Olhe nos meus olhos escrita por Kikyo


Capítulo 23
Apenas me abrace


Notas iniciais do capítulo

Mand S, você está por aí?

Então, essa era a outra parte que ficou faltando do cap anterior. Que vergonha a minha demorar tanto pra trazer algo que já estava escrito, né? Nem olhei quando foi a última postagem para não começar a chorar de vergonha aqui, por falar em vergonha, eu escrevi esse cap repetindo sem parar a música Souber da Demi Lovato. A vibe da música está pairando por aí durante o texto, sorry for it.
A parte que mais marcou foi "Queria ser um exemplo, mas sou apenas humana."
AI MEU DEUS! Acho que tem um pouco de olho nas minhas lágrimas!



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Não sinto tua falta.
Não sinto a falta do teu cheiro
de perfume importado
que exportou de mim.

Não sinto falta
do teu erre puxado,
nem do teu beijo
gosto-de-dente
que morde coração-envenenado.

Não sinto tua falta.
NÃO SINTO.
Nem lembro de você.
Nem da tua respiração ofegante.

Não sinto falta.
Eu sinto ânsia.
Distância.
do teu signo-preto,
do teu silêncio-grito

Sinto ânsia.
E a provoco.
E enfio meus dez dedos
na garganta
pra ver se vomito teu ser
da minha alma.

Lucas Veiga (Canção Barquinho de papel - Anavitória)

Fica quieta, Swan! - Regina reclamou pela terceira vez de Emma batendo o pé no chão de modo agitado, isso estava irritando de uma forma inimaginável. Ela amava a esposa, mas as vezes tinha vontade de quebrar aquele nariz.

— Se você parar de ficar andando p'rum lado e p'ro outro eu paro minha perna. - Resmungou, fazendo Regina parar no meio do caminho, há quanto tempo ela estava andando a esmo mesmo?

Brandon não conseguia parar de esfregar as mãos na calça jeans, suas palmas já estavam azuladas; Mariana já não tinha mais nenhum esmalte na unha, ou unha; e Jesus já tinha acabado com tudo que era comestível daquela máquina do tribunal. E as horas não passavam.

— Meu Deus! Mas esse juiz só pode tá de brincadeira! - Rubi exclamou, enquanto enchia seu décimo segundo, ou seria vigésimo? Copo de café. - Mas nunca vi demorar tanto, se quiser eu vou lá ler aqueles papeis pra ele pra ver se as coisas andam um pouco.

— Calma, estresse não vai levar ninguém a nada. - Killian tentou acalmar os ânimos de todos. - Como se estivemos indo a algum lugar com essa demora. – procurou algo na máquina para comer, nem balinhas ácidas Jesus deixou escapar, aquele menino não tinha fundo?

Uma sombra chamou a atenção de todos.

— O que você está fazendo aqui? - Emma gritou indo em direção a pessoa que entrava devagar na sala de espera do tribunal.

— Eu vim ajudar, filha. - Mary Maguereth falou em tom baixo, acanhada pela presença daquelas pessoas tão íntimas de sua filha, uma intimidade que ela perdeu há tanto tempo.

— Eu a chamei, Emma. - Regina tocou o ombro da esposa, e viu a dor da traição naqueles olhos verdes. - Eu fiz por nós, querida. Ela é a melhor promotora de Massachusetts.

— Mas aqui é Flórida e ela é minha mãe! - Emma rangeu os dentes, lembranças de um passado subindo como bile por sua garganta. Aquele gosto amargo que nada tira.

— E por ser sua mãe que vou lutar com todas minhas forças.

— Pra quê? Você nunca se importou? - As palavras saíram frias, cortantes. Mas quem estava se cortando mais com aquilo? Com certeza Emma sentia a dor também.

— Mãe... - Brandon tocou em uma mão de Emma, tentando acalmar a situação. - Ela se importa agora.

— Ah! então é isso?! Simples assim? – puxou a mão como se encostasse em um ferro quente - É só pedir desculpas que tudo é esquecido? Todos os anos que sofri são esquecidos porque ela apareceu aqui pra salvar a todos. Ah! Me poupem. – Afastou as mãos de Regina de seu ombro. Não queria ser tocada, cada digital era símbolo de uma traição.

— Mãe, - Mariana se aproximou, coração acelerado - Jesus e eu perdoamos nossa mãe, e ela nos abandonou da pior forma, se vocês não resgatasse a gente... – respirou fundo - não seríamos nada, não estaríamos aqui. - sentiu as lágrimas virem aos olhos - Jesus e eu... Nós perdoamos nossa mãe, não para neutralizar tudo de ruim que ela fez, mas pra desconectar da dor. Para a gente não sofrer mais. Nós éramos os maiores prejudicados.

— Lara e Nico também perdoaram todo mundo que fizeram mal a eles, e olha, - Jesus deu de ombros - eles são tão felizes, tão leves. Você disse que queria aprender algo bom com eles. Essa é uma oportunidade.

Emma olhava a máquina vazia, estava de costas para todos. Sentia por tantos anos que sua mãe lhe virara as costas, e isso apenas causou um vazio. Abandono e vazio. Há quanto tempo ela carregava isso? Não conseguia nem lembrar mais dos momentos felizes com seus pais. Por que o vazio pesa tanto? Por que ainda doía tanto?

Sentiu uma mão quente na sua, não recusou o toque. Regina nunca teve um tato muito bom para esses momentos, mas parece que o tempo a amadureceu. Mary observava as mãos dadas, tanto carinho e proteção doada em um gesto tão simples. Babysteps, precisava trabalhar nisso.

