Olhe nos meus olhos escrita por Kikyo


Capítulo 22
Vamos buscar nossos filhos


Notas iniciais do capítulo

Juro que vou editar esse e o cap anterior... É que to postando pelo celular. ^^
Para não deixar esse cap muito grande, decidi dividir ao meio. Essa é a primeira parte.
Enjoy



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Carrego seu coração comigo
Eu o carrego no meu coração
Nunca estou sem ele
Onde eu for, você vai, minha querida
Não temo o destino
Você é meu destino, meu doce
Não quero o mundo pois, beleza
Você é meu mundo, minha verdade
Eis o segredo que ninguem sabe
Aqui está a raiz da raiz
O broto do broto
E o céu do céu
De uma arvore chamada vida
Que cresce mais do que a alma pode esperar
Ou a mente pode esconder
E esse é o prodigio
Que mantem as estrelas a distancia
Carrego seu coraçao comigo
Eu o carrego no meu coraçao.
E.E. Cummings

 

— Ah! Você. Me falaram que você viria. - a mulher de meia idade cruzou os braços e se mostrou imponente diante da entrada da casa. Estudou Emma e Killian com desdém, adivinhando, corretamente, que os dois estavam batendo em sua porta por causa das crianças. Com a cara fechada, ela encarou duramente Emma, que a fuzilava com o olhar e disse: - Eu não dou permissão.

 

— Eu não pedi sua permissão. - Emma rosnou - O juiz me permitiu ver as crianças, isso que importa.

 

— Irei cuidar bem deles, não se preocupe. Eles estão em uma boa casa agora, policial. - O desprezo era quase palpável naquela voz agudamente irritante.

 

— O que você quer dizer com isso? - Emma deu um passo mais próximo da mulher, que continuou na porta, não sendo abalada pela fúria daqueles olhos verdes.

 

— Você me entendeu. - a mulher levantou uma sobrancelha em desafio. Sorriu de lado quando viu Emma respirar fundo para conter a raiva. Quem aquela policial pensava que era para tirar as crianças da casa dela? Era uma boa casa de apoio. Tinha comida e teto, isso que importa.

 

— Queremos ver se as crianças estão bem. - Killian se aproximou, ficando ao lado de Emma. Dois fardados furiosos diante de uma mulher fria.

 

— Elas estão bem. Já disse.

 

— Queremos ver, também já disse. - retrucou Killian. Não suportava mais olhar para aquela mulher sem poder fazer nada além de “tentar conversar”. Se sentiu impotente quando viu a dor cravada nos olhos de Regina no dia anterior. Sentiu fúria quando viu Emma em pedaços, sentada no sofá ao lado dos três filhos tristes. Não iria desistir da família que também era sua. Iria enfrentar aquela mulher.

 

— Eu não vou deixar. Eles estão muito bem agora. Meu marido e eu somos ótimos pais. As crianças estão sendo bem educadas. - a mulher sorriu de canto novamente.

 

— Vocês estão dando abrigo para 6 crianças, não estão aptos para ficar com mais dois, senhora. - Killian não conseguia mais ser paciente.

 

— E duas mulheres não estão aptas para dar abrigo a duas crianças órfãs.

 

— Não te fizemos uma pergunta, senhora. Demos uma ordem. - Emma deu mais um passo, poucos centímetros do rosto flácido daquela mulher. - As crianças não são suas, são do estado. Sou servidora do estado e tenho pleno direito de verificar o estado atual delas, mediante ordem do juíz, dispenso qualquer comentário além disso.

 

— Não sou a favor delas ficarem com duas mulheres. - a mulher descruzou os braços, já não estava mais tão imponente.

