— Saia daí e me ajude com o Neji! – Gaara mandou de dentro da cabine e Sakura aquiesceu ao sair da pequena janela, vendo que o Hyuuga estava desacordado.

                Havia muito sangue nas roupas dele e ela começou a se desesperar novamente. Não sabia lidar com isso, não sabia o que fazer e Gaara percebeu. Suspirou e voltou sua atenção ao companheiro tentando estabilizá-lo, quando sentiu o barco jogar fortemente.

— O que foi isso? – indagou e em seguida sentiu outra onda bater contra o Kurama, tendo que segurar Neji para que ele não se machucasse mais.

Sakura correu para a escotilha novamente com uma ideia em mente e notou que as águas pareciam mais violentas, as nuvens, que já indicavam a tempestade, pareciam mais fechadas e carregadas e soube que sua irmã estava envolvida nisso. Só rezava para que Ino não se descontrolasse e afundasse o navio.

—*-

                As velas começaram a balançar de forma frenética e as ondas batiam no casco do navio com violência. Ainda não havia sinal de chuva, apesar do tempo parecer cada vez mais fechado, mas isso não impedia que eles continuassem a lutar. E Sasuke não se importava com mais nada ao seu redor, ele somente via Itachi na sua frente e sua espada clamava para que arrancasse aquele sorriso presunçoso do rosto dele. Ele parecia se divertir consigo e aquilo o irritava ainda mais. Ele não parecia sentir o mínimo de remorso pelo o que fez, por ter matado a família deles.

— Miserável! – bradou, porém se desequilibrou com o solavanco que o navio deu. Itachi segurou-se na amurada e observou o horizonte. Aquela tempestade estava se formando rápido demais, tinha alguma coisa errada.

— A sereia... – murmurou para si antes de bloquear um ataque do irmão – Sasuke! – gritou com o mais novo enquanto sentia as primeiras gotas da chuva caindo sobre eles, definitivamente aquilo não estava normal – Se continuarmos assim, iremos morrer! – tentou alertar sobre o perigo que se formava.

— Você irá! – retrucou o Uchiha mais novo ao atacar novamente.

—*-

                Naruto, que estava mais atrás, arfava com a luta. Aqueles desgraçados eram melhores do que pensara. Sentiu uma onda colidir com o navio e a água entrar, fazendo o convés ficar mais escorregadio. Olhou para o outro navio, onde Shikamaru ainda estava e notou que os arpões que prendiam o Kurama não iriam aguentar e que Chouji e Hiruzen tinham grandes chances de cair no mar se continuassem com aquela batalha.

— Merda! –murmurou e em seguida viu os seus oponentes que também arfavam pelo cansaço. Naruto e os outros poderiam estar me menor número, mas ainda eram capazes de causar um bom estrago – Kiba, continue aqui, preciso falar com Shikamaru! – disse e o Inuzuka interceptou um golpe, passando a atacar o inimigo.

                Derrapou pelo convés quando outra onda os atingiu e viu quando um dos que lutava contra Chouji caiu no mar.

— Venham para cá, agora! – bradou Naruto no exato momento em que Hiruzen escorregou. O Uzumaki lançou-se para onde ele estava e agarrou-o antes que ele encontrasse a morte nas águas violentas do mar – Velhote! – gritou e Sarutobi riu.

— Isso que é diversão, Capitão! – disse Sarutobi e Naruto por um momento o achou louco de pedra por pensar isso, mas no fundo concordava com ele. Eles eram mais parecidos do que pensava e riu com o fato.

— Sim, mas fique vivo até o final, certo? – pediu ao puxá-lo para dentro do Kurama com a ajuda de Chouji que agora estava dentro do navio – E Shikamaru? – e em seguida ouviu o barulho de algo sendo cortado.

                Olhou em direção ao som e viu Shikamaru cortando as amarras, desprendendo o Kurama do outro navio.

— Shikamaru! – Naruto franziu o cenho sem entender o que o Timoneiro pretendia, mas este somente continuou com o seu trabalho e todos seguraram-se ao ver que o Kurama balançava de forma instável devido à força do mar.

— Que problemático – bufou ao ver que o Kurama começava a se movimentar e pegou o pequeno arpão, tentando mirar no mastro. Jogou a primeira vez, porém o vento forte impediu que ele conseguisse acertar o alvo. Tentou uma segunda vez e novamente errou.

