Olhe nos meus olhos escrita por Kikyo


Capítulo 7
Nada é por acaso


Notas iniciais do capítulo

Esse cap pertence ao outro (anterior). É uma continuação do último, mais voltado para Marianna e Nico (ou como diz uma leitora fofa: Nick ^^)



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Uma família não é um grupo de parentes; é mais do que a afinidade do sangue, deve ser também uma afinidade de temperamento. Um homem de gênio muitas vezes não tem família. Tem parentes.
Fernando Pessoa

 

— Mãe, você vai brigar comigo? - Marianna falou ainda dentro do abraço de Regina.

 

— Por que você faltou de aula? É isso que não consigo entender. Aconteceu algo grave na escola? - A última frase saiu com um tom mais preocupado do que queria.

 

— Não aconteceu nada. Só que... Eu fiquei nervosa e sai. Não estava com cabeça pra escola.

 

Regina desfez o abraço e puxou Marianna para um banco, sentando ao seu lado. - Então, sempre que você ficar nervosa vai simplesmente fugir? - pegou a mão da filha.— Quando você estiver namorando alguém, vai fugir na primeira briga? Irá fugir na primeira discussão com o patrão também?

Marianna abaixou a cabeça constrangida.

 

— Nem sempre fugir é a solução, filha.

 

— Ainda sou muito jovem, mãe. Há coisas que... Há coisas que são mais difíceis.

 

Olhou ao redor. Viu Nicholas sorridente experimentando o tênis.— Aquele menino, você acha que ele fugiria de algo quando estivesse nervoso?

Marianna olhou o garoto, tão centrado e sábio. Realmente, idade é apenas um número.— Cadê os pais dele?

 

— A mãe morreu. E pelo que Emma pesquisou, o pai morreu em um acidente, pouco antes de Lara nascer.

 

Como aquele garoto conseguia sorrir após perder tanto? Mariana pensou, um misto de admirada e preocupada.— Você vai colocar ele no psicólogo? Como fez comigo e com Jesus?

 

— Infelizmente não temos condições agora. Os cheques de apoio dos dois vão demorar um pouco. E mesmo assim, não é o suficiente pra pagar psicólogo.

 

— Aqui, nessa loja eles estão precisando de vendedor. Posso ajudar.

 

Regina olhou admirada para sua filha. Jamais imaginou que Marianna fosse capaz de tal ato.— Filha - estava orgulhosa— Linda sua atitude, mas Emma e eu queremos que vocês estudem primeiro. Trabalhar depois. - Abraçou a filha que não se constrangeu pelo abraço em público, apenas se encolheu dentro dos braços maternos. Ela tinha uma mãe, ou melhor, duas. Não custava dividir com quem não tinha nada. Como gostava daquele abraço.

 

— Então, mãe, vou passar minhas anotações do ano passado e desse ano pro Nico ir estudando. - Queria retribuir as palavras que o garoto ofereceu para ela. Gratidão, era isso que Marianne sentia.

Regina a olhava engraçado

— Que foi mãe?

 

— Nada. Só que essa foi a primeira vez que você o chamou pelo nome, e foi um apelido. - Ambas riram. - E não querendo abusar... Acho que Lara não sabe ler bem, talvez ela precise de ajuda.

 

— Eu posso fazer isso.

 

— Sei que pode. Você é uma Swan Mills... Não soou muito bem, ne?

 

— Não - Marianne riu— Mas não me importo de ser um cisne(swan) do moinho(mills) desde que seja filha de vocês.

 

— Você sempre será, meu amor. Não existe ex-filha ou ex-mãe. Vou te contar um segredo... Vou levar eles ao zoológico, quer ir conosco?

 

Marianne sorriu animada— Claro. Vou poder alimentar os elefantes?

 

— Sua outra mãe não está aqui pra falar que não pode. - Regina brincou, relembrando a politicamente correta que Emma era às vezes. - Mas, não acostume com isso, odeio que falte a escola.

