The Mermaid Tale escrita por Luhni


Capítulo 20
A voz que não alcança o coração


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Voltei!
Já expliquei o motivo da minha ausência lá na minha página do Facebook, mas saibam que não desisti da fic e agora que tudo está mais calmo aqui em casa, pude voltar a escrever. Obrigada pelo carinho de todos e espero que gostem do capítulo ;)
Boa leitura! E nos vemos nas notas finais!



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 “Por que você quis ficar?” Sakura perguntou ao ruivo um tempo depois quando já estavam sozinhos no Kurama. O pirata encarou a menina e deu de ombros.

— Achei que ia ficar entediada sozinha – comentou sorrindo e Sakura revirou os olhos.

                Ela olhou para onde a irmã continuava escondida sob um grande pano branco e desejou ter um momento a sós com ela. Gaara seguiu o olhar da Grumete e ficou curioso com o que estava acontecendo. Desde que a sereia havia sido capturada, Sakura parecia estranhamente interessada nela e aquilo não havia passado despercebido por si, e nem para os outros. Ele sabia que o fato de Naruto e Sasuke permitirem que ele ficasse no navio, em partes, era para que ele pudesse ficar de olho em Sakura. Confiavam nela, mas também sabiam que ela não concordava com a ideia deles de ganharem dinheiro com a criatura, então era melhor precaver.

— Eu vou ver se acho algo para comermos e ver se o velhote deixou algum barril de rum cheio para tomarmos – informou à garota que rapidamente aquiesceu e ele notou que estava sendo enxotado. Arqueou uma sobrancelha e resolveu averiguar a situação sem que ela soubesse. E nem foi preciso muito esforço para esconder-se, já que Sakura rapidamente correu para onde estava a sereia.

                Ela tinha que aproveitar a oportunidade e, ao pensar que estava sozinha, puxou uma parte do tecido que cobria a irmã que a encarava raivosa. Ela estava cansada de ficar no escuro, como se não bastasse estar presa entre os humanos.

“Desculpe a demora” e viu Ino retirar novamente a mordaça.

— Quando vou... – começou a se exaltar, mas Sakura rapidamente pediu que ela falasse baixo e Ino respirou fundo antes de continuar a falar, dessa vez de forma mais controlada – Quando vou sair daqui?

                Gaara, que apenas observava a cena escondido não podia acreditar no que via. O que estava acontecendo ali? Viu que Sakura havia começado a responder algo, mas não conseguiu se segurar e quando deu por si já andava em direção à Grumete a passos pesados.

“Em breve! Eu só tenho que despitar Gaara e...”

— Sakura? – ouviu uma voz atrás de si e rapidamente puxou o pano para cobrir a irmã novamente, mas já era tarde. Os olhos verdes do humano lhe encaravam acusadores. – O que estava fazendo com a sereia?

“Nada!” foi a única resposta que conseguiu dizer, mas sabia que aquilo não seria o suficiente ao ver a forma como ele lhe olhava.

— Você estava falando com a sereia? Você tirou a mordaça dela? – esbravejou ao se aproximar da garota que começou a negar de forma desesperada. Ele estava longe e não pode tudo de forma nítida, mas havia visto e ouvido a sereia falar. E antes que Sakura pudesse dizer mais alguma coisa para se defender, ouviu a voz da irmã, furiosa, sob o pano que a cobria.

— Se ousar tocar em um fio de cabelo dela, humano, juro que lhe viro do avesso e lhe dou de comida aos tubarões! – ameaçou e Sakura teve vontade de bater na irmã. O que ela estava fazendo?

                Gaara olhou da Grumete para o local onde haviam escondido a sereia e puxou o pano para ver com os seus próprios olhos a criatura. Agora, de perto, conseguia ver que ela continuava presa com o grilhão e as cordas, mas nada a impedia de usar a voz contra ele. Ficou levemente preocupado com o que isso poderia significar e começou a pensar em um modo de amordaçá-la novamente sem que sofresse algum ataque. Porém, antes que conseguisse prever o próximo passo, Sakura correu e ficou de frente para a sereia, iniciando um diálogo com ela.

                Ficou aturdido, sem entender do que se tratava. A garota estava de costas para si, mas a criatura de belos olhos azuis parecia prestar total atenção às suas palavras. Foi quando uma ideia lhe passou a mente e antes que pudesse pensar em outra possibilidade, na verdade não queria que houvesse outra possibilidade, puxou Sakura para longe da sereia e colocou-se na frente dela para protegê-la. Sakura sempre foi quem ficava mais perto da criatura quando faziam ronda, talvez ela tivesse sido capaz de encantar mulheres também, ou tivesse usado de outro subterfúgio. Fosse o que fosse não permitiria que a Grumete se machucasse.