Suspirou ao ver que o navio em que estava parecia bater contra a encosta do fiorde e sabia que se não saísse de lá em breve, bom... não teria outra oportunidade. Jogou a terceira vez e amaldiçoou a sua sorte ao ver que errara de novo. O navio balançou outra vez e tentou puxar o arpão, mas notou que ele parecia preso a algo e ao olhar em direção ao Kurama, viu o Capitão segurando a corda do arpão junto de Chouji e Sarutobi.

— Vamos logo Shikamaru! Pule de uma vez, homem! – gritou o Uzumaki e o Nara sorriu, realmente eles eram muito problemáticos, mas pelo menos sempre estavam ali para lhe ajudar.

                Correu pelo convés segurando a corda e jogou-se no vão entre os navios. O peso surpreendeu os homens, mas ninguém soltou a corda e Shikamaru conseguiu ficar pendurado no meio das duas embarcações, enquanto as ondas pareciam querer devorá-lo, rezando para que os deuses o protegessem.

— Não se preocupe, Nara! Sua hora ainda não chegou! – Sarutobi gritou risonho, provavelmente ainda sob o efeito da bebida.

— Esse velhote desgraçado, nem deve saber do que está falando – murmurou para si, enquanto os companheiros o puxavam para cima. Ao se ver dentro do navio, com as roupas encharcadas, suspirou aliviado.

— Hey! – ouviram Kiba gritar – Que tal dar uma ajuda aqui? – pediu apontando para os três oponentes que enfrentava – E não esqueçam do Akamaru! – bradou novamente antes de voltar a esgrimir.

— Ainda tem o cachorro – Shikamaru pensou frustrado, mas como se o cão ouvisse o chamado do dono, Akamaru começou a latir enquanto corria com a intenção de pular para dentro do Kurama – Ele não vai conseguir! – alertou os outros e Naruto mandou que cuidasse daquilo no mesmo momento em que Gaara e Sakura apareceram no convés.

— Sakura! Gaara! Ajudem aqui! – Naruto os chamou e em seguida foi junto de Chouji e Sarutobi ajudar Kiba.

—*-

                A chuva começava a fustigar a todos que ali estavam. O Kurama balançava e não havia ninguém no comando do timão. Estavam navegando a esmo no meio de uma tempestade que começara do nada e como se não bastasse pareciam que pequenos redemoinhos de água estavam sendo formados, puxando o navio. As coisas realmente não eram das melhores. Enquanto Sakura, Gaara e Shikamaru puxavam o cachorro gigante, Kiba era ajudado por Chouji e Hiruzen. Mas Naruto não estava preocupado com nada disso. Ele focava a sua atenção na luta de Sasuke e Itachi. Conhecia a história do melhor amigo e sabia que aquele era o irmão de Sasuke e que ele não iria querer que intervissem na batalha, mas com tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo sabia que não havia outra opção.

— Sasuke! – bradou para o Imediato que o ignorou e continuou atacando Itachi – Sasuke! Precisamos sair dessa tempestade! – tentou mais uma vez e novamente fora ignorado. Bufou irritado e correu em direção ao timão. Ele tinha que fazer algo e dar uma direção ao navio.

— Não acha melhor ouvir o seu Capitão? – Itachi indagou ao defender-se de um golpe que quase acertara o seu pescoço.

— Cale a boca! Você vai pagar pelo o que fez aos nossos pais e vai ser agora! – retrucou Sasuke, porém uma onda cobriu o navio momentaneamente e o jogou para o outro lado da amurada, separando-os.

                O baque havia sido forte, por pouco não havia caído ao mar. Tentou se levantar, mas seu corpo reclamou pela dor e as pernas falharam. Xingou ao ver que havia se machucado mais do que previra, como se não bastasse o seu ombro dolorido e os cortes feitos pelo irmão que ardiam e manchavam a sua roupa de sangue. Sakura ao ver a situação de Sasuke mais ao longe e que Itachi se aproximava do mais novo, temeu pelo o que poderia acontecer a seguir e não pensou antes de deixar o que fazia e correr até Itachi, empurrando-o com o seu corpo e impedindo-o de atacar o Contramestre.

