Este ano o natal vai estar cheio escrita por Segunda Estrela


Capítulo 9
Sempre soube que ia morrer em um supermercado


Notas iniciais do capítulo

Estou postando de novo, não acredito que esperei até estar no natal de verdade. Fazer o quê? A fanfic está terminada e acho que vai ter só mais um ou dois capítulos, mas estava pensando se não fazia maior só mais um pouquinho, vocês que sabem.



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Eles desciam com pés tristonhos e reclamando sobre o frio. Rey, ainda embasbacada e impressionada com a própria coragem, encarava o chão. Batia o sentimento de covardia que agora ela considerava demasiadamente atrasado, o estrago já tinha sido feito. Na hora, não pareceu tão relevante, afinal, pessoas se beijavam o tempo todo. Ela mesma beijou o Hux só por causa daquela porcaria de visco. Mas agora, com o peito em ritmo de samba e as bochechas como um farol, que teimosamente não cediam, ela se perguntava o que a estava afetando. Quer dizer, já estava ficando ridículo, ela desceu a escadinha de madeira e deu um passo na neve, já deveria ter sido tempo o suficiente para o coração parar de querer que ela não respirasse.  Pelo menos era o que normalmente acontecia. 

Assim, tão nervosa como uma garota que teve seu primeiro beijo roubado por sua paixonite da escola, ela viu o grande homem na sua frente cambalear na neve e parar. 

— Eu não preciso fazer isso. – Exclamou ele de repente com a mesma intensidade de um Eureka. 

Ela escolheu os ombros assustada. Kylo Ren se virou para ela abruptamente e agora era impossível desviar de seu olhar.  

— Você confia em mim? 

Ela hesitou antes de responder. 

— Quer uma resposta sincera? 

— Não. 

— Confio, claro. 

Ele segurou a mão dela, em um aperto firme e cheio de segurança. Foi andando duramente na direção do carro, e Rey não teve a ousadia de contestá-lo em sua marcha da vitória. 

— O que é isso? Um sequestro? – Ela não quis falar sério, mas por um momento ficou temerosa que ele desse um ataque.

— Não, eu quero fazer alguma coisa por você. 

Rey franziu suas belas sobrancelhas, apertando os olhos cheio de suspeita. 

— E por que você faria isso? 

O homem alto puxou sua gola desconfortavelmente, e deu um pigarro tentando disfarçar que não estava tão à vontade ou confiante quanto queria parecer. 

— Porque é natal, e eu só tenho te tratado mal até agora, mesmo você sendo a única pessoa que não implicou comigo nenhuma vez. - O pobre homem não tinha convicção em sua voz.

A garota, no entanto, não conseguiu ligar para isso. Deixou que um leve sorriso, tão discreto que mal se via, crescesse no canto de seus lábios. Olhou para o chão sem jeito. 

— E aonde vamos? 

Kylo Ren olhou para os lados, e pegou a chave do carro no seu bolso. Brincou com ela, girando em seus dedos longos, tentando parecer casual.

— A qualquer lugar que queira ir. – E mais uma vez, o intenso olhar do rapaz desceu sobre ela, ficou um tempo assim, como se analisasse suas intenções. Como se quisesse ter certeza que podia confiar nela. – Vem comigo, por favor. – O seu tom era distante, implorando por algo que nem mesmo ele sabia o que era. 

Rey podia culpar o natal e todo o sentimento de compaixão que enxiam as pessoas nessa época, mas aquele “por favor” era tão cheio de tristeza. Como sempre, havia aquele crepúsculo de dúvidas nos olhos do homem. Ela não conseguiria explicar, a tristeza dele a enxia. Sentia como se fosse sua responsabilidade, pior, como se fosse a única que conseguia fazer ele se sentir um pouco melhor no natal.

No fundo, havia outro motivo para aceitar também. Era como se fosse a primeira vez que tinha autonomia para escolher aonde ia. Claro que já tinha acontecido antes, ela podia acordar na sua pequena casa e de manhã decidir que ia tomar café. Mas quando estava com seus amigos e conhecidos, sentia como se fosse levada pela correnteza da vontade dos outros. Aonde eles decidiam ir, acabava acompanhando, não era como se tivesse uma sugestão melhor também. Talvez no fundo ela fizesse isso para que a achassem altruísta, ou não se cansassem dela por opinar demais.  

