Este ano o natal vai estar cheio escrita por Segunda Estrela


Capítulo 5
Diversão noturna?




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Eles chegaram em casa, carregando bolsas e bolsas de presentes, comida e uma estrela dourada para a árvore. Cada um deles tinha comprado algumas coisas nas lojas. A maioria eram lembranças para eles se darem quando chegasse o dia de natal. Os três mais novos decidiram comprar coisas juntos, porque diferente dos Skywalker, não tinham tanto dinheiro. Não conhecendo seus anfitriões muito bem, os presentes eram mais chutes e coisas genéricas.

— O que você acha que Han quis dizer quando disse que ia comprar coisas para “diversão noturna”? – Perguntou Rey, com um toque de curiosidade em sua voz.

— Se você não gosta de beber, nem queria saber. – Respondeu Leia.

— Eu quero saber. – Intrometeu-se Poe, passando pelas duas com as sacolas.

Leia suspirou fundo, enquanto colocava algumas bolsas na sala, exatamente no pé da grande árvore de natal. Sem nem mesmo notar o presente embrulhado com papel cinza que já estava ali.

— É uma coisa que eles fazem há uns anos. Se chama “eu já nunca joguei verdade ou consequência”. É bem estúpido na verdade, ficam parecendo adolescentes.

Finn franziu as sobrancelhas.

— Como funciona?

— Basicamente, é uma desculpa para eles beberem e se darem desafios bobos. Quem erra tem que correr pelado na neve ou coisas assim.

— Uau. Isso parece idiota e autodestrutivo. Adorei! – Falou Poe.

— Ano passado Han acertou um dardo na cara do Luke, e o Luke nem tava jogando.

Os garotos riram, e Finn se virou para ela, ainda segurando umas duas bolsas de compras.

— Por que esse nome? É uma mistura dos jogos?

— Não mesmo, os idiotas só gostavam de como soava.

Os três se deram uma troca de olhares, talvez fosse divertido participar. Divertido e potencialmente perigoso.

— Posso pendurar os viscos agora? – Sussurrou Poe para Leia, discretamente, sem querer que os outros notassem suas intenções ocultas.

A mulher respondeu sorrindo e concordando com a cabeça.

— Coloque em lugares difíceis de ver. Apesar de não importar muito, depois de umas bebidas vocês nem vão notar onde eles estão.

Poe riu para ela, era sempre assim, ficar com semi-conhecidos era uma série de sorrisos repetidos para não acharem que ele era grosso. Regra básica de convivência social. Sorte que Leia não era uma conhecida, era alguém valiosa para ele, e gostava muito da senhora. O resto da família, por outro lado.

Não importava, era uma boa chance de colocar seus inegáveis talentos de casamenteiro. Em outros natais, costumavam chamar Poe de “louco dos viscos”. Para ele, havia certa mágica em fazer pessoas que não particularmente se gostavam se beijarem em cima de uma planta pendurada na parede. Não se preocupou mais com isso e se dedicou a sua tarefa. Na mente dele, estava tão furtivo quanto um ninja, mas só na mente dele.

— Seu filho foi comprar as coisas com Solo? – Perguntou Finn, enquanto andavam na direção da cozinha.

— Não. Ele nunca participa. Diz que é uma absurda demonstração pública de estupidez e ele não se engaja nesse tipo humilhação. – E a senhora fez a melhor imitação de Ben que podia.

Finn sorriu para si mesmo, aquele era mais um motivo para participar.

[...]

— É hora! – Gritou Han Solo, chegando na sala com suas garrafas de tequila.

Lando o acompanhava equilibrando copos de vidro um em cima dos outros com apenas uma mão. Chewbacca carregava limão, para os de coração fraco. Kylo Ren e Hux estavam parados e encostados na parede, parecendo parte da decoração. Hux usava uma blusa social escura, puxada até o cotovelo. Kylo tinha um casaco de moletom preto, que guardava de quando ainda era adolescente, e para completar a aparência desleixada, seus jeans velhos estavam rasgados. Os dois pareciam vocalistas de uma boy band posando para a capa do álbum.