                Itachi realmente não imaginava que alguém fosse lhe atacar naquele momento, estava mais concentrado na dor do irmão e como poderia dar um fim em tudo aquilo. Por causa disso, surpreendeu-se com o pequeno corpo que o atingiu. Uma profusão de rosa tomou a sua vista e quando deu por si, a mulher que antes enfrentara estava em cima de si. Ela havia conseguido lhe acertar duas vezes no mesmo dia! Irritado, começou a puxar a menina para voltar ao seu irmão, porém ela não o largou. Segurava-o como podia para defender Sasuke. Tinha que admitir que a garota era corajosa, mas não era o suficiente.

                Lembrando-se do machucado dela no braço, segurou-a por lá, imaginando que ela urraria de dor, porém nada aconteceu, a não ser ela tentando se livrar do agarre e aquilo desconcertou Itachi que, forçando o corpo, trocou de lugar com a menina, ficando por cima dela e prendeu os braços dela acima da cabeça. Puxou a parte da blusa que estava rasgada e suja de sangue e arregalou os olhos ao ver que não havia mais nenhum ferimento no local.

— Como...? – murmurou sem conseguir compreender o que acontecera. Ele havia visto o sangue, sabia que havia acertado o golpe naquele lugar, e a roupa suja de sangue era uma prova disso. Mas não havia nada no lugar. Nem bandagens, nem cicatriz, nada. Parecia que ela nunca havia se ferido ali e ele se perguntava como isso poderia acontecer. Ele só havia visto algo assim uma única vez naquele mesmo dia e de uma criatura do mar – O que isso significa...?

— Sakura! – Sasuke bradou ao se levantar e ver como a menina estava indefesa, porém antes que chegasse a até ela, viu Gaara render Itachi e mandar afastar-se da Grumete que parecia nervosa com algo – Você está bem? – indagou ao se aproximar, ele segurava o ombro ferido, mas suspirou aliviado ao vê-la aquiescer e em seguida viu o Sabaaku levar o Uchiha mais velho para junto dos outros inimigos e prendê-lo ali. Itachi estranhamente não contestou a ordem. E eles haviam conseguido render a todos os adversários.

                Voltou-se à menina e a observou por um momento. Ela novamente havia se metido no meio de algo que não tinha nada a ver com ela. Mais uma vez havia atacado Itachi e interrompeu sua luta. Mais uma vez ela se arriscou ao agir sem pensar e novamente ele não foi capaz de ajudá-la ou defendê-la.  Aquilo era inconcebível para ele, seu orgulho estava ferido. Ele havia treinado tanto para enfrentar o irmão e no final não foi capaz de fazer nada. Mesmo que ela tivesse o salvado, e soubesse que devia agradecê-la, seu outro lado, o mais egoísta e orgulhoso, falou mais alto e foi por isso que disse, encarando-a seriamente:

— Da próxima vez, não se intrometa nas minhas lutas! – ordenou antes de dar meia volta e Sakura ficou confusa e magoada com as palavras dele, sem entender o que havia feito de errado. Porém não pode pensar muito nisso, pois logo em seguida Naruto começou a bradar ordens para que fugissem daquela tempestade imediatamente.

—*-

                O vento zumbia com ferocidade e estava difícil para Naruto comandar o timão. A força das águas dificultavam o manejo do navio. Os vórtices de água estavam fortes e clamando por um pedaço do navio. Ele bradava ordens para os tripulantes que tentavam obedecer como podiam. Todos estavam exaustos da batalha e ainda tinham uma tempestade a enfrentar. A chuva estava forte e impedia que eles vissem com clareza, fora que o navio não estava nas melhores condições, com diversas partes quebradas. Mesmo assim, eles davam o seu melhor.

                Haviam prendido Itachi junto com os outros inimigos no mastro principal com cordas enquanto tentavam organizar as coisas. Mas as velas começaram a rasgar devido ao vento forte e algumas cordas que prendiam suprimentos ou alguma parte do navio também se soltaram, levando tudo que estava no seu caminho. O Kurama não ia aguentar por mais tempo.

— Como essa tempestade se formou do nada? – gritou Sasuke para Naruto o escutasse sob o barulho da tempestade.

— Eu não sei! Mas foi muito rápido. O mar não estava tão agitado! – e virou o timão ao ver uma enorme onda surgir mais a frente. – Muito menos com redemoinhos!

