Entrei no quarto de Voldemort, silenciosamente, com James. Sirius havia ficado do lado de fora. Eu havia deixado um rastro de comensais mortos, eu sabia que mais chegariam a qualquer momento.

O meu plano era matá-lo enquanto ele estivesse dormindo. Eu sabia que mesmo eu teria dificuldade em duelar com ele. Assim que fechei a porta, porém, ouvi uma risada.

— Eu estava esperando sua visita. - escutei uma voz conhecida dizer.

Mas era a voz conhecida do meu melhor amigo, Severus Snape.

— Sev… - arfei

James bufou.

— É claro. - ele murmurou

Ele estava sentado junto da janela, com suas vestes negras de combate. A luz da lua o envolvia em uma aura sombria, que fez com que eu arrepiasse. Era como se o Severus que eu conhecia não existisse mais.

— Eu sou tão previsível? - murmurei

— Muito pelo contrário, mas você é uma pessoa decente. - ele disse - Eu sabia que havia uma chance de você desistir de matar o príncipe. Diferentemente de todas as suas vítimas, James nunca fez nada de errado.

Assenti.

— Sev, você não precisa fazer isso. Você sempre foi contra o meu trabalho. Não faça nada estúpido. - eu disse - Eu mato Voldemort e todos estamos livres.

Severus riu.

— E ai nós voltamos a ser a plebe outra vez. - ele disse - Voltamos a viver na miséria. Eu imagino quem irá morrer na próxima praga.

— As coisas vão mudar. - murmurei - Você sabe disso.

Ele assentiu, com sarcasmo.

— Seu príncipe encantado vai consertar tudo? - ele disse, encarando James - Nem mesmo o precioso James vai conseguir trazer sua mãe, sua avó ou seu avô de volta.

O encarei.

— O que você fez com ele?— disse, entredentes.

Severus sorriu.

— Nada. - ele disse

Severus andou até o armário e o abriu, fazendo com que um corpo despencasse para o chão.

Meu avô estava com uma mordaça na boca e com as mãos amarradas. Ele estava sujo, o que me fazia imaginar que ele havia sido maltratado no breve período em que foi capturado.

— VOVÔ! - gritei

Tentei me aproximar dele, mas Severus apontou sua espada para minha garganta e ficou entre nós dois.

— Eu fui ao seu quarto pedir desculpas pela forma da qual me comportei. Eu sabia que era errado da minha parte esperar que você me amasse de volta, mas eu achei que você não me amava por causa da muralha que você construiu entre seus sentimentos e as pessoas. Você precisava da muralha para se tornar uma assassina, mas logo você poderia destruí-la.

— Severus…— eu disse, tentando não perder a paciência. - Me deixe ir até meu avô.

— Eu fui ao seu quarto com flores e é claro que você estava lá com James. Vocês dois estavam agarradinhos como se o mundo fosse um reino encantado onde príncipes e princesas vivem em paz em seus castelinhos. Era hora de agir, então eu fui ver Voldemort. - continuou Severus - Mas eu sabia que só trazer Voldemort não iria ser o suficiente. Seria fácil demais só trazer o inimigo – você faria qualquer coisa para proteger James. Eu sabia que eu precisava trazer a pessoa que você mais ama no mundo para que tivéssemos uma chance.

James me encarava.

— Agora você vai ter que escolher se quer salvar seu vovozinho ou se quer salvar seu namorado. - Severus sorriu.

Ele foi até o meu avô e segurou seu rosto. Sua testa sangrava, por causa do impacto com o chão. Ele estava com as feições muito mais cansadas do que elas estavam da última vez que eu o havia visitado.

— Perdi minha paciência com você. - murmurei

E investi contra Severus.

Ele desviou da minha espada rapidamente, mas com meu escudo consegui empurrá-lo para longe do meu avô. James correu até ele e tratou de checar seus pulsos.

Eu sabia que, mesmo lutando com Severus, que era bem iniciante na luta, se eu ficasse prestando atenção em James ou no meu avô, eu iria perder. Era para isso que eles haviam trazido ele, em primeiro lugar. Para que eu tivesse que ocupar minha cabeça com três coisas ao mesmo tempo.

Severus tirou uma adaga do cinto e tentou arremessar em James, mas eu fiz um corte profundo na sua mão antes que ele conseguisse mirar.

