Este ano o natal vai estar cheio escrita por Segunda Estrela


Capítulo 10
Perdi a calma, de novo


Notas iniciais do capítulo

Ok, demorei, mas em minha defesa, eu estava viajando e sem computador. E sabe como é, né pessoal? Pegar um bronze... mentira. Um capítulo cheio de agonia, fofura e coisas e tal. Amo vocês pessoal, muito obrigada pelos comentários e incentivo.



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Já devia ser umas oito horas quando finalmente chegaram em casa. A rua escurecendo dava um tremor estranho no corpo de Kylo Ren, e ele apertava o volante com mais força do que deveria.

Rey ao seu lado tentava imaginar de onde vinha todo aquele nervosismo.

— Está com medo do que seu pai vai dizer?

O homem simplesmente balançou a cabeça em negação, seus olhos não viravam para ela nem um segundo. Encaravam a casa e a rua invadida pela neve. Seus cabelos negros em ondas caíam pelo seu rosto enquanto estacionava.

— Não tenho medo do meu pai – Entrelaçou os dedos nos fios e puxou o cabelo para trás. – Tenho medo da minha mãe.

Rey segurou a ponta dos seus cabelos também, sem notar que o imitava. O animal de pelúcia continuava no seu colo e toda vez que olhava para ele, seu coração se esquentava com um sentimento familiar, que não sentia há muito tempo. De onde vinha a dualidade daquele estranho sentado ao seu lado? Era insegurança? Medo de decepcionar seus pais? Se sim, por que se comportava como se quisesse que todos a sua volta o odiassem?

— Você poderia tentar conversar com ela. Eu não quero me meter, mas sabe, pedir desculpas não machuca.

— Eu não vou pedir desculpas. Não fiz nada de errado, a culpa foi do meu pai, e o jeito dele.

No momento em que pensou em revidar, e dizer que os pais dele eram boas pessoas e que não precisava se comportar daquele jeito, pensou em um jovem Ben. E pensou em uma criança triste que acreditava não ter amor. Já devia ter ouvido as pessoas dando desculpas pelos seus pais e o acusando muitas e muitas vezes.

— Eu acredito em você. – E foi a primeira vez desde que viraram a esquina da casa que Kylo olhou para ela. - E acredito que não foram os melhores que poderiam ser, mas isso não muda o fato que te amam demais. E você pode ser feliz mesmo assim, te acho uma pessoa forte o suficiente para isso.

Imaginou que ele responderia alguma coisa, que discordaria ou desdenharia da sua preocupação. Ao invés disso, o homem lentamente levantou sua mão. Tocou seus dedos nos dela, tão temerosamente como se tivesse medo que ela pulasse pela janela e fugisse. Foi enchido por coragem ao ver que a garota de cabelos castanhos não desviou do toque e segurou sua mão, apertando os dedos entrelaçados.

— Acho que nunca conheci alguém tão gentil quanto você, pelo menos não comigo.

Rey sorriu, e tudo que ele podia querer agora era que ela continuasse com aquele sorriso de girassol. Deu um forte pigarro, sem saber como encará-la por mais tempo.

— Vamos entrar. – Disse ele com um tom desinteressado na voz, tentando disfarçar seu embaraço.

A próxima vez que hesitou, estava parado na porta, com a chave nas mãos. E Rey as tomou sem pensar duas vezes.

— Ok, hora de parar de ter medo da sua mãe.

Abriu a porta em um súbito e entrou empurrando o alto homem com o esforço de seus braços pequenos.

— Senhora Leia? – Ela chamou, sentindo Ben tremer levemente.

Leia apareceu no fim do corredor. E a garota, olhando por entre os braços de Kylo, ainda segurando suas costas e o forçando para frente, tremeu. A mulher ali no final do corredor não parecia a dama carinhosa que a cumprimentou quando chegou na primeira vez. Era uma general cheia de autoridade e postura imponente. Só conseguiu pensar que era sorte não ter feito nada de errado. Soltou Kylo Ren imediatamente e foi na direção da sala.

— Boa sorte, fiz tudo que eu pude para ajudar.

— Espere. – Disse ele segurando sua mão mais uma vez, estava ficando perigosamente desejoso daquele toque. – Me ajude, por favor.

A garota suspirou fundo, engolindo em seco em seguida.