                Água entrou no convés e todos se seguraram como podiam para não cair. Sakura olhava aquilo assustada, sabendo que a culpa era da irmã. Ino não era capaz de criar uma tempestade, mas sua fúria era capaz de intensificar uma, o problema é que parecia que a irmã estava querendo afundar o navio com ela dentro. Olhou para onde Naruto e Sasuke estavam, discutiam sobre o que fazer, Shikamaru corria para lá aos tropeços por causa do balanço do navio, querendo ajudar. Mas Sakura sabia que somente ela podia aplacar a fúria de Ino. Olhou para o mar e teve uma ideia. Uma péssima ideia, no entanto era a única que tinha e tinha que torcer para que desse certo.

— Gaara disse que a sereia escapou! – Shikamaru bradou ao chegar onde estava o Capitão e o Imediato, ambos o encararam assombrados – Ele acha que ela pode estar envolvida com essa tempestade!

— Merda! Se for realmente uma vingança daquela sereia, estamos ferrados! – Naruto retrucou antes de girar o timão rapidamente mais uma vez.

— Precisamos encontrar abrigo e... – Sasuke parou de falar ao ver algo que chamou a sua atenção no convés – Mas o quê...?

                E antes que ele pudesse dizer ou fazer algo, viu Sakura correr até se aproximar perigosamente da amurada.

— Sakura! – Chouji gritou por estar mais perto da Grumete, porém a menina parecia não ouvi-lo e continuou ali, como se estivesse se preparando para pular do navio.

— Aquela mulher está louca? – Shikamaru bradou e Sasuke começou a correr para impedi-la. Viu que Gaara e Chouji também corriam na direção dela, mas a água veio primeiro, jogando os três para longe.

O Imediato tossiu, expelindo a água que engolira e olhou para o lugar onde Sakura estava, mas não havia mais ninguém ali.

— Sakura? Sakura! – gritou ao se levantar, olhou o convés, não a encontrando, e correu para a borda do navio, observando o mar.

— Ela caiu! – Gaara dissera ao seu lado também verificando as ondas como se esperasse algum sinal do que fazer. Algum sinal de que a Grumete estava viva.

—*-

                Quando sentiu o baque do corpo na água fria, ela odiou-se por aquela ideia. Tentou se mover na água, mas sem sua cauda ela não sabia como nadar e como ninguém tinha lhe ensinado a mergulhar ou algo parecido, ela apenas prendia a respiração, tentando não engolir água, já que agora não conseguia respirar embaixo d’água. Olhou ao redor, tentando enxergar a irmã, mas não a via em lugar nenhum e aquilo fez seu coração disparar com a perspectiva de que podia não ser Ino quem fazia aquela tempestade. Será que ela se enganara? Se tivesse cometido esse erro seria o seu fim.

                Dentro do mar a água parecia tão calma, diferente da superfície. Lá, o barulho da tempestade quase não era ouvido e ela permitiu-se, por um breve momento, sentir falta da sua casa, enquanto procurava pela irmã com os olhos. Porém o ar logo começou a faltar e ela a se desesperar sem ter como sair dali. Começou a mexer os braços tentando alcançar a superfície de forma torpe e desengonçada, mas parecia que não saia do lugar. Sentiu os pulmões clamarem por ar e parecerem queimar dentro de si. Abriu a boca de forma inconsciente e sua situação piorou ao engolir água, sem ter como expelir. Os seus movimentos ficaram mais rápidos e descontrolados e sentiu que iria morrer. Bolhas saiam de sua boca e ela tentou falar o nome da irmã debaixo d’água. Mas sem voz, era algo inútil e logo seus movimentos foram ficando mais letárgicos e ela pensou em parar de lutar de uma vez. Se fosse para morrer, era melhor que fosse no mar, que era a sua casa. Só esperava que os humanos tivessem uma chance e conseguissem escapar.              Sentia os olhos começarem a fechar quando um vulto passou perto de si.

—*-         

                Ino estava furiosa. A cada movimento de mão, a cada vez que um dos redemoinhos eram formados e a chuva se intensificava, a cada vez que ela ouvia o navio ranger como se algo estivesse se quebrando e os humanos gritavam sem saber o que fazer, ela se sentia realizada. Era como música para os seus ouvidos. Seus olhos azuis brilhavam feito um cristal, toda a sua raiva estava exposta.