Severus gritou de dor.

— Sev… - eu disse - Por favor… Pare.

Severus sorriu e negou com a cabeça, investindo contra mim com sua adaga. Eu admirei a perseverança dele, mas eu era a melhor assassina do reino.

Arfei quando senti o cabo da minha escada ficar preso no tórax de Severus, enquanto olhava para a lâmina ensanguentada que despontava de suas costas.

Severus cuspiu sangue no meu rosto e caiu, inerte.

Me joguei no chão, arrasada, e me arrastei até meu avô. James estava com ele no colo.

— Lily… - James murmurou

— Eu estou bem. - eu disse - Como ele está?

— Ele parece bem. - disse James - Deve ter apanhado um pouco, mas não acho que tenha sido muito torturado. Quando essa loucura acabar, Madame Pomfrey pode cuidar dele. Ela é a enfermeira.

Assenti.

— Obrigada. - eu disse

James assentiu e se levantou. Ele foi até a porta e chamou Sirius para dentro, que entrou acompanhado de Remus.

— O que aconteceu? - perguntou Sirius, encarando o corpo de Severus.

— Eles sabiam que eu iria tentar salvar vocês. Eles sequestraram meu avô. - murmurei - Voldemort não está aqui. Remus, ninguém te seguiu quando você levou todos para o esconderijo?

Remus negou.

— Correu tudo bem. - ele disse - Estão todos a salvo.

— Bom. - suspirei - Temos que ir.

— Lily, você precisa de um descanso. - disse Sirius

— Se eu descansar, Voldemort vai matar todos nós ou vai fugir. - eu disse - Ele precisa morrer ou nunca vai nos deixar em paz.

Acariciei os cabelos grisalhos do meu avô.

— Eu levo ele. - disse James

Me levantei e o encarei.

— O que? - perguntei

— Você e Sirius podem procurar Voldemort. Vocês lutam melhor.  – ele disse - Remus e eu levamos seu avô para o esconderijo e depois encontramos vocês.

Gemi, preocupada.

Sirius encarava Remus.

— Não é perigoso? - ele perguntou - Um dos dois não vai poder lutar, por estar segurando seu avô.

Concordei.

— Eu carrego ele. - disse Remus - James é muito bom lutando, tenho certeza de que vamos ficar bem. Os esforços dos comensais devem estar focados em Lily e Voldemort.

— Mas… - disse Sirius

— Black, isso é o que precisa ser feito! - disse Remus - O que você sugere? Que simplesmente larguemos o avô de Lily aqui?

Sirius bufou e bateu o pé no chão, em seguida puxando Remus pela gola de sua camisa e o beijando.

James e eu nos entreolhamos. James parecia prestes a dar uma gargalhada.

Os dois se separaram. Remus tinha um olhar extremamente assustado.

— Sirius… - ele murmurou

— Existe uma chance de morrermos essa noite. - ele disse - E eu não podia morrer sem fazer isso, pelo menos uma vez.

Remus assentiu, e o beijou mais uma vez.

Esse beijo foi mais apaixonado que o outro, levando em conta que nenhum dos dois havia sido pego de surpresa. Foi mais apaixonado e mais longo.

James pigarreou.

— Hm, meninos. - ele murmurou - Isso tudo é muito fofo. Mesmo. Mas temos que ir. Estamos no meio de uma batalha.

Os dois se separaram e Sirius riu.

— James, é uma batalha contra Voldemort. Nunca se sabe. - ele disse - Se você quer morrer sem beijar o amor da sua vida mais uma vez, eu sinto muito.

James revirou os olhos.

— Remus, vamos.

Remus assentiu e pegou meu avô no colo. James desembainhou sua espada e se dirigiu para a porta.

— Por favor, tomem cuidado. - eu pedi

James assentiu.

— Eu prometo. - ele disse

Sirius sorriu.

— Última chance, James! - ele gritou

— Cala a boca, Sirius! - gritou James de volta, saindo pela porta sem nos encarar.

Remus fez um aceno com a cabeça e seguiu James.

Encarei Sirius. Ele ainda ria da sua última piada, mas eu conseguia ver os seus olhos cheios de preocupação.

— Eles vão ficar bem. - eu disse, tanto para ele quanto para mim mesma.

Sirius assentiu e tirou sua espada da bainha.

— Vamos achar Voldemort. - ele disse