— Você sabe que eu não conheço a cidade né? 

Ele deu mais um de seus risos roucos e abafados. Que pareciam surgir em sua boca e ir direto para o estômago. 

— Sim, é mesmo. Ok, vamos fazer alguma coisa que sempre tenha tido vontade de fazer no natal. - Ele não olhava mais diretamente para ela, se distraía com as árvores e nuvens, como se estivesse tentando ignorar o nervosismo de sua proposta inusitada.  

— Uh, eu vou escolher pra onde vamos? Acho que isso é responsabilidade demais pra mim. 

— Confio em você. - Respondeu Ben dando de ombros. 

— Eu não sei. Tem muitas coisas que eu já quis fazer no natal e nunca pude. Andar de trenó, comprar uma rena, bater na barriga do papai Noel até ela explodir e chover presentes. Essas coisas que todo mundo faz. - Rey relatava suas crenças com confiança, nem mesmo notando o estranho olhar de Kylo Ren sobre ela.  

— Ninguém faz isso no natal. 

— Vocês não andam de trenó? 

— OK, só essa parte. De onde você tirou essas coisas? 

A garota deu de ombros envergonhada, chutando um pouco do chão enquanto colocava as mãos no bolso do casaco, suas feições levemente contrariadas. 

— Era o que falavam no orfanato.  

— O que ensinam nos orfanatos hoje em dia? Como você nunca suspeitou que fossem mentiras? 

— Sei lá, nunca parece uma boa hora pra chegar e perguntar: oi amigo , onde vai comprar sua rena esse ano?

— Acho que você nunca ia achar a hora certa, ninguém faz isso. 

Ela fechou a cara, o rosto arredondado comprimindo de chateação. 

— Se continuar me criticando, vou embora. Você prometeu que não seria rude.

— Eu não prometi isso.

Ela deu meia volta, as mãos ainda nos bolsos, quase pareceu decidida ao voltar em direção a casa. 

Ren se apressou com um passo e segurou levemente seu braço, tentando fazê-la ficar. 

— Sinto muito. 

Ela deu um muxoxo consternado, mas acabou parando e ficando ao seu lado mais uma vez. 

— Tá.

O homem não conseguiu disfarçar seu alívio, e talvez até mesmo alegria, quando ela o respondeu. E Rey conseguia perceber isso.  

— Tudo bem, o que vai querer fazer primeiro? Posso conseguir o papai Noel, mas a rena vai ser difícil nessa época do ano, são muitas pessoas querendo uma.  

A garota deu um soco de leve no braço dele, para que parasse de zoar com a cara dela. Depois enrolou os dedos, como se tivesse algo a mais para falar. 

— Tem mais uma coisa, mas você vai achar estranho. 

— Juro que não vou, o que é? 

— Eu quero participar de uma Black Friday de natal. 

Ele simplesmente parou para pensar por um segundo, sem demonstrar nenhuma comoção. 

— Tudo bem, como era o negócio da rena mesmo? 

— Ben.

— Você ficou louca? É véspera de natal, as lojas vão estar um hospício. Vai ser menos doloroso me fantasiar de rena e deixar você bater com um taco. Considere eu vomitar meus órgãos como os presentes. 

— Eu disse que ia achar estranho, deixa pra lá. 

— Me diz, por que quer fazer uma coisa dessas? 

— Eu não sei, eu nunca nem fui de comprar nada, dá pra imaginar o motivo. Mas eu fico animada em me imaginar em um lugar desses, quer dizer, não faço ideia como é de verdade. É como nos filmes? As pessoas se engalfinham por um sapato? Eu quero a sensação de correr contra o tempo, lutar contra outras pessoas pelo o que eu quero. 

— Você tem um jeito muito, muito estranho de procurar adrenalina.  

Por fim, ele colocou as mãos na cintura e deu um suspiro exageradamente longo, como se estivesse avaliando a situação. No fundo, já tinha decidido fazer o que ela queria. 

— Quer mesmo fazer isso? 

— Quero. 

Ben não pareceu mais hesitar, afinal a ideia inicial era dele, e não ia voltar para trás. Era um homem de sua palavra, assim como seu avô. Haviam controvérsias sobre isso, mas as pessoas eram tão invejosas. 

