Não Consigo Evitar Me Apaixonar escrita por Ice Queen
Notas iniciais do capítulo
Acho que alguém se empolgou um pouco nesse capítulo, mas enfim...
Espero mesmo que vocês estejam gostando.
Boa Leitura.
Tome minha mão
Tome minha vida inteira também
Porque eu não consigo evitar
Me apaixonar por você.
Can't help falling in love - Elvis Presley
— Então, aonde quer ir? – pergunto, parando ao lado de Elsa. Ela estava ainda mais linda, com seu vestido azul e o cabelo solto, sorrindo pra mim daquele jeito que aprendi a reconhecer. Ela iria aprontar alguma coisa.
— Tenho uns lugares que acho que você vai gostar. E não vamos precisar do seu carro. – acrescenta, quando dou um passo em direção a onde estacionei o carro. Arqueio a sobrancelha e ela ri, segurando minha mão e me levando pela rua. – Além disso... – começa, entrelaçando os dedos nos meus. – eu gosto de caminhar com você.
Caminhamos por muito tempo, e nem me sinto cansado. Conversamos sobre tudo, como que para sabermos tudo o que precisamos sobre o outro, os hobbies, as ambições, as manias estranhas. Algumas vezes rimos tão alto que chamamos a atenção das pessoas que passam ao nosso redor, o que me faz corar e Elsa rir do meu embaraço.
— Você não parecia tão envergonhado quando me chamou para sair. – ela me provoca, puxando-me pelo braço até um playground. Sentamos nos balanços, começando a nos embalar devagar.
— Você desperta um lado meu que ninguém conhece. – digo, e cada vez tenho mais certeza disso. Ela sorri, balançando a cabeça e se balançando, deixando os pés se arrastarem no chão.
— Eu costumava vir aqui com a minha mãe. – ela diz, baixo, e quando me viro vejo que ela está com o olhar perdido em frente. Um sorriso lampeja por seu rosto e então ela me olha.
— Você a perdeu há muito tempo?
— Três anos. – ela diz, apertando a corrente que sustenta seu assento com um pouco de força. – O pior foi passar por tudo sozinha.
— Você só tinha ela de família? – quando ela nega, faço uma careta confusa involuntária, fazendo-a rir. – Tinha seu pai?
— Eu nunca conheci meu pai. – ela diz, naturalmente. – Tenho alguns tios, no entanto. Mas depois que minha mãe morreu, eu não suportava o olhar de pena deles, todas aquelas caricias que nunca me deram antes. Acho que gritar em um almoço, sair batendo a porta e cantando pneu é o equivalente a cortar relações. – ela ri, fazendo o clima alegre voltar, mas o mesmo não dura muito tempo, pois ela logo me pergunta sobre minha família.
— Hum...- enrolo. Eu quase nunca falo da minha família, e não sei se me manteria firme até o final. Mas Elsa falar com tanta naturalidade sobre suas perdas me dá liberdade para soltar tudo de uma vez. – Meu pai morreu quando eu era criança e minha mãe há alguns anos, de uma doença que ela não conseguiu vencer.
— Sinto muito. – ela sussurra, provavelmente notando que eu não tenho a mesma facilidade em lidar com a dor quanto ela. O que é verdade.
— Eu tenho uma irmã, na verdade. – acrescento por impulso.
— Sério? – ela parece animada, parando de se balançar para me olhar. – Ela mora com você?
— Não. – sorrio, sem graça, desviando o olhar. – Eu não a vejo há anos. Nós não temos um relacionamento muito fraterno.
— Por que não?
— Eu não sei. – suspiro, um pouco melancólico. Mas é bom finalmente por tudo isso para fora. – Nós éramos muito unidos quando crianças, mas conforme fomos crescendo as brigas tornavam-se constantes e piores. Eu tenho que admitir que não fui um bom irmão, principalmente depois da minha mãe adoecer e eu simplesmente passar a ignorar a existência de qualquer outra pessoa. Acho que eu não sabia que Sophie estava a ponto de perder alguém também, e que precisava de apoio. – Elsa sorri para mim, inclinando levemente a cabeça e esticando a mão até a minha. – Sempre me lembro quando ela foi embora, depois da mamãe morrer e ela completar dezoito anos. Ela gritou comigo, disse que eu não era o papai e muito menos a mamãe, então pegou tudo o que era dela e o dinheiro guardado que tinha e sumiu. Tentei ir atrás dela, mas ela nunca me deixou chegar perto de novo. Fiquei mais tranqüilo quando soube que ela estava com um dos nossos tios, começando a faculdade e trabalhando. Ela deve estar prestes a se formar agora.