                E toda vez que ela lembrava-se de algum momento humilhante que passou na mão daqueles humanos fazia a sua fúria aumentar, se é que era possível. Inicialmente a ideia dela era apenas dar uma lição nos humanos e mostrar que não deviam tentar prender uma sereia. Porém os sentimentos dela passaram a ficar descontrolados, a raiva pela sua condição humilhante e o fato da sua irmã estar junto dos humanos fez com que ela não pensasse em mais nada e deixou-se levar enquanto aumentava a tempestade. Porém, algo fez com que ela congelasse momentaneamente. Era como se fosse uma sensação e fechou os olhos para se concentrar e descobrir o que era.

Arfou ao notar do que se tratava. Sakura! Tinha certeza que sentira a irmã no mar e aquilo fez com que parasse qualquer movimento contra os humanos, iniciando o nado em busca de Sakura. E seu coração quase parou ao ver o corpo meio inerte de Sakura dentro d’água. Nadou até ela o mais rápido possível, segurando o corpo frágil da irmã.

— Sakura! – chamou pela mais nova e em seguida fez uma espécie de bolha de ar com a mão livre para que a ex-sereia pudesse respirar – Por favor, respire! – pediu com medo de que fosse tarde demais.

                E Sakura arfou ao sentir o ar voltar ao seu pulmão. Expeliu a água que estava dentro do pulmão, tossindo e sorriu, ainda fraca, para Ino que suspirou. A loira queria brigar com a mais nova, mas ao ver ela mexer com dificuldade a boca, soube que não era o momento. E o pedido da mais nova tocou Ino novamente.

— Tudo bem, farei como quer – disse e em seguida começou a erguer o corpo de Sakura para fora da água enquanto toda a tempestade parecia se acalmar.

—*-

— Eu vou pular! – Sasuke dissera para ninguém em especial antes de jogar o chapéu e o casaco para longe, mas foi impedido por Naruto que agarrou o braço dele.

— Ficou louco? Irá morrer lá!

— O que sugere que façamos? Ela ainda não voltou à superfície! – retrucou irritado e Naruto não soube o que responder. Não queria que algo acontecesse à Sakura, mas se Sasuke pulasse apenas pioraria a situação.

— Se você pular, eu vou junto! – Gaara disse também jogando o casaco no chão.

— Pelo amor dos deuses! Pelo menos amarrem uma corda para que possamos puxar vocês! – Naruto mandou e eles concordaram com a ideia, no entanto, antes que isso fosse feito, outra coisa chamou a atenção de todos do navio.

O vento começou a diminuir e a água pareceu ficar mais calma. As ondas já não eram furiosas e o Kurama já não balançava da mesma forma.

— O que está acontecendo? – Gaara indagou ao notar a calmaria.

— Parece que a tempestade está passando – Sarutobi disse com o cenho franzido enquanto examinava o céu.

— Essa é a nossa melhor chance de encontrá-la! – Chouji disse animado e todos concordaram e voltaram a se preparar para resgatar Sakura.

— Esperem, olhem lá! – Kiba disse ao observar o mar novamente e interrompendo a todos.

                E tanto os tripulantes do Kurama quanto os piratas de Itachi tinham certeza de que nunca esqueceriam aquela cena. Eles viram com seus próprios olhos, o corpo de Sakura ser carregado pelas ondas do mar e ser depositado dentro do navio, como se fosse um tesouro a ser protegido. E ao verem a menina a salvo, correram até ela para ver como estava.

— Sakura! – Naruto gritou ao segurar a menina junto de Sasuke enquanto os outros os rodeavam.

                Ela abriu os olhos e piscou vendo os humanos preocupados ao seu redor. Sorriu brevemente para dizer que estava bem e viu quando eles suspiraram aliviados.

— Humanos! – uma voz se fez presente e eles olharam para o mar, surpresos ao ver a sereia que antes era cativa ascender grandemente em uma cascata de água – Vocês tentaram me capturar e mereciam morrer, mas... – e olhou brevemente para a irmã antes de voltar fixar o olhar nos homens – Mas nem todos são desprezíveis e por um de vocês ter demonstrado compaixão – e rapidamente olhou para Gaara – Resolvi que não iria matá-los. Minha dívida está paga! – disse repetindo as palavras de Gaara e em seguida mergulhou no mar desaparecendo da vista de todos.

