Annabeth

            Depois dessa conversa com o Percy, eu passei a semana afastada de todos, e Percy me ajudou muito. A marca no meu braço já estava desaparecendo. Mas eu ainda vestia casacos e suéteres e meus braços doíam um pouco (já que os cortes foram profundos), fazendo com que eu não conseguisse fazer força. Quando eu não estava lendo um livro, fazendo os deveres ou ensaiando com as meninas eu estava com ele. Só ele, como nos velhos tempos. E ele tem me ajudado com a automutilação do mesmo jeito que Leo fez. Com arte. Fiquei feliz por ele não ter esquecido que eu adoro desenhar.

No momento estou no jardim da escola rabiscando alguma coisa em meu caderno com os pensamentos longe, e só depois percebi que o que eu havia desenhado eram os olhos verde-mar de alguém. Percy.

            Você deve estar pensando que eu não vou mostrar a ele. Mas está enganado. Nós voltamos a ter aquela confiança, aquela amizade inseparável. De repente alguém senta ao meu lado. Fecho o caderno com pressa e não sei por que.

—E aí como foi, Cabeça de Alga? – perguntei.

Ele tinha ido explicar para os nossos amigos o porquê do meu afastamento. E graças aos deuses prometeu não falar sobre os cortes. Disse que ia falar que eu precisava de um tempo sozinha.

—Eles levaram numa boa. Claro depois de muita discussão, – Percy disse. – mas... Eles perguntaram uma coisa que nem eu sei o porquê.

—E qual seria a pergunta? – perguntei olhando para o meu caderno fechado.

—Por que você me perdoou e por que fica perto de mim, depois de tudo o que eu fiz ? – ele perguntou também olhando para o meu caderno.

Fez-se silêncio por alguns segundos até eu falar.

—Porque acho que todos merecem uma segunda chance. – eu falei. – E também porque tenho certeza que você ainda é aquele Percy desastrado, lerdo, um tanto idiota, – essa parte falei rindo e ele também riu. – mas meu melhor amigo.

—Obrigado. Mudando de assunto... Que tal você me mostrar o seu último desenho? – ele disse/perguntou.

Quando ele disse isso eu fiquei nervosa e quando eu faço isso eu mordo o lábio.

—Por que você está nervosa? – Percy perguntou rindo.

Droga! Esqueci que ele sabia.

—Por nada. É que o desenho que eu fiz foi sem querer querendo. Dá pra entender? – perguntei abrindo o caderno e procurando o desenho.

—Na verdade não. – ele falou com a expressão confusa. – Explique Sabidinha.

—Eu meio que não prestei atenção no que eu estava fazendo. – falei quando achei o desenho. – E aí saiu isso. – mostrei para ele.

            Percy ficou analisando o desenho por uns 2 minutos, até que disse.

—De quem são esses olhos? – ele perguntou tirando os olhos do desenho e olhando para mim.

—Depois diz que não é lerdo. – falei pegando um espelho em minha mochila e colocando em frente aos seus olhos. – São seus Cabeça de Alga.

—E por que você ficou nervosa em me mostrar? – ele disse tirando o espelho de sua frente. – Sou só eu.

—Na verdade eu ia te mostrar numa boa – eu disse dando de ombros – não sei por que fiquei nervosa de repente.

Encerramos a conversa ali, pois o sinal tinha tocado.

[...]

            Quando eu estava indo no meu armário guardar os livros vi que Rachel estava encostada em meu armário. O corredor estava vazio. Cheguei e disse.

—Oi Rachel, você pode me dar licença? – perguntei tentando ser educada, mas na verdade eu queria dar um soco na cara dela – Esse é o meu armário.

—Eu sei que é seu Chase – ela disse olhando para mim com um olhar de desprezo – Eu quero te avisar pra você não se meter comigo e parar de dar em cima do Percy.

—Olha, eu me meto com quem eu quiser e depois que eu não estou dando em cima do Percy. Ele é só meu amigo – eu disse.

—Ta, amigo, sei – ela disse revirando os olhos.

—É porque você não sabe o que é amizade– eu disse. A educação já indo embora – Os únicos amigos que você tem são por dinheiro ou por medo, ou são só muito idiotas

—Escuta Chase eu já estou perdendo a paciência com você – ela disse cerrando os dentes e fechando os punhos – Você vai fazer o que eu mandei, ou... – Nessa hora ela me deu um tapa na cara tão forte que eu caí no chão. Eu não podia revidar. Meus braços ainda doíam

—Rachel sua idiota – falou uma terceira voz que reconheci na hora. Percy.