— Então entre no carro garota, você falou com o consumista certo. Vou te levar para a loja mais superlotada e agonizante que já viu. Onde os instintos primitivos do homem são aflorados e a caça é sangrenta e impiedosa. 

— Tá, vou pegar meu canivete. - Ela já estava se virando quando foi puxada pela gola. 

— O quê? 

— Para ameaçar as pessoas quando elas estiverem na minha frente. Não vou atacar ninguém de verdade. 

— Por mais que eu aprecie a ideia, melhor não. Nenhum de nós precisa se envolver em nenhum caso de posse de arma branca e ameaça de novo, e quando eu digo nós, eu quero dizer eu. 

Eles entraram no carro. Era estranho ouvir ele falar daquele jeito, sem ranger os dentes, ou insultar, sem sarcasmo maldoso, só sarcasmo normal. Era mais estranho ainda estar dentro do carro dele, um lugar que nunca se imaginou, nem mesmo arrastada. E agora, ela ia por vontade própria. A garota demorou um pouco mais do que deveria analisando o vidro, os assentos de couro e como tudo era surpreendentemente organizado, e Kylo Ren percebeu isso. 

— O que foi? 

Subitamente se envergonhou por sua atitude. 

— Nada, vamos indo.  

Rey viu a multidão assim que passaram na frente da loja. O estacionamento estava lotado e todo mundo que passava por eles parecia estar correndo.  

— Isso que é compras de última hora, não é mesmo? 

Ela estava encantada, e não se sentia culpada por ser um motivo tão estranho. Pessoas saíam carregando mais coisas do que ela comprava no ano inteiro. Era como ver um documentário animal.

Ben estacionou o carro na única vaga disponível que viam, e por um segundo, temeu não haver uma. 

— O que vai querer levar? 

— Como? 

— Estamos entrando em uma loja para comprar alguma coisa. 

Rey fez uma expressão surpresa, não tinha pensado nisso até então, por mais trivial que fosse.  

— Sim, claro. — Hesitou por um momento, sem ter certeza do que falar. — Eu vou saber quando a gente ver.  

E imaginou que isso ia causar uma revolta expressiva e a faria se arrepender de ter vindo. Infelizmente, o homem intimidador de 1,90 m à surpreendeu. Se limitou a dar mais um de seus olhares constrangedores, que Rey insistia em ficar nervosa. Algo como um sorriso brotou em seu rosto, e nem mesmo ele percebia isso ou o tempo que a ficou encarando. 

— Que foi? — Perguntou ela. 

E ainda assim, ele demorou para respondê-la, ainda perdido.  

— Desculpe, eu só... Notei uma coisa.

Colocando um pedaço de cabelo atrás da orelha, ela devolveu seu olhar em desafio. 

— O que foi?

— Você é tão estranha. — E por mais incrível que fosse para ela, o tom dele não tinha maldade, nem insulto. — Quer dizer, você é bonita e esperta, puxa o saco de todo mundo...

— Ei! 

Agora o sorriso dele era completamente visível, e se transformava em uma risada seca. Caso Rey gostasse de apostas, apostaria que estava ficando louco ou tinha tido um daqueles surtos em que a pessoa nunca mais é mesma.

— Não, não tá entendendo, você é todas essas coisas e ainda assim é ingênua e boba. — Ele estava rindo agora, a garota nunca tinha estado tão perdida com ele, e olha que confundi-la era o que Ben fazia de melhor. — Tem tudo para ser uma boa garota e uma mulher séria. ainda assim, é tão esquisita. Continua a mes... — Mas se interrompeu antes de terminar.  

Como Rey estava ocupada tentando desvendar o enigma que era todo o colóquio, não tinha reparado na pequena falha do homem. Ben ainda não estava pronto para confrontá-la sobre o passado dos dois. Poderia ser um medo bobo, mas não tinha reunido coragem ainda.

— Está me elogiando ou me ofendendo? — Rey perguntou, e odiou o tremor de sua voz. 

— Sinto muito, eu nunca deixo muito claro. Mas quis dizer, que em todas as condições que cresceu, e olhando como está agora, você é estranha de um jeito bom, especial, Rey.