                Ninguém conseguiu dizer nada enquanto ouviam as palavras da sereia, estavam em choque com a visão que tiveram e tentavam entender tudo o que havia acontecido em tão pouco tempo. Porém, enquanto eles estavam preocupados com a mulher e ouvindo as palavras da criatura, Itachi, com a ajuda de Kisame, cerrava as cordas que os prendiam. Aquela era a melhor oportunidade que teriam para fugir e mesmo que estivesse curioso com tudo, tinha que escapar dali o mais rápido possível. Ao sentir as cordas afrouxarem, deu o sinal para o seu Imediato e logo viram-se livres.

                Levantaram-se e correram para a borda do navio, quando Akamaru notou a movimentação e começou a latir. Sasuke deixou Sakura com Naruto e tentou impedir o irmão que se colocou na borda do navio, segurando uma corda que havia se soltado.

— Sinto muito Sasuke – disse com um sorriso doce que logo pareceu ser de escárnio – Mas acho que vai ficar para a próxima vez! – e em seguida jogou-se no mar junto dos outros piratas.

— Miserável! – gritou Sasuke ao ver o irmão acenar da água agora calma. Eles nadavam em direção ao outro navio que haviam roubado. – Shikamaru, altere o curso! Precisamos capturá-lo! – comandou.

                E o Nara estava pronto para fazer o que fora pedido quando o som de canhões foi ouvido um pouco mais ao longe. Naruto observou o horizonte e arregalou os olhos ao ver outro navio despontar, o Akatsuki. Era de conhecimento geral que aquele era um dos mais mortíferos navios piratas que já se tinha notícia e ele pertencia a Itachi. Estava estranhando realmente o fato do Uchiha não estar com o seu próprio navio, mas ai estava. Voltou-se para Shikamaru e bradou:

— Mantenha a rota, Shikamaru! Nos tire daqui agora! – e aquilo foi o suficiente para a raiva de Sasuke estourar.

— O quê? Ele vai fugir! Siga-os, Nara! – mandou novamente e novamente foi contrariado pelo Uzumaki.

— Faça o que eu mando, Shikamaru!

— Problemáticos! Decidam-se de uma vez – resmungou o Timoneiro ao ver a discussão.

— Naruto, é a minha chance! Finalmente posso cumprir a minha vingança! – disse ríspido, tentando se conter, porém era claro a sua raiva para com o Capitão.

— Só iremos morrer se formos atrás do Akatsuki com o Kurama nesse estado! – contrapôs – Não dá, Sasuke! – e virou para ir embora quando ouviu o som de uma espada sendo desembainhada.

— Eu disse para seguirmos Itachi! – Sasuke falou de forma ameaçadora apontando a espada para Naruto.

                Nesse momento todos os tripulantes prenderam a respiração. Nunca haviam visto Sasuke daquela forma e nem afrontar Naruto. Ninguém sabia o que podia acontecer agora. Mas sabiam que tomariam partido do Capitão se fosse necessário, e enfrentariam o Contramestre se não tivessem alternativas. Sakura apenas tentava não tomar partido, assustada demais com a cena que se seguia.

— Isso é um motim, Sasuke? – Naruto voltou-se para o Uchiha, encarando-o seriamente – Saiba que eu ainda sou o Capitão daqui! A menos que queira o posto. – disse apontando para o que restara do navio – Boa sorte tentando ir atrás do seu irmão com os restos do Kurama. Desse jeito você só conseguirá matar a todos! Mas se quiser o posto de Capitão, eu te dou, só não irei fazer parte de um suicídio coletivo!

                As palavras de Naruto fizeram Sasuke hesitar que abaixou a espada por um momento. Olhou de relance para os companheiros que estavam sujos, cansados e feridos. O navio não estava em melhores condições, com peças quebradas, velas rasgadas, seria impossível alcançarem o irmão e, mesmo que chegassem até ele, o Akatsuki afundaria o Kurama facilmente. Suspirou, tentando controlar a raiva e guardou a espada novamente. Naruto sorriu para si, concordando com o bom julgamento do amigo, mas aquilo ainda o corroía por dentro e por isso resolveu apenas se afastar dali o mais rápido possível.

— Para onde vamos agora? O navio precisa de reparos urgentes – Shikamaru indagou ao ver os ânimos se acalmarem.

— Neji está ferido também, precisamos de medicamentos – Gaara se pronunciou finalmente, lembrando-se do amigo que jazia nos aposentos do Capitão.

