Não Consigo Evitar Me Apaixonar escrita por Ice Queen


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Acho que alguém se empolgou um pouco nesse capítulo, mas enfim...
Espero mesmo que vocês estejam gostando.
Boa Leitura.



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Tome minha mão
Tome minha vida inteira também
Porque eu não consigo evitar
Me apaixonar por você.

 Can't help falling in love - Elvis Presley  

 

 

— Então, aonde quer ir? – pergunto, parando ao lado de Elsa. Ela estava ainda mais linda, com seu vestido azul e o cabelo solto, sorrindo pra mim daquele jeito que aprendi a reconhecer. Ela iria aprontar alguma coisa.

— Tenho uns lugares que acho que você vai gostar. E não vamos precisar do seu carro. – acrescenta, quando dou um passo em direção a onde estacionei o carro. Arqueio  a sobrancelha e ela ri, segurando minha mão e me levando pela rua. – Além disso... – começa, entrelaçando os dedos nos meus. – eu gosto de caminhar com você.

Caminhamos por muito tempo, e nem me sinto cansado. Conversamos sobre tudo, como que para sabermos tudo o que precisamos sobre o outro, os hobbies, as ambições, as manias estranhas. Algumas vezes rimos tão alto que chamamos a atenção das pessoas que passam ao nosso redor, o que me faz corar e Elsa rir do meu embaraço.

— Você não parecia tão envergonhado quando me chamou para sair. – ela me provoca, puxando-me pelo braço até um playground. Sentamos nos balanços, começando a nos embalar devagar.

— Você desperta um lado meu que ninguém conhece. – digo, e cada vez tenho mais certeza disso. Ela sorri, balançando a cabeça e se balançando, deixando os pés se arrastarem no chão.

— Eu costumava vir aqui com a minha mãe. – ela diz, baixo, e quando me viro vejo que ela está com o olhar perdido em frente. Um sorriso lampeja por seu rosto e então ela me olha.

— Você a perdeu há muito tempo?

— Três anos. – ela diz, apertando a corrente que sustenta seu assento com um pouco de força. – O pior foi passar por tudo sozinha.

— Você só tinha ela de família? – quando ela nega, faço uma careta confusa involuntária, fazendo-a rir. – Tinha seu pai?

— Eu nunca conheci meu pai. – ela diz, naturalmente. – Tenho alguns tios, no entanto. Mas depois que minha mãe morreu, eu não suportava o olhar de pena deles, todas aquelas caricias que nunca me deram antes. Acho que gritar em um almoço, sair batendo a porta e cantando pneu é o equivalente a cortar relações. – ela ri, fazendo o clima alegre voltar, mas o mesmo não dura muito tempo, pois ela logo me pergunta sobre minha família.

— Hum...- enrolo. Eu quase nunca falo da minha família, e não sei se me manteria firme até o final. Mas Elsa falar com tanta naturalidade sobre suas perdas me dá liberdade para soltar tudo de uma vez. – Meu pai morreu quando eu era criança e minha mãe há alguns anos, de uma doença que ela não conseguiu vencer.

— Sinto muito. – ela sussurra, provavelmente notando que eu não tenho a mesma facilidade em lidar com a dor quanto ela. O que é verdade.

— Eu tenho uma irmã, na verdade. – acrescento por impulso.

— Sério? – ela parece animada, parando de se balançar para me olhar. – Ela mora com você?

— Não. – sorrio, sem graça, desviando o olhar. – Eu não a vejo há anos. Nós não temos um relacionamento muito fraterno.

— Por que não?

— Eu não sei. – suspiro, um pouco melancólico. Mas é bom finalmente por tudo isso para fora. – Nós éramos muito unidos quando crianças, mas conforme fomos crescendo as brigas tornavam-se constantes e piores. Eu tenho que admitir que não fui um bom irmão, principalmente depois da minha mãe adoecer e eu simplesmente passar a ignorar a existência de qualquer outra pessoa. Acho que eu não sabia que Sophie estava a ponto de perder alguém também, e que precisava de apoio. – Elsa sorri para mim, inclinando levemente a cabeça e esticando a mão até a minha. – Sempre me lembro quando ela foi embora, depois da mamãe morrer e ela completar dezoito anos. Ela gritou comigo, disse que eu não era o papai e muito menos a mamãe, então pegou tudo o que era dela e o dinheiro guardado que tinha e sumiu. Tentei ir atrás dela, mas ela nunca me deixou chegar perto de novo. Fiquei mais tranqüilo quando soube que ela estava com um dos nossos tios, começando a faculdade e trabalhando. Ela deve estar prestes a se formar agora.