 

— Não me importa se você é a favor ou contra, essa decisão não é sua. De novo, não te fiz uma pergunta. Você tem a liberdade de expressão para falar, assim como eu tenho para decidir o que escutar. Se a senhora continuar insistindo na sua visão pessoal sobre o tipo de tratamento social que ofereço às crianças sob minha tutela, tratarei isso de forma pessoal também e irei encarar como insulto. - retirou a algema da cintura, mostrando-a pendurada ao polegar. - E nesse caso, iremos resolver na delegacia, já que sou uma servidora pública.

 

A mulher de meia idade rangeu os dentes e deu espaço para os policiais entrarem.

 

— Obrigado, senhora. - Killian agradeceu.

 

— Como se eu tivesse escolha.

 

Emma entrou na casa reparando tudo ao redor. Em nada lembrava seu lar, não havia a mágica do amor no ar, só tinha paredes e objetos. Subiu os degraus, intuíndo ser lá os quartos. O corredor era estreito e não possuía quadros ou fotos na parede. Aquela era uma casa, só isso. havia paredes, tetos e móveis, mas um lar não é formado apenas disso.

Sem o amor de uma família, tudo não passa de amontoados de coisas em um lugar. Aquela casa era tão vazia…

 

Sorriu ao ouvir a voz de Lara, ela contava uma história sobre princesas e dragões, dando ênfase aos dragões.

 

****

 

Enquanto Emma visitava Lara e Nico, Regina estava apática, andando a esmo pela casa. Lutaram tanto por uma visita, mas isso não garantia trazer as crianças de volta. A burocracia era tão grande.


Sentia o fracasso e desespero aos poucos tomarem conta.
Por que não podemos apenas relaxar e curtir o momento?
Por que sempre é preciso ficar nessa balança?  Lutando entre dias bons e dias jogados em um canto do ringue em uma luta?

 


Regina andou pelo jardim, sua pequena macieira estava ali, fruto do amor de sua família, fruto do cuidado, fruto do fruto. Tocou a árvore sentindo sua textura. Sentiu o vento balançar seus cabelos…


Sorriu ao ver as peças de papel machê repousando nas mesas de madeira. Reconheceu Mariana no sapato de salto alto, com certeza seria pintado de vermelho depois. Sorriu ao lembrar da menina pequena abrindo o guarda roupa e misturando roupas de Emma e Regina. Era incrível como sempre escolhia vestir e calçar o que pertencia a morena, o que gerou ciúmes em Emma algumas vezes.

 


Olhou a pequena macieira de papel machê. Era possível identificar as maçãs e as folhas em meio a tanto branco. O talento do Nicholas era tão notório que não precisava de tinta para ser uma obra de arte. Fruto do amor, fruto do cuidado, fruto do fruto.


Sentiu seu coração apertar ao olhar para os pequenos bonequinhos feitos pelas pequenas mãos de Lara. Não conseguia distinguir bem quem era quem ali, mas sabia que todos estavam devidamente representados. Pegou um bonequinho na mão, ele vestia algo parecido com uma jaqueta, Regina imaginou aquela jaqueta pintada de vermelho e deduziu fácil quem seria. Pegou cada um dos bonequinhos, identificando seu modelo pelos objetos perto.
O teclado pertencia a Brandon; O copo (que deveria ser de suco) ao Jesus; O celular a Mariane; Uma arma a Killian; Um livro ao Nico; Um bolinha de papel representava a ovelha tigra de Lara. E o último boneco possuía um coração na mão, o boneco de saia, o boneco que estava no meio de todos…



Regina chorou.



Não conseguiu evitar, a dor era sufocante.

 

Foi abraçada por Jesus, não havia percebido a presença dele ali. Desvencilhou do abraço e andou. Negou com a cabeça o abraço de Mariana, que a olhava preocupada perto da porta. Passou por Brandon confuso na cozinha, pegou a chave do carro e saiu. Só queria ficar sozinha. Só queria fugir de tudo.



***

 

Emma respirou fundo e bateu na porta. Uma menina faltando um dente abriu. Olhos castanhos arregalados tiveram medo dos policiais ali.

