Olhe nos meus olhos escrita por Kikyo


Capítulo 11
Olhe nos meus olhos




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Tudo o que é bonito e não tem com quem dividir dói por dentro. Pássaros na janela, bolinho de chuva, lua cheia, um filme sensível, um livro feito de suspense, a neblina cobrindo o rio, as estrelas no alguidar da noite, uma orquídea brotando sua pétala de colher. Tudo o que é lindo se não é partilhado sufoca, cria ansiedade, maltrata a solidão. Não temos como segurar a beleza muito tempo dentro da gente, senão ela vira dor muscular, tensão, medo.

Olhar é esquecer. As palavras são nossos olhos para guardar.

O impacto das recordações reside no fato de contá-las. A vida pede passagem muito rápido e temos que anotar o que sentimos na primeira pessoa que aparece em nossa frente. A folha de rosto é o rosto do amigo.

É descrevendo que a beleza aumenta, que o quintal se transforma em rua.

Beleza retida é angústia. Beleza falada é deslumbramento.

A emoção vem da transição do mundo interior para o exterior, do choque da passagem.

Fale o quanto você ama alguém, para o amor multiplicar. Não economize. Não seja lacônico. Não deduza que é desnecessário, que o outro já sabe. Não confie na telepatia e na leitura de pensamentos. Palavras também são gestos. Longe das testemunhas, o que vivemos é ilusão.

Fale o quanto você ama alguém, para o amor multiplicar. Não economize. Não seja lacônico. Não deduza que é desnecessário, que o outro já sabe. Não confie na telepatia e na leitura de pensamentos. Palavras também são gestos. Longe das testemunhas, o que vivemos é ilusão.

Carpinejar

 

— Base, não vejo nada a frente, peço avanço, câmbio. - Emma falou em seu controle da TV, abaixada atrás do sofá.

 

— Dark Swan, campo limpo, aguarde sinal da águia azul pra avanço, câmbio. - Nicholas falou no controle do DVD, enquanto, escondido atrás da porta da sala.

 

— Águia azul na escuta, darei cobertura, avance Dark Swan. Câmbio. - Jesus falou em sua mão fechada, escondido atrás do sofá oposto ao de Emma.

 

Em segundos Emma levantou, indo na direção a mesa, pronta para resgatar a ovelha, ali, presa como refém.
Primeiro andou sorrateiro, quando estava a menos de 2 metros correu, sendo surpreendida por Marianna e Lara que começaram a tacar bolas de papel.

 

— Socorro! Estou sendo atacada!

 

Nicholas correu, aproveitando a distração e pegando Tigra.— Ganhamos! Ganhamos!

 

— Que espírito de equipe heim, - Emma resmungou— Fui atacada e ninguém me salvou.

 

— Exatamente. - Jesus estava orgulhoso da vitória. - Você foi uma distração escandalosamente boa. - fez um "ok" com o polegar para Nico, que sorriu, orgulhoso pelo plano.

 

— Estou me sentindo usada. E fui "'escandalosamente'" maravilhosa, ta. Olha o respeito - Emma resmungou novamente, sentando, pulando de susto ao ver quem estava parada na batente da porta.— Ei.

 

Regina sorriu de lado.— Gosto quando minhas crianças estão se divertindo.

 

Emma revirou os olhos divertida por ter sido chamada de criança também.

 

— Cadê o blandon? - a morena perguntou confusa.

 

— Saiu com a namorada. - Emma levantou, o gesso incomodando um pouco, a dor chata voltando.

 

— Namorada?

 

— Sim, muito linda.

 

— E posso saber por que só fiquei sabendo agora? Ele não é muito novo pra isso, Emma? Namorada? Filha de quem? Ela estuda com ele? Mas como ele...

 

— Agora entende porque eu fico sabendo primeiro? - Emma sorriu.

Olhando Lara e Nico catando as bolinhas de papel pelo chão. Regina se aproximou, sussurrando:

 

— Mas ele é só uma criança, Emma.

 

— Uma criança que pode fazer outra. - Sussurrou de volta.

 

— Nem brinca com isso, Emma! Ainda não estou preparada pra ser avó.

 

— Por isso comprei camisinha pra ele.

 

— Meu Deus! Daqui a pouco você vai falar que também tá comprando maconha.

 

— Não preciso comprar, eu posso apreender e pronto.

 

— EMMA!!!

 

Todos na sala olharam para o casal. Emma ria.

Sorrindo, Lara colocou uma bolinha de papel na mão de Regina, que acertou na testa da esposa.

 

— Aí - Emma coçou a testa— Fui pega desprevenida, não vale.

 

— Srta Swan, impermeabeie esse braço, declaro guerra, meninos contra meninas. La fora... - olhou para os cinco que estavam em expectativa— guerra de balão d'água!