Ino olhou assustada para o rapaz e, mesmo que tenha ficado furiosa por ele interromper sua conversa com a irmã, ficou intrigada pelo fato dele achar que estava protegendo Sakura de si.

— Você a enfeitiçou, sereia? Deixe-a em paz! – ordenou e Ino arregalou os olhos pela ideia que ele teve.

Sakura também estava surpresa pela atitude do rapaz, tinha que consertar as coisas e impedir Ino de machucar Gaara no processo, mas no momento parecia impossível fazer algo, já que o ruivo nem ao menos a deixava olhar direito para Ino porque bloqueava o seu caminho.

— Eu não irei machucá-la, seu tolo! – bufou ao olhar para o lado e aquilo confundiu ainda mais o Sabaaku. O que aquela sereia queria? Sentiu Sakura puxar a manga de sua camisa e se virou para a menina que estava com os olhos marejados.

“Por favor, Gaara! Ela não fará nada, ela só quer ir para casa!” disse e novamente Gaara se sentiu perdido no meio daquela cena e o sentimento de impotência somente piorou ao ver a Grumete voltar a falar algo com a sereia que começou a fazer caras e bocas.

— Pedir ajuda ao humano? Ele não vai me tocar, Sakura! – respondeu ultrajada a sereia e Gaara finalmente parecia estar absorvendo a cena a sua frente.

Sakura era... amiga da sereia?

—*-

                Aquilo não devia estar acontecendo. Não era para Gaara descobrir. Não era para ela ter sido tão descuidada. Mas agora não havia mais jeito. Ela tinha que acalmar Ino e tinha que explicar algo a Gaara que continuava parado e em choque, observando a conversa de Sakura. Estava tentando convencer a irmã a não fazer nenhum mal a ele. Gaara poderia ajudá-las. O problema era que, como conhecia o Sabaaku, ele não conseguiria ficar calado por muito tempo.

— Quer dizer que, esse tempo todo, estava nos enganando por causa da peixinha aqui? – e apontou para Ino, a raiva começava a tomar conta do ruivo que se sentia traído pela menina.

                Sakura negou e viu Ino semicerrar os olhos. A ex-sereia bufou ao ver que seria difícil ter essa conversa sem parecer culpada para um dos lados.

“O nome dela é Ino” tentou começar a conversa e Gaara negou.

— Não quero saber se ela se chama porca, cavalo ou peixinha! – retrucou e ouviu um baque atrás de si. Virou-se apenas para ver a sereia com rosto contorcido de raiva.

— Não sou peixinha! – bradou. E por um momento Gaara observou o belo rosto e como os os orbes azuis dela pareciam brilhar cada vez mais que se irritava. Balançou a cabeça para afastar os pensamentos indevidos. Por que ele se sentia ainda mais atraído ao vê-la irritada?

— Isso não importa! – ignorou a sereia – Eu vou agora chamar o Capitão. Ele precisa saber disso e... – retomou a conversa e Sakura imediatamente se jogou em cima dele que, de forma inconsciente, a segurou.

Ela chorava e Gaara se assustou com isso, mas percebeu que ela queria apenas chamar a sua atenção para que pudesse compreender suas palavras.

“Não faça isso! Eles não me perdoariam e eu não quero isso! Apenas estou... querendo ser justa. Ela não é uma coisa e ela precisa de ajuda, por favor, Gaara, me entenda!”

                Gaara novamente olhou para Ino que se mantinha quieta observando a cena. Ela tentava entender o que Sakura falava para ele e se perguntou o motivo das duas parecerem tão próximas.

— Como posso entender, se isso não faz sentido? Sakura, eu gosto de desafiar o Capitão e o Imediato, mas não sou suicida! Eles nos matarão se essa sereia sumir! – brigou com a menina que negou com a cabeça.

“Eles não precisam saber... eu...”

— Você já planejou tudo, não foi? – cortou a menina que aquiesceu sentindo-se culpada – Sakura, por quê? – fez a pergunta que o corroía – Por que vale a pena se arriscar tanto por causa de uma sereia?

“Porque ela...” olhou para a irmã tentando pensar em uma resposta “Porque ela...me salvou na caverna.” Disse uma meia verdade.

— O quê? – sentiu-se ainda mais perdido e voltou a encarar a sereia por um momento que bufou para si.

Em seguida olhou para Sakura que se pôs a contar tudo o que acontecera. Ela contou como a sereia apareceu na caverna, como ela lhe entregou a adaga e pediu ajuda para sair daquele local e como Sakura havia a deixado lá, como se sentia culpada por não cumprir a sua promessa e como tinha, agora, que ajudá-la. Se fosse verdade, a sereia havia salvado não somente Sakura, mas Naruto e Sasuke e aquilo fazia uma grande diferença para Gaara. Ele tinha um débito com o Capitão, além da própria amizade, seguiria Naruto até os confins do mar para saldar sua dívida, então não se via indo contra as ordens dele.

