WSU's: Soldado Fantasma: Honra & Monstros escrita por Nemo, WSU


Capítulo 2
Não Valeu a Pena


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente gostaria de agradecer a Natália Alonso, por ter me ajudado com a revisão, ao WSU por essa história poder existir.



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Não Valeu a Pena

 

  Após aquela ligação Tales ficou pensativo e muito nervoso, Karen entendia que ele precisava de tempo e ela respeitava isso. Sabia que ia ter suas respostas sem precisar invadir sua mente.

  No outro dia ao levantar, ela encontrou um saboroso café da manhã a sua espera: café, leite e dois pães torrados com margarina. Mas isso não era tudo, suas malas estavam arrumadas.

  Apesar de parecer frio e insensível, Karen sabia a verdade, era tudo intimidação. Tales podia preferir se manter apático e sem laços, mas não é o que ele queria. Por trás do assassino, havia um jovem confuso consigo mesmo, um jovem com sentimentos, dedicado, falho e que detestava a solidão. Na sua opinião o Soldado eram duas pessoas distintas, dois eus:

  O soldado assassino/o poder: agressivo, vingativo e a parte que se preocupava, que se responsabilizava, se culpava. O jovem estilhaçado/ a alma.

Vendo ela parada a porta ele convidou amavelmente:

— Venha comer baixinha. — Em seguida, colocou outros três pães na mesa e retirando o avental, se sentou à mesa. A cozinha era simples uma pia, geladeira, armário e dois bancos, possuindo como iluminação a janela em frente a pia.

— Desculpe por não ter dito nada ontem... — disse ele cabisbaixo.

— Não se preocupe seu bocó, entendo. Quem é seu amigo especial? Como ele sabe de você?

— Porque eu não sou o único Soldado aprimorado... — disse James enquanto suas memórias vinham à tona: A de um guerreiro impiedoso — Ele e eu fomos os únicos a sofrer os "experimentos". Ele por ser fisicamente melhor que eu, foi o primeiro a ser escolhido. Guardyhan o tornou mais forte e rápido do que eu, sem falar que o fator de cura dele é três vezes melhor que o meu.

— Lutaram entre si? — indagou ela curiosa, em seguida tomando mais um gole de leite.

— Sim, várias vezes entre as décadas, em treinamentos ou quando eu me rebelava.

Ele encheu o copo de dizendo:

— Quando nós voltamos para casa, ele decidiu ficar com a família e se casar. Eu por outro lado, precisava reorganizar minhas ideias e ter certeza que poderia confiar em mim mesmo, tive medo de acordar um dia... — derramou o leite, pegou o pano do meio da mesa e procurando limpar o local derramado.

— Mas a fuga acabou e a hora de retornar chegou. — disse o Soldado em um misto de desgosto e reprovação. Arremessou o pano na pia.

— Vai deixar de ser um vigilante? — Ele se volta para Karen dizendo de forma incerta:

— Depende do que for decidido. — Apanhou o café e completa o copo — Se ele achar que devo ficar e parar... vou ter que ficar.

— Senão?

— Ele vai contar a minha família que estou vivo, o homem que eu fui e tenho sido. O resumo é que o Soldado Fantasma estará morto e eu conheço várias pessoas que dariam o rim para me machucar diretamente ou indiretamente.  — Ele tomou o café com um olhar de desafio.

— Para onde vamos? — indagou levantando e indo até a pia.

— Para onde não quero ir...

 

 

 

  SP-Itaberá, Rodoviária 3:25

  

Ao descerem do ônibus Tales viu um casal a sua espera e quase infartou, o motivo era bastante simples: Sirehen estava gravida. Rodrigo era da mesma altura de James, pele alva, olhos castanhos e cabelos negros, trajava uma calça preta e um casaco branco, usava óculos, mas provavelmente eram de enfeite. O maior diferencial entre os dois, era de que Rodrigo tinha um corpo mais definido que o do amigo.

  Sirehen possuía um físico considerável, tinha cabelos e olhos negros, vestia uma camisa vermelha com uma jaqueta marrom, e uma calça preta. Ambos sorriam para ele. Desceu do ônibus acenando, abriu o compartimento de baixo, procurando retirar as malas, quando o fez, sentiu uma mão pousar sobre seu ombro:

— Bem-vindo de volta parceiro.

 

 

 

18:03

 

  Colocaram as malas no carro e foram para a casa de Rodrigo, que era quase uma mansão, afinal os pais de Rodrigo tinham sua empresa e deixaram uma fortuna considerável para ele e sua irmã. Embora aquele fosse o primeiro ano administrando a fortuna da família, Rodrigo se demonstrava ser um excelente planejador e executivo, gerenciando com perfeição a empresa.