***

Roupas trocadas, balões cheios, um grupo de cada lado. Objetivo: O grupo "Os poderosos" (Nico, Jesus e Emma) teriam que resgatar Tigra das garras das "Felinas"(Regina, Mariana e Lara).

 

— Posso saber por que estou no grupo dos meninos? - Emma resmungou mais uma vez— Sou menina.

 

— Aceita que dói menos, querida. - Regina provocou do outro lado. - Você está no grupo dos perdedores... AS MULHERES QUE MANDAM!

 

— Prontos pra fazer elas comerem poeira? - Jesus sussurrou.

 

— Tomou seu remédio, Emma? - Regina gritou mais uma vez.

 

— Não está doendo, amor.

 

Regina se preocupou um pouco, há alguns dias Emma não tomava os remédios para dor, não era possível não existir nenhuma dor, nenhum incômodo, afinal, era um osso quebrado. Iria resolver isso.

 

Nicholas correu, mudando sua posição, se aproximando do centro. Quando tentou se mover novamente foi surpreendido por Mariana, que o atacou sem piedade com balões rosas, cheios de água.

 

— Deu certo, mãe! Menos um! - Mariana foi atacada por Jesus.

 

— Nunca denuncie seu posto, soldado. - Jesus sorriu, sendo atacado por Lara.

 

— Concordo. - Lara foi atacada por Emma.

 

Agora só restava Regina e Emma. E o pior, não fazia ideia de onde a esposa estava. Tentou se lembrar da onde vinha os gritos. Cada um foi de um lugar diferente. O jardim não era grande, como Regina conseguia se esconder tão bem?

Tentou mais um movimento, se aproximando de onde Tigra estava. Se sentia em uma guerra. Apertou o balão mais forte na mão, tinha apenas um, era vida ou morte, ou melhor, ficar seca ou molhada.

 

Mais alguns passos, tudo estava silencioso. Avistou Lara sorrindo para ela, aquela garota sabia onde Regina estava. Tentou ler o olhar apreensivo de Jesus, não adiantou nada.

Merda! Era só uma brincadeira, mas seu coração estava disparado, sabia como a esposa era competitiva.

Mais alguns passos, ouviu Nico respirar fundo, estava ansioso.

Faltava pouco agora, alguns passos apenas.

 

Olhou mais uma vez ao redor, o balão branco estava ameaçando escorregar, devido ao suor em sua mão.

 

Mais alguns passos, devagar levantou, Tigra estava ao alcance de sua mão.

 

Esticou os dedos e congelou.

 

Era um emboscada, percebeu isso ao sentir o balão explodir em sua cabeça.
Regina estava o tempo todo esperando por ele na mesa da Tigra.

Mariana e Lara pularam do banco, estavam alegres. Abraçaram Regina, a única seca da brincadeira.

 

A morena pegou Tigra, e "sem querer" deixou-a cair sobre o braço de Emma. Que urrou de dor, deixando duas lágrimas escaparem.

 

Olhou para Regina através da cortina de dor, não viu preocupação, viu mágoa.

 

— Eu sabia que tinha algo errado. Vamos no médico. - Regina falou entredentes.

 

— Não. Não precisa. Não está doendo mais. - Emma tentou sorrir, urrando de dor novamente quando Regina encostou um dedo no gesso.

 

— Não é o que parece. - virou, começando a entrar em casa— Mariana, pega uma blusa pra sua mãe, ela troca no carro. Jesus, pega os documentos, por favor.

 

— Tigra te machucou? - Lara perguntou a Emma, que ainda segurava seu braço.

 

— Não, meu amor. Ele já estava machucado.

 

— Mas ela fez doer. - os olhos azuis enchiam de lágrimas, enquanto Lara fazia um biquinho de choro.

 

— Não, não chora. Já estava doendo.

 

— Então, por que brincou com a gente? - Nico perguntou, também estava preocupado.— Quando eu tava engessado você me mandava ficar de repouso.

 

— Eu não queria incomodar ninguém.

 

— Não somos ninguém, Emma. Somos suma família. - Regina falou, não havia percebido que ela tinha retornado. - Vamos. Vou levá-la ao médico.

 


***

 

Emma estava sentada no banco de passageiro, seu corpo encolhido, como se quisesse ocupar o menor espaço possível.

 

— Agora você vai me explicar por que não está tomando os remédios? - Regina falou séria, enquanto dirigia.

 

— Eles acabaram. Não comprei mais.

 

— Posso saber por que?

 

— Porque meu braço ta inchado. Fui ao médico e ele me passou outros remédios, mais caros que os primeiros e era pra tomar junto com os primeiros.

 

Regina encostou o carro e ligou o pisca alerta.