Porém, ao mesmo tempo – olhou para a criatura do mar – se ele tivesse morrido nunca conseguiria perdoar a si mesmo por não estar ao lado dele. Suspirou, não conseguia acreditar que uma criatura do mar havia ajudado um humano por vontade própria, mas ele viu e ainda via com seus próprios olhos a forma como a sereia parecia confiar em Sakura. E aquilo o deixou desnorteado.

“Você entende, agora?” Sakura chamou a sua atenção e o Sabaaku aquiesceu. “Vai me ajudar?” ela fez a pergunta que mais temia e ficou sem saber o que responder.

—*-

                 Já estava tarde e o Kurama não parecia ter muito movimento. Havia mandado seus homens dispersarem e averiguarem as redondezas para ter certeza que não se tratava de uma emboscada. Era conhecido por ser precavido, afinal de contas. Lançou o arpão e viu quando esse se prendeu na amurada do navio. Puxou uma vez apenas para verificar se estava bem firme e lentamente começou a escalar o navio, mas parou ao ver duas figuras no meio do convés. Foi capaz de reconhecer um tripulante do Kurama, mas franziu o cenho ao ver que uma mulher estava a bordo do navio. O que seu irmãozinho tolo estava pensando ao deixar que uma mulher navegasse em alto mar? Ou seria ela uma meretriz de Gaara?

                Esquadrinhou o corpo da mulher. Ela era realmente linda, o corpo pequeno e delicado tinha curvas que, mesmo que um pouco escondidas nas roupas largas, fariam um homem se perder no prazer facilmente, mas nunca havia visto uma mulher que usasse roupas masculinas, apesar de que, assim, era mais fácil de observar as pernas grossas e a bunda redonda. Sorriu. Era um gosto peculiar, mas com certeza era notável. Talvez pudesse se divertir com ela depois. Fez um sinal para os seus homens aguardarem, enquanto observava a cena entre os dois.

                Sakura já estava angustiada. Gaara não lhe dirigira a palavra depois que perguntou se a ajudaria, apenas voltou a colocar o pano sobre Ino que vociferou contra o humano, mas ele a calou, de uma forma incrível ao dizer que se quisesse ter alguma chance de sair daquele navio, devia lhe obedecer naquele momento. E, por mais incrível que possa parecer, a irmã se acalmou, principalmente ao ouvir o pirata falar que precisava pensar sem ouvir a voz dela que o desconcentrava. Ele começou a puxar o grande vidro que guardava Ino para algum lugar e, quando pediu a ajuda de Sakura, ela não pode evitar vibrar, aquilo devia ser um bom sinal. Mas conforme o tempo passava e nada mais era dito e a sereia continuava dentro do navio, agora escondida dentro da carcaça do Kurama, começou a temer pela resposta.

                Olhou para onde a irmã deveria estar e suspirou. Se Gaara contasse aos outros, iriam expulsá-la do navio e continuariam com Ino. Se ela tentasse algo agora, sozinha, Gaara tomaria aquilo como uma traição e, além de lhe impedir de salvar a irmã, contaria a sua versão e novamente o futuro dela no Kurama não seria nada promissor. E se Ino fizesse algo, bom, Gaara poderia ser enfeitiçado, mas ela não, então todos saberiam da sua culpa. Levantou-se para falar com a outra sereia, tentaria acalmá-la e dizer que pensaria em outro modo de tirá-la de lá. Afinal, Ino devia estar apreensiva por estar em um lugar diferente sem saber o que acontecia. Estava quase saindo do convés quando o ruivo a chamou.

                Ele estava sério e pediu que o acompanhasse, fazendo com que ambos se afastassem da entrada para a parte interna do navio. Gaara havia refletido por um bom tempo o que deveria fazer e, mesmo que fosse um pirata, tinha a sua honra e como tal daria a sua resposta à Sakura. Iniciou alguma frase quando algo prendeu a sua atenção. Havia sido um barulho leve, mas foi o suficiente para ficar desconfiado. Ele não saiu do lugar, assim como Sakura que continuava esperando por sua resposta. Ele olhou de esguelha e pode ver algo balançado do lado esquerdo da amurada. Franziu o cenho e voltou-se à Grumete.