Rey olhava para a cena como um adulto que julga crianças malcomportadas. E ficou imaginando se era assim que ele se vestia normalmente. Era meio patético que ele se esforçasse tanto para manter a aparência de rebelde sem causa. Isso não impedia a garota de se perguntar se ele realmente tinha um motivo para agir daquela forma.

— Então, vocês vão jogar conosco? – Perguntou Lando. – Admito que vai ser divertido ter um pouco de variedade.

Chewbacca balançou a cabeça incentivando que participassem.

— Chewie ganha todo ano, e ainda não sei como. – Han reclamou, pegando copos pequenos de doses em uma cristaleira. –Normalmente nesse ponto eu nem lembro o que aconteceu mais.

A lareira estava acesa e dava uma luz alaranjada agradável a sala, em contrapartida à noite fria do lado de fora. Os sofás de couro marrom-claro estavam virados em direção ao fogo. Uma poltrona velha de textura grossa do lado direito de um deles e um tapete felpudo no chão. Rey suspirou fundo, o cenário era completamente confortante.

Poe sorriu para seu anfitrião.

— Pode ser divertido encher a cara por nenhum motivo específico. – Animou-se ele.

Rey ainda estava incerta, mas não queria recusar nada que a chamassem para fazer. Sentia que seria como demonstrar ingratidão, e além do mais, havia uma grande possibilidade de ser mesmo divertido.

— Você vai participar professor Luke? – Perguntou a garota inocentemente.

— Não, eu não bebo.

— Nem fuma. – Completou Han.

— Nem faz sexo. – Completou Kylo Ren. – Provavelmente.

O senhor colocou as mãos no rosto, envergonhado pelas atitudes infantis que o cercavam. E definitivamente desconfortável que diziam isso na frente de dois alunos seus.

— Ei, Ben. Sabe por que eu não uso lapiseira? – Luke falou como uma forma de vingança, um sorriso tremulante em seus lábios.

— Não! Não quero saber! – Gritou o homem, levantando as mãos em sinal de pare, mesmo sabendo que seu protesto seria inútil.

— Porque se eu usasse, meu lápis ficaria desapontado.

O rapaz de pele branca e cabelos negros como piche do outro lado da sala bateu a cabeça na parede. Hux torceu os lábios, olhando para Ren com desaprovação, mas ele olhava com desaprovação para tudo.

— Bom, eu quero jogar. – Disse Rey, tentando fazer o foco voltar para a conversa.

— Você quer? – Ben pareceu espantado, e não de um jeito bom.

— Eu também vou. – Disse Finn.

Os mais velhos se animaram, já fazia um tempo que o jogo tinha atingido um nível de estagnação entediante. Han se colocou na frente dos três, e se pôs a falar:

— Se chama: eu já nunca joguei verdade ou consequência. Alguém diz uma frase hipotética, e quem já tiver feito, bebe uma dose e marca um ponto, quando chegar em cinco pontos, escolhe honestidade ou punição.

— Verdade ou desafio? – Perguntou Finn.

— Não me interrompe, rapaz.  E não, não tem nada a ver com verdade ou desafio.

Poe sussurrou para Finn sem que os outros notassem:

— Como diabos o Chewie consegue ganhar nisso? - Perguntou ele, tentando entender. – Como diabos se ganha nisso?

— Ganha se você não cair de bêbado antes de duas da manhã.

— Admito que com o passar dos anos, a gente não pergunta mais nada, só fica se dando desafios idiotas. Já sabemos tudo que tem para se saber um do outro. – Lando parecia quase decepcionado de falar isso.

— É porque vocês são velhos que se sentam em círculo no natal e fazem jogos de adolescentes. – Argumentou Leia, com as sobrancelhas erguidas.

— Você vai ficar, Leia? – Finn parecia curioso.

— Claro, quem vai chamar a ambulância quando houver um acidente?

— Eu podia chamar a ambulância. – Comentou Poe.

Finn e Poe se sentaram no sofá em dupla, mais perto do fogo. Rey sentou na poltrona de um lugar só. Os outros foram se acomodando em volta, e mesmo Luke que não participava, gostava de ficar por perto dos amigos enquanto eles jogavam. Alguma coisa interessante sempre acontecia.

