha senhora que retribuiu com um abraço.

— Acha que vou deixar passar a oportunidade de tirar uma casquinha de você? Venha cá garoto! — a mulher abraçou o jovem carinhosamente.

Sam sorriu ao ver o irmão sem jeito pelo elogio. Mas era hora de voltar ao trabalho, após o almoço se despediram da mulher e seguiram de volta para o hotel onde estavam hospedados. Afinal Sam tinha que devolver o carro para a dona do hotel e pagar-lhe pelos prejuízos e pelas diárias.  E mostrar que havia conseguido salvar seu irmão.