Este ano o natal vai estar cheio escrita por Segunda Estrela


Capítulo 1
Eu sou a mãe, eu faço o que eu quiser, acostume-se


Notas iniciais do capítulo

Sei que está meio tarde para o natal, mas quem não gosta de uma fanfic natalina fora de hora?
Aliás, quem não gosta de qualquer coisa natalina fora de hora?
Desrespeitar as datas faz eu me sentir rebelde e selvagem.



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— Não quero ouvir você reclamando nem mais uma palavra, mocinho. — Repetiu Leia com a voz firme.

— Mas mãe...

— Não. Você não vai passar o natal longe da sua família e ponto final.

O homem de quase dois metros estava apoiado em uma enorme bancada de mármore, olhando para a mãe com uma leve irritação. Usava um suéter azul escuro, com uma blusa social escapando pelo pescoço. A calça era formal preta, com sapatos de couro. No pulso, um relógio caro que ele não se lembrava se tinha comprado ou era um presente.

Enquanto isso, a mulher de feições gentis se colocava na frente do fogão parecendo concentrada. De tempo em tempo olhava pelo vidro, tentando adivinhar se o que estava cozinhando parecia comestível. Estava usando um avental de patos por cima de sua roupa e Ben nunca a viu tão doméstica.

— O que tá fazendo, mãe?

— O peru. Eu não vou contratar um bufê esse ano.

— Mas você não sabe cozinhar. — Falou o rapaz, olhando por cima do ombro para o animal queimando no fogão com um brilho alaranjado.

— É por isso que eu estou treinando.

Cruzou os braços, com uma expressão desconcertada. Ele sabia que nada bom poderia sair daquela ideia.

— Luke vai me ajudar. — Falou Leia, com a intenção de tranquilizá-lo.

— Ótimo, ele vai vir então. — Seu mau humor era óbvio na voz arrastada.

— Como assim? Você já sabia disso, ele vem sempre.

— Infelizmente. — Resmungou.

Han entrou pela porta, carregando um jornal na mão, e olhando para os dois com as sobrancelhas levantadas de desdém.

— O que está reclamando agora? Contou para ele? — Disse, olhando diretamente para sua esposa.

— Contou o que? — Perguntou o homem.

Leia respirou fundo, não ia poder adiar o assunto para sempre. Mesmo que quisesse não ter que passar por isso.

— Seu tio vai trazer dois alunos para passar o natal conosco.

O rapaz olhou para os pais em choque, quem analisasse a cena poderia dizer que era quase cômico como ele estava mortificado.

— Já não basta vocês trazerem aquele ballet de velhos para cá quase todo ano, tem que trazer desconhecidos agora?

— Meu deus do céu, como você ficou assim? — Se perguntou o pai dele, sem levantar os olhos do jornal.

— Não são desconhecidos. É Finn e Rey. Você estudou com o Finn na escola, e Luke já te apresentou a ela.

O homem de longos cabelos pretos bateu a própria cabeça no armário, se perguntando se podia fazer tudo sumir se batesse com força o suficiente.

— Eu estudei com ele, mas não significa que gosto dele. O cara é um saco.

— Ele não é um saco, você é um saco. — Dizia a mulher, olhando para o peru no forno.

O rapaz girou nos próprios calcanhares, frustrado.

— Ele sempre me dedurava na escola.

— Devia ser porque você e sua turma do mal aterrorizavam o garoto.

Kylo Ren cruzou os braços, olhando para o outro lado. Não era culpa dele se alguns decidiam se intrometer no seu domínio de ordem no ensino médio.

— E eu vou trazer o Poe também. — Disse Leia de uma vez, para soltar logo a bomba.

Han levantou seu copo de café da mesa, prevendo o soco que o filho deu logo em seguida que balançou todos os objetos.

— Ben! — Gritou Leia.

— Não pode fazer isso comigo!

— A culpa não é minha se você tem uma implicância com todo mundo.

