WSU's Karen Maximus escrita por Lex Luthor, Lucas, Nemo, WSU


Capítulo 4
CAPÍTULO III — Into the Soldier.




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— Nesse caso — Azathoth faz uma pausa reflexiva, — preciso de alguns esclarecimentos, Karen. — Disse Azathoth com seriedade.

— Sei o que está pensando, Victor. Não é tão simples como pensa. — Disse Karen.

— Mas eu não leio pensamentos. E, por favor, não me chame assim. — Retrucou Azathoth.

            O Soldado observava sua própria mão direita. Imagens borradas aos poucos iam tornando-se claras.

— Acho que estou voltando a enxergar normalmente. — Ele se vira na direção que escutara a voz de Azathoth e indaga — Segundo round, Azathoth? — Sugere irônico.

— Talvez outra hora. — Devolve Azathoth.

            Aborrecida, Karen interrompeu-os.

— Vocês só pensam em saber quem é o melhor? Se já não acabaram, meus pais podem estar em risco e é tudo culpa minha! — Gritou a irritada garota Maximus.

— Do que está falando, Karen? — Perguntou o Soldado estranhando aquela reação.

Azathoth a olha seriamente.

— O ataque do bairro da Liberdade há uma semana. — Concluiu Azathoth. — Mas se você ficou bem, por que fugiu?

— Estou mais perdido que quando cego. — Disse o Soldado.

— Meus pais haviam saído de casa. Os empregados estavam na cozinha, preparando o jantar. De repente, aquela — Karen sente medo ao lembrar-se dos detalhes do homem com traje azul e garras retráteis, — coisa... aquelas garras, aparatos tecnológicos. Eu nunca havia visto nada igual. E acho que ele estava ali por mim, por isso fugi.

— Seis mortes.  E você sobreviveu. — Disse Azathoth buscando por esclarecimento. — Não a queria morta.

— Estranho dizer isto. — Avaliou Karen com a mão na boca. — O maluco de hoje estava a mirar no vendedor quando me caçou.

— Então também não a queria morta, você está sendo caçada. Tem algum motivo para isso? — Indagou Azathoth arqueando as sobrancelhas.

            Karen olhou para baixo. Parecia descontente. Seus lisos cabelos loiros acompanharam o movimento da cabeça. Quando a ergueu tirou os tênis all-star. Havia quatro dedos em cada pé, faltava o menor deles.

— Legal. Pelo menos você não os bate na quina da mesa. — Ironizou Azathoth.

            Abriu os braços e, de repente, seus pés já não tocavam mais o chão. De olhos fechados, forçava-os, parecia resistir a uma força e manter-se levitando.

— Incrível! Nunca vi algo igual em toda a minha vida. — Azathoth brilhava os olhos de fascínio.

— Vai se acostumando. — Disse o Soldado.

— Karen, você é uma corrompida? — Indagou Azathoth. — Desde quando sabe fazer isso?

— Meus pais me disseram que eu nasci assim, que sempre pude fazer essas coisas, em pequena escala. Só ultimamente elas têm aparecido muito. — Seus pés tocaram o chão, Karen inspira. — Eu não sei o que eu sou.

— Precisamos de respostas. — Disse o Soldado incisivo. — Quem quer que esteja te caçando é um profissional e possivelmente do mesmo nível que eu, ou pior.

— O que faremos? — Indagou Karen.

— Precisamos de respostas. — Disse Azathoth. — E seus pais podem tê-las.

— E o cara que está me caçando? — Perguntou preocupada. — Meus pais estão chegando ao Brasil e ele pode machucá-los.

— Não se eu cuidar dele antes. — Disse o Soldado de maneira sinistra. — Por hoje ficaremos aqui, amanhã sairemos de madrugada até o ponto de ônibus mais próximo. Até lá, Azathoth e eu iremos revezar em turnos.