— Preste atenção – sussurrou e Sakura teve que aproximar para ouvi-lo melhor – Não fique alamarda, mas acho que estão invadindo o navio – comentou e rapidamente Sakura arregalou os olhos e virou-se para onde ele havia ouvido o barulho. Gaara rapidamente a puxou de volta para si, aproximando mais seus corpos e falou entredentes:

— Não seja estúpida! Controle-se, ou iremos morrer aqui – e Sakura aquiesceu rapidamente enquanto Gaara a instruía sobre o que fariam – Eu não sei quantos são, mas provavelmente não daremos conta, só nós dois – e em seguida arqueou uma sobrancelha com um sorriso debochado – ou deveria dizer, só comigo.

                Ouviu a garota bufar, mas ficou um pouco aliviada por ele ainda ser capaz de fazer graça com a situação. Isso significava que nem tudo estava perdido com relação a Ino e que eles teriam chances se realmente estivessem sendo atacados.

— Faça o que eu disser, ok? – mandou e ao ver a garota concordar percebeu que ela continuava tensa, com medo do que aconteceria, provavelmente com a sereia. Revirou os olhos – Ela não irá sair desse navio, pode ter certeza – Gaara disse ao captar o olhar de Sakura – Mas ninguém pode saber onde ela está, então temos que deixá-los entretidos – e sorriu novamente, o que fez a espinha de Sakura gelar. Com certeza não gostaria do plano do ruivo.

—*-

                Itachi franziu o cenho ao ver que havia perdido muito tempo vendo se os dois saiam do convés, mas eles pareciam entretidos em alguma conversa e ele não conseguira compreender nada, nem ao menos ouvia a voz da mulher. Assobiou, então, para que os companheiros se lançassem no navio. Não demorou muito e os urros dos piratas puderam ser ouvidos e foi com deleite que viu os olhos verdes da garota se arregalarem em pavor, mesmo que o Sabaaku continuasse com o mesmo rosto debochado de sempre.

— Ora, olha só quem eu encontro aqui em Frosch, rapazes? – falou dando um sorriso e começou a andar em direção ao casal – Que coincidência, não?

— Está mais para invasão – retrucou o ruivo e Sakura observou as feições do intruso. Longos cabelos negros amarrados, olhos que muito lembravam os do Imediato, assim como o rosto, apenas o formato do rosto e duas cicatrizes abaixo dos olhos que os diferenciavam. A semelhança era tanta que ela não pode evitar ficar mais assustada.

— Detalhes – deu de ombros e voltou sua atenção para a companheira do pirata que lhe observava com afinco – E o que temos aqui, seria a sereia que ouvi falar? – falou galanteador, mas Sakura, que não entendera o tom usado, ficou assustada. “Como ele descobrira tão rápido?” pensou dando um passo para trás.

— Não interessa quem é ela. O que faz aqui Itachi? – Gaara colocou-se na frente de Sakura.

— Não ouviu, Gaara? Eu ouvi que estava havendo o show de uma sereia e vim conferir – explicou-se, mas seu olhos ainda estavam em Sakura que recuou mais um pouco.

— Não há sereia. – o Sabaaku disse e sorriu ao ver os olhos de Itachi pousarem em si – Pelo menos não aqui.

— É mesmo? Então não vai se importar se meus homens derem uma olhada por ai – e acenou para que os outros piratas começassem a vasculhar todo o navio, mas Gaara novamente interceptou os intrusos e desembainhou sua espada.

— Ninguém passa daqui – foi firme e todos riram da tentativa do ruivo de impedi-los e a risada se tornou mais alta e estridente ao ver Sakura também ficar ao seu lado com uma espada na mão.

— Ora, ora, então a donzela é uma guerreira? – Itachi debochou e em seguida ordenou o ataque.

                Ficaram costa a costa, dando cobertura para o outro. Gaara defendia a maior parte dos ataques e contra-atacava também, enquanto Sakura tentava o seu melhor para ajudar ao ruivo. Lentamente ela conseguia melhorar o seu jogo de pés e começou a conduzir a luta para onde queriam. Não eram muitos ali, devia haver sete, oito se contasse o pirata que parecia tanto com o Imediato, mas este nem ao menos se mexia, apenas assistia a tudo bastante intrigado. Recebeu um golpe mais forte do que esperava e por pouco sua espada não caia. Gaara praguejou e mandou que ficasse atenta. Ele deu mais um passo para trás e ela para a frente. Ele girava para ajudar quando os inimigos tentavam reter todos os ataques nela por ver que ela não era uma exímia esgrimista como o Sabaaku, mas logo ele voltava e ficar no seu lugar e deixando Sakura às suas costas.