                Naruto suspirou e passou a mão nos cabelos loiros com tantos problemas. Ainda tinham que evitar uma rota que colidisse com Itachi. Não tinham como encarar o pirata naquele momento, mesmo que fosse a vontade de Sasuke. Andou até os companheiros e viu Sasuke permanecer calado, apenas observando a cena, sem nenhuma vontade de cooperar.

— Estamos perto de King’s Land e VilleFort, mas nenhum dos dois são distritos piratas, seríamos alvos fáceis lá – comentou Naruto e Sakura ao ouvir o nome dos lugares teve uma ideia.

                Abriu a boca para expressar sua opinião, porém Sasuke a interrompeu.

— É melhor ficar calada e não arrumar mais confusão – disse seco e ela o encarou confusa.

“O que quer dizer?” questionou e ele a fuzilou com os olhos.

— A culpa é sua da sereia ter fugido, não é? – acusou raivoso e Sakura arregalou os olhos – Por sua culpa, perdemos a sereia, por sua culpa quase morremos naquela tempestade e Itachi fugiu! – ele sabia que, talvez, estivesse sendo injusto na maior parte de suas acusações, mas naquele momento não conseguia controlar a sua raiva e as palavras da criatura vinham a sua mente e se misturaram com todos os outros atos que aconteceram rápido demais.

                Era muita coisa para lidar ao mesmo tempo e a única coisa que fazia sentido para ele era que todos aqueles problemas estavam ligados à Sakura de alguma forma, afinal as coisas eram completamente diferentes antes da chegada dela.

 “Eu não a libertei!” era uma meia verdade, mas não iria deixar que ele falasse daquela forma com ela.

— Por favor, Sakura! Não somos idiotas! – vociferou o Contramestre – Você era quem mais queria que libertássemos a sereia e quando você caiu no mar e ela te salvou, ela disse que havia pago uma dívida. Por qual outro motivo ela iria te salvar se não fosse por ter ajudado ela?

“Se vocês tivessem me ouvido, ela não teria ficado com raiva de vocês! Se não tivéssemos capturado ela, o navio não teria sido tomado! Por que sempre me acusa quando algo dá errado? Eu não fiz nada!” gesticulava com força, com lágrimas nos olhos, cansada de ser tratada daquela forma pelo Imediato.

                Deu as costas para ele e entrou no navio, sem se importar em dar satisfações. Ela tinha se sacrificado por aqueles humanos e eles não eram capazes de perceber isso? E por que aquilo tinha que doer tanto quando era Sasuke quem pronunciava aquelas palavras? As lágrimas já desciam por seu rosto e ela achava-se uma tola. Ela só queria estar em casa agora. Bem longe daqueles humanos idiotas!

—*-

                Depois da discussão de Sasuke e Sakura, um silêncio se formou no convés, até ser rompido por Gaara que deu um passo a frente até encarar o Contramestre que parecia perdido em pensamentos.

— Não foi ela quem libertou a sereia – o ruivo disse atraindo a atenção de todos para si – Fui eu!

— Você, Gaara? – o Capitão indagou incrédulo. Nunca imaginava uma traição vinda do Sabaaku.

— Só não queria que Itachi tivesse a oportunidade de ter a sereia, então pensei que se não podíamos tê-la, era melhor que ninguém tivesse e... – foi interrompido ao sentir o Contramestre socar o seu rosto com força. Gaara caiu no chão pela força e cuspiu sangue.

                Olhou para Sasuke com fúria, mas segurou-se ao ver o Uchiha tão furioso quanto ele. Não seria prudente enfrentá-lo agora.

— Sua imaturidade quase nos custou a vida! Aquela sereia no mar quase afundou o navio! Tudo isso por uma atitude irresponsável sua! – bradou furioso. Seu irmão escapara por causa daquela brecha feita com a aparição da sereia. Sua raiva não era somente disso, mas também por ter descontado em Sakura.