***

Todos acordaram às cinco da manhã, com exceção do Soldado que já estava de pé, sua visão estava funcionando a 100%. Ele olhava para fora do barracão, ao terreno a sua volta, desde a mata até a grandiosa colina que se elevava mais acima. Enquanto os três faziam sua parca refeição e tentavam se recuperar de uma noite mal dormida, Azathoth viu que o Soldado tinha algo em mãos e se esforçava para limpar.

— O que é isso? — Indagou o detetive.

Ele se virou, abriu a mão e mostrou um brinquedo. Parecia ser um boneco e alguns carrinhos.

— Acho que podemos conseguir alguns trocados com estes negócios. — Disse Azathoth, que não percebera a verdade até aquele momento.

— Eu não os venderia por nada nesse mundo. — Respondeu ele com afetuosidade.

— Não são nenhuma Hot Figure. — Percebeu pelo olhar que a proposta não agradava o Soldado. — Então quer dizer que eles são seus? E este lugar?

O Soldado ficou em silêncio por um momento. Não sabia se deveria dividir suas memórias com aquele estranho, mas ele iria descobrir de uma forma ou de outra e se não soubesse certamente tentaria desencavar a história. Por fim ele disse contemplativo:

— Aqui era onde eu e minha família colocávamos ração e ferramentas. Frequentemente, eu brincava e escondia meus brinquedos aqui, por medo de que fossem quebrados. No fim nós tivemos que nos mudar e esqueci onde guardei.

Em seguida, baixou a cabeça dizendo emocionado pelas lembranças que acabara de desenterrar:

— Eles são tudo o que me resta.

— Mas e a sua família? — Indagou Azathoth.

— Eles acham que estou morto, e é melhor que continue assim.

Enquanto eles vagavam pela estrada de terra, tanto Karen quanto Azathoth podiam perceber o efeito que aquele ambiente, aparentemente tão simples, exercia sobre um Soldado tão complicado. Hora ficava maravilhado, hora triste e hora os dois sentimentos convergiam em um só.

                                                                       ***

9:30 Da manhã. Proximidades da igreja de São Roque.

À medida que iam avançando, mais casas e pessoas iam surgindo ante o trio. A maioria estava ocupada em seus afazeres e não pareciam se importar com os viajantes. O Soldado era o melhor disfarçado. Com óculos escuros e um boné com uma estrela vermelha no centro, em quase nada lembrava o vigilante mascarado de traje indestrutível.

— Você jogou memórias dele na minha mente, garota. Isso quer dizer que pode conectar outras pessoas entre si? — Perguntou Azathoth.

— Sim. — Confusa, fechou os olhos apertando-os e balançou a cabeça negativamente em ritmo frenético. — Não! Eu não sei, aquele foi um momento bem estranho. Mas já tentei fazer as pessoas interagirem.

— E não deu certo? — Indagou o Soldado.

— Eu sou um desastre. — Respondeu desanimada.

— Não diga isso! A prática leva à perfeição, como dizia meu pai adotivo. — Respondeu Azathoth. — Mas eu nunca dei bola para esse conselho — Desconstruiu o que disse —. O velho falava uma porção de bosta através de ditos japoneses. Sou bom no improviso.

            Karen podia sentir a inquietação dentro do Soldado, a cada rosto que ele via esta inquietude só aumentava. Havia momentos em que parecia que iria chorar, mas ele ficava firme. Ao chegarem perto da igreja eles se dirigiram ao barracão da festa, onde esperariam o ônibus e descansariam.

            O barracão era um espaço aberto ao ar livre sem qualquer mesa ou cadeira, mas ali haviam umbrais onde eles poderiam se sentar. A celebração estava acabando e as pessoas estavam aos poucos saindo da igreja. Azathoth notou algo no rosto do Soldado, uma expressão um tanto quanto devota, mas que logo desapareceu, pois este desviara o rosto para o chão, enquanto puxava o boné para baixo e se encolhia.