 

— Não fui eu. - A pequena balbuciou com medo.

 

— Eu sei disso - disse Emma sorrindo -, não se preocupe. - a menina correu para seu lugar entre os lençóis.

 

Olhou o quarto, havia dois beliches e uma menina em cada cama. Cinco garotas em um quarto com espaço para quatro, onde Lara dormia?

Viu a pequena sentada em um canto, olhos cheios de água.

— Você veio. - Foi um sussurro que Emma conseguiu ouvir, mais sentir que ouvir.

 

— Eu prometi que viria.

 

Lara levantou correndo, não importava que as lágrimas caíssem e todas as meninas a vissem chorando. Era sua mãe ali, sua mãe que nunca desistia.

 

Emma abaixou, recebendo o abraço e levantando Lara no colo. - Senti sua falta, minha princesa.

 

— Veio resgatar sua princesa? - Lara disse dentro do abraço gostoso.

 

— Infelizmente não. Mas trouxe uma aliada e também  a promessa que vou te tirar daqui.

 

Ouviu Lara fungar. - Regina está bem?

 

— Está preocupada. Ela queria muito vir, mas estou aqui a serviço, então ela não pode. - tentou sorrir, mas sua voz estava instável, embargada. - Todos estão sentindo muito a sua falta e a do Nico.

 

— Ele está no outro quarto. Não deixam a gente conversar - disse chateada -, falam que meninas só conversa com meninas. Eles são bobos, mãe.

 

Emma sentiu seu coração aquecer, como era gostoso receber esse tratamento de Lara, de sua filha.

 

— Linda, arrume suas coisas, ok? Vou pedir pro Nico fazer o mesmo. - esperou a pequena confirmar com a cabeça - Vocês vão para outra casa de apoio mista, mas lá é como um orfanato, ok?

 

— Você poderá ir me ver? - havia esperança nos olhos azuis.

 

— Todos os dias. Lá a Regina poderá ir também. Agora eu preciso correr para fazer isso, preciso pegar um juiz na reta e conseguir tirar vocês daqui. - sorriu.

 

Deu um abraço forte na menina, descendo ela ao chão. Queria muito abraçar e conversar com Nico, mas não daria tempo, já era  quase meio dia. Com o coração apertado olhou para Killian, não havia necessidade de palavras, ele entendeu tudo.

 

Correndo Emma desceu as escadas, murmurou um “passar bem” a mulher que a encarava de modo hostil.

 

Killian olhou para Lara, tão pequena e já passou por tanta coisa. Tirou a mochila das costas e se abaixou, ficando na mesma altura que Lara. Olhou as mãos pequenas que esfregavam uma a outra em expectativa. As mãos ainda com cicatrizes de um resgate. O resgate de tigra.

 

— Ei lindinha, tenho algumas encomendas pra você.

 

Lara sorriu quando viu sua ovelha. Abraçou Tigra como se disso dependesse sua vida. Killian sorriu e tirou uma sacola da mochila.

 

— Aqui tem uma agenda com exercícios que a Mariana mandou pra você continuar aprendendo a ler e escrever. Tem biscoitos e chocolates que Brandon e Jesus juraram ser seus favoritos, esconda, mas divida com duas amigas, ok?

 

Lara balançou a cabeça animada, seus olhos brilhavam para a sacola.

 

— E tem uma coisa que Regina mandou, ela disse que você entenderia. Diga que é para uso pessoal e ninguém poderá pegar de você, ok? Mesmo lá na outra casa de apoio.

 

Killian tirou um pequeno shampoo da mochila, os olhos de Lara ficaram molhados e sua mente foi transportada para o dia em que chegou a casa da Regina. Dela fazendo um moicano naquele shampoo, dos dedos macios e carinhosos e do cheiro de maçã. Abraçou o shampoo como se estivesse abraçando sua mãe, sua Regina.

