We Go Back And We Go Foward escrita por Araimi


Capítulo 6
Capítulo 6




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            Ruby, a Akita de Honey, estava quase em idade adulta. Ela era uma bola de pelos castanhos ambulantes e aprendia todo o tipo de truques que a dona lhe ensinava e a seguia por onde podia. Ela era meiga e silenciosa, tanto que as vezes Rose não percebia que ela estava no quarto, mas havia algo de errado com Ruby nos últimos dias.

            De silenciosa ela passou a barulhenta irremediável. Ela latia quando Rose e Honey estavam juntas, quando a dona tentava dormir, assistir televisão, e ela vinha latindo com muito mais frequência por esses dias. Rosalie sabia que o tempo feliz estava chegando ao fim e Ruby estava tentando lhe contar isso.

            Uma noite Rose teve dificuldade para dormir e foi tomar um copo de água. No caminho para a cozinha, ela viu Ruby sentada em frente a porta do quarto de Honey, chorando e gemendo baixinho.

            - Ruby. – Rose chamou. A cadela fitou seus olhos negros na mulher. – O que foi, garota? Qual o problema?

            A cadela arranhou a porta levemente e voltou a olhar para a loira. Rosalie se aproximou, afagou a cabeça castanha de Ruby e abriu a porta. Ruby levantou-se, o rabo ereto e caminhou silenciosamente até ficar ao lado de Honey, ela enfiou seu focinho na cabeleira loira da dona e voltou a fitar Rose.

            Rosalie estremeceu. Havia algo na cabeça de Honey, ou melhor, dentro dela. Ela era humana agora, o cachorro tinha um olfato melhor, mas Rose lembrava-se de ter encontrado pessoas que exalavam um cheiro de podridão, como se estivessem se decompondo ainda vivas, um cheiro que vinha de dentro. Todas essas pessoas tinham câncer.

—--*---*---

            O diagnóstico era esperado, mas, nem por isso, foi menos doloroso.

            Rosalie não conseguia entender. As vezes ela imaginava que Edward tinha razão, que ela estava pagando por todas as vidas que havia tomado, por ter vivido mais do era permitido para uma pessoa. Se fosse esse o caso, ela aceitaria qualquer coisa que lhe fosse atribuído, mas não era justo que Honey tivesse que pagar.

            Todos estavam inconsoláveis. Ruby não havia conseguido sentir o cheiro do tumor antes, ele era inoperável.

            Os médicos diziam que era um verdadeiro milagre que Honey estivesse viva e com todas as suas faculdades mentais e físicas funcionando perfeitamente, tamanho era o estrago em seu cérebro. Mas Rosalie McConnery não acreditava em milagres. Se existisse uma entidade maior em qualquer lugar do universo, não deixaria que aquilo acontecesse a sua filha de novo.

            Honey já havia começado a tomar os medicamentos e já tinha ido a sua primeira quimioterapia. Ela parecia mais abalada com o tratamento do que com a doença.

            As vezes Rosalie desejava que Carlisle estivesse ali, com seu toque frio, seu entendimento de medicina que ele havia manuseado durante quase quatro séculos, mas, o que ela mais desejava, era seu olhar paternal. Ela desejou procurar os Cullen, lembrando-se de que eles haviam falado de que se ela alguma vez precisasse deles, eles estariam sempre esperando por ela. Bem, Rose precisava deles, mas não tinha ideia de onde encontra-los.

            Ao menos ela tinha Henry. Ele sempre estava ao seu lado, sofrendo igualmente a ela, mas suportando-a de qualquer maneira que podia.

            Honey apertou sua mão, avisando de sua existência. Rose fitou-a, os olhos cor de avelã dela transbordavam de medo. Ela tentava esconder, mas Rosalie via por trás de sua fachada. Essa cena era frequente agora.

            Ela deu um sorriso encorajador para a filha, que esboçou um sorriso.

            Honey saiu do carro em um pulo, demorou alguns segundos no qual ela arrumou sua mochila nas costas e partiu para o mar de alunos que estavam na frente da escola. Era a primeira vez que ela voltava desde que havia descoberto do câncer. Honey deu uma última olhada para sua mãe, deu um aceno e sumiu entre os estudantes.

            Rosalie sorriu fracamente.

            Se ela pudesse fazer da dor dela a sua.

—---*---*---

            Os cabelos de Honey não caíram, o que era um alívio e um temor ao mesmo tempo.

            Um alívio, porque Rosalie não sabia se sua filha teria capacidade de suportar mais essa apunhalada da vida, e um temor porque ela já ouvira falar em algum lugar que, se o cabelo da pessoa não caía, era porque o tratamento não estava surtindo efeito.