                Itachi continuava intrigado com a menina. Ela ainda não havia dito uma palavra sequer e perguntou-se se ela não era muda. Viu que ela sabia empunhar uma arma, mesmo que não fosse tão precisa quanto o seu companheiro. Ouviu Deidara lhe chamar e olhou para fora do Kurama, onde seu subordinado estava. Acenou para que ele continuasse com o plano e sorriu ao ver a espada cortando as amarras. Ah, seu irmãozinho iria ficar furioso ao ver que roubara o navio dele e do Uzumaki. Sorriu com o pensamento e, naquele momento de distração, Gaara bradou para a Sakura:

— Agora, Grumete! – e ela fez conforme o combinado, correndo para dentro do navio e fechando as portas, enquanto deixava o ruivo do lado de fora com os inimigos, sozinho.

                Sentiu as lágrimas quererem se formar, principalmente ao ouvir os urros de raiva pelo Sabaaku tê-los enganados, mas fez como ele ordenara e tratou de colocar uma trava na porta para dificultar a entrada dos invasores e correu para a primeira escotilha que vira. Engoliu a seco ao ver o mar se agitar abaixo de si ao abrir a pequena janela, porém percebeu que a ideia de Gaara funcionaria. Ela iria conseguir pular para a terra firme. Talvez se machucasse um pouco na queda, mas era a única alternativa, não?

                Ouviu o tilintar das armas, pareciam mais ferozes e mais perto de si, e temeu por Gaara que havia ficado sozinho para enfrentar a todos enquanto dava uma chance a ela. Não era hora de ficar com medo, mesmo que ela não conseguisse... Balançou a cabeça para afugentar os pensamentos negativos, tinha que conseguir. Gaara e Ino dependiam de si. Suspirou ao pensar na irmã, não teria tempo de ir até Ino e explicar o que acontecia, então teria que torcer para que ninguém fizesse mal a ela enquanto não estivesse por perto. Tinha pouco tempo e agora dependia dela conseguir sair dali e ir chamar os outros tripulantes do Kurama.

“Eu vou conseguir” pensou ao colocar as pernas para fora da escotilha e, segurando-se na beira da janela, olhou mais uma vez para ver como pularia. Ou pelo menos tentou fazer isso até ouvir o estrondo que vinha da porta que se abriu com força, pois em seguida ela só impulsionou o corpo para trás e soltou-se, esperando pela queda.

—*-

— Maldita! – Itachi vociferou ao ver que a mulher estava em terra firme. Ela levantava-se um pouco atrapalhada por causa do impacto, mas logo começava a se afastar. Bradou por Deidara e mandou que ele a seguisse e a capturasse, não deixaria que escapasse. Não por muito tempo.

                Depois de ver que o loiro corria atrás da menina, virou-se somente para ver o ruivo com um sorriso debochado sendo segurado por dois de seus homens. Ele parecia tranquilo, intacto, como se não houvesse acabado de lutar com sete dos seus melhores homens. A única coisa que denunciava que perdera o confronto era o braço esquerdo que escorria um pouco de sangue devido ao ataque que o próprio Itachi dera para finalizar aquele embate e poder ir atrás da mulher. Aproximou-se lentamente do pirata, estava irritado ao ver que o sorriso de Gaara crescia cada vez mais por ver que conseguira enganá-lo. Ele se aproveitara de um único momento de distração para mandar a garota correr e agora ele estava ali, à mercê dele e dos seus homens.

— Pelo visto você não contava com isso, não é? Em breve teremos mais companhia por aqui, se eu fosse você começava pensar em abandonar o seu plano enquanto pode – Gaara debochou e recebeu um soco do irmão de Sasuke como resposta.

— E se eu fosse você, me preparava para a nossa hospitalidade, afinal, você ficará um bom tempo conosco – e em seguida Gaara ouviu o estalo de algo e sentiu o navio começar a se movimentar. Arregalou os olhos ao ver o que Itachi pretendia – Bem vindo ao meu navio! – e foi a vez dele sorrir debochado. Agora só faltava a sereia.

—*-

                Sakura corria pelas ruas de Frosch sem nem ao menos saber por onde ia. Sentia dor nas costelas e seu tornozelo ardia como o inferno. Havia se machucado um pouco na queda, mas ela não podia parar e iria aproveitar enquanto o sangue estava quente para conseguir correr e achar os outros companheiros. Olhou para trás para ver se era seguida, mas ela não via ninguém. Será que não precisava mais fugir? Será que não havia ninguém atrás de si? Mas ela ouvira o líder dos invasores bradar com alguém para que a capturasse. Praguejou contra os sete mares ao notar que nem ao menos sabia quem estava lhe perseguindo. Ele podia estar tentando enganá-la.

                Ofegante, tentou prestar atenção no ambiente a sua volta. Tinha que estar atenta e tinha que encontrar alguém para ajudá-la. Olhou ao redor, mas somente via humanos desconhecidos. O pior é que a cidade estava cheia e ela não fazia ideia de onde procurar. Voltou a correr, com medo que fosse vista e começou a se embrenhar entre os humanos. Ela não desistiria. Gaara e Ino contavam com ela.