— Eu vou participar. – Falou Kylo Ren, para a surpresa de todos, levantando-se do seu canto escuro.

— Mas você nunca joga. – Estranhou Luke.

— Eu decidi mudar.

— Você diz que esse jogo é a maior idioti...

— Eu decidi mudar! – Insistiu ele, interrompendo o tio.

Ninguém comentou nada, mas Han olhava para ele com um sorriso maroto de orelha a orelha. Um sorriso que desconcertava o rapaz.

— Tudo bem. – Falou o homem mais velho, levantando-se e tirando o casaco, mostrando que estava usando um colete de couro por baixo.

— Não tem nada mais triste nesse mundo do que um homem de meia-idade usando colete. - Resmungou Kylo Ren de um canto, olhando para seu pai.

— Eu me recuso a participar disso. – Disse Hux, olhando com despeito, mas mesmo assim não se retirou. Típico.

Han foi enchendo os copos na mesa, depois colocou sua garrafa no centro dela, para que estivesse ao alcance de todos.

— É muito bom que esteja conosco, filho. - E Ben sabia que tinha que ter medo de algum jeito, que aquele sorriso não era confiável.

— Posso começar, crianças? – Perguntou o velho rebelde. – Eu nunca chorei lendo poesia sobre areia que meu avô escreveu. – E enquanto falava isso, olhava diretamente para o filho sentado um pouco na frente.

Os outros notaram a tensão palpável de um Solo ao outro. E por um momento, acharam que o mais alto se levantaria e começaria a gritar de raiva e protestar. Ele xingou mentalmente por ter se deixado levar e aceitado participar daquela bobagem. Pensou que poderia aproveitar para um entrosamento mais profundo com a ex-catadora de lixo, lhe dar uma chance de se redimir e lembrar dele, mas o tiro saiu pela culatra.

— Você não é um homem de sua palavra? – E somente os dois poderiam saber porque isso o afetava tanto.

Kylo Ren estreitou os olhos, e acabou bebendo sua dose. Não fosse como a irritação dele era incômoda, os outros teriam se perguntado porque ele chorou com poesia sobre areia.

— Tudo bem, eu aceito qualquer que seja a humilhação que você queira me fazer passar.

Han riu para ele, e colocou a mão no seu ombro.

— É assim que se fala.

A ordem de pessoas sentadas em círculo era: Kylo, Leia, Han, Lando, Chewbacca, Poe, Finn e Rey. E eles conversaram animadamente por um tempo, se deixando distrair do jogo. Nada muito revelador foi dito, e nenhum segredo espetacular compartilhado.

— Nunca me machuquei tentando impressionar uma garota. – Falou Poe.

Surpreendentemente, Kylo, Finn e Han viraram seu copo de tequila, e Luke virou seu copo de suco de groselha. Era só suco, mas gostava de dizer que era suco do universo quando as pessoas perguntavam. Todo mundo meio que fingia que acreditava.

— Temos homens muito românticos aqui senhora - Sussurrou Rey para Leia, sem deixar de ser ouvida pelo homem impressionantemente alto que estava entre as duas.

E de novo, eles foram tomando doses enquanto iam passando as vezes. Rey estava concentrada, mas não estava acostumada a beber. Já sentia uma tonteira leve. A moça deitou a cabeça no ombro de Finn, sussurrando:

— Eu acho que eu já estou um pouco tonta. – Falou ela.

Finn deu dois tapinhas amigáveis na sua cabeça.

— Tenta não cair de bêbada antes das 2:00 da manhã, talvez a gente possa ganhar.

A garota concordou com a cabeça, sentindo seu coque balançar. Colocou suas mãos nos cabelos, e soltou seus fios castanhos que chegavam até um pouco abaixo dos ombros. Com o canto dos olhos, Kylo olhava para ela ligeiramente incomodado. Talvez fosse só a bebida que fazia ele a perceber muito mais atraente do que ele normalmente admitiria para si mesmo.