                Ele não entendia o motivo de sempre procurar algo para culpá-la, como ela mesma afirmou. Era somente algo natural dele. Desde que ela chegara muita coisa aconteceu e ele começou a criar barreiras para evitar a aproximação dela. Não queria vê-la como uma companheira, não queria vê-la como uma pessoa confiável. Tinha receio de estar amolecendo perto dela, por isso sempre procurava desculpas para afastá-la. Porém, por mais que lhe irritasse o fato dela estar conseguindo se aproximar de si, porque de alguma forma ela estava conseguindo isso, lhe irritava ainda mais o fato de estar sendo injusto com ela e de tê-la magoado como fizera a pouco, por culpa de Gaara. Se Sasuke estivesse correto, ao menos poderia estar com a consciência limpa de estar fazendo o certo, teria a confirmação de que ela não era confiável, mas como não era o caso, aquilo parecia o corroer por dentro e ele ficava com mais raiva por estar agindo como um tolo.

                Saiu do convés pisando forte e Naruto suspirou. Sasuke era muito esquentado. Olhou para Gaara que limpava o rosto com o dorso da mão e disse:

— Irá ficar trabalhando com a Grumete por um tempo. – determinou e em seguida olhou para o Inuzuka – Parabéns Kiba, já acabou o seu castigo! – e o pirata não pode evitar comemorar ao contrário do Sabaaku que bufou irritado, mas em nenhum momento abriu a boca para contestar.

                Sua cota de boas ações para com a Grumete já estava cheia por um dia.

—*-

                Naruto entrou na cabine e viu Sakura com o esfregão tentando limpar o chão, enquanto mexia os lábios rápido demais para que qualquer um entendesse, mas tinha a impressão que ela falava sobre Sasuke e que não eram boas coisas. Sorriu, aquela menina realmente era especial, qualquer outra mulher não ousaria agir da forma que agiu perante o Contramestre. Viu Neji deitado em um pequeno sofá e analisou brevemente o estado do companheiro, antes de virar-se para a menina que ainda não tinha percebido a sua presença.

— Não fique assim – disse assustando a Grumete que se virou para ele – Ele passou por muita coisa hoje, todos nós passamos. Ele se descontrola quando se trata do irmão – procurou justificar os atos do seu Imediato e melhor amigo.

                Naruto a ouviu bufar, como se negasse o que acabara de falar e ele sorriu.

— Deixe ele se acalmar e tenho certeza que irá cair em si. Pode apostar como ele irá a procurar para pedir desculpas – comentou e Sakura arqueou uma sobrancelha, duvidando – Se quiser podemos apostar. O que acha? – e sorriu com um plano em mente.

                Sakura pensou um pouco e, sem saber que Gaara havia assumido a culpa por si, concordou. Afinal, por qual motivo Sasuke pediria desculpas a ela? O humano era o cúmulo do orgulho!

— Ótimo! O perdedor terá que pagar vinte moedas de ouro ao outro! – e estendeu a mão que foi prontamente aceita por Sakura, agora ela já sabia o que significava aquele gesto.

                Mas depois daquilo Naruto voltou a suspirar, tentando pensar onde poderiam aportar, quando Sakura o chamou:

“Eu sei de um lugar onde podemos ficar, era isso que estava tentando dizer antes!” e o loiro ficou curioso, pedindo que ela continuasse “King’s Land”.

— Sakura, aquele é o pior local para nos escondermos! É onde há a maior concentração da Marinha Real e, caso você não saiba, a Marinha não gosta de marinheiros ilegais – tentou explicar para a Grumete que franziu o cenho.

“Piratas!” corrigiu o Capitão que deu de ombros.

— É a mesma coisa, no final.

“Eu sei de um lugar que é afastado da cidade, onde podemos ficar. Lá é seguro! Eu tenho uma amiga lá!” Sakura novamente tentou convencer o Capitão que ficou curioso com a garota. Era a primeira vez que ouvia ela falar sobre ter algum amigo, afinal.

— Tem certeza, Sakura? Mas onde iremos deixar o navio? – indagou novamente e a menina sorriu, estava quase conseguindo.

“Ela mora em um grande castelo à beira mar. É perfeito e longe de tudo. Tenho certeza que ela nos ajudará com o Kurama também!” Parecia animada com a perspectiva de ver a amiga de novo.

— Capitão! – Shikamaru apareceu na cabine, interrompendo a conversa, sendo seguido por Sasuke que não encarou Sakura, o que fez com esta voltasse a ficar irritada e Naruto suspirasse pelo gênio difícil dos dois – Já temos uma rota?

— Já temos sim – e espiou Sakura pelo canto do olho, antes de encarar o Nara – Vamos para King’s Land! – decretou.