Dean Winchester saiu da banheira, enrolou-se na toalha e avaliou sua face refletida no espelho. Marcas de sofrimento e dor estavam presentes em cada linha de expressão de seu rosto. Passou-se duas semanas após a revelação bombástica de seu irmão estar bebendo sangue de demônio para exorcizar com a mente pessoas possuídas. E além de ter descoberto de ser o responsável por ter dado o inicio ao apocalipse, quando aceitou a oferta do maldito demônio de ser um torturador de almas no inferno. Lamentava profundamente não ter tido forças para resistir à dor.

Depois que saíra do hospital ficou dias sem falar direito com Sam. Não conseguia entender como seu irmão continuava a se encontrar com a Ruby, achando que ele não sabia. As mentiras acabavam com Dean, agora mesmo o irmão disse que iria sair para comprar algo para beber. Dean o seguiu e viu o idiota do irmão com a bruxa demônio Ruby. O loiro apenas saiu e voltou para o hotel, mergulhou na banheira e a voz de Castiel ainda o lembrava:

“Você tem que deter seu irmão...ou nós o faremos”

Dean passou a mão pelo cabelo, só podia ser uma maldição mesmo. Primeiro seu pai despejando sobre ele toda aquela merda e agora o anjo.

“Devo evitar os hospitais” resmungou o loiro brincando com a própria desgraça, já que em ambos os casos ele estava no hospital quando John pediu para salvar Sam ou ele teria que matá-lo e agora Castiel.

Dean pensava muito em Melanie, como ela fazia falta. Recebeu um sms da jovem tranquilizando-o e que ela e Thomas continuavam fechando portais espectrais. Talvez fosse melhor assim, com ele por perto Melanie estaria sempre em perigo. E sua atenção nesse momento era inteiramente sobre Sam.

O loiro suspirou. Estava cansado. Cansado das constantes lutas. Cansado das decepções, das mentiras e sobre tudo cansado de carregar o mundo em suas costas. Era hora de parar, não definitivamente, mas momentaneamente sair fora de ação. Mandar o destino ir para o inferno e fazer dele suas próprias escolhas. Neste momento Sam adentrou o quarto de hotel, não esperava ver Dean acordado àquela hora. A culpa pelos seus atos lhe consumia, sentia vergonha de encarar Dean depois da revelação de estar bebendo sangue de demônio. E Sam estava vindo de um encontro com a mulher que Dean mais detestava, Ruby.

O loiro percebeu o desviou do olhar do caçula, era evidente que ele continuava bebendo sangue da vadia Ruby. Dean sentiu vontade de socar o irresponsável de seu irmão, queria fazer ele voltar a si e perceber o quanto exorcizar demônios com a mente era errado e surreal. Seu punho se fechou de tal forma que os nós dos dedos ficaram brancos e Sam preparou-se para a rajada de socos e xingamentos ao perceber a contração dos músculos do irmão. Afinal ele merecia, sabia que não devia ter escondido do mais velho suas novas habilidades. Mas daí achar que estava errado em tentar salvar o máximo de possuídos, aí já era uma coisa que faria com que Dean entendesse algum dia.

O moreno parou e encarou o mais velho, esperando pacientemente o soco e a ira desabrochar sobre ele. Mas Dean simplesmente relaxou e começou a falar:

— Estive pensando Sam. O que você acha de tirarmos umas férias? Enfrentamos tanta “merda” nesse mundo que está na hora de cuidarmos de nossos próprios traseiros. O que você acha? — o loiro encarava aqueles olhos confusos e surpresos observando-o por segundos que mais pareciam uma eternidade.

—Eu... eu não sei se isso seria uma boa idéia. Lilith está a solta, quebrando selos... — Sam arrependeu-se de ter mencionado Lilith e os selos, ele ouviu quando a *criatura contara sobre Dean ter rompido o primeiro selo.

Sam passou a mão pelo queixo, sabia o quanto o irmão ainda estava se recuperando com todas as enxurradas de revelações.

— Desculpa Dean. Eu não queria...

— Não precisa se desculpar. Sei o quanto de toda essa merda é culpa minha. Não preciso de piedade. Apenas estou cansado e preciso esfriar a cabeça. Além do mais, essa minha perna ainda está me incomodando. Entrar em uma caçada suicida, me parece querer antecipar a morte.

Sam olhou a calça jeans que revelava uma atadura na coxa do irmão, e parte da cena daquele dia voltou a relembrar nitidamente, antes de prosseguir.

Flash backon

[...]  Em poucos minutos feixes de luzes azuis tomaram conta do veículo, só queprocuravam por uma certa pessoa. Os três corriam o mais rápido possível longe daquele portal, e no instante seguinte Dean olhou para o próprio peito e tentou se livrar das luzes.

— Que porra é essa! — dizia ele correndo e percebendo que os feixes finos da luz azul transpassavam seu corpo. [...]

[...] — Dean. Se não entrar no mundo deles você vai morrer. Esses feixes de luz irão petrificar assim que estivermos distantes do vórtice e o que parece inofensivo agora irá aniquilá-lo em instantes. Entendeu? — Melanie voltou-se para a direção do portal. [...]

[...]  — Eu estou cercado dessa coisa, não vocês! Então caem fora. Eu irei e se algo der errado conto com vocês aqui. Desta forma não seremos todos pegos desprevenidos pelo desconhecido.

— Nem pensar! — disse Sam aproximando-se do loiro que lutava com todas suas forças para manter-se em pé e dizer que estava bem. Mas seus lábios arroxeados e seus olhos verdes brilhantes denunciavam a dor e a febre que o consumiam, minuto a minuto.

O loiro fez a sua melhor cara de reprovação e isso não adiantou de nada. Sam e Melanie estavam decididos e antes que pudessem continuar a discussão, um dos feixes de energia tornou-se sólido e o loiro caiu no chão, sentindo uma dor lacerante.

— Dean! — Sam agachou-se e viu a perna do loiro atravessada por algo que parecia cristal.

— Merda — o loiro tentava apoiar-se no irmão caçula.

— Não temos mais tempo. Vamos! — Melanie seguiu em frente e não havia como relutar.[...]

Flash back off

Sam voltou sua atenção ao que irmão falara, talvez não fosse má ideia tirar uma folga e tentaria argumentar, fazer com que o irmão entendesse que esses poderes poderiam resultar em algo bom. Lembrou das coisas ruins e mediu as palavras ao dize-las de forma mais branda para que não parecesse uma imposição.