— Senhora, eu sei que está com raiva dele, mas por favor, não se irrite. Ben é uma pessoa chata, se irrita com facilidade e se veste como um adolescente. E pior, ele é tão cheio de medo...

— Você considera isso me ajudar? – Ele perguntou com as sobrancelhas franzidas.

— Mas ele é uma pessoa boa, sei que sabe disso. E todo esse medo e tudo que ele faz é por achar que vocês vão abandoná-lo a qualquer momento. Ele só está fazendo tudo pior para não se decepcionar quando acontecer. Mas por favor, dê outra chance  a ele.

O olhar de Leia mudou, era tomado de surpresa e talvez, até certa admiração. A mulher deu um longo suspiro, cruzando os braços. Andou na direção dos dois, e Rey pensou que iria bater na cabeça de cada um. Mas Leia era muito mais do que uma briguenta.

Abraçou o filho, apertando-o fortemente em seus braços. Era de se impressionar que uma mulher daquela idade tivesse tanta força.

— Eu não sou sua inimiga, eu nunca faria nada contra você, Ben. - Ela afagou os cabelos negros, segurando-o como se temesse perdê-lo - Eu te amo demais, queria que visse isso.

Rey olhou a cena com tanta compaixão, quantas vezes ele deve ter querido aquele abraço, mas não conseguiu pedir? Apenas uma criança, sozinho e sem acreditar ter o amor dos pais. Fugindo de todos. Quantas pessoas no mundo existiam como ele? Quantos pessoas que tudo que precisavam era amor. E por que o mundo não poderia dar isso para elas?

Seu peito ardeu e sem seu consentimento, uma lágrima veio aos seus olhos. Ela pegou a pequena gota de água entre seus dedos, e olhou para aquilo com surpresa. Por que estava chorando? Então olhou para cima, para o enorme homem com os braços em volta daquela senhora pequena e tão forte, e teve o pressentimento que ele chorava também, mas não tinha certeza.

— Céus, quanto drama, rapaz. O que achava que eu ia fazer com você? Te colocar de castigo? Te expulsar de casa no natal? - A general deu uma breve pausa, e voltou com sua postura estoica. - Mas se pensa que vai sair impune, está muito enganado, senhor.

Ele segurou a gola de sua blusa, sem olhar para nenhuma das duas.

— Tem uma pilha de cacos esperando para você limpar, e acho que deve umas desculpas para nossos convidados.

Ben concordou com a cabeça, mesmo as duas mulheres esperando algum tipo de protesto. E naquele momento, Rey sorriu e o admirou um pouco mais.

.................................

Estavam todos em volta da grande árvore, a iluminação amarelada das luzes esquentavam quase tanto quanto o aquecedor da casa. A sala arrumada esperando por uma festa, tremulava com suas luzes coloridas de natal. Faltavam alguns minutos ainda, e todos conversavam distraidamente, alguns comendo, outros bebendo.

— Não acredito que me deixou aqui sozinho por tantas horas. – Reclamava Hux em um tom muito distante de satisfeito.

— Sinto muito. – Seu amigo mais alto respondeu.

Hux levantou suas sobrancelhas laranjas o máximo que podia, quase saindo da testa.

— O que aconteceu com você? Por que está se desculpando?

Ren deu de ombros, mas a verdade é que pela primeira vez, achou se irritar com todos os outros extremamente cansativo. Atribuía essa conquista a uma epifania solitária, sem influência de ninguém, claro.

De rabo de olho, espiava a garota com seus amigos e a família. Sua mãe tinha-o feito prometer que pediria desculpas, mas simplesmente não conseguia reunir a coragem de fazer isso na frente dos outros. E pensava em toda a humilhação que os tinha feito passar, e que passaria se tentasse se desculpar. Olhou no relógio, faltavam apenas dois minutos para a meia-noite. Não sabia quem poderia cumprimentar e quem devia ignorar. E a verdade era que preferia não ter criado uma situação tão ruim com todos ali.

Suspirou fundo e deu a mão para seu amigo.

— Feliz natal Hux, não é tão ruim ficar do seu lado, eu tenho sorte. – E mesmo que muitas vezes duvidasse disso, naquele momento estava sendo sincero.

Hux ainda mantinha aquele olhar estupefato para ele, e acabou retribuindo o aperto de mão inconscientemente.

— Acho que existem pessoas piores que você por aí também. – O ruivo respondeu. - Quer dizer, com quem mais eu poderia fazer uma Jam Session com músicas tão ruins?