À medida que o tempo corria, a celebração terminara e boa parte das pessoas que ainda estavam na igreja se retiravam. Rostos, que para James, o Soldado, eram familiares. Normalmente amigos e conhecidos, mas nem tão próximos, porém queridos por ele. Até que ela chegou.

Ao descer de sua moto, retirou o capacete com suavidade e se dirigiu até seus pais, que estavam presentes. Seu nome era Renata e era alguém muito próxima de James. A reação ao vê-la abalou completamente o que restava da estrutura do Soldado. Ela se dirigiu aos pais na casa da festa. Ele se levantou e foi até aquela direção, não planejava dizer algo como “olá” ou “como vão?”; apenas sentia que deveria ir até lá. Queria ser notado.

O que ele está fazendo? — Azathoth instintivamente pensou

Karen tentou lhe dizer para não ir, mas ao entrar sua mente, entendeu o que o levara a fazer aquilo:

Ela viu em ambas as mentes um tempo distante e longínquo, para ele e nem tanto para ela. Nesse turbilhão de lembranças, Karen viu duas crianças, que inicialmente não se gostavam, as crianças foram crescendo e ele mudou. De um zero à esquerda tornou-se um dos melhores da sala (embora a causa da mudança, ela não conseguisse determinar), aos poucos o respeito se tornava mútuo e dele veio a amizade e posteriormente a fraternidade. Depois o amor.

Mas Karen percebeu outra coisa e foi até ele. Antes que o Soldado chegasse até Renata, outra pessoa chegou.

Ele era alto e atlético possuía cabelos negros, olhos castanhos, mas às vezes pareciam vermelhos. Sua pele era pálida, trajava roupas sociais. Uma calça preta, com uma camisa preta de listras cinzas.

O peculiar homem pálido a tomou nos braços e a beijou. Toda a esperança de James desapareceu imediatamente, só restava o vazio gélido da desesperança. Karen chegou e, apertando sua mão, o levou de volta.

Os lábios se separaram, o abraço tornou-se em mãos entrelaçadas. Por fim, o fôlego voltou. Sorrisos e olhos nos olhos, até que um golpe de vista desvia o olhar de Renata para trás dos ombros de seu companheiro.

— Tales? — Indagou a moça, que percebera certa semelhança com um fantasma do passado. Ela sabia que era impossível, mas tinha esperança.

O Soldado escutaria ao longe qualquer sussurro que dela viesse. Virou-se e perguntou aproximando-se:

— Quem é esse Tales? — Havia certa esperança naquela pergunta, mas que logo sucumbiu a frieza.

— Me desculpe. — Disse a moça embaraçada. — Eu pensei que fosse um amigo.

— Sem problemas. — Disse ele retomando seu rumo.

Karen podia sentir a emoção de ambos. A ligação que os dois possuíam entre si, a tristeza que agora os permeava, a esperança havia acabado, mas ela podia sentir a ligação que eles possuíam entre si. Era uma grande amizade, que ia além, mas nem um ou outro sabia da correspondência. Poucos minutos depois o ônibus chegou e os três passageiros embarcaram.

A garota Maximus indagou ao Soldado:

— Eu vi o jeito que olhou para aquelas pessoas. Senti o que você sentiu, sobretudo, sobre ela. — Karen comovida, olha para o Soldado. — Sei que isso é muito idiota de se perguntar, mas porque não conta que está vivo? O que você perderia? Ela -- — Sua frase foi cortada.

— Sou um assassino Karen, você viu o que eu fiz. Viu o sofrimento que eu trouxe àquelas pessoas, as vidas que tirei. — O Soldado teve um olhar frio. Frio e triste, enquanto falava. — Eu não mereço aquela vida. Estou melhor morto. Sou uma ofensa a tudo o que já fui e fiz. Preciso tentar compensar mesmo que a minha dívida seja eterna. Preciso tentar fazer a diferença.


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