Ele me ajudou a levantar.

—Não é isso que você pensa Percy – disse ela – Ela mereceu.

—Não Rachel, ela não fez nada. Nós só somos amigos – disse Percy.

Dava para notar a raiva em sua voz.

—Calma Percy – eu disse já de pé.

—Some da minha frente antes que eu faça alguma coisa de que eu me arrependa– Percy disse.

—Vai ter volta seus dois idiotas – ela disse – E  um dia você vai ser meu Percy. Está marcado na minha agenda.

—Só se for dia 30 de fevereiro – Percy disse sarcasticamente.

            Rachel foi embora pisando forte. Percy perguntou se eu estava bem e eu assenti. Fomos para o refeitório.

Rachel

            Depois do acontecido fui para o meu armário e peguei a fita com a gravação. Já estava na hora de eu fazer isso. Fui correndo para a secretaria e coloquei a fita para tocar. Depois saí andando para o refeitório.

Percy

            Eu estava sentado no refeitório em uma mesa com Annabeth conversando sobre a horrorosa comida da cantina. Quando de repente, começamos a ouvir nossas vozes saindo das caixas de som. Era uma conversa. Mas não era qualquer conversa, era a conversa sobre a automutilação. Quando a conversa acabou tínhamos olhares sobre nós dois e uma Annabeth a ponto de chorar ou gritar com todo mundo. Até que Thalia chega correndo em nossa direção, seguida por nossos amigos.

—Annie é verdade? – perguntou a punk com os olhos cheios d’água.

            Todos estavam chocados de mais para falar alguma coisa. Até que Rachel chega e levanta as mangas do braço de Annabeth, mostrando para todo mundo as marcas. E depois saiu.

—Annie você disse que nunca mais iria fazer isso – falou Leo correndo para abraça-la.

—E-eu t-t-tenho que ir – disse Annabeth em meio ao choro e saiu correndo para algum lugar.

[...]

            Depois disso todos os meus amigos começaram a brigar comigo. Dizendo que a culpa era minha. Leo estava quase a ponto de me dar um soco quando uma loira de olhos vermelhos pelo choro invadiu o corredor em que estávamos com um grito.

—Parem!! O que vocês pensam que estão fazendo?! – gritou Annabeth – O Percy não tem culpa de nada, ok?!

—Mas foi esse desgraçado que te beijou – disse Thalia com raiva transbordando de seus olhos azuis eletrizantes.

—Sim, mas ele teve motivos – ela disse olhando para mim.

            Explicamos para todos sobre Luke. E Thalia quase pulou em cima de Rachel quando ela passou pelo corredor, mas dissemos para ela que não valia a pena e que ter batido nela não adiantara nada. Bom, pensando bem... Adiantaria. Uma Rachel com um olho roxo.

[...]

Jason

            Semanas se passaram depois daquilo e tudo voltou ao “normal”.  Se é que podíamos ser considerados como normais. E eu tinha certeza de uma coisa: eu precisava terminar com a Reyna. Eu estava na porta do ginásio e tinha combinado com ela de ir para lá.

—E aí amor? – disse Reyna vindo me beijar – O que você queria falar comigo?

—É justamente sobre isso que eu queria falar com você – disse saindo de perto dela.

—O que? – perguntou ela com um ar de desconfiada.

—É que... Eu não sinto mais por você o que eu sentia antes – eu disse com as mãos na nuca – E acho que não seria justo ficar com uma pessoa sem sentir algo por ela.

—Você quer dizer que está terminando comigo? – Reyna perguntou apontando para si mesma.

—Sim – eu disse – Sinto muito.

—Ok – ela disse – Quem é?

—Quem é quem? – eu perguntei.

—Quem é a garota que você gosta? – ela perguntou.

Você pode estar pensando que ela está gritando que nem uma louca. Mas, na verdade ela também não gostava mais de mim. Havia percebido isso.

—Não é ninguém, Reyna – eu disse.

A conversa se encerrou por ali. Eu menti para ela. Na verdade eu gostava da Piper. Não, não só gostava. Eu estava completamente e absurdamente apaixonado por Piper McLean.