Estava tão desnorteada com a situação em que se encontrava e tão desesperada, que quando deu por si estava perto de um beco escuro, um pouco mais afastado da multidão de humanos. Ela estava cansada e seu corpo começava a doer pela queda, tentava refletir se seria uma boa ideia entrar de taverna em taverna para encontrar os tripulantes do Kurama quando uma mão a puxou.

                Ficou assustada e, sem conseguir enxergar direito quem era, começou a se debater, pensando se tratar do seu perseguidor. Mas ele era mais forte e logo segurou seus braços com força, trazendo-a para perto de si.

— Calma, Sakura! – a voz do seu algoz retumbou e ela logo soube de quem se tratava. Abriu os olhos apenas para ver o rosto do Imediato perto do seu – O que está fazendo aqui? – ele indagou ao soltá-la e logo em seguida foi a vez dele ser enlaçado pelos braços dela que o envolveram em um abraço apertado.

                Sasuke ficara um pouco assustado com a reação da garota, mas logo sentiu que a menor tremia e, um pouco hesitante, retribuiu o abraço, tentando acalmá-la. Era a segunda vez que ela fazia isso, mas agora era a vez de Sasuke tranquilizá-la. Já desconfiava que algo de muito sério tivesse acontecido para ela estar ali sem a permissão dele ou de Naruto.

                Ela suspirou contra o peito quente do Imediato. Não entendia muito bem, mas sentia-se bem ali, entre os braços dele, como se ele fosse uma tábua de salvação em meio à tormenta, o que era um pouco estranho já que ele, muitas vezes, foi o responsável por tornar a sua estadia no Kurama um pequeno inferno.

— O que houve? – ele indagou com a voz amena, tentando não assustá-la e permitiu que ela se afastasse de si para finalmente saber o que havia acontecido.

“Fomos atacados, eu consegui fugir, mas Gaara ficou no navio.” e imediatamente o Imediato ficou tenso.

— Alguém veio atrás de você? – questionou olhando sobre a garota que aquiesceu – Melhor encontrarmos os outros, então. – e a puxou pelo braço para que não se perdesse de si.

                Sasuke só conseguia pensar em quem seria o louco a invadir o seu navio daquela forma. Mas fosse quem fosse, iria pagar com a vida.

—*-

                Quando Naruto viu Sakura junto de Sasuke, colocou-se imediatamente em alerta. O rosto do Contramestre era a prova de que algo acontecera e o fato de Sakura mancar enquanto andava, também. E quando ouviu a história da Grumete, ele não sabia o que pensava primeiro, pois o sangue parecia circular tão rápido e com tanta força que ele somente desejava matar o intruso que estava de posse do Kurama. Eles foram até o porto apenas para constatar o que já imaginavam. Roubaram o seu navio. O Uzumaki encara Sasuke que parece tão furioso quanto ele próprio. Nem Naruto e nem Sasuke tinham muitas coisas em sua vida que podiam dizer ser especiais, mas aquele navio... aquele navio era um marco para eles.

                Ambos lutaram, sangraram e navegaram no Kurama por anos. Para conseguirem serem os donos da embarcação tiveram que provar o seu valor diversas vezes, recolher dinheiro dos saques e matar oponentes a cada tentativa de motim até formarem uma equipe em que confiassem, e agora... alguém havia levado o seu bem mais precioso. Sem contar que Gaara estava a bordo, à mercê dos piratas, como Sakura contara. Sabia que ele iria saber se defender, mas e a sereia? Céus, eram tantos cenários que passavam pela cabeça de Naruto que ele começava a ficar tonto com tantas perspectivas e com as emoções a flor da pele.

“O que faremos agora?” sentiu Sakura puxar a sua manga e lhe encarar triste. Ela parecia encolhida e sentindo dor, mas continuava ali ao lado deles e, de alguma forma, aquilo o acalmou.

— Iremos recuperar o Kurama – foi a decisão de Naruto.

—*-

— Conte-me de novo, por que a mulher não está com você? – Itachi indagou com os pés sobre a mesa que antes pertencia a Naruto.

— Ela sumiu! Não a achei em nenhum lugar, então pensei que era melhor voltar, antes que o navio se afastasse muito e eu me perdesse de vocês e... – Deidara explicava-se quando sentiu uma faca ser atirada em sua direção e se não fosse um pouco mais rápido em desviar-se, com certeza estaria morto.

