Golden Tragedy escrita por Nessie


Capítulo 1
Fire




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Qual era a verdade?

Lily tinha medo de descobrir.

Família, jornalistas, revistas, fotógrafos e sorrisos falsos. Sorria Lily, sorria. Leões, segundo andar, vermelho.

Tudo era vermelho. Seus cabelos, sua família, a grifinória e seu sangue. O sangue nobre preenchia suas veias, a sufocando.

Tudo começava e terminava lá.

Deixou de saber quem era quando aprendeu que ser ela era um privilégio. Filha do menino que sobreviveu, salvador do mundo bruxo. Era uma honra que ela não sabia merecer.

Sua família deixou de saber quem era ela quando perceberam que ela conseguiria o mundo.

Lily era perfeita, não precisava de mais perfeição.

Seu pai discordava. Lily era espetacular, merecia tudo.

Tudo.

Ironicamente, Lily acabava ficando com nada.

Sorria Lily. Você é incrível.

Lily queria poder ser grossa, rude e escandalosa, mas Lily Potter não podia.

E ela seguia em frente, com seus sorrisos falsos.

Albus já não perguntava se ela queria histórias, e James não a ajudava mais no quadribol.

Eles a abandonaram, e ela sentia tanta raiva.

Seus primos e primas diziam que Lily estava bem, não precisava de mais atenção. As capas eram para ela.

Ela não queria as capas. ELA NÃO QUERIA.

E seus sonhos não passavam de ilusões. Porque ela era uma Potter e aquilo parecia bastar.

“Algum dia fez algo porque realmente queria, Potter?” Scorpius Malfoy lhe perguntou uma vez, depois de um treino de quadribol em que ele a assistia.  O cinismo em sua voz.

Ela apenas riu, murmurou um “idiota”, e calou a boca.

Apesar de aparentar falta de interesse na pergunta irônica, ela passou o fim de semana pensando sobre aquilo.

E foi nesse final de semana que encontrou Albus se lamentando perto do lago negro.

Sentou ao lado do irmão, recebendo logo um rosto de desinteresse de Albus. Ficaram alguns minutos calados, até o silêncio ficar desconfortável.

Porque não fala comigo já que está triste?” Lily se pronunciou.

“Não estou triste.” Albus disse impaciente. A irmã costumava irrita-lo sem perceber.

A expressão no rosto de Lily era de tristeza.

“E se eu estivesse, você se importaria?”

Lily franziu a testa.

“Claro que sim” Respondeu. “Você é meu irmão.”

“Isso nunca pareceu importar.” Albus disse sem medir as palavras.

E o coração de Lily se afundava. Mais uma vez.

“Se isso é sobre o Lorcan, quero que saiba que eu o amo, mas apenas como amigo...deveria falar com ele.”

E Albus pareceu desnorteado.

“Você não finge muito bem.” Disse Lily com um sorrisinho.

Mas Albus não pareceu achar graça.

Cuide da sua vida! Não me admira que não consiga manter ninguém bom ao seu lado.” Ralhou ele. “E aí de você se disser uma palavra sobre isso.”

E Lily se sentia a pior pessoa do mundo outra vez. Nesse loop infinito.

Lily observou Albus se levantar e sair apressado. Como todas as outras vezes.

Albus sempre fazia aquilo. E se arrependia no minuto seguinte, mas continuava calado, sem se desculpar e sem mostrar os sentimentos. Ele era assim.

E Lily se levantou, mesmo com as lágrimas que insistiam em sair dos seus olhos.

“Pare de ser tão sentimental, Lily!”  

Aquele era o problema. Ela não era. As únicas coisas que sentia eram raiva e tristeza.

Passou por James enquanto voltava ao castelo. Ele sempre arrodeado de amigos. Alguns cumprimentaram Lily ao passar, já James, ele nem a viu.

Era o que sempre acontecia. Na escola, em casa, no treino de quadribol e em todo lugar. Ele não a via mais.”

E ela logo era bombardeada de pessoas ao seu redor. Sempre cercada de amigos que não a entendiam. Ela era uma Potter, e aquilo bastava para aqueles desconhecidos.

E ela não se importava com mais nada. Nem ninguém.