— E não sente vontade de falar com ela de novo?
— Sinto, muita. – admito. – Mas não sei se ela iria querer.
— Acho que deve tentar. – Elsa diz, animada, parecendo fazer planos para mim. – Eu sempre quis uma irmã. Tenho a Anna, que é como uma para mim.
— Você a conhece há muito tempo? – pergunto, lembrando-me da recepcionista ruiva e do quanto as duas pareciam ligadas naquele dia.
— Desde a adolescência. – ela sorri abertamente e então se levanta de repente. – Vem, vamos nos atrasar pro jantar.
Não tenho tempo de perguntar e logo Elsa me puxa, não soltando da minha mão enquanto andamos por mais algumas quadras. Chegamos, então, a um restaurante modesto, com cores vivas e aparentemente cheio. Entramos no espaço amplo, que descubro ser ainda maior do que aparenta, com uma enorme pista de dança no centro e mesas redondas espalhadas ao redor da mesma. Elsa me leva até uma das mesas na beira da pista e posso ver seus olhos brilharem ao olhar os casais dançando. Ela não me deixa ver o cardápio quando o garçom vem nos atender, sussurrando-lhe no ouvido o nome do prato e me lançando um olhar travesso. Reviro os olhos e rio, olhando ao redor por um momento, achando o lugar tão com a cara dela quanto o possível. Calmo, mas cheio de vida, colorido, intenso e incrivelmente lindo. Volto a olhar para Elsa, que examina o pequeno arranjo de flores sobre a nossa mesa, e novamente me sinto imensamente sortudo pela burrada do repórter na semana anterior. Venho me sentindo assim desde que a conheci.
Quando nossos pratos chegam, Elsa nem experimenta o seu, sentando-se ereta na cadeira e me olhando com expectativa. Ela diz que é seu prato favorito e parece mais do que animada ao me ver provar. Sua risada ecoa pelo salão ao me ver ficar vermelho pela pimenta, e eu tomo um longo gole de água, fazendo-a rir ainda mais. Ao vê-la se divertir desse modo e me sentindo ainda melhor do que ela, tenho quase certeza de que não poderia ter planejado uma noite melhor. E eu, que sempre fui paranóico com o tempo, não fazia a mínima idéia de que horas eram e nem me dera ao trabalho de checar o relógio. Incrível o quanto ela conseguira me mudar em tão pouco tempo.
— Vamos dançar. – de repente, Elsa praticamente pula da cadeira, rindo ao ver a expressão desesperada em meu rosto.
— O que? Não! – ela me puxa pelo braço até me fazer levantar. Ela está muito perto, os olhos brilhando com a luz refletida e sorrindo tanto que uma vontade irreprimível de beijá-la me domina. Uso de todo o meu autocontrole para não fazer isso.
— Por favor, fotografo. – ela faz um beicinho, agarrada em meus braços. Abro a boca para negar novamente, mas não consigo dizer nada. Reviro os olhos, suspirando, e ela comemora, fazendo-me rir.
— Você é sempre impossível assim? – pergunto, enquanto Elsa me arrasta para o centro da pista de dança. O problema para mim não é dançar; eu e minha irmã fazíamos isso o dia todo quando crianças. O problema era todo mundo ficar olhando, o que me deixava desconfortável e me fez escolher o lugar atrás das câmeras. Mas não tem como dizer não para Elsa.
— Só com que vale a pena. - ela sorri e segura minhas mãos, começando a dançar no ritmo da musica animada. Passo os olhos pelo salão, ate ouvir sua risada. A encaro e ela segura meu rosto. – Não olhe para eles. Olhe para mim.
