Olhe nos meus olhos escrita por Kikyo


Capítulo 9
Comida de coelho




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/722082/chapter/9

A memória não mora mais na Tâmara que passa de geração em geração lembrando o velho mote dos ancestrais. Se os gigas dos aparelhos são suficientes para as fotos, são mais do que suficientes para viver. É que pensar é copiar. Fazer é colar
Antoni Ferreira

 

 

— Regina, acorda. - uma doce voz chamava ao longe— Regina, acorda.

 

— Já vou filha, só mais cinco minutos.

 

Regina abriu os olhos, vendo Lara a olhando, lágrimas nos olhos.— Oh amor, desculpa, achei que fosse a Marianna. - abraçou a menina enquanto olhava ao redor, não acreditando que havia pegado no sono. Notou Nicholas parado ao pé da cama com um copo de água na mão.

 

— Obrigada. - agradeceu pelo copo. - Onde está Emma?

 

— Ela está bem, mãe. - Jesus falou, sentado em uma poltrona perto da cama. - Houve um incidente, mas ela ta bem. Blandon e Marianna foram busca-la... no hospital.

 

Regina sentiu uma pressão no ouvido, seus vários pesadelos retornaram como flashs sequenciais. Não conseguiu controlar seus movimentos, tudo ficou mais lento, como se o mundo de repente estivesse em câmera lenta. O copo caiu em seu colo, molhando o edredom quando Regina tentou levantar.
A preocupação no rosto dos três ao seu redor e os braços de Jesus a segurando.

Era essa sua última memória, os braços do filho a segurando.

 

 

 

 

 

 

 

 

— Estou bem, estou bem. - Regina afastou o vidro de álcool que colocaram perto do seu rosto— Não se preocupem. Eu não comi bem ontem por estar no zoológico e não jantei. Só desmaiei porque levantei rápido e estou fraca. Foi isso.

 

— Você não comeu nada no zoo. - Lara resmungou, como se estivesse dando uma bronca.

 

— Não, não comi, por isso passei mal. Viu como é importante se alimentar bem? - Por mais que não tocasse no assunto, sua mente estava em Emma. O coração voltou disparar.— O que aconteceu com sua mãe, Jesus?

 

O jovem homem analisou Regina, como se ponderando a resposta, certificando-se que ela estava bem.— Houve uma briga em um bar, mamãe e Killian foram chamados e aí um cara avançou com alguma coisa pra bater nela, só que ela se defendeu com o braço.

 

Regina respirou fundo— Ela está realmente bem?

 

— Só quebrou o braço.

 

— Meu Deus. - Passou a mão nos cabelos. Aquilo não poderia estar acontecendo. Em sua mente a cena de um homem parrudo avançando em cima de Emma a pertubou.


***

 

— Gesso maneiro mãe - Jesus cumprimentou Emma.

 

— Você precisa ver o outro cara. - desceu do carro, ajudada por Killian.— Sério, você precisa ver o outro cara, era um guarda roupa. - Abraçou delicadamente Jesus, que ficou um tempo maior que o normal naquele abraço.— E sua mãe? Vai me deixar entrar ou vai me matar aqui mesmo?

 

— Ela estava tão preocupada com você que não comeu nada e desmaiou. - Emma notou a voz diferente do filho, ele queria chorar, estava realmente preocupado com Regina. - Está no quarto de vocês.

 

— Obrigada por tudo Killian, vou entrar. - Emma abraçou o parceiro e entrou na casa.

 

Ao entrar no quarto do casal viu Nico e Lara "forçando" Regina a comer uma panqueca.
— Já vi que de fome ninguém morrerá nessa casa.

Ambas as crianças correram e abraçaram Emma, que ficou surpresa pelo carinho.
— Tava preocupada. - Lara falou dentro do abraço— Você não veio e Regina e eu tomamos leite de madrugada... Ela tomou chá porque você não veio.

 

Emma olhou a esposa sobre a cama, parecia exausta, parecia ter envelhecido 5 anos. Parecia tantas coisas, menos bem

Nico puxou a irmã, mas parou na porta, voltando e beijando o rosto de Regina antes de pegar o prato.

 

— Ele é um fofo. - Emma falou sentando na ponta da cama. Regina deitou em seu colo.

 

— Está doendo? - Perguntou olhando o gesso no braço esquerdo.

 

— Um pouco, vou sobreviver. - acariciou os cabelos castanhos.

 

— Eu não vou aguentar passar por isso de novo, Emma. Quando os gêmeos entraram em nossas vidas você prometeu ficar apenas na administração.