— E não sente vontade de falar com ela de novo?

— Sinto, muita. – admito. – Mas não sei se ela iria querer.

— Acho que deve tentar. – Elsa diz, animada, parecendo fazer planos para mim. – Eu sempre quis uma irmã. Tenho a Anna, que é como uma para mim.

— Você a conhece há muito tempo? – pergunto, lembrando-me da recepcionista ruiva e do quanto as duas pareciam ligadas naquele dia.

— Desde a adolescência. – ela sorri abertamente e então se levanta de repente. – Vem, vamos nos atrasar pro jantar.

Não tenho tempo de perguntar e logo Elsa me puxa, não soltando da minha mão enquanto andamos por mais algumas quadras. Chegamos, então, a um restaurante modesto, com cores vivas e aparentemente cheio. Entramos no espaço amplo, que descubro ser ainda maior do que aparenta, com uma enorme pista de dança no centro e mesas redondas espalhadas ao redor da mesma. Elsa me leva até uma das mesas na beira da pista e posso ver seus olhos brilharem ao olhar os casais dançando. Ela não me deixa ver o cardápio quando o garçom vem nos atender, sussurrando-lhe no ouvido o nome do prato e me lançando um olhar travesso. Reviro os olhos e rio, olhando ao redor por um momento, achando o lugar tão com a cara dela quanto o possível. Calmo, mas cheio de vida, colorido, intenso e incrivelmente lindo. Volto a olhar para Elsa, que examina o pequeno arranjo de flores sobre a nossa mesa, e novamente me sinto imensamente sortudo pela burrada do repórter na semana anterior. Venho me sentindo assim desde que a conheci.

Quando nossos pratos chegam, Elsa nem experimenta o seu, sentando-se ereta na cadeira e me olhando com expectativa. Ela diz que é seu prato favorito e parece mais do que animada ao me ver provar. Sua risada ecoa pelo salão ao me ver ficar vermelho pela pimenta, e eu tomo um longo gole de água, fazendo-a rir ainda mais. Ao vê-la se divertir desse modo e me sentindo ainda melhor do que ela, tenho quase certeza de que não poderia ter planejado uma noite melhor. E eu, que sempre fui paranóico com o tempo, não fazia a mínima idéia de que horas eram e nem me dera ao trabalho de checar o relógio. Incrível o quanto ela conseguira me mudar em tão pouco tempo.

— Vamos dançar. – de repente, Elsa praticamente pula da cadeira, rindo ao ver a expressão desesperada em meu rosto.

— O que? Não! – ela me puxa pelo braço até me fazer levantar. Ela está muito perto, os olhos brilhando com a luz refletida e sorrindo tanto que uma vontade irreprimível de beijá-la me domina. Uso de todo o meu autocontrole para não fazer isso.

— Por favor, fotografo. – ela faz um beicinho, agarrada em meus braços. Abro a boca para negar novamente, mas não consigo dizer nada. Reviro os olhos, suspirando, e ela comemora, fazendo-me rir.

— Você é sempre impossível assim? – pergunto, enquanto Elsa me arrasta para o centro da pista de dança. O problema para mim não é dançar; eu e minha irmã fazíamos isso o dia todo quando crianças. O problema era todo mundo ficar olhando, o que me deixava desconfortável e me fez escolher o lugar atrás das câmeras. Mas não tem como dizer não para Elsa.

— Só com que vale a pena. - ela sorri e segura minhas mãos, começando a dançar no ritmo da musica animada. Passo os olhos pelo salão, ate ouvir sua risada. A encaro e ela segura meu rosto.  – Não olhe para eles. Olhe para mim.

