Ouvi uma batida na porta e acordei com um sobressalto.

Severus dormia tranquilamente ao meu lado. Ele, provavelmente, não havia tido nenhum pesadelo durante a noite, ao contrário de mim. eu fechava os olhos e vi os rostos de todas as minhas vítimas – e eu acordava chorando sempre que o rosto de James aparecia.

Me levantei rapidamente e abri uma fresta da porta.

O rosto de James se iluminou rapidamente ao me ver, mas eu conseguia ver a profundidade de suas olheiras. James estava arrasado. Era estranho como eu conhecia James há tão pouco tempo, mas já conseguia perceber os nuances do seu humor. Não que fosse algum grande mistério o seu estado de espírito, levando em conta o que havia acontecido, mas ainda assim era algum tipo de conexão diferente.

— Bom dia. - sorri

— Bom dia - ele disse

Severus, então, soltou um ronco alto.

— Eu posso voltar depois… - murmurou James, dando um passo para trás. - Você está ocupada.

Segurei sua mão.

— É claro que não. - protestei - Eu só tive uma noite horrível. Eu não consegui dormir muito porque tive pesadelos. Severus veio ajudar, é bom ter alguém familiar por perto.

James assentiu.

— Mas você está bem, agora? - ele perguntou -  Por que teve tantos pesadelos?

Dei de ombros.

— Eu não sei. - menti - Acho que fiquei triste com a situação do Peter.

Ele assentiu.

— Eu também. - ele disse

— James… - murmurei - Você fez o que tinha que ser feito. O que Peter fez foi horrível, mas você não podia se corromper por ele.

— Eu não sei o que fazer. - ele disse - Eu só quero ser justo, mas ao mesmo tempo ele era um dos meus melhores amigos.

— Vamos pensar em alguma coisa. - eu disse, apertando sua mão.

Ele me apertou de volta e me encarou por alguns segundos.

— Você quer dar uma volta? - ele perguntou

— É claro. - sorri - Me espere aqui.

Fechei a porta e rapidamente troquei de roupa.

— Você não ronca, Severus. - murmurei rispidamente - Aquilo foi ridículo.

Saí do quarto e James segurou minha mão novamente.

— Onde você quer ir? - ele perguntou

Sorri.

— Eu não sei. - disse - Algum lugar que eu nunca tenha ido.

— Podemos ir para a torre, ou para a cozinha… - ele disse

— Você pode escolher. - sorri - Mas admito que estou começando a duvidar da existência da tal Minerva.

James deu uma gargalhada.

— Iremos para a cozinha, então. - ele disse - Não posso deixar que você fique pensando que eu sou um mentiroso.

Ri.

— Certo. - murmurei

Refizemos o caminho até a cozinha em silêncio. Eu estava aproveitando aqueles momentos para sentir o toque da mão de James na minha. Era bom estar com ele, daquele jeito. Só a nossa presença bastava, não precisávamos encher o ar com nenhuma conversa.

Paramos em frente à grande porta de madeira da cozinha, mais uma vez, e James se virou para mim.

— Está preparada? - ele sorriu

Assenti, sorrindo.

Ele suspirou.

— É impressionante como ficar perto de você faz com que eu esqueça a maioria dos meus problemas. - ele disse

Ele se aproximou de mim e passou sua mão pela minha bochecha levemente.

— Isso acontece comigo também. - deixei escapar

Ele riu e abriu a boca, mas o que quer que fosse que sairia dela foi abafado pelo som de botas se aproximando. Sirius apareceu correndo, com Remus o alcançando depois de alguns momentos, ofegante.

— James… - Remus disse - Aconteceu uma coisa.

— Você precisa vir para os calabouços agora. - Sirius exclamou

James assentiu.

— O que aconteceu? - ele perguntou

— Peter… ele… - Remus disse - está morto.

A boca de James se abriu, em espanto.

— Vamos! - Sirius disse

James concordou e se virou para mim.

— Está tudo bem. - eu disse - Posso te encontrar depois.

James negou.

— Eu preciso que você venha comigo, na verdade. - ele murmurou, me olhando nos olhos com muita intensidade.

Assenti.

Nós quatro, então, saímos correndo para as masmorras. Fizemos parte do caminho que eu havia feito na noite anterior, mas eu precisei fingir que não sabia por onde passava. Descemos as escadas com rapidez e vi vários membros da Ordem, junto com Fleamont e Euphemia.

— James… - disse Fleamont.

James olhou para dentro da cela e apertou minha mão. Peter estava lá, do jeito que eu o havia deixado horas antes, mas havia uma poça de sangue à sua volta.

— O que aconteceu? - James perguntou

— Ele se matou. - disse um dos guardas

A mão de James tremia.

— Bom, agora não preciso mais pensar sobre o que fazer com ele. - murmurou ele, coma voz tremida.

Sirius assentiu.

James suspirou.

— Se livrem dele. - ele disse

— James… - murmurou Euphemia

— Mãe… - ele respondeu - Não precisamos conversar sobre isso. Peter se matou. Não há nada a ser feito.

Segurando minha mão com firmeza, ele começou a subir as escadas, de volta para o andar térreo do castelo. Sua expressão estava rígida, mas eu sabia que ele estava destruído.

— James. - murmurei

Ele me olhou.

— Não finja que você não se importa. - eu disse

— Eu não me importo! - ele exclamou

— Você se importa sim! - protestei - Ele era seu melhor amigo, James!

— Ele me traiu! - ele rebateu

O encarei e o puxei para um abraço, ao mesmo tempo em que ele começava a chorar. Acariciei seus cabelos e depositei um beijo em sua testa.

— Eu sinto muito, James. - eu disse - Você vai ficar bem.

O puxei para perto da parede e me sentei no chão, deitando James no meu colo. Eu sentia o pano do meu vestido ficar cada vez mais molhado, por causa de James. A sua respiração entrecortada por seus soluços arrasava o meu coração.

— Eu fui ridículo. - ele disse, depois de um tempo - Eu preciso me desculpar com minha mãe.

— Ela te conhece melhor do que ninguém. - eu disse, limpando uma de suas lágrimas - Ela sabe que você não fez por mal.

James assentiu.

— Obrigado. - ele murmurou

Sorri.

— Eu sinto que posso confiar minha vida a você. - ele disse, fechando os olhos e se aconchegando no meu colo.

— É claro que você pode. - suspirei, e tomei cuidado para que a lágrima que escapou do meu olho não caísse sobre seu rosto.