 

— Sei que temos que poupar dinheiro, mas isso não inclui saúde, Emma.

 

— Temos mais divididas agora. Já passei por coisa pior, posso passar por isso. - Olhava para frente, não tinha coragem de encarar a esposa.

 

— Eu sei, mas... - Passou as mãos no rosto— Emma... Eu... - Sua voz falhou, queria chorar.

 

Ficaram em silêncio por alguns segundos, não sabiam como continuar a conversa.

— Você foi ao médico sem eu saber. - Regina respirou fundo— Foi porque a dor piorou, coisa que você não me contou. Recebeu o diagnóstico que não me contou e não comprou os remédios que deveria comprar. O que ta acontecendo com você, Emma? Sou tão frágil que não posso lidar com isso, por isso você tem que esconder de mim?

 

Emma estava calada, não sabia o que dizer.

 

— Fala alguma coisa, Swan.

 

— Eu não sei o que falar.

 

Um carro atrás buzinou, Regina apenas deu sinal para ele passar. Buzinou novamente. Olhou para o retrovisor, era uma patrulha. Limpou as lágrimas como pode, o homem se aproximava.

 

— Soube que Emma piorou. - Killian se aproximou da porta do motorista.

 

— Você deveria saber, afinal, levou ela há alguns dias atrás. - Regina jogou verde.

 

— Mas achei que ela iria melhorar.


E colheu maduro.

 

— Killian, por favor, essa não é uma boa hora. - Regina olhou para o homem, de forma que ele entendesse o momento.

 

— Essa foi a primeira vez que você me chamou pelo primeiro nome, com certeza não é uma boa hora. - tentou dizer algo, mas o rosto molhado de Regina e o perfil triste de Emma não permitiram mais. - Me deixe informado.

Se afastou do carro.

 

— Devo me preocupar, Emma? Você tem algum plano de voltar com ele?

 

— Não. - Emma respondeu rápido.

 

— Você chamou ele pra te levar no médico. COM CERTEZA ele sabe sobre a namorada do Blandon, eu n...

 

— Ele é o pai, tinha que saber sobre a namorada.

 

— E eu sou o que? - a voz de Regina carregava dor— Achei que fosse algo, Emma. Realmente três é demais.

 

— Desculpa, não quis dizer isso.

 

Mais silêncio, isso estava se tornando comum.

 

— Sou eu que devo proteger a família, Regina. Você conta com isso. Então, eu me meto em uma briga de bar e me torno uma alejada, dando trabalho a você e as crianças, comprando mais e mais remédios. Me contentando em ser uma passivinha porque não consigo fazer mais nada. E aí tudo piora... Eu... - Dessa vez era Emma quem chorava.— Eu sou uma inútil.

 

Regina destravou o cinto e se aproximou de Emma, a puxando para seus braços, apoiando o queixo em sua cabeça.— Você não é uma inútil. Mesmo que você não pudesse mais andar ou falar, ou fazer qualquer coisas, eu ainda queria você comigo. Se isso é egoísmo, sim, pode ser. Mas eu quero fazer seus dias melhores, não importando quanto trabalho eu tenha. Você é minha esposa, Emma. A pessoa que escolhi passar os dias comigo, na saúde e na doença. Quero poder cuidar de você e ter a confiança que você irá cuidar de mim se eu adoecer ou quebrar a mão ao te bater, porque você ta merecendo.

ambas riram.

 

— E você não é uma alejada, querida. - Regina acariciou os cabelos dourados— Daqui algumas semanas vamos tirar esse gesso e torcer pra te darem mais alguns dias em casa, com sua família. Entendo que seu trabalho é perigoso, brigas em bar é quase sua rotina, mesmo que meu coração doa toda vez que você sai pra trabalhar. E não me importa quantos remédios tenhamos que comprar, desde que você não sinta dor. E eu conto com sua proteção sim, porém conto muito mais com sua presença. Olhe nos meus olhos. - pediu

Emma obedeceu.

 

— Eu te amo, não esqueça disso. E confie em mim pra me contar as coisas. Não tenha medo de me preocupar ou magoar. - passou os dedos no rosto da esposa— diálogo é tudo que temos, Emma. Se perdemos isso, iremos nos perder também. Apenas olhe nos meus olhos e converse comigo. - beijou os lábios da esposa.

 

O beijo durou pouco, Emma reclamou da dor no braço. De imediato Regina voltou a pista, hospital era seu foco.

 

— E se isso te deixa mais alegre... - Emma hesitou— Blandon não me contou, eu descobri com meus dotes policiais.

 

 

— O que você prometeu a ele?

 

— Você não vai querer saber


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Notas finais do capítulo

Emma reclamou de seis coisas, Regina respondeu apenas 6, a próxima será respondida no próximo cap



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