Chegou a vez de Leia e mesmo sem conseguir pensar em nada muito grandioso, ela disse:

— Eu nunca quebrei alguma coisa na casa de um amigo e escondi.

Kylo Ren engoliu em seco olhando para os lados, e virou seu copo. Os olhos azuis de Hux fuzilaram suas costas, enquanto seu rosto demonstrava compreensão.

— Não acredito. Sabia que tinha sido você quem quebrou meu modelo da Enterprise no primeiro ano. – Reclamou ele com revolta.

Ren ficou impressionado com o rancor e boa memória de Hux. Pensou em negar, mas não adiantaria, Armitage via diretamente através de qualquer mentira que pudesse pensar. Aqueles olhos eram como lasers tentando derreter sua cabeça, quase sentia queimar.

— Não precisa guardar raiva por tanto tempo. – E quando falava, seu tom de voz estava mais ameno, talvez até um pouco mais feliz, obviamente por causa do álcool. – Por isso você tem rugas.

Hux arfou em choque com a mão na testa, dando um passo para trás como se estivesse muito ofendido. O que, aliás, ele estava.

— Eu não tenho rugas.

— Você já bebeu cinco vezes. Escolhe verdade ou desafio. – Interrompeu Poe, mostrando que entendia completamente a complexidade de “eu já nunca joguei verdade ou consequência”.

— Honestidade ou punição. – Corrigiu Luke. – Verdade ou desafio é coisa de criança.

Ele poderia ter escolhido verdade, mas conhecendo seu pai, ele conspiraria com os outros para saber algo terrivelmente embaraçoso do seu passado. E no caso de desafio, conseguia enfrentar qualquer coisa que a mente velha daquele homem pensasse.

— Eu escolho desafio.

— Punição. – Corrigiu Luke.

— Que seja.

Han se colocou na frente dos outros, mas não antes que Leia ralhasse para que não fosse muito duro o garoto. Tinha um limite para o quanto o marido poderia puní-lo.

— Eu vou ser gentil com você por única bondade do meu coração. Que tal, toda vez que você falar uma coisa maldosa, tenha que obedecer uma ordem nossa? – Sugeriu ele.

Rey sussurrou para Luke, ligeiramente preocupada.

— Isso não é meio injusto? Assim a consequência dele vai durar para sempre.

— Punição. – Corrigiu o senhor.

Mas o garoto não estava pensando nisso, seu orgulho era grande demais para acreditar que não conseguiria realizar a tarefa.

— Realmente acha que não consigo me controlar? O quão ingênuo você tem que ser para me dar um desafio tão ridiculamente mal pensado? – E cruzando os braços, percebeu como o que tinha dito soou maldoso. – Esse insulto não conta.

— Tudo bem, não precisa ser agora. – Falou Lando, se colocando entre os dois, rindo.

— Obrigado, tio Lando.

— Acredite, ele vai te dar muitas oportunidades no resto da noite, Han.

E os dois amigos de longa data concordaram entre sim, enquanto o rapaz protestava.

— Você não é mais meu tio favorito. – Reclamou Kylo Ren com sua voz rouca cansada.

— Como assim eu era seu tio favorito? – Exclamou em surpresa o homem moreno.

— Como assim eu não era seu tio favorito? – Protestou Luke, colocando as mãos no peito, horrorizado.

"Eu sempre soube que ele era o tio favorito" Chewbacca sinalizou para Rey, sabendo que ela ia entender.

— Tio Lando era o único de vocês que colocava meu pai no lugar dele quando eram jovens. E Luke, não tem como eu preferir alguém que usa roupão branco para ir no supermercado.

— Mas foi só uma vez. – Tentou argumentar tristemente.

— Não foi só uma vez. Foram várias vezes. Você ainda faz isso. Você leva o maldito roupão pros lugares, aposto que trouxe pra cá também.

— Você mexeu na minha mala?

— Não tente mudar de assunto, é um tormento ter que andar na rua com você parecendo um figurante de Laranja Mecânica.