Faço o que ela pede e, logo, é como se tudo tivesse desaparecido. O resto do mundo parece ficar desfocado e tudo o que eu posso ver e ouvir é Elsa dançando e sua risada de acompanhamento à musica. Giramos pelo salão, sem nunca soltar as mãos e eu a giro no lugar, sorrindo ao ouvir sua risada ficar mais alta. Arrisco alguns bem sucedidos passos de dança e isso a diverte. Posso sentir algo acender dentro de mim cada vez que ela chega próxima o suficiente para que eu possa sentir seu perfume, sua pele macia. A giro mais uma vez, ao fim da musica e, cansada, ela se desequilibra. Elsa segura-se em mim para não cair, rindo até ficar ofegante. Sorrio, hipnotizado por seu rosto tão perto, levando minha mão até ele e deslizando o polegar por sua bochecha rosada. Tenho quase certeza de que ela pode sentir meu coração acelerado com a mão pousada sobre meu peito.

Elsa, então, baixa os olhos e percebo que uma nova musica começou e que estamos parados entre vários casais que eventualmente batem em nós. Rimos e nos afastamos de volta para nossa mesa. Elsa senta-se bem próxima, não saindo de perto do mim pelo resto da noite, mas também não voltando a pedir para dançarmos.

Quando decidimos que já havia passado e muito do horário em que eu pudesse dormir e ainda acordar disposto para trabalhar no outro dia, vamos embora. Passamos rapidamente pelo parque para pegarmos o meu carro e então vamos até o seu prédio, um edifício alto e simples. Andamos até a porta de entrada fechada e Elsa para antes de entrar. Tão perto que nem tenho vontade de impedir a mim mesmo, então seguro seu rosto nas mãos e me inclino até alcançar sua boca.

— Esperei você fazer isso a noite toda. – ela diz, quando nos afastamos para retomar ar.

— Como se você não pudesse ter feito. – provoco e ela ri baixo.

— É, mas é mais legal quando você faz. – Elsa inclina-se para mim e eu rio, balançando a cabeça. A beijo outra vez, e outra, e outra, até que ela se afasta sorrindo, dizendo que ainda gostaria de respirar. Rio e ela se inclina, me dando um demorado selinho, antes de se afastar e subir as escadas para a portaria. Antes de apertar o interfone, vira-se – Vejo você amanhã, Jack?

— É claro. – sorrio, porque adoro quando ela me chama pelo nome. Não mais do que quando ela me chama de fotografo. Ela sorri, dizendo algo no interfone. Ouço a porta destravar e antes de entrar, Elsa sorri para mim e pisca.

E eu mal sabia que a partir dali a melhor fase da minha vida iria começar.

Nós não nos encontramos somente no dia seguinte, mas em todos os dias a partir dali. Saíamos, às vezes com Anna e o namorado, às vezes sozinhos, indo para o parque ou para qualquer lugar inusitado e perfeito para um entediado sábado à tarde. Elsa ia muito ao hospital, e eu gostava de acompanhá-la sempre que podia, levando minha câmera para tirar fotos das crianças – e dela, sem que ela visse. Tanto que depois de algumas semanas eu já tinha uma coleção perfeita de fotos dela.

O que tínhamos era sério, mesmo que nenhum de nós tenha afirmado com palavras o compromisso. Mas nós sabíamos, e como sabíamos. Mas então tudo mudou e tomou uma proporção ainda maior, depois de pegarmos uma chuva forte e repentina enquanto voltávamos de um dos nossos passeios. Como meu apartamento era bem perto de onde estávamos, corremos até lá. Entramos no meu apartamento, ensopados e ainda rindo do quão bravo meu porteiro ficou ao nos ver nesse estado.

— A ultima vez que tomei um banho desses eu era criança. – Elsa disse, enquanto eu me jogava no sofá. Ela parou na minha frente, de braços cruzados e olhando ao redor. Quando agarrei sua mão e a puxei, gritou em protesto. – Não!

— Meu sofá é de couro, não se preocupa. – ela relaxa e ficamos ali, ensopados e em silencio, nossas mãos tocando-se levemente. Viro o rosto só para pegar Elsa me olhando, um sorriso tímido aparecendo em seu rosto ao ser flagrada. Levo a minha mão até seu rosto, pressionando o polegar em seu lábio inferior, chegando mais perto e apertando os lábios contra os dela. Elsa suspira, reclinando no sofá, de modo que ficamos ainda mais perto e o beijo muda para algo ainda mais profundo.