— Filha, nada vai mudar o que fiz a você ou a sua esposa. - era a primeira vez que Mary se referia a Regina como esposa de Emma, o que fez o casal prender a respiração por alguns segundos devido ao susto. - O que fiz está no passado e apenas eu devo arcar com as consequências no presente e no futuro, cada ação uma reação, certo? Mas sou eu que devo pagar por isso, não você e seus filhos. Eles não podem pagar pelos meus erros, filha.

Emma engoliu em seco, foi chamada de filha duas vezes dentro da mesma fala. Há quanto tempo não era filha? Sabia que ao afastar sua mãe, também afastava a avó de seus filhos. Ela não tinha uma mãe e os filhos não tinham uma avó, há algo injusto aí, sendo que apenas um errou na história. Por Que ela deveria sofrer com o erro de outra pessoa?

Mary, apesar dos pesares, era uma boa pessoa. Só estava cega pelo preconceito, será que ela enxergava agora?

Não respeitamos aquilo que não entendemos, será que agora ela entendia?

Será que agora ela respeitava?

Tudo que Emma queria era respeito e reconhecimento, não um amor pela metade, um amor que diz "eu gosto de você, mas essa parte de você eu não aceito." 

Como dói não ser aceita.

É como aquela ferida que dói toda vez que você toca ou se mexe de modo rápido. Sempre está ali, você esquece dela, mas ela sempre dói quando não deveria doer.

Ou se ama todas as partes, a luz e a sombra, ou não ama.

Não há possibilidade de amar apenas o que se quer, porque seria necessário ter que inventar a outra parte.

Inventamos muito as pessoas que "amamos", obrigamos elas a serem o que queremos que elas sejam, encaixar em nossa expectativa. E quando elas são apenas elas, julgamos que elas são enganadoras, falsas, mas fomos nós que negamos uma parte importante, fechamos os olhos e criamos um pedaço.

Não é possível encaixar alguém no modelo que criamos para nós, porque o modelo é nosso, e talvez, nem nós nos encaixamos nele.

O ser humano é dual, céu e terra, claro e escuro, côncavo e convexo, mal e bom, doce e amargo, seco e molhado, yin e yang. Negar uma parte é amar uma ilusão

Mary sentou no banco, ao lado de Mariana. Que menina linda e com olhos tão carinhosos. Havia Emma naqueles olhos, havia David, na verdade havia sua família inteira refletida naqueles olhos castanhos. Ter o mesmo sangue não determina os traços que a alma trás. Olhou para a filha, ainda de mãos dadas com a esposa - Você lembra a frase que está escrita na lápide de seu pai, Emma?

— “Eu encaixei dentro de mim as histórias de outras pessoas.” – Emma lembrou todas as vezes que seu pai disse isso, o quanto seu pai dizia que ouvir é um respeito a outra pessoa. “Escute pelo outro, escute por você, quando você escuta por você, você não julga. Encaixe as histórias dos outros dentro da sua história.” Emma se virou, iria reverenciar quem seu pai foi, o melhor ouvinte que já existiu. Todas as conversas com aquele maravilhoso homem vieram em sua mente como um filme em flashes.

— Jamais poderei apagar tudo que fiz e falei, e principalmente o que causei a você e sua família. Mas acredito que maturidade é saber discernir o que pode ser mudado do que não pode. Jamais poderei respirar o futuro e meus nervos jamais poderão voltar ao passado, mas posso fazer algo no agora. Seu pai foi o melhor homem que já conheci, e vou me culpar eternamente por não poder ver o quanto você transformou em homens esses dois seres. – apontou para Brandon e Jesus – E essa linda princesa... – olhou mais uma vez os olhos castanhos que a fitavam com carinho. - Você Emma, você criou eles da melhor forma que pôde ao lado da pessoa que você ama... Não vou permitir que você não tenha a oportunidade de fazer o mesmo para aquelas duas crianças que de alguma forma vieram até vocês. Você não precisa me amar, não precisa sentir minha falta ou me perdoar. Só me deixe ajudar a fazer o seu melhor. Seu pai foi o melhor ouvinte que já existiu, você é a pessoa que sempre ajuda a todos, me deixa ajudar você a ajudar...

— Eu senti sua falta. – Foram as palavras que vieram sem permissão a boca de Emma. O que poderia acontecer depois? Seu coração seria quebrado novamente com palavras frias?

Ela se sentia uma criança que os pais saíram à noite e ainda não voltaram. Se sentia sozinha. Mas ela não foi abandonada, apenas se afastou daquela dor, mas aquela dor nunca se afastou dela.  

“Perdoar não é compactuar com o erro do outro, é apenas se desconectar da dor.”

Na prática Emma percebeu que a distancia que ela mantinha das pessoas era a distância que mantinha dela mesma. Ela não queria mais ser tão distante e também queria seus dois filhos de volta.


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Notas finais do capítulo

Só pra piorar minha situação, revisei ouvindo My blood do Shawn. Ok kkkk tao tá, né?
Então, desejo muito que vcs tenham pegado a vibe desse cap e levem para a vida de vcs. As vezes aquela pessoa que grita com vc, que te machuca só quer dizer o título desse cap, não fomos programados para pedir por ajuda, pra pedir por carinho, mas fomos programados para exigir aquilo que não damos.
Não quero de forma nenhuma justificar um erro que esse cap apresenta, mas... tá, vai lá ouvir as dua musicas que citei que vc entende. kkkk



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