— Desculpa, mas a maioria dos Skywalker costumam ter ótimo senso de estilo. Sinto muito se você puxou a aparência do seu pai. – Disse Luke, ignorando a presença de Han, que olhava para ele sem entender o motivo da grosseria gratuita.

— Achei que você tinha puxado a aparência daquele carro que te atropelou e arrebentou sua cara quando você tinha 19.

Leia olhou para o filho com um muxoxo de reprovação.

— Isso é você se controlando, Ben? – Perguntou ela.

Os outros riam entre si, menos Hux.

— Sinceramente, acho que foram pelo menos três ofensas só nessa conversa. – Acrescentou Poe sorrindo.

— Não são ofensas se são a verdade! – Gritou Kylo Ren.

Finn balançou a cabeça.

— Essa é mais uma, tenho certeza.

Han se levantou e Leia deu permissão, parecendo desistir.

— Vai lá fora e pula na piscina. – Disse seu pai.

— Mas está nevando.

— Bom, se estivesse sol não ia ter porque você pular, não é? – Comentou Poe.

— Não se intrometa seu piloto de avião de brinquedo.

— Alguém tá fazendo a contagem do que ele fala? – Perguntou Lando.

Chewbacca levantou as mãos mostrando o número oito.

Ren cerrou os punhos com raiva, mas decidiu que não ia argumentar mais e saiu batendo a porta com um estrondo. Tinha que enfrentar as consequências. Todos foram para a janela dos fundos olhar o espetáculo que estava para acontecer.

Mal via-se seu rosto. Kylo era praticamente uma silhueta do lado de fora, mal iluminado pela luz de dentro da casa. Hesitou antes de tirar seu casaco e sapatos, e sentiu o vento congelante bater no corpo bem torneado. Por baixo usava só uma regata preta, que não cobria seus ombros e deixava sua situação miserável.

Mergulhou de uma vez, e houve um coro geral de “uh” entre as pessoas lá dentro, quase com pena.

— Porra! Caralho! Merda! Merda! Merda! – Ainda era possível ouvir os gritos abafados dele, mesmo pelo vidro.

— Vou pegar um cobertor e uma toalha. – Falou Leia.

Poe e Finn riram e trocaram um high-five discreto. E depois viram o homem voltar correndo para dentro de casa. Ele estava tremendo da cabeça aos pés. A camisa estava completamente colada no corpo molhado, mostrando todos músculos que ele escondia com seus casacões. Os cabelos negros puxados para trás.

— Espero que tenha gostado do show, Han Solo. Tomara que te alivie quando eu morrer de hipotermia. – Brigou ele, cerrando os dentes, inclinando o queixo para frente.

— Definitivamente vai. – Respondeu Han.

Leia não aguentou ver o filho naquela situação, mesmo sabendo que era fruto das suas decisões. Correu para perto dele e tirou sua blusa sem querer ouvir os protestos enquanto ele se debatia.

Rey desviou o rosto rapidamente, as bochechas já estavam vermelhas por causa da bebida, mas podia sentir ficarem pior. Até mesmo Poe, que podia jurar que ele era um magrelo estranho em baixo das suas roupas pretas, ficou impressionado.

A mulher enrolou o homem alto com muita dificuldade no cobertor, quase não o alcançando. Depois secou seus cabelos com certa violência.

— Vá sentar na frente da lareira.

— Obrigado, mãe. – Ele falou baixinho, sem querer que os outros ouvissem.

Finn, Poe e Rey riram uns com os outros, e depois se viraram para voltar para seus lugares. Mas enquanto passavam pelo portal da porta, Rey esbarrou no amigo ruivo de cara emburrada. Eles se encararam por um minuto. O homem não parecia tão desprezível naquele momento, bonito até.

— Rey. – Exclamou Poe, estendendo o “e”, com um sorriso largo que atravessava seu rosto. Depois apontou para cima da cabeça de Rey e Hux, onde havia um visco muito bem colocado. – Tem que se beijar agora.

A garota franziu os lábios e as sobrancelhas. Estava no brilho mesmo, não se importava. Hux pareceu analisar a situação por um momento, mas não teria nada demais. Deu de ombros e se aproximou devagar dela, como que esperando permissão. Se beijaram rapidamente, sem nem mesmo se tocarem em qualquer lugar além dos lábios.