E de repente, todos começaram a se abraçar e desejar felicidades uns aos outros. E Ren se surpreendeu quando o primeiro que veio falar com ele foi Finn.

— Feliz natal. – Respondeu ele timidamente, mas com um grande sorriso no rosto. E para surpreender o rapaz alto ainda mais, abraçou-o de forma desengonçada.

— Feliz natal também, eu suponho. - Ren respondeu.

— Não precisa fazer toda essa pose, se a Rey gosta de você, não tem como ser tão ruim assim.

— Você acha que ela gosta de mim?

Hux revirou os olhos.

— Por que alguém ficaria só com você por tanto tempo? – Disse o rapaz de pele ébano rindo. – Sem ofensas.

Surpreendentemente, ele não tomou como ofensa. Aliás, nem conseguia ligar.

— Não, não, eu concordo com você, sou insuportável.

E pela primeira vez, Finn não riu dele, mas com ele.

Depois Poe passou batendo nas suas costas de uma forma amigável, e ele estranhou toda aquela amizade que estava acontecendo entre as pessoas da sala e ele. Seu primeiro instinto foi se preparar, porque tinha certeza que armavam alguma coisa. Mas depois percebeu que essa era uma atitude paranoica e a sensação de não ter que atacar ninguém era estranhamente confortável, mas não sabia se conseguiria se acostumar.

O próximo que se aproximou do ex-integrante de banda o fez se sentir amedrontado, não por ser uma figura assustadora em seus cinquenta anos e colete de couro, mas porque não sabia o que dizer para ele.

— Feliz natal pai. – Ele falou primeiro, mas não tinha coragem de encorá-lo nos olhos.

E de surpresa, o velho corredor o abraçou. E foi mais carinho em uma noite do que ele poderia imaginar receber.

— Espero ainda dar tempo de ser um pai melhor para você. - Disse Han.

Ren retribuiu o abraço desajeitadamente, apreciando sem querer admitir.

 

— Não tem como você ser um pai melhor. - E a ambiguidade da frase foi proposital, mas se sentiu mal logo em seguida. - Me desculpe, não quis dizer...

Han Solo o soltou e deu um tapa de brincadeira em seu ombro.

— Eu sei. – O outro respondeu, e deu uma sacudida nos ombros. – Acho que você é mais parecido comigo do que pensa.

E o rapaz se permitiu dar um sorriso de canto.

O pai remexeu nos bolsos e tirou dois pequenos dados. Ben os reconheceu imediatamente, a decoração brega que sempre ficava pendurada na Falcon.

— Toma, sei que não vai achar grande coisa, mas queria dar para você. Um jeito de lembrar do seu velho pai quando eu bater minhas botas.

Ben segurou os pequenos dados dourados, e os apertou com força entre os dedos.

— Obrigado. – O garoto do Han respondeu sorrindo.

E o velho Han Solo, um dia tão confiante e desapegado, se pegou felicitando-se por fazer seu filho um pouco mais feliz.

Ren acenou com a cabeça para o pai e andou mais um pouco na direção dos outros, para onde trocavam presentes. Hora de encarar a garota.

— Te desejo um feliz natal, sobrinho. – Disse Luke se aproximando com um sorriso. – Ou como diria meu professor, um feliz natal eu desejo para você. Grande homem, mas precisava de umas aulinhas de linguagem.

— Obrigado tio. – E nem mesmo sentiu vontade de implicar com ele.

Rey se aproximou dos dois e colocou uma mão no ombro do professor.

— Ah, olha o que essa menina me deu. – Exclamou Luke, puxando um colar de conchas extremamente fora de moda de dentro da blusa. – É que a primeira vez que nos encontramos foi em uma convenção em uma ilha. Passamos dias muito divertidos lá, não foi? - Ele falou, cutucando-a com o braço.

— Se você quer dizer me ignorar a maior parte do tempo e se meter quando tinha um cara me paquerando, sim, foi ótimo.

— Eu gostei dela de cara. – Respondeu Luke, rindo.

Rey pareceu desconcertada por um momento.

— Professor Luke, será que eu poderia falar uma coisa com Ben?

O homem de cabelos brancos fez uma cara engraçada, como se conspirasse com alguém e foi andando para outro lugar.

— Eu também tenho uma coisa para você. – E ela tirou uma caixinha embalada com papel vermelho. – Eu queria te dar isso, eu vi todas aquelas coisas de rock no seu quarto e pensei, que, bem, não importa. Espero que goste.