 

— Preciso ir no quarto do seu irmão, antes que eu coma esses marshmallows - sorriu mostrando o pacote.

 

Lara sabia que aquele marshmallow era um presente de Emma para Nico, marshmallow com chocolate, o dia mais feliz de seu irmão.

 

****

 

Imaginei que você estivesse aqui. - Emma se aproximou da esposa, ela estava sentada sob uma árvore, a árvore delas na antiga faculdade que frequentaram.

— Nem eu imaginava vir pra cá. Na verdade, nem sei como vim parar aqui. - Regina olhou ao redor, já estava escuro, nem notou a noite se aproximar. Algumas pessoas passavam  com fones de ouvidos, era como se Regina não fosse uma intrusa ali, voltou a ser invisível como nos tempos da faculdade.

— As crianças me ligaram apavoradas. Jesus te procurou por toda a praia, Brandon e Mariane foram aos lugares que você costuma frequentar. - Emma abriu a farda e sentou perto da esposa. - Você deixou todos preocupados. Ruby e Belle estão em um avião vindo pra cá.

Regina assustou.

— Calma, elas estão vindo porque liguei pra Ruby e contei o que aconteceu... Você conhece a pessoa, já está vindo pra cá e trazendo a namorada junto. Na verdade agora é noiva, - cantarolou - ganhei uma aposta.

 

Regina deu um sorriso fraco de lado.

Devia 10 dólares a Emma agora. Respirou fundo, ainda estava com esse aperto no peito, como se uma mão invisível apertasse seu coração.

 

— Elas estão vindo, amor - Emma disse cabisbaixa -. Decidi que vou lutar com todas as minhas forças pra ter nossa família de volta. - coçou a nuca - E  pra fazer Ruby e Belle ter  dama de honra.

 

Regina olhou surpresa para a esposa que levantou as mãos se defendendo.

— Elas decidiram que a Lara irá carregar as alianças e, eu sou o bestman da Ruby… E você irá receber a oferta para ser madrinha da Belle.

Regina sorriu fraco novamente.


— Sempre fui eu que fugi quando as coisas pioraram, Regina - não falava mais sobre casamento - sempre foi você que ficou e lutou.

— Não se menospreze, Emma. Você sempre luta.

— Mas fujo primeiro. Quando o bicho pega você já está pronta... Já eu... - olhou para o grande edifício. - Quando meu pai morreu, eu fugi pra essa cidade. Quando engravidei, fugi e nunca terminei o curso superior. Quand...

— Emma, para. Você foi a primeira a lutar pra ficar comigo. Você lutou por nossos filhos, cada um deles. - tocou a bochecha da esposa que a olhou de volta - Você é a nossa salvadora. Não temo mais o perigo porque sei que você sempre estará lá por mim. - Se acolheu entre as pernas de Emma, se aconchegado dentro daquele abraço, sentindo o coração da esposa batendo, a respiração batendo em seu ombro. Sentiu segurança. - Assim como você sempre está para todos os nossos filhos e amigos.

— Eu fracassei com a Lara e Nico. Não consegui trazer eles pra casa. Não sou tão forte assim. - deu de ombros e abraçou mais forte a esposa.

— Você me ensinou que vitória não é força, é persistência.

— Não sei o que seria de mim sem você, Regina.

— Uma bagunça descabelada. - levantou revigorada - Vamos lá. Tenho um assistente social para maltratar e você tem um advogado pra atazanar.

Emma levantou, abraçando Regina, desta vez pela frente e roubando um beijo. - Vamos buscar nossos filhos.


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Notas finais do capítulo

pois é...
Algumas coisas não ficaram claras, mas como disse, cortei o coitado ao meio.

Só queria citar que quando Nico apareceu, elas ficaram receosas porque pensaram ter uma rachadura no lar (e tinha mesmo)... As as coisas mudam, né?
Agora elas vão correr atrás mesmo kkk



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