Kylo Ren estava sem blusa, enrolado em um cobertor do Homem-Aranha e olhava para a cena com um misto incredulidade e raiva. Pensou em ir reclamar e acusar Hux de ser um traidor, mas a verdade era que não tinha motivo. Nem mesmo sabia dizer porque a cena o irritou. Só sabia que se não saísse logo da sala, correria na direção do amigo e quebraria seu nariz com um soco. Só não concluiu seu plano porque sabia que do jeito que Armitage era, havia uma grande possibilidade dele ter uma hemorragia e sangrar até a morte.

O sentimento era quase de posse, ele a tinha conhecido primeiro, primeiro que qualquer um deles. E, agora estava mais distante dela que qualquer outro na casa, até mesmo de Hux.

— Eu vou trocar minhas calças. – Exclamou, tentando esconder sua irritação.

Mas Leia, pelo modo como o via golpear o ruivo com seu olhar, imaginava o que estava acontecendo.

Rey voltou para seu lugar, e Hux sentou em uma cadeira afastada, para deixar claro que não participava do círculo. Eles esperaram Kylo Ren chegar, mas enquanto ele não chegava, bebiam. Beberam até chegar no estado em que os gostos horríveis de vodka e whisky se disfarçavam, e aí beberam mais.

— Sabe, uma vez eu pensei em tatuar: Nunca se é velho demais para ser jovem. – Comentou Han, aleatoriamente, deixando a bebida falar.

"Isso não é uma frase da Branca de Neve?" Gesticulou Chewie para ele.

— Ela era uma mulher surpreendentemente sábia.

Rey e Finn, encorajados o suficiente, sentiram que deviam tentar fazer com o que o ruivo descolado participasse da conversa.

— Então, você lembra daquela vez que eu me recusei a soltar um porco na escola e a Phasma mergulhou minha cabeça na privada? E depois vocês soltaram o porco mesmo assim? Há, bons tempos, não é? – Finn dizia, entre risadas, como se fosse uma memória divertida entre dois amigos. – E no final, vocês colocaram a culpa em mim. Lembra disso? – O sorriso era meio perturbado e cínico, mas Finn ainda tinha sua aparência doce.

Mas Hux não sorria, olhava para ele torcendo o canto da boca, inflando as narinas. Os braços estavam nas costas e sua era postura era perfeita. Parecia um militar, olhando firme para os dois e parecendo odiar tudo em volta.

— Eu lembro do porco.

Poe riu, batendo várias vezes nas costas do homem mais alto. E o outro arregalou os olhos e cerrou as sobrancelhas, sem entender. E a animação do latino foi murchando ao ver que o ruivo não compartilhava do seu humor.

— Não era uma piada, não é Weasley? – Perguntou Poe, desconfortável.

A garota olhava nervosa para os dois, sem saber o que fazer. Ela segurou a mão de Poe, que ainda estava no ombro do homem franzino, e a tirou devagar. Deu um sorriso amarelo para ele, ainda tentando quebrar o gelo, o que parecia inútil.

Hux a analisou de cima abaixo, tombou levemente a cabeça de lado, como se ponderasse. E sem que ninguém percebesse, chegou a uma conclusão.

— De onde conhece a família Skywalker, senhorita Rey? – A formalidade dele era irreverente, não era forçada, como a maioria das pessoas quando se obriga a falar com pompa.

— Eu sou aluna de teologia do professor Luke na faculdade.

— Luke é professor de teologia? – Hux pareceu levemente surpreso, e interessado no que ela dizia, o que era surpreendente.

— O Ben nunca te fala de mim, não é? – Perguntou Luke, surgindo na conversa, parecendo magoado.

— Ele também é formado em engenharia robótica. – Falou Rey, olhando para o senhor, como se o defendesse, com os olhos brilhando de orgulho do seu mestre. – É o homem mais inteligente que eu conheço e uma inspiração.

Luke se sentiu tocado, e devolveu seu olhar admirado com carinho.