— O que é isso? O natal “traga um órfão para casa” e todos vocês decidiram aderir?

Leia parou o que estava fazendo e olhou para o filho o repreendendo. Ela marchou até seu lado e ficou parecendo uma boneca perto do grande homem.

— Abaixa. — Ordenou ela, e Ben sabia que quando falava daquele jeito, não teria como não obedecer.

Ele curvou seu longo corpo, até sua cabeça estar na altura da de sua mãe. Leia puxou a orelha dele com força e de uma vez só.

— Ai mãe! — Reclamou ele colocando a mão no lado do rosto.

— Aprenda a se comportar. É bom que trate de agir direito quando todos estiverem aqui, me entendeu? — Aquela era a mesma voz que ela usava quando estava no exército, e nenhum subordinado ousava contrariá-la.

— Sim, senhora.

Han levantou seu copo de café como em um brinde.

— Essa é a minha garota.

Ben levantou os braços, desistindo.

— Tudo bem, mas se vocês podem levar qualquer um que encontram pela rua, eu posso levar o Hux pra ficar lá também.

Leia torceu os lábios, e Han se encolheu do outro lado da mesa.

— É aquele garoto que fica gritando? — Perguntou seu pai. Demonstraria sua opinião de desagrado se pudesse, mas era melhor deixar ela resolver.

— Ben...

— E para de me chamar de Ben! Já disse que é Kylo Ren agora.

Sua mãe revirou os olhos cansada, se dissesse não, ia ter que lidar com um mau-humor e reclamações muito piores durante o natal inteiro.

— Pode chamar seu amigo. — Desistiu.

Ele cerrou os punhos, comemorando. Chegou perto da mulher e deu um beijo estalado na sua bochecha.

— Obrigado mamãe. — Falou com aquela voz grossa e gutural, depois saiu andando pela porta.

Leia olhou para ele deixando a casa e pegando seu carro na rua, fazendo um muxoxo com a boca. Ela sabia que aquele garoto conseguia ser bem estranho quando queria.

— Ele é parecido demais com o avô. — Disse Han, a meia voz. — Deus me livre.

E mesmo sem qualquer malícia, ela concordou internamente.

Kylo Ren dirigiu em uma velocidade considerável para chegar na casa da mãe de Hux. Naquela época do ano, o homem de cabelos ruivos e olhos azuis costumava ficar com ela. Poderia ter ligado, mas preferia fazer uma surpresa, que sabia que ele ia gostar. Quer dizer, sabia que ele não ia gostar, mas ia fazer mesmo assim.

A verdade era que não queria ter que enfrentar o natal e todas suas convenções sociais, sozinho. Já era ruim o suficiente ter que lidar com seus supostos tios intrometidos. Lando sempre fazendo piadas com suas roupas, Luke tentando dar conselhos como se fosse um ermitão sábio e Chewie espalhando fios daquela cabeleira enorme pela sala.

E agora, teria que aguentar ainda mais irritações do que o normal. Tudo bem que ele não era um grande exemplo de auto-controle, calma ou bons modos, mas eles não precisavam se esforçar tanto para encher seu saco. Imaginou todos os seus parentes sentados em uma mesa redonda, onde discutiam a forma mais rápida de o fazer querer se jogar de uma ponte.

Passou a mãos nos cabelos enquanto ouvia suas músicas de raiva, uma playlist especial feita para os momentos em que ele sentia que podia socar um animal fofo na cara. Não podia negar, estaria reclamando só metade se não fosse por causa de um pequeno detalhe. Se não fosse por causa da garota, não teria que se preocupar em ouvir aquela mesma ladainha sobre ela durante todos aqueles dias.

Antes de conhecê-la, tudo que fazia era ouvir seus pais e seu tio tecendo elogios e mais elogios para ela. Podia ser ciúme, não saberia dizer, mas começou a se irritar com a moça, mesmo antes de ver seu rosto. Ficava criando imagens mentais de uma ladra de pais maltrapilha e patética que procurava desesperadamente a atenção de todos.