 

— Mudei de parceiro, amor. Demora um pouco pra me voltarem pra Adm.

 

— Você tem família, caramba! Isso não conta? Eles tem que te retornar pra Adm..

 

— Todos naquele departamento tem família... E é por isso que fazemos o que fazemos, pela nossa família.

 

— Eu... Eu não consigo tirar a imagem de um homem te fazendo mal, Emma. Eu não consigo tirar isso da minha cabeça. - Enxugou uma lágrima— Dói, dói muito imaginar isso. Sabe aqui no peito, dói muito. Tira até a vontade de respirar. Eu não suportaria te perder Emma. Juro que não.

 

— Você não vai me perder.

 

— Você prometeu isso e olha aí. - apontou o braço engessado— Olha como você ficou.

 

— Fiquei assim porque me defendi, cumpri minha promessa... Eu voltei pra casa.

 

— E se um dia você não voltar?

 

— Esse dia não chegará. Eu sempre voltarei pra você.

 

Regina sentou, deixando Emma tomar mais lugar na cama, ambas deitaram e se abraçaram, os minutos se tornaram segundos naquela posição. Não era necessária nenhuma palavra, apenas ficar ali bastava.
É isso que importa, apenas ficar, sem cobranças, sem juras, apenas ficar diz muito. Esquecemos isso na pressa da rotina, esquecemos isso quando o outro não está bem. Desmerecemos uma dor e subestimamos um sentimento.
Apenas não ficamos, algo simples de se fazer, mas... é isso que nós, seres apressados fazemos; não nos atentamos ao detalhes, não vivemos o simples...
não vivemos.

Emma estava pensativa, precisaria redobrar o cuidado. Ter Killian ao seu lado fez retornar aquele sentimento de aventura, da busca por adrenalina...
Porém, naquela época ela era uma adolescente. Não havia Blandon, não havia casamento. Tudo bem se esgueirar pela noite e ser uma salvadora quando se tem 20 anos, mas... agora ela era mãe. Os dias de Batman e Robin chegaram ao fim. Ela não tem mais 20 anos.

— Blandon não quer conversar comigo ou com Killian. - Emma falou acariciando algumas mechas de cabelo castanho.

 

— Em uma noite ele quase perdeu os pais, o que você esperava? É o seu trabalho Emma, mas isso não quer dizer que não iremos nos preocupar ou sofrer por você.

 

— Desculpa ter feito você sofrer, amor.

 

— Desculpa nada, você vai pagar por isso.

 

— Como?

 

— Você verá srta. Swan.

 

— Senhora, agora sou senhora, me casei.

 

 

***

Duas semanas passaram como vultos. Emma ficou todos os dias em casa, o tédio incomodava mais que o braço quebrado. Na verdade outra coisa incomodava mais.

— Amor, eu não me transformei em um coelho, pra que tanta folha no meu prato?

 

— Usa essa boca pra comer ao invés de falar, Swan.

 

— Queria usar pra outra coisa, mas você não deixa. - Emma revirou algumas folhas com o garfo.— Já faz duas semanas que não deixa.

 

— Isso é pra você aprender a não me preocupar mais. - Regina falou, olhando por cima dos óculos, ciente do quanto isso mexia com Emma.

 

— Não provoca, já estou quase subindo pelas paredes dessa cozinha.

 

— Nossos filhos e os filhos emprestados estão em uma festa. Que pena.

 

O prato ficou mais tedioso que antes. Emma levantou, indo em direção a Regina, não era possível que ela não estivesse nem um pouco excitada. Emma estava em sua melhor forma, com seu short mais atraente e caramba! Ela estava usando maquiagem em casa, tudo para conseguir um momento íntimo com sua esposa.

Se aproximou de Regina, que por reflexo levantou. Sem avisar roubou um beijo, um beijo que foi ficando mais necessário, mais necessário que o ar.

 

— Srta Swan, não brinque comigo. - A voz de Regina estava rouca de desejo, corpo arrepiado, há tempos não estava aguentando mais aquela punição que ela mesma havia colocado. Não estava mais suportando ser punida no processo de punir.

Regina apenas percebeu que deu alguns passos para trás quando encostou no balcão. Sendo levantada e colocada por um braço de Emma.

 

— Eu não vou preparar mais nenhuma comida aqui enquanto você não higienizar esse balcão.

 

— Ok - beijou com sede os lábios da mulher— Não quero comida de coelho mesmo, só quero você.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Alguns vão ficar meio p* por essa parada. Mas essa cena seria rápida, prometo uma mais caliente depois. ^^



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Olhe nos meus olhos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.