O rubor desastroso que a entregava, subiu dos seus dedos da mão até as orelhas. Não conseguiu olhar para o motorista, e nem mesmo se atreveria a tentar adivinhar o motivo. 

Fez a única coisa que lhe pareceu sensata a fazer, abriu a porta do carro o mais rápido que alguém conseguiria, colocou os dois pés no asfalto aterrado de neve e pulou para fora do carro. Deu alguns passos agitados na direção da loja e gritou de volta para o Dodge: 

—Vamos logo, não queremos perder a loucura de natal.  - Disse ela com o coração ainda batendo de incerteza.

Ele nem mesmo soube o que responder, simplesmente saiu do carro e trancou a porta nas suas costas.  Imaginando que tinha feito besteira, mais uma vez, para variar.

Entrar na loja já foi uma dificuldade, tiveram que empurrar umas pessoas, dar cotoveladas e chutes, mas entraram. Rey se perdeu na confusão de caixas empilhadas e cabeças flutuantes acima dessas caixas que passavam de um lado para o outro.

— Siga seus instintos.  

— Siga seus instintos? Quem é você? O velhinho de Karate Kid? — Ela dizia sorrindo, então não tinha como levá-la mal. 

Rey começou a andar pelas pessoas, contornando os presentes, avaliando todas as prateleiras. Encarava também a vontade fervorosa que todos tinham, como se todo o natal pudesse ser destruído se não comprassem a televisão no modelo certo. Talvez, para aquelas pessoas, fosse realmente isso.  E Rey não deixou de achá-las tristes, e ao mesmo tempo fascinantes. Como deveria ser ter uma vida em que a árvore de natal estava tão inundada de presentes quanto a rua estava inundada de neve?

Com a multidão agitada quase sempre os separando, houve um momento em que seguraram a mão do outro quase sem perceber. Juntos, eles foram abrindo caminho entre o apinhado de pessoas.

Andaram ainda mais um tempo, e apesar de sua pesquisa social estar sendo esclarecedora, Rey estava desanimando ao ver coisas cada vez mais desinteressantes e nada que fosse realmente revelador e mágico para representar o natal.  

— Acho que não vou encontrar nada. Fiz você vir aqui à toa. 

— Não foi à toa, duas senhoras já passaram a mão na minha bunda desde que entramos, então é mais agitação do que tenho em casa.  

Ela não pode deixar de rir, quando ele tinha começado a tentar ser engraçado?

Rey se motivou e caminharam mais um pouco, uma mulher gorducha de meia-idade passou esbarrando por ela e quase a derrubou. Em seu estado crítico pós-atropelamento, ela deu uma olhada para uma grande prateleira, em um espaço consideravelmente mais bonito. Haviam muitos brinquedos, perfeitamente enfileirados. Havia poucos de cada peça, e ela se perguntou porquê. Quase que imediatamente, uma coisa chamou a atenção dos seus olhos. Era familiar, um pequeno elefante azul deitado. Ela se aproximou, se achando a garota mais sortuda do mundo.  

— Não acredito. 

Kylo Ren a seguiu de perto, querendo saber o motivo de tal perturbação. 

— Eu tinha um desses. — Ela quase gritou de animação. — Era o único brinquedo que eu tinha quando era criança, um pequeno desses que eu achei sem lar na rua.  

O homem tombou a cabeça para o lado, tentando se lembrar se já a tinha visto com um desses quando eram pequenos.  

— É claro que eu escondia das outras crianças ou do Plutt, tenho certeza que iam tirar de mim. 

Então fazia sentido que nunca a tivesse visto brincar com aquilo na oficina. Não parecia ser grande coisa, mas era importante para ela. 

— Então acho que já decidimos.  

Ela deu um pulo de animação, sim, era perfeito. Não acreditou que tinha encontrado uma coisa assim em um lugar daqueles. Ao passar mais uma vez pelas pessoas, um homem enorme bateu em Rey, bem mais forte que a última mulher. Ela escorregou e teria caído se não estivessem de mãos dadas, no entanto o presento voou da sua mão. Ren ajudou a garota a recuperar o equilíbrio, do melhor jeito que podia. Não demorou menos que uns segundos para que um homem baixinho de poucos cabelos na cabeça, esticasse seus dedos gorduchos e pegasse o elefante.  