— Coisas de rock? – Ele perguntou rindo, enquanto rasgava a embalagem e via um cd. – Panic! At The Disco?

— É, eu vi o estilo deles, lápis de olho e calça de couro. Achei que era o tipo de coisa que gostava.

— Eles são uma droga.

Rey arregalou os olhos com surpresa e vergonha.

— Me desculpe, você pode trocar se quiser.

— Não, eu quero ficar com ele. Muito obrigado. – E por mais estranho que parecesse, Rey percebeu que ele estava sendo sincero.

— Olha Rey, tem mais um presente para você aqui. – Poe falou enquanto levantava uma forma estranha embalada em papel cinza.

Fazia tempo que Kylo Ren não sentia gelo pela espinha e tremor nos braços daquela forma tão intensa. Ele tinha esquecido completamente da pá de lixo. Se Rey abrisse, seria o fim para ele. Não haveria como perdoá-lo.

— Não! – Ele gritou mais alto e mais desesperado do que deveria.

— Então é de nosso galã aqui? – O sorriso no seu belo rosto latino inspirava malícia, e Kylo tinha medo do que ele poderia fazer.

— Tô falando sério, me dá. – Dessa vez seu tom foi cortante, e Rey reparou isso.

— Para de brincar Poe, dá pra ele. - A garota tentou defendê-lo.

— Mas o presente é seu.

E Poe rodopiou pela sala e se afastou dos braços de Kylo que iam na sua direção. Os dois começaram uma perseguição e todos os outros pararam para ver a corrida desenfreada que travavam.

— Me dá isso, piloto! – Não podia dizer que os outros não perceberam seu desespero.

Quando Poe se virou para ele, provavelmente para falar alguma gracinha, tropeçou no pé do sofá. O aperto forte em volta do papel fez com que ele rasgasse e o presente de metal voasse pela sala. Kylo correu para impedir que Rey visse o que era, mas quando chegou, era tarde. Ela levantava a pá em suas mãos.

— Isso é seu?

Ben nunca tinha visto seu olhar tão gelado sobre ele.

— Eu sinto muito, eu não queria... Eu esqueci... – Mas Rey não deu tempo dele responder.

— Não acredito nisso, eu contei sobre meu passado porque confiei em você! Por que você fez isso? Só pra me magoar?

Era a primeira vez que a via daquele jeito. A visão de seus olhos castanhos cheios de lágrimas foi o pior, sem nada do brilho jovial que ele tanto adorava. Nunca se sentiu tão culpado por nada em sua vida.

— Eu não acredito que confiei em você. – Ela vinha na sua direção, agitando os braços, sem mais conseguir esconder que chorava.

Bateu no peito do rapaz com força, não que machucasse, doía mais por dentro. E enquanto batia nele com suas mãos pequenas e frágeis em punho, gritava:

 – Por que me magoar desse jeito? Quer me humilhar na frente da sua família, para eles saberem que eu não sou boa o suficiente para estar aqui? Eu sei ok? Eu sei que não sou ninguém. – Ela segurou o rosto com as mãos, os dedos tremendo de raiva. – Não acredito que confiei em você! Não acredito que realmente achei que tinha algo bom aí dentro. Você é um monstro.

E assim, bateu nele enquanto saía pela porta. Em um último gesto de tentar se explicar, Kylo Ren segurou sua mão. Rey a puxou assim que sentiu seus dedos se tocarem.

— Não encosta em mim.

E assim, ela foi marchando para fora com decisão, tristeza e raiva.

— Como você pôde fazer isso? – Leia olhava para ele com reprovação. – Ia dar aquilo para ela de natal?

— Não! – Ele colocou as mão na cabeça, alisando os cabelos para trás. – Quer dizer, sim, passou pela minha cabeça. Mas eu não ia ter coragem, ia tirar depois, eu só esqueci.

Han se aproximou do filho, e colocou a mão em seu ombro.

— Você vai ter que pensar em algo muito bom para consertar essa mancada, garoto.


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Notas finais do capítulo

O final vai ser muito triste hein galerinha. Já vou avisando.

mentira, essa fanfic é pra ser uma junção dos clichés de comédia romântica que todo mundo se amarra, *tosse exagerada* tipo eu assim.
E sobre o Panic!!!! at the disco pessoal, não se ofendam, eu gosto deles.