Eu me afasto para retomar ar e nós nos encaramos, tentando nos controlar. Bom, não conseguimos. Elsa volta a me beijar, empurrando-me dessa vez, até conseguir ficar no meu colo. Sua mão entra pela gola da minha camiseta, massageando meu ombro com uma calma que me leva a loucura. Beijo seu queixo e seu pescoço, enquanto seus dedos passeiam pelo meu cabelo. Afasto-me de sua pele para fita-la. Elsa sorri e eu seguro a parte de baixo de suas pernas, me levantando e correndo com ela até o quarto, enquanto sua risada ecoa pelo meu apartamento.

. . .

Estou tirando as torradas da torradeira quando escuto um bocejo alto atrapalhar o silêncio do apartamento e olho para o corredor que leva até o quarto justo quando Elsa aparece.

— Bom dia. – digo e ela sorri, esfregando os olhos e respondendo com um bom dia sonolento. Anda até mim, fechando os olhos ao sentir o cheiro de café, e me dando um beijo rápido. Ela rouba uma torrada da minha mão, andando até a sala.

Observo-a  andar pelo cômodo, vestida com a minha camisa que milagrosamente secou durante a noite e com o cabelo desgrenhado por ter dormido com ele molhado. Queria ter uma câmera na mão no mesmo instante, porque ela era a visão mais linda que eu já tinha visto. Elsa desliza os dedos por cada móvel, enquanto eu me forço a ser útil e arrumo a mesa para nosso café da manha. É estranho arrumar lugares para dois depois de me acostumar a ficar sozinho, mas sinto que poderia me acostumar com isso. Com ela aqui.

Quando volto a olhar para ela, Elsa está parada diante da prateleira em que guardo minhas câmeras - desde a mais antiga a mais nova – e algumas fotos da minha infância. Seus olhos vagueiam pelos porta-retratos, parando no que contem uma foto da minha irmã e de mim.

— É ela? – assinto, chegando mais perto. Ela olha de Sophie para mim, provavelmente em busca de semelhanças e tenho de admitir que somos mesmo muito parecidos, apenas com diferença na tonalidade do cabelo, sendo o meu loiro e o dela castanho. Elsa observa, então, minhas câmeras, tocando a primeira que eu tive na vida, sorrindo ao ver meu nome na alça, escrito com a minha horrível caligrafia de oito anos. – Por que você quis ser fotografo?

— Eu não sei. Desde criança eu sempre gostei de tirar fotos das coisas, eternizar aquilo que me marcava. –digo, encarando as câmeras também.

— Hospitais marcam você? – rio da provocação.

— Não, mas tirar fotos de hospitais para uma reportagem qualquer dá dinheiro. – admito, dando de ombros quando ela vira para mim com os braços cruzados. – Eu não posso simplesmente viajar o mundo e fotografar tudo o que eu quero.

— É isso que você quer, não é? – ela diz, depois de me encarar por um bom tempo. Quando sorrio sem graça e desvio o olhar, sua mão pousa em meu braço.  – Por que não correu atrás do seu sonho?

— A vida não é tão fácil assim, e...

— Eu sei que não é fácil. – Elsa me interrompe, gesticulando. Olha para mim com um sorriso encorajador. – Mas nem tudo o que é fácil ou que renda dinheiro é o suficiente para te deixar feliz. E trabalhar num jornal medíocre não deixa você feliz, Jack. Sabe, minha mãe sempre dizia que a gente não pode desistir, porque desistir é o mesmo que fechar uma porta do seu caminho. E eu não quero que seu caminho fique sem portas Jack. Eu não quero que você desista de nada.

— Eu amo você. – digo de repente, segurando seu rosto, porque nunca ninguém havia me dito algo assim e ver o quanto ela me apoia, o quanto quer que eu seja feliz, enche meu peito com tanto amor que mal posso reprimir. Ela me encara sem ar, seus olhos adquirindo um brilho emocionado.

 - Eu também te amo, fotografo. – sorrio bobo com o apelido e beijo-a.A puxo mais perto, enquanto repetimos “eu te amo” mais e mais vezes entre as pausas dos nossos beijos. Para termos certeza de que era real. De que era eterno.

Ou era o que eu pensava.


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