— Você não é pago para pensar – Itachi disse de forma tranquila, mas enganava-se quem pensava que ele não estava furioso por não ter uma ordem obedecida. Deidara engoliu a seco. – Poderia ter ido para o navio e ter nos encontrado no local combinado, mas você não queria perder a diversão e, por isso, desrespeitou uma ordem minha, não é? – encarou-o friamente e o loiro novamente temeu por sua vida.

— Er... eu... eu – viu Itachi levantar-se e vir em sua direção – Eu só pensei que...

— Odeio ter que me repetir – Itachi ao se aproximar de Deidara que parecia se encolher – Você não é pago para pensar – e sentiu o Uchiha apertar o seu pescoço com força – É pago para obedecer – Deidara começou a sentir o ar faltar e apertou o braço do Capitão para alertá-lo, mas não pareceu ter efeito – Só não o matarei, pois quero ver qual será o próximo passo – e soltou o pirata que arfou em busca de ar antes de começar a tossir.

— P-Próximo... passo? – questionou confuso e ainda tentando se recuperar do quase enforcamento. Porém, a única resposta que teve foi o sorriso do Capitão e Deidara temeu pelo o que estava por vir.  

 -*-

                Ino estava confusa e assustada. Em um momento estava com Sakura e o humano, Gaara, discutindo sobre ser libertada até que o ruivo resolveu tirar a sereia do convés para pensar e poder conversar com Sakura melhor, e no outro estava de volta no pavimento de cima do navio, mas agora ela não reconhecia nenhuma das figuras ali presentes e aquilo estava a deixando nervosa. Olhava de um lado para o outro esperando encontrar os humanos que sua irmã convivia, mas todos eram desconhecidos por si. E o pior era que não via Sakura em lugar nenhum.

— Ela realmente é linda – um dos humanos comentou ao se aproximar e ela nadou para trás novamente, impondo distância entre eles, mesmo com o vidro a protegendo. O homem era alto, o cabelo espetado e o sorriso que despontou fez com que ela se arrepiasse. Ele parecia um tubarão encarando a sua presa.

— Linda e extremamente perigosa, não se esqueça, Kisame – Itachi disse ao se aproximar do seu Imediato enquanto observava a sereia que parecia acuada e ao mesmo tempo intrigada com o humano a sua frente. Esse homem lhe lembrava o Contramestre humano, de olhos de tempestade, que estava com Sakura.

— Será que ela nos entende? – um homem de cabelos compridos da cor do sol se aproximou e bateu no vidro, irritando Ino. Humano idiota!

                Antes que a conversa continuasse, o barulho de alguma algazarra foi ouvido e logo todos se voltaram para ver a cena. Ino tentou enxergar do que se tratava e foi impossível não arregalar os olhos ao ver que era alguém que conhecia.

— Pelo visto você continua sendo teimoso. Não acha melhor desistir, Gaara? – Itachi indagou ao se aproximar do ruivo que estava cercado por mais três de seus homens.

                O Sabaaku arfava pelo esforço e segurava um dos lados do corpo, onde havia sido golpeado brutalmente. Ele estava cercado. Desde que fora capturado haviam o prendido no último pavimento do navio e agora haviam resolvido trazê-lo para o convés somente para humilhá-lo ainda mais. Itachi havia mandado darem uma surra nele, mas mesmo em desvantagem Gaara havia conseguido se livrar do seu algoz e esmurrado o primeiro pirata que tentou contra si. Mas como estava em desvantagem, logo o capturaram e enquanto dois o seguravam, um terceiro o socou nas costelas até que desabou no chão.

                Itachi puxou os cabelos vermelhos do Sabaaku que grunhiu em dor, porém antes que o Uchiha pudesse falar algo mais, Gaara começou a rir debochado pelo fato de mesmo preso estar dando trabalho para o pirata, e aquilo enfureceu Itachi. Ele estava rindo de si? Mesmo estando naquela situação? Ainda segurando o jovem pelos cabelos desferiu um soco no rosto dele que cuspiu sangue devido a força. Ino balançou a cauda angustiada com a cena que via a sua frente. O que estava acontecendo? Fosse o que fosse, Gaara não era amigo daqueles outros humanos e sua irmã não estava à vista, o que só a deixava mais apreensiva. Viu quando o mesmo pirata de longos cabelos negros bateu novamente no Sabaaku que continuou rindo e Ino o achou louco. O que ele estava fazendo? Queria ser morto?

                Aproximou-se do vidro e decidiu fazer algo. Iria sair dali e seria do seu jeito. Começou a mexer os pulsos até conseguir tirar aquele pano maltrapilho que a impedia de falar. E quando se viu livre daquele tecido notou ser alvo de atenção de todos os piratas, mas ela pouco se importou e, antes que alguém conseguisse alcançá-la, a melodia os acertou primeiro.