O rapaz ruivo torceu os lábios, concordando com um murmúrio.

Ren surgiu pelo corredor, secando seus cabelos pretos com uma toalha. Ele ainda estava enrolado em suas cobertas do Homem-Aranha e ainda estava com frio, mas pelo menos agora usava roupas secas.

— Eu nunca beijei a Leia. – Gritou Lando, com empolgação. Finalmente parecendo voltar ao jogo.

Han deu de ombros, e bebeu não só uma, mas várias doses. Luke olhou para o amigo em suspeita, e acabou virando seu copo de suco.

— Tio Luke? Que nojo mãe! – Gritou Kylo.

Leia balançou as mãos levianamente, e as outras pessoas gargalharam com a expressão despreocupada em seu rosto, menos Hux.

— É você Chewie. – Falou Han.

E o homem cabeludo e alto simbolizou na direção de todos, Han Solo se adiantou e exprimiu o que o amigo desejava falar em voz alta:

— Eu nunca corri para salvar a minha vida.

E assim, o próprio Han teve que beber. Rey o acompanhou logo depois. E Finn, que ainda conseguia marcar os pontos, disse:

— Vamos Rey. Acabou de atingir cinco pontos.

— Desafio! – Cantou ela, animada e rodopiando em seus pés.

— Tudo bem, deixem a dama aqui decidir. – Falou Leia.

— Vá em frente, altezíssima. – Han sorriu para ela, piscando de forma matreira.

— Escolha uma música tema para quatro pessoas dessa sala.

Os outros homens gritaram em protesto, acusando Leia de protecionismo ao sexo feminino, mesmo sabendo que isso não existia.

— Calem a boca, eu que mando aqui, vocês sabem bem disso. – Exigiu a general.

Os homens mais velhos concordaram em silêncio, sem coragem de dizer mais nada.

— Tudo bem. – Ela olhou para os outros, tentando pensar. Apontou para Poe com decisão. – I’m a pilot do Elton John.

Poe colocou a mão no peito, fingindo cair para trás.

— Eu teria escolhido I’m sexy and I know it.  - Respondeu ele.

— Eu também teria escolhido essa. – Comentou Finn, dando de ombros.

— Han Solo. – Ela colocou a mão no queixo, pensando. – Ridin’ Solo?

Han franziu as sobrancelhas.

— Cliché, mas tudo bem, serve. – Respondeu. – Não acredito que você deu esse desafio besta para ela, mulher.

Leia fez uma careta para o marido.

— Finn. Essa é a fácil, é só pensar em músicas felizes que te animam, não importa quantas vezes escute. Fireworks para você.

O rapaz de bela pele oliva sorriu para ela.

— Ben... – E Ela se virou para o homem sentado, cruzando os dedos das mãos.

Por um segundo, ele se surpreendeu que realmente tivesse o escolhido. Ficou curioso, ansioso e levemente preocupado.

Like a virgin da Madonna! – Sugeriu Poe, sendo fuzilado pelo homem mais alto.

Todos riram, menos Hux.

Welcome to my life. – Sussurrou Finn alto o bastante para os próximos ouvirem, Poe o cumprimentou batendo os punhos.

— São boas sugestões, mas eu sei a música perfeita. – E o tom dela não era brincalhão como dos outros, de repente se tornou inevitavelmente sério. – Illusion. Eu posso não te conhecer bem, mas eu acho que vejo um pouco de você nela.

Kylo Ren olhou para a garota sem entender, suas sobrancelhas grossas quase se unindo de concentração, enquanto tentava entender porque ela tinha escolhido ele.

— Eu não conheço essa música. – Disse quase em um sussurro.

— Procure.

E assim, se entregaram a uma troca de olhares breve, porém intensa. Era como se avaliassem as verdadeiras intenções um do outro. O coração de Kylo não batia mais rápido, mas pesava com um rufar profundo.

— Eu acho Like a virgin perfeita. – Falou Hux, do outro lado da sala.

E o resto das pessoas tiveram que se controlar para não rir na cara de Kylo Ren mais uma vez na noite.


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Notas finais do capítulo

Demorei um pouco, cá estás



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