No entanto, agora sabia que não era bem o caso. Mesmo que ele tivesse adiado o encontro o máximo que podia, um dia passou na faculdade onde seu tio dava aula e Rey estava conversando com Luke. Então foi impossível evitar uma apresentação. O que poderia ter corrido normalmente, com as grosserias costumeiras que ele tinha guardado para ela, mas tinha um problema. Ele já conhecia a garota. Conheceu ela há muito tempo, quando Rey tinha só seis anos e Ben, treze. Na época em que seu avô estava vivo. E tinha sido só por causa dele que tinham se visto da primeira vez.

Naqueles tempos, Ben costumava pensar que significava alguma coisa para ela, mas só naqueles tempos. Porque quando Rey sorriu para ele na faculdade, seu rosto não mostrava o menor sinal de reconhecimento. E ao invés de gostar mais dela por já a conhecer, só conseguiu ficar com mais raiva por ela ter se esquecido. E agora, tudo que sentia era uma irritação incômoda com tudo que se relacionava a ela.

Deixou de pensar nisso, já tinha uma coleção de problemas para revisar e catalogar. E eles iam desde brigar com atendentes atrevidas que erravam seu café de propósito, até problemas com a polícia por coisas que ele fez que poderiam ou não ser consideradas ilegais em alguns lugares.

Finalmente chegou no prédio onde moravam os pais de Hux. Era razoavelmente alto, de aparência moderna e funcional, com a arquitetura  contemporânea fria e rígida. Era bem parecido com o prédio onde Hux morava no outro lado da cidade, talvez isso só mostrasse seu desejo desesperado pela atenção do pai. Kylo Ren não ligava muito para isso, ainda mais porque nem mesmo o percebia.

Subiu sem cumprimentar direito o porteiro, que já conhecia. Bateu na porta do amigo sabendo que não ia ter que esperar muito para que uma senhora aparecesse.

— Ah, querido. — Disse uma mulher de cabelos confusos, esticando seus dedos magros para abrir a porta.

Ela tinha lindos olhos azuis e gentis, estava usando um vestido florido claro como o verão, apesar do tempo lá fora parecer prestes a piorar. Sua figura era pequena e frágil, quase doente.

— Olá senhora Hux. — Disse Kylo, parecendo incomumente educado.

— Já disse para não me chamar assim. Entre, eu vou te dar um biscoito.

A senhora Hux segurou o braço firme de Ren, e o guiou até a cozinha.

— Venha Armitage, seu amigo está aqui.

Depois de uns minutos, e da mulher repetir o chamado, Hux apareceu pelo corredor. O cabelo estava molhado como se ele tivesse acabado de tomar banho. Carregava um gato rajado laranja nos braços, que ficava se enroscando no seu pescoço, como se fosse um cachecol.

— Ren, o que está fazendo aqui? — Perguntou o rapaz, olhando para ele parecendo incomodado.

— Você trouxe a Millicent?

— Claro, ela não pode ficar em casa sozinha nem por um dia. Diferente de você, ela é adestrada.

A gata no ombro de Hux sibilou na direção de Ren, levantando as garras e eriçando o pelo. O homem reagiu levantando as mãos em punho na direção do rosto, para se defender instintivamente.

— Eerr... – Resmungou ele.

— Ah, meu bem, seu cabelo está tão bonito. — Comentou a mãe de Hux, passando as mãos pelos fios ondulados e escuros de Kylo Ren.

— Obrigada, senhora. Para ele ficar assim, demanda tempo e esforço. Então é bom que tenha notado.

— Mãe, não puxa o saco dele. Me diz, o que você quer?

— Te convidar para ficar uns quatro dias no natal com a minha família, a gente vai para a casa do campo com um monte de pessoas nessa sexta. Eu pensei que poderia não ser tão insuportável se tivesse alguém para reclamar comigo.