Foi um momento estranho quando percebeu o que estava fazendo no banheiro do segundo andar. Ninguém perceberia que ela não estava no salão principal.

 Enquanto bebia o conteúdo do frasco, se perguntou se eles sentiriam sua falta. E se sentiu patética por se preocupar com os outros, e não com a falta de ar que sentia.

Viu seu reflexo no espelho. E ela nunca esteve tão acabada.

E enquanto se curvava sobre a pia, a porta foi aberta.

Era hora do jantar, não devia ter ninguém por aqui.

Era uma garotinha.

Estava com o rosto inchado de tanto chorar, provavelmente fora insultada por causa da varíola de dragão que estava evidente em seu rosto. Por Merlin! Mas porquê agora?

“Você está bem?” perguntou a garotinha.

Lily sentiu seu peito arfar de desespero.

Estou. Fique aqui por uns instantes.” Os olhos de Lily suplicaram.

Mas o rosto e terror da garotinha era evidente ao ver Lily Potter cair no chão aos espasmos.

A garotinha correu o mais rápido que pode. E o salão principal cheio.

“Lily Potter está morta. Lily Potter está morta no banheiro do segundo andar.” Arfou.

  Todos procuravam Lily com o olhar. Ela não estava lá. E ninguém percebeu.

James Sirius levantou da mesa dos leões, estático. E pela primeira vez as pernas de James balançaram de medo. Minha irmã estava morta. Minha irmã está morta?

 Albus correu. O segundo andar nunca pareceu tão longe. Minha irmã estava morta. Quando chegou na porta do banheiro a abriu com um baque. O desespero finalmente apareceu. Mas não conseguiu chegar perto. Ficou lá, observando o vermelho fogo jogado ao chão.

Quando viu o rosto, percebeu que estava ajoelhado, com a mão na boca, tentando abafar o grito. Minha irmã estava morta?

Não demorou para todos chegarem. Todos.

Rose Weasley gritou. James correu para irmã, colocando a cabeça dela em seu colo.

Todos choravam. Todos falsos. Todos falsos.

Minerva pediu para que todos se afastassem. Quando chegou perto arfou. Lily Potter estava viva. Lily Potter estava viva.

...

Não falou desde que acordou no St. Mungus. Haviam tantas flores no quarto, que em algum momento pensou “certamente não estou no inferno.”

 As visitas eram rotineiras. Todos a visitavam. Albus lhe contava histórias a noite, e James narrava a seção de quadribol do jornal. Mas ela não falava. Gina levava lírios e não saia do lado dela. Harry comia feijãozinho de todos os sabores junto a ela todas as manhãs. Mas ela não falava. Apenas sorria como sempre.

A sanidade havia lhe escapado finalmente?

Receberá alta, voltará a hogwarts amanhã mesmo.” Dizia James aos sorrisos. Mas o sorriso vacilou, depois de um tempo murmurou “Você não iria nem se despedir?”

E sua resposta não veio, novamente.

Quando voltou ninguém tocou no assunto. Pelo menos não diretamente.

“Dizem que ela fez isso por causa de um garoto!!”, “Não diga bobagens, foi por causa da família.”

E todos continuavam errados.

Ela havia feito isso por si mesma, e gritaria para o mundo se pudesse. Porque por mais trágico que fosse, ela tinha esse direito.

 Sempre via Scorpius no campo de quadribol. Ele a visitou no St. Mungus algumas vezes. Provavelmente ele foi mais pela amizade com Albus do que por ela, mas Lily não se importava, a franqueza de Scorpius era reconfortante.

Ele foi o primeiro a perguntar o que todos queriam saber.

“Porque fez aquilo Lily?” Perguntou, direto e sem pestanejar.

E pela primeira vez ela respondeu. Sincera, com aquele enorme sorriso verdadeiro.

“Fiz porque eu quis.”

A verdade. Trágica e cruel.

Aquela era a vida que possuía.

E todos jamais permitiriam que ela esquecesse disso.


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Notas finais do capítulo

Nem sempre alguém que sorri está feliz. É isso que acontecia com a nossa querida Lily!! Espero que tenham gostado desse pequeno spin off de Tragic ;)

Beijos e um grande abraço,
Andrômeda!!



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