 

***

 

— Posso saber por que não fui convidado pra ir ao zoo também? - Blandon falou enquanto colocava os pratos na mesa.

 

— Ei! Eu também não fui. - Jesus falou, colocando a jarra de suco e copos sobre a mesa.

 

— Foi uma decisão de última hora. - Regina se defendeu— Peça a outra mãe de vocês que ela leva.

 

— Mas ela não deixa a gente alimentar os elefantes - Jesus reclamou— Nem as carpas ela deixa. Com ela não tem graça.

 

— E eu achando que era amada nessa família - Emma entrou na cozinha. Marianne correu e a abraçou.

 

— Me perdoa, mãe. Eu não quis te magoar hoje cedo.

 

— Entendo filha. Só não faça mais isso. - entrelaçou o abraço— Eu amo todos vocês, de forma igual. Dedicar meu amor e dedicação a outra pessoa não muda o que sinto por vocês. - Emma abraçou Marianne mais forte, olhando confusa para Regina.

 

— Que lindo! Viu como filhas são mais carinhosas que filhos? - Killian entrou na cozinha. - Entendeu a indireta ne garoto?

 

— Agora virou uma direta. - Blandon levantou, abraçando o pai.— Você veio jantar, pai?

 

Regina olhou séria para Emma, que apenas sorriu sem graça.
— Ele vai jantar aqui, Swan? - seu tom grave fez todos a olharem. - E quando você pretendia me contar isso? - cruzou os braços.

 

— Agora? - Emma soltou do abraço e se aproximou da esposa.— Na verdade não vamos jantar aqui. Viemos só pegar umas quentinhas. - passou a mão pelo ombro da esposa - Não precisa ficar nervosa.

 

— Não estou nervosa.

 

Emma riu - Ah, claro que não. Esse bico aí é de alegria ao me ver. - trocaram um selinho.

 

— Vocês vão ficar na rua? Você sabe que tenho medo de você à noite por aí.

 

— Não precisa ter medo. É só uma ronda preventiva.

 

— Eu vou cuidar dela - Killian falou, recebendo um rolar de olhos de Emma.

 

— Ignorando ele, me diga - Emma sorriu— O que temos pro jantar?

 

Regina puxou Emma para a cozinha, no intuito de fazer as "quentinhas" e explicar o que aconteceu durante o dia.

 

 

Blandon notou Nicholas encolhido em um canto, olhando a interação da família. Por algum motivo, que não soube explicar na hora, sentiu vontade de conversar com aquele garoto.

— Ei.  Meu pai é esquisito assim, mas é gente boa - Brincou ao sentar perto de Nico, que apenas balançou a cabeça.— E por mais estranho que seja, ele e as minhas mães se dão bem.

 

— Não precisa me explicar, não ficarei aqui muito tempo. - A voz do garoto não era mais forte que um sussurro.

 

— Queria saber o que dizer agora, Nico. Tenho sorte porque nunca perdi ninguém especial. Todos que são especiais pra mim estão debaixo desse teto hoje.

 

— Não precisa dizer nada. Só ter vindo aqui já foi, tipo, legal da sua parte.

 

— Ei. Hoje vi um filhote de pássaro no quintal, acho que ele foi abandonado. - Blandon sorriu ao ver o garoto levantando e correndo para o quintal, cuidar daquele pássaro seria um bom passatempo.

 

" Todos que são especiais pra mim estão debaixo desse teto hoje" relembrou sua frase, mas ficou implícito que Lara e Nico faziam parte desse número.
Mesmo não perdendo ninguém, posso sentir a dor de quem perde, pensou, essas crianças vieram para essa família por algum motivo, nada é por acaso.

 


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Notas finais do capítulo

Quis trazer uma parte do blandon que aparece bem pouco, mas ta lá, no meio da confusao com a Callie.



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