  Após uma breve refeição, eles foram para a sala, onde poderiam discutir. Esta era espaçosa, tinha uma Tv de 50 polegadas, porém se encontrava desligada. Rodrigo estava junto de Sirehen, do outro lado estava Karen e Tales, eles conversavam de forma animada.

— Lutando contra vigilantes, matando bandidos, combatendo mercenários e inimigos do futuro, deve ser uma loucura. — exclamou Rodrigo, sorrindo.

— E apesar de tudo, não chega aos pés da loucura que vivemos... — apontou James se lembrando de seus tempos amargos. Ele não conseguia olhar nos olhos de ninguém, apenas o chão.

— Sebastyan... digo Tales, já se passaram mais de seis meses, fora o tempo que você ficou em Ocultgard. — disse Sirehen com sotaque — Me adequei a esse mundo ou pelo menos estou tentando, e está na hora de você voltar para sua família.

 — Acontece — disse James resoluto — Que não posso, não sou igual ao Rodrigo.

— Tales, sei que você passou por coisas piores que eu, que você tentou resistir todos aqueles anos, enquanto eu era o capacho de Guardyhan. Mesmo desmemoriado você mostrou a todos nós que o caminho que seguíamos não era correto, sei que minhas vítimas não eram como as suas e estou longe de compreender a dor que você passa... — disse Rodrigo em enquanto se levantando e continuando o sermão — Mas se afastar, se tornar um vigilante não vai te ajudar...

— Eu não quero me ajudar. — disse James, agora olhando de forma fixa para seu amigo — Não mereço isso, o que quero é ajudar aqueles que precisam. E o que eu faço, faz a diferença.

— Você matou aqueles homens Tales, perseguiu e matou todos eles. — disse Rodrigo irritado — Me diga porque, me dê uma boa motivação pra deixar que você continue, nós sabemos que eu posso te fazer parar...

— Eu não matei tanta gente assim, a imprensa mente, na pratica matei uns dez — disse ele convicto — Além disso todos os homens que foram mortos, morreram porque ou iam ferir pessoas, ou eram pessoas que simplesmente não tinham solução e eu estou dando tudo de mim para não fazer mais isso.

— Se você matar um assassino, o número de assassinos ficara igual no mundo. — disse Rodrigo.

— Talvez seja por isso que eu tenha matado alguns.

Rodrigo colocou a mão sobre a testa desconcertado.

— Você é um idiota.

— E você é um retardado. — disse James assumindo uma postura descontraída.

— Pelo menos isso não mudou. — Rodrigo riu, depois adentrando numa postura séria, enquanto tentava se recompor — Serio, você não tem consciência? Logo você... o cara mais certinho de nós, você era o melhor.

— Ele tem. — disse Karen — Toda a noite repete o nome de cada um deles antes de dormir.

— Ei. —  James esbravejou — Eles não precisavam saber disso.

— Me dê uma garantia que não vai matar mais. — disse Rodrigo, sem qualquer sorriso ou afetuosidade no rosto.

— São Paulo. —  disse James, enquanto passava a mão pela testa.

— Sim. Você fez em uma noite, o que eles não fizeram em um ano. — relembrou Rodrigo com certo orgulho.  Seu semblante mudou, ficou mais entristecido, com um olhar para baixo — Mas e sua mãe? Sua família?

  A pergunta criou um clima desconfortável na sala, o Soldado se lembrava do tempo em que ajudava a familiar no sitio, as tardes cansativas de trabalho pesado ao sol. As conversas alegres, o amor e a união de. Eram dessas coisas e muitas outras, que o Soldado pensava. Sua vontade era de rever aquele terno abraço que sempre recebera dá avó, a comida simples e a preocupação para com seus entes queridos.

— Não mereço. — disse o rapaz tentando ocultar seus verdadeiros sentimentos — Não sou confiável, e eu provavelmente vou ver cada um deles morrerem.

 — O que quer dizer com isso James? — indagou Karen  apreensiva— Porque não diz logo o que você quer dizer com isso...

— Karen. — disse o rapaz tentando manter sua compostura — Eu ia te contar, ia fazer isso ontem, mas a verdade é que... Não envelheço.

— Hã? Como pode não envelhecer? — Nisso Rodrigo não muito surpreso, resolveu esclarecer a ela:

— Ele e eu temos a eterna juventude. — Ele fez uma pausa — Já minha esposa envelhece bem, bem devagar... ele está relutante por que se viver para contar a história, vai viver para se sentir solitário.

  Karen ficou petrificada. Não conseguia pensar em como seria perder todos que a quem amava, um por um, até só restar ela. Sozinha no mundo. Era esse o destino dele.