Faço o que ela pede e, logo, é como se tudo tivesse desaparecido. O resto do mundo parece ficar desfocado e tudo o que eu posso ver e ouvir é Elsa dançando e sua risada de acompanhamento à musica. Giramos pelo salão, sem nunca soltar as mãos e eu a giro no lugar, sorrindo ao ouvir sua risada ficar mais alta. Arrisco alguns bem sucedidos passos de dança e isso a diverte. Posso sentir algo acender dentro de mim cada vez que ela chega próxima o suficiente para que eu possa sentir seu perfume, sua pele macia. A giro mais uma vez, ao fim da musica e, cansada, ela se desequilibra. Elsa segura-se em mim para não cair, rindo até ficar ofegante. Sorrio, hipnotizado por seu rosto tão perto, levando minha mão até ele e deslizando o polegar por sua bochecha rosada. Tenho quase certeza de que ela pode sentir meu coração acelerado com a mão pousada sobre meu peito.
Elsa, então, baixa os olhos e percebo que uma nova musica começou e que estamos parados entre vários casais que eventualmente batem em nós. Rimos e nos afastamos de volta para nossa mesa. Elsa senta-se bem próxima, não saindo de perto do mim pelo resto da noite, mas também não voltando a pedir para dançarmos.
Quando decidimos que já havia passado e muito do horário em que eu pudesse dormir e ainda acordar disposto para trabalhar no outro dia, vamos embora. Passamos rapidamente pelo parque para pegarmos o meu carro e então vamos até o seu prédio, um edifício alto e simples. Andamos até a porta de entrada fechada e Elsa para antes de entrar. Tão perto que nem tenho vontade de impedir a mim mesmo, então seguro seu rosto nas mãos e me inclino até alcançar sua boca.
— Esperei você fazer isso a noite toda. – ela diz, quando nos afastamos para retomar ar.
— Como se você não pudesse ter feito. – provoco e ela ri baixo.
— É, mas é mais legal quando você faz. – Elsa inclina-se para mim e eu rio, balançando a cabeça. A beijo outra vez, e outra, e outra, até que ela se afasta sorrindo, dizendo que ainda gostaria de respirar. Rio e ela se inclina, me dando um demorado selinho, antes de se afastar e subir as escadas para a portaria. Antes de apertar o interfone, vira-se – Vejo você amanhã, Jack?
— É claro. – sorrio, porque adoro quando ela me chama pelo nome. Não mais do que quando ela me chama de fotografo. Ela sorri, dizendo algo no interfone. Ouço a porta destravar e antes de entrar, Elsa sorri para mim e pisca.
E eu mal sabia que a partir dali a melhor fase da minha vida iria começar.
Nós não nos encontramos somente no dia seguinte, mas em todos os dias a partir dali. Saíamos, às vezes com Anna e o namorado, às vezes sozinhos, indo para o parque ou para qualquer lugar inusitado e perfeito para um entediado sábado à tarde. Elsa ia muito ao hospital, e eu gostava de acompanhá-la sempre que podia, levando minha câmera para tirar fotos das crianças – e dela, sem que ela visse. Tanto que depois de algumas semanas eu já tinha uma coleção perfeita de fotos dela.
O que tínhamos era sério, mesmo que nenhum de nós tenha afirmado com palavras o compromisso. Mas nós sabíamos, e como sabíamos. Mas então tudo mudou e tomou uma proporção ainda maior, depois de pegarmos uma chuva forte e repentina enquanto voltávamos de um dos nossos passeios. Como meu apartamento era bem perto de onde estávamos, corremos até lá. Entramos no meu apartamento, ensopados e ainda rindo do quão bravo meu porteiro ficou ao nos ver nesse estado.
— A ultima vez que tomei um banho desses eu era criança. – Elsa disse, enquanto eu me jogava no sofá. Ela parou na minha frente, de braços cruzados e olhando ao redor. Quando agarrei sua mão e a puxei, gritou em protesto. – Não!
— Meu sofá é de couro, não se preocupa. – ela relaxa e ficamos ali, ensopados e em silencio, nossas mãos tocando-se levemente. Viro o rosto só para pegar Elsa me olhando, um sorriso tímido aparecendo em seu rosto ao ser flagrada. Levo a minha mão até seu rosto, pressionando o polegar em seu lábio inferior, chegando mais perto e apertando os lábios contra os dela. Elsa suspira, reclinando no sofá, de modo que ficamos ainda mais perto e o beijo muda para algo ainda mais profundo.