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                Gaara nunca havia imaginado que Itachi poderia ser tão forte, mas o soco dele realmente doía. Mesmo assim ele não conseguia parar de rir somente para irritá-lo ainda mais. Claro que toda a graça foi embora conforme seu rosto ficava inchado e sangue escorria do seu rosto, mas Itachi não parava e com certeza morreria de tanto apanhar se não fosse por ela. Não imaginava que seria tão forte e que seu corpo reverberaria ao som da voz da sereia. Não lembrava-se de ser assim quando ouviu o canto das sereias pela primeira vez. Antes havia sido como se ele adormecesse e estivesse sonhando, mas agora... agora o som era tão nítido, tão real e tão quente.

                Mas mesmo que ele quisesse ir até ela, seu corpo permanecia imóvel e seus olhos grudados na figura de cabelos loiros curtos enquanto entoava a sua melodia. Notou que Itachi lhe soltara e forçou o corpo para ao menos sentar-se. Tão estranho... ele continuava fascinado pela criatura mística a sua frente, mas não parecia estar sendo controlado como os outros e foi com assombro que percebeu que ela não tentava encantá-lo. Como um bom observador, viu Itachi andar a passos lentos até a sereia que continuava a manter contato visual com ele. Então, era ele quem ela controlava.

                Itachi andou até a prisão de água de Ino que, movimentando a cabeça, indicou a abertura e os pulsos, mostrando que queria ser liberta. E enquanto continuava a cantar, viu o humano abrir a parte de cima do pequeno tanque que a prendia e ficar pendurado na beira do tanque com o olhar vidrado em si. Ela chamou mais outros dois humanos, o loiro de cabelos compridos e aquele que tinha cara de tubarão, e ambos pularam dentro do tanque. Enquanto um tirava os grilhões que prendiam suas mãos, o outro cortava a amarra de sua cintura. Sorriu com a facilidade e olhou brevemente para Gaara que continuava aturdido com a cena que via.

                Ergueu o corpo para fora d’água e viu a mão estendida de Itachi a sua espera. E ela rapidamente aceitou, porém notou que ele desviara da sua mão enquanto se aproximava mais de si. Ela franziu levemente o cenho sem entender o motivo daquele comportamento estranho e continuou a cantar, pedindo a mão dele para si. Mas mais uma vez Itachi não a obedecera e ao invés de erguê-la como queria, ele passou sua mão sobre o rosto da sereia, em uma carícia lenta e Ino sorriu ao ver como o humano estava fora de si. Encarou os orbes negros como a noite e ao ver um brilho perpassar por eles rapidamente sentiu o ar faltar-lhe. E um sorriso ladino formou-se nos lábios de Itachi enquanto apertava o pescoço da sereia, impedindo-a de continuar a canção.

                Ino não conseguia acreditar no que estava acontecendo. A carícia no seu rosto havia se transformado e, lentamente, Itachi a sufocava-a com uma das mãos. Ela começou a se debater e tentar afastá-lo, mas a cada tentativa o aperto aumentava e ela ficava com mais dificuldade para respirar. Em determinado momento ela não conseguia mais cantar e logo todos os humanos apenas se tornaram observadores da cena a sua frente, enquanto saiam aos poucos do torpor da voz da sereia.

— Achou mesmo que conseguiria fugir? Que seria tão fácil? – Itachi indagou ao ver o rosto da sereia se contorcer e ficar cada vez mais vermelho devido à pressão que exercia – Você achava que todos iriam cair no seu truque barato, não é? Eu sei que você consegue enfeitiçar o coração dos homens até que todos estejam nas suas mãos – e afrouxou a mão por um momento, para evitar que ela desmaiasse asfixiada, ainda queria se divertir mais com a criatura a sua frente. Então, lentamente, aproximou o seu rosto do dela... – Acontece que eu tenho uma novidade para você, sereia... – até alcançar o delicado ouvido e sussurrar – Eu não tenho coração! – e foi com prazer que viu os olhos azul celeste ficarem arregalados e amedrontados.


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Notas finais do capítulo

Então, gostaram? O nome do capítulo faz referência justamente ao Itachi que não foi enfeitiçado pela Ino, mas acalmem-se e façam as suas apostas sobre o motivo que isso aconteceu, prometo que em breve isso será explicado e pode ter certeza que temos um mistério envolvendo o nosso Itachi.
Não tivemos muito a participação da nossa Sakura, mas foi necessário, afinal precisávamos saber o que acontecia com a Ino e o Gaara que não estão em uma boa situação pelo o que podem ver. Resta saber como Sasuke e Naruto vão fazer para resgatar o navio e salvar o companheiro, e a Ino também.
Espero que tenham gostado e nos vemos em breve!
Beijos