— Ei! Isso é meu! 

O homem não respondeu, apenas olhou para ela com certa culpa e foi embora. 

— Ben, pega aquele homem, ele roubou o elefante!

Sem nem mesmo entender o que tinha acabado de acontecer, ele disparou em direção ao baixinho. Rey só teve tempo de sacudir a poeira e correr atrás dele. O homem olhou aterrorizado para trás quando viu que uma figura absurdamente alta o seguia, não imaginava esse tipo de perseguição por causa da pelúcia. Tentou correr o máximo que suas perninhas conseguiam, sua sorte era que a multidão de pessoas atrasava seus perseguidores.  

— Não deixa ele escapar Ben. 

— Não vou. 

Eles correram até que uma pequena falha atrapalhou o sequestrador de elefantes e ele acabou em um corredor sem saída. Kylo Ren se colocou na frente e avisou: 

— Ok, é só devolver o urso e ninguém sai machucado. 

— Não está falando sério, não é? — Respondeu o desconhecido.  

— Não tente nos dissuadir, meliante. — Acusou Rey, sem pudores. Dava para perceber que ela estava adorando tudo aquilo.

— Eu peguei, tudo bem? Tenho tanto direito a ele quanto vocês. 

Rey deu um passo à frente, mas não estava pronta para apaziguar as coisas.  

— Olha, esse elefante é muito importante para mim. Era o único brinquedo que eu tinha quando criança, é bom você fazer a coisa certa.

— Não é meu problema comadre. 

Cheia de revolta, ela deu um passo para trás. Horrorizada com a frieza do homem. Ela era a única que se preocupava com o natal?

— Olha, eu não queria falar isso de cara. — Kylo Ren colocou as mãos nos ombros de Rey, e ela se surpreendeu com o toque inesperado. — Essa é minha esposa, e ela está grávida. Ela tem uma condição rara, vai morrer um ano depois que nosso filho nascer. Minha esposa só queria deixar algo para nosso filho que fosse de sua infância. Para que o pequeno Anakin tenha algo para se lembrar dela. 

Rey mostrava uma expressão cheia de pena para a vida imaginária dela. Quase se comoveu de verdade pela pobre mulher que perderia o filho.

— Sinto muito, já disse que não é meu problema. 

— Seu grosso, não tem pena que o pobre Anakin vai ficar sem mãe? — Gritou Rey, se deixando levar pela história. 

— E além do mais, Anakin, que diabos de nome é esse? 

Kylo Ren suspirou exasperado com a mão no peito, ofendidíssmo.  

— Ok senhor, a gente quis fazer do jeito fácil. Vai me dar esse brinquedo ou meu marido aqui vai te dar uma surra. Eu falo sério. Ele é meu marido de verdade. 

— Ela fala muito sério.

O homem deu de ombros, e não pareceu se deixar ameaçar. 

— Olha só, eu não sei qual a história dramática você vai querer inventar agora, mas eu preciso dele. Sabe quanto essa pelúcia val...

Mas o desconhecido não teve tempo de responder, Rey avançou sobre ele e deu um belo gancho de direita no homem. Quando ele instintivamente colocou a mão no nariz, e gritou de dor, Rey tirou o elefante de suas mãos e correu.

— Seus brutos! Quem bate em alguém assim? Segurança! - O homem tentou gritar por ajuda.

Mas a multidão era barulhenta, e os gritos foram abafados pela pessoas e pela risadas dos dois.

— Não acredito que você fez isso. - A surpresa era clara na voz de Ben, enquanto corriam na direção do caixa.

Rey ria sem conseguir se controlar.

— Eu também não! Eu nunca fiz uma coisa dessas antes. - Ele definitivamente estava adorando aquilo. - Mas aquele cara era horrível, como ele não pôde ficar comovido com a nossa história?

Ben deu uma risada genuína e profunda. Ela ainda era a mesma moleca de quando eram crianças.

— Aliás, pequeno Anakin, sério?

— Não aja como se estivesse surpresa. - Ele respondeu casualmente enquanto corriam.

Se entreolharam mais uma vez com um sorriso, é, talvez aquelas lojas abrigassem mesmo o espírito de natal. 