Eu me afasto para retomar ar e nós nos encaramos, tentando nos controlar. Bom, não conseguimos. Elsa volta a me beijar, empurrando-me dessa vez, até conseguir ficar no meu colo. Sua mão entra pela gola da minha camiseta, massageando meu ombro com uma calma que me leva a loucura. Beijo seu queixo e seu pescoço, enquanto seus dedos passeiam pelo meu cabelo. Afasto-me de sua pele para fita-la. Elsa sorri e eu seguro a parte de baixo de suas pernas, me levantando e correndo com ela até o quarto, enquanto sua risada ecoa pelo meu apartamento.
. . .
Estou tirando as torradas da torradeira quando escuto um bocejo alto atrapalhar o silêncio do apartamento e olho para o corredor que leva até o quarto justo quando Elsa aparece.
— Bom dia. – digo e ela sorri, esfregando os olhos e respondendo com um bom dia sonolento. Anda até mim, fechando os olhos ao sentir o cheiro de café, e me dando um beijo rápido. Ela rouba uma torrada da minha mão, andando até a sala.
Observo-a andar pelo cômodo, vestida com a minha camisa que milagrosamente secou durante a noite e com o cabelo desgrenhado por ter dormido com ele molhado. Queria ter uma câmera na mão no mesmo instante, porque ela era a visão mais linda que eu já tinha visto. Elsa desliza os dedos por cada móvel, enquanto eu me forço a ser útil e arrumo a mesa para nosso café da manha. É estranho arrumar lugares para dois depois de me acostumar a ficar sozinho, mas sinto que poderia me acostumar com isso. Com ela aqui.
Quando volto a olhar para ela, Elsa está parada diante da prateleira em que guardo minhas câmeras - desde a mais antiga a mais nova – e algumas fotos da minha infância. Seus olhos vagueiam pelos porta-retratos, parando no que contem uma foto da minha irmã e de mim.
— É ela? – assinto, chegando mais perto. Ela olha de Sophie para mim, provavelmente em busca de semelhanças e tenho de admitir que somos mesmo muito parecidos, apenas com diferença na tonalidade do cabelo, sendo o meu loiro e o dela castanho. Elsa observa, então, minhas câmeras, tocando a primeira que eu tive na vida, sorrindo ao ver meu nome na alça, escrito com a minha horrível caligrafia de oito anos. – Por que você quis ser fotografo?
— Eu não sei. Desde criança eu sempre gostei de tirar fotos das coisas, eternizar aquilo que me marcava. –digo, encarando as câmeras também.
— Hospitais marcam você? – rio da provocação.
— Não, mas tirar fotos de hospitais para uma reportagem qualquer dá dinheiro. – admito, dando de ombros quando ela vira para mim com os braços cruzados. – Eu não posso simplesmente viajar o mundo e fotografar tudo o que eu quero.
— É isso que você quer, não é? – ela diz, depois de me encarar por um bom tempo. Quando sorrio sem graça e desvio o olhar, sua mão pousa em meu braço. – Por que não correu atrás do seu sonho?
— A vida não é tão fácil assim, e...
— Eu sei que não é fácil. – Elsa me interrompe, gesticulando. Olha para mim com um sorriso encorajador. – Mas nem tudo o que é fácil ou que renda dinheiro é o suficiente para te deixar feliz. E trabalhar num jornal medíocre não deixa você feliz, Jack. Sabe, minha mãe sempre dizia que a gente não pode desistir, porque desistir é o mesmo que fechar uma porta do seu caminho. E eu não quero que seu caminho fique sem portas Jack. Eu não quero que você desista de nada.
— Eu amo você. – digo de repente, segurando seu rosto, porque nunca ninguém havia me dito algo assim e ver o quanto ela me apoia, o quanto quer que eu seja feliz, enche meu peito com tanto amor que mal posso reprimir. Ela me encara sem ar, seus olhos adquirindo um brilho emocionado.
- Eu também te amo, fotografo. – sorrio bobo com o apelido e beijo-a.A puxo mais perto, enquanto repetimos “eu te amo” mais e mais vezes entre as pausas dos nossos beijos. Para termos certeza de que era real. De que era eterno.
Ou era o que eu pensava.
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