— Mas eu entendo que o importante é aproveitar a vida ao lado de quem se ama, é uma escolha.. — disse Rodrigo com calma e seriedade — Nós não somos ratos de laboratório, fomos remodelados a partir de uma vontade imortal, para servir pela eternidade. E isso é o que sabemos...

— Karen, você não sente que entrar na mente dele está se tornando mais difícil? — indagou Sirehen.

— Sim...

— Haverá um dia, que você só vai poder entrar se ele consentir. — disse Rodrigo.

— É por isso que não desejo voltar para casa, sei que não posso ter uma vida normal, tentei ficar sozinho... Mas as pessoas precisavam de mim... você precisava de mim... — Tales tremia enquanto tentava dizer o que sentia — Me tornei o que o mundo precisava, mas enquanto brincava de justiceiro, firmei laços com vigilantes, heróis e com uma garotinha triste e confusa...

— É isso que eu sou para você? — indagou Karen com raiva.

— Nunca foi... apesar de você precisar de mim... era eu quem precisava de você...  — disse  Tales de cabeça baixa.

— Porque me evitou? Porque não me procurou? — indagou Rodrigo consternado — Eu sou seu amigo, droga!

— Porque você tem sua vida, tem seus problemas e está tentando construir uma família, eu só iria atrapalhar tudo.

— Sinto muito parceiro — disse Rodrigo — Mas você precisa voltar. Nós precisamos de você. Eu não sou você e não tenho seus problemas, mas sei como você se sente — Ele continuou:

— É por isso vocês vão ficar aqui até sábado, haverá uma reunião da turma e você vai estar nela.

— E o que vai dizer a Renata? — indagou o Soldado, sugerindo que eles tinham se visto.

— Não me diga que você se revelou? — perguntou Rodrigo perplexo com a situação.

— Não, mas ela achou ter me reconhecido.

Rodrigo ficou surpreso, mesmo ele não reconheceria Tales, o que a levaria a isso?  Mas continuou:

— Não se preocupe, já tenho os álibis criados, não vão suspeitar de você ou da Karen. Você é meu segurança pessoal e a Karen é prima da Sirehen.

— Tales, antes de qualquer coisa, você precisa saber de uma coisa sobre a Renata...

— Eu sei que ela está namorando... — disse o rapaz em seco — Eu vi.

  Rodrigo ficou mudo. Não esperava pela última resposta, muito menos por essa, mas conhecia seu amigo sabia que ocultar isso era inútil, ele iria descobrir de qualquer jeito e ia ficar bem bravo com ele.

— Não é bem isso que eu quero dizer... eu sei que você tem sentimentos por ela...

— Vá direto ao ponto. — disse James — Estou preparado, fiz minhas escolhas e aceito as consequências.

— Ela está noiva. — disse Rodrigo. — Sei o que ela significa para você...

— Por que está nervoso? — indagou James. — Ela não me pertence, não é meu monopólio. Ela tanto, quanto qualquer um tem direito de fazer suas escolhas, compreendo e aceito isso, pois fiz as minhas. Todas as escolhas que fiz desde que cheguei aqui, são minhas, algumas eu gostaria de não ter feito, mas seria totalmente injusto viver a minha vida e ainda exigir algo dos outros que abandonei. — resguarda o Soldado se levantando e indo para fora.

  Rodrigo fez menção de tentar confortá-lo, mas Karen o deteve, sabia que seu amigo precisava de tempo. E enquanto cada um se preparava para dormir, Tales estava recostado contra o muro da casa, com as mãos entre os cabelos, enquanto lágrimas deslizavam lentamente pelo rosto. Podia dizer o que quisesse a si mesmo, mas seu coração desconhecia palavras, e sim sentimentos. Aquilo doía.

  Renunciou sua família, seus amigos, seu futuro e as pessoas que mais tinha amado. Sua missão continuava a mesma, certamente nunca mudaria. Será que valia a pena? A resposta veio em um sussurro, que somente o céu escuro da cidade poderia presenciar.

— Não valeu a pena...

 

 

 

Itaberá, 23:56, parte norte da cidade

 

 

  As ruas estavam desertas, graças aos desaparecimentos, poucos se atreviam a sair, mas ainda haviam aqueles que arriscavam. Seja porque acreditavam que não ia acontecer com eles ou porque havia certa necessidade nisso.

  Um casal voltava de uma festa, conversavam animadamente sobre a noite. Até que ao virarem a esquina se depararam com cinco indivíduos, todos bem trajados, duas mulheres, uma adolescente e dois homens. Era algo incomum de se ver, ainda mais naquele horário. O grupo ficou parado em frente ao casal. A moça tomou a iniciativa:

— Posso ajudar?

A adolescente de olhos vermelhos, respondeu:

— Mas é claro.


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Notas finais do capítulo

Muito obrigado pela leitura.



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