Quando chegaram no caixa, Rey tinha um grande sorriso no rosto. Carregava o pequeno elefante em suas mãos, com confiança. Ben andava atrás dela, admirando aquela alegria infantil, sem julgá-la, nem por um momento. 

Foi Rey que bateu o brinquedo no caixa para a atendente, e pegou sua carteira dentro do bolso do casaco.  

— 500 dólares.  

Rey interrompeu a busca de dinheiro na hora.  

— O quê?  

— É o Beanie Baby do Amendoim, o elefante azul-royal. Essas gracinhas ficaram muito populares uns anos pra cá. Esse preço está ótimo por conta de nossas promoções. Em outros locais vai achar ele por 1000 dólares ou mais, garantimos. 

— Não acredito nisso.

— Pode acreditar. Nossas promoções são uma loucura. - Respondeu a atendente com um grande sorriso.

— Não isso.

Rey saiu da fila, com o elefante ainda em cima do balcão. 

— O que foi? — Perguntou Kylo Ren, preocupado. 

— Eu não tenho 500 dólares, e se eu tivesse, não ia poder gastar tanto assim. 

Ele não a respondeu, coçou o braço uma vez, e voltou para o balcão.  

— Aqui. — Falou ele, tirando uma carteira de couro preta, obviamente, do casaco e estendendo o dinheiro para a mulher, que pegou sem pensar duas vezes.

— Não pode comprar isso para mim. 

— Que garota metida, eu não estou comprando para você. Eu sempre quis ter esse Babys Bicho quando era criança, sem contar que eu também briguei por ele.

A garota tentou segurar o braço dele, como se fosse uma ameaça. Mas a mulher do caixa já tinha pegado o dinheiro e terminava a transação, enrolando o pequeno bichinho em sacola.  

—  Aqui está, senhor.  

Kylo Ren foi andando para fora, tirando o bicho de pelúcia da sacola.  

— Droga, eu queria o Castanha, o elefante azul normal. Acho que vou ter que jogar esse aqui fora. — Falou ele com um tom cínico.  

— Não acredito que fez isso.  

— Eu sei, um erro básico entre os colecionadores de bichinhos. Você não ia querer ele, né? Já que vou jogar no lixo mesmo.  

Rey se viu desconcertada, o que tinha acontecido para aquele homem mudar tanto suas atitudes de repente? Ela não queria saber, era estranhamente bom estar com ele assim. Não conseguiu se conter, fez o melhor que pode para alcançar o enorme pescoço dele e envolvê-lo em um abraço. Não tinha muito o que dizer, então imaginou que isso fosse mostrar melhor como ela se sentia.  Era estanho se sentir tão confortável com alguém que pensou que a odiava.

A princípio, Ben também não soube como reagir. Até que seu coração acelerado insistiu que retribuísse o abraço. Sentir os braços quentes dela em volta do seu pescoço era uma das melhores sensações que já tinha tido. E não precisou de visco, nem aposta.

— Obrigado. — E quem dizia isso era ele. 

Rey desvencilhou-se do abraço desconfortavelmente, mas com uma sensação boa e nova no estômago.

— Eu vou pagar você por isso, eu falo sério.

Kylo olhou para ela. Sempre se impressionava como ela conseguia ficar cada vez mais bonita. Esticou os dedos temerosos, mas menos do que da última vez. Tocou seu rosto suavemente, como se temesse que ela corresse. 

O celular de Kylo tocou e imediatamente destruiu seu flerte. Ele tossiu nervosamente e olhou para tela. 

— Ah deus, é minha mãe. Eu esqueci o jantar de natal. Acho que vou ter que explicar muita coisa quando chegar em casa. 

Dessa vez, Rey riu, e nem soube dizer direito o motivo. 


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Notas finais do capítulo

Qualquer erro, me avisem. Obrigada a todos que aguentaram até aqui. Foi uma grande vitória e eu dedico esse prêmio, que eu imaginei para mim mesma, para mim. Por não ter desistido quando as coisas ficaram difíceis e ter lutado contra minha doença de letargia aguda. Isso não é uma doença de verdade, não precisam se preocupar, eu estou bem.
Eu também tenho um prêmio para dar para cada um de vocês, por paciência e péssimo gosto para fanfics pessoal, só é menor que o meu.
Brincadeira, haha.
Brincadeira...