            O médico de Honey havia lhe dito que era superstição. Bem, ele também acreditava que vampiros eram superstições, no entanto...

            Os dias eram complicados agora. Ela nunca sabia o que iria acontecer. Alguns dias, Honey amanhecia bem disposta e parecia bastante com uma pessoa completamente saudável; ia para a escola, saía com amigas, brincava com Ruby. Em outros, no entanto, ela passava muito mal, com fortes dores de cabeça, vômito e as vezes, nos últimos meses mais frequentemente, ela tinha que passar um ou dois dias internada.

            O diretor sabia o que estava acontecendo, é claro, mas para os amigos de Honey, tudo era segredo de estado. Rosalie entendia que a filha não queria a pena de ninguém, mas, dessa maneira, ela também estava se privando do carinho das pessoas.

            Alexander ligava quase todos os dias para falar com a irmã, apesar de sua rotina atribulada em Oxford. Cameron, agora já formado em direito pela Universidade Harvard, estava em Londres, trabalhando junto ao pai e, sempre que tinha uma folga, ele levava Honey e Ruby para uma praça qualquer e ficavam conversando banalidades até o crepúsculo.

            E, durante as noites, Rose sentava-se ao lado de Ruby e as duas velavam o sono de Honey McConnery.

            A vida seguia, de um jeito estranho, torto e doloroso, mas continuava indo em frente.

—--*---*---

            O golpe final veio da própria Honey.

            Ela tinha dezessete anos e persuadiu o irmão mais velho a ser seu advogado para que ela conseguisse uma emancipação médica para que parassem o tratamento contra o câncer.

            Rosalie e Henry ficaram revoltados com ela e Honey ficou revoltada com eles. Houve brigas, discursões e gritos.

            - Você está completamente louca! – Gritava Henry. Ele nunca havia gritado com Honey. – Eu nunca vou permitir isso!

            Ele olhou para Rosalie, igualmente furiosa, se não mais.

            - Eu terei uma conversa séria com Cameron. – E saiu do escritório, deixando uma Rosalie que quase tinha fogo nas narinas e uma Honey igualmente nervosa.

            Rose encarou sua filha por um momento, que devolve o olhar petulantemente. Ela olhou para o chão e respirou fundo, tentando se acalmar. Rose balançou a cabeça e disse para a filha:

            - Isso não vai acontecer, Honey. – Ela disse, firme. – Nenhum juiz no mundo vai permitir que nós, seus pais, paramos de fazer algo que só te faz bem.

            Honey deu uma risada ácida e sem humor e rebatou:

            - Só me faz bem? Não é você que aguenta o tratamento. É horrível, mãe. Eu estava melhor só com o câncer do que com isso.

            Rose lembrou de todos os maus momentos que a filha passou e sentiu uma vontade enorme de chorar.

            - Eu sei. – Ela disse em um fio de voz. – Mas é isso que vai te curar.

            A adolescente respirou pesadamente por alguns segundos de silêncio, abandonou a postura forte e recostou-se na mesa. Seus braços pendendo ao lado do corpo.

            - Já faz um ano e ainda não me curou.

            - Essas coisas levam muito tempo, Honey.

            - Não, mãe... – Honey parou no meio da sentença, percebendo a verdade nas palavras de sua mãe. Mas esse não era o ponto. – Por favor. – Sua voz saiu tão frágil, tão pequena; Rosalie olhou-a e Honey se aproximou. – Mãe, não vai me curar. – Ela disse devagar, sua voz embargada. Rosalie sentiu um bolo em sua garganta e os olhos ficaram úmidos. – Eu... eu estou morrendo. E tudo bem. – Uma lágrima escapou dos olhos avelã de Honey e Rosalie não resistiu, chorou. – Tudo bem. – Ela continuou. – Eu sei que eu vou encurtar a minha vida, eu sei que quando a hora chegar vai doer muito mais, mas... – Ela passou as costas da mão pela bochecha quando a voz falhou. – Mas pelo menos eu vou poder curtir os meus últimos dias em paz. – Elas ficaram em silêncio por um tempo. – Eu não quero mais isso. – Ela disse decidida e depois, com uma voz quebrada. – Eu não aguento mais.

            Sua filha quebrou-se em lágrimas e Rosalie envolveu-a com seus braços fortemente, querendo protege-la de todos os perigos e dores do mundo enquanto ela estivesse ali, em seus braços.

             Houve brigas, discursões e gritos. E depois houve lágrimas e soluços.


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