Ele franziu as sobrancelhas. O nariz normalmente inflado, como se ele estivesse sempre com nojo, torceu-se de desagrado.

— O que você acha que eu sou? Algum tipo de adolescente?

— Ele vai sim. — Respondeu a mulher de cabelos bagunçados pelo filho, pegando um pote de biscoitos amanteigados e oferecendo um para Kylo.

— Mas eu não quero... — Tentou Hux mais uma vez.

— Ele vai sim, Ren querido, pode ficar despreocupado. Seu amigo não vai te fazer essa desfeita.

Kylo Ren sorriu para Hux, podia convencê-lo com um pouco de conversa, mas era ótimo que ele tivesse uma mãe compreensiva para adiantar as coisas. Tão diferente da dele. Pegou o biscoito que ela estava entregando.

— Vou deixar vocês conversarem, meninos. — Falou, e assim deixou os dois sozinhos na enorme sala escura.

— Sua mãe é uma mulher muito agradável. Por que você não é mais parecido com ela? — Falou ele, dando uma grande mordida no biscoito.

— Pode parar com isso. O que tá te incomodando tanto a ponto de você vir aqui? — Armitage fazia carinho em sua gata enquanto falava.

— Eu precisava desabafar com alguém sobre meus infortúnios. Minha mãe vai encher nossa casa com a plebe esse ano. — Por um segundo, enquanto fazia uma pausa no seu tom exageradamente dramático, pensou em contar para Hux que o motivo principal da sua raiva era Rey, mas não queria deixar uma mulher ser uma distração para ele. Se não, não seria diferente de galãs de novela, o Fantasma da Ópera ou o Coringa do Jared Leto. Não, ia focar em outra coisa. — Sabe quem ela teve a ousadia de convidar? Finn!

Hux franziu as sobrancelhas.

— Quem é Finn?

— Do ensino médio, aquele garoto que a gente usava para fazer as coisas de vez em quando, e que sempre acabava entregando a gente pro diretor.

Mas o ruivo ainda parecia confuso.

— Ainda não sei quem.

— FN-2187.

— Ah, o traidor. — Falou ele com a voz azeda, finalmente reconhecendo os apelidos pejorativos que davam para seus inferiores. Eles inventavam isso para destruir o senso de individualidade, eram crianças muito criativas, pena que nem todo mundo concordava.

— Fico satisfeito que queira passar por isso comigo.

Hux olhou para ele com o cenho cerrado.

— Eu não quero.

— A gente pode até ir usando preto para mostrar nossa indiferença pela data festiva. — Continuou Kylo Ren.

— Nós sempre usamos preto.

— Eu sei, mas dessa vez vai ter um bom motivo.

Millicent olhava para o rapaz mais alto com os olhos vidrados, concentrada caso ele fizesse qualquer movimento brusco. Ela desceu deixando suas garras prenderem um pouco na blusa de Armitage. Se aproximou dele devagar, sem ser notada. Então enfiou suas unhas não cortadas na perna de Kylo. Ele se levantou de súbito, com um gemido de dor audível.

— Porcaria de gata! — Gritou Ren.

Hux se adiantou para pegar a gata no colo.

— Não desconte nela, Millicent não tem culpa por ter bom gosto. — Falou o rapaz ruivo, acariciando os pelos rebeldes do animal.

Kylo Ren fechou a cara. Definitivamente ele era péssimo com as mulheres.


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Notas finais do capítulo

Eu vou encher de referências e mais referências porque eu amo referências.
Sério, depois que eu posto um capítulo, eu só fico pensando e imaginando o que você, querido leitor, vai achar. Por favor, se você puder, me dê uma opinião. Ou até mesmo sugestões para as próximos capítulos.
Mas não estou forçando ninguém, comentem se quiserem.
Se quiserem.
Realmente não quero forçar nada.
Não tem problema se vocês não escreverem.
Mas seria bem legal.
Eu ia ficar feliz.
Comentem, por favor.
Desculpe, parei.



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