Euphemia me convidou para passar a tarde com ela, três dias antes do baile, para que escolhêssemos um vestido para eu usar naquela ocasião. Euphemia era uma das pessoas mais doces que eu já havia conhecido, mas tanto ela era um pouco ingênua. James, Peter e Fleamont estavam passando cada vez mais horas trancados em salas com pilhas e pilhas de relatórios sobre o dinheiro do reino, sem conseguirem entender o que estava acontecendo, e Euphemia parecia só se importar com o baile que se aproximava.

Fomos até um dos centenas de quartos do castelo, onde vários vestidos estavam espalhados. Era estranho pensar que todos aqueles vestidos haviam sido feitos só para serem opções, me parecia um desperdício de tecido e tempo.

Euphemia me entregou um vestido vermelho, que tratei de vestir rapidamente.

— Hm, acho que não. - ela murmurou - Não dá destaque para o seu cabelo.

— Concordo. - sorri

Ela assentiu e me entregou um vestido amarelo.

— Euphemia… - murmurei

— Sim, querida. - ela sorriu

— Você não está nem um pouco preocupada com a situação do reino? - perguntei - Me desculpe se isso não for da minha conta.

Ela sorriu mais uma vez.

— É claro que eu estou preocupada, Lily. - ela disse - Mas eu confio minha vida a Fleamont e James. Eu sei que eles vão descobrir o que está acontecendo. E esse vestido também não ficou muito bom.

Assenti.

— É que eu me sinto um pouco mal por estar fazendo um baile, enquanto todos no reino estão na miséria. - sorri - Meus pais sempre me dizem que eu sou uma princesa estranha.

Euphemia me encarou, com um olhar suave.

— Se importar com seu povo não é ser estranha, Lily. - ela disse - É ser justa.

Assenti.

— Por que não abrimos o baile para todos os jovens do reino?! - ela exclamou

— O que? - perguntei

Aquela era uma péssima ideia. Embora eu não frequentasse os lugares públicos do reino com frequência, eu sabia que talvez as pessoas pudessem me reconhecer. Pessoas que haviam crescido comigo, antes de minha mãe morrer, ou pessoas que haviam me visto fazendo algum serviço pela cidade.

— Obrigada, Lily! - ela disse, me abraçando. - Essa foi uma ótima ideia!

Sorri para ela e tive uma ideia que salvaria meu disfarce.

— Por que não fazemos um baile de máscaras? - sugeri - Vai ser ótimo para que o povo não fique com medo de interagir com a realeza.

Ela me encarou por um segundo, estupefata, e assentiu com fervor.

— E eu acho que achamos seu vestido. - ela sorriu.

Me virei para trás para me ver no grande espelho que haviam colocado no quarto.

Era o vestido mais bonito que eu já havia visto. Ele caíra tão bem no meu corpo que parecia ter sido feito com minhas medidas exatas. Os tons azuis pastéis do tecido combinavam com minha pele clara e contrastavam com o tom do meu cabelo.

— É lindo. - murmurei

Ela fez um carinho no meu cabelo.

— É seu. - ela disse - Leve-o para Beauxbatons quando for para casa.

Senti uma vontade imensa de chorar, mas apenas assenti e a abracei. Ela deu uma risadinha e a senti retribuindo meu abraço.

Ouvimos uma batida na porta e Euphemia me soltou correndo para atender.

— James, você não pode entrar! - ela exclamou

— Por que não? - ouvi James perguntar, rindo.

— Lily está com o vestido do baile! - ela respondeu

— Isso não faz sentido, mãe. - ele disse - Nós não estamos nos casando.

— James… - ela murmurou

— Tudo bem. - ele bufou

— Lily e eu tivemos uma ótima ideia. - ela disse - Vamos abrir o baile para os jovens do reino! E será um baile de máscaras!

— Parece ótimo. - ele disse

Vi Euphemia assentir com a cabeça.

— Bom, eu vim convidar Lily para conhecer a biblioteca. - ele disse - Mas podemos deixar para depois. Se divirtam.

— Nos encontraremos do jantar, querido.

— Certo. - ele disse - Até depois.

— Tchau, James! - gritei

Ouvi ele rir.

— Tchau, Lily.

…

Depois do jantar, Severus veio até meu quarto.

Ainda estávamos brigados, desde que ele havia ficado irritado com a minha proximidade com James.

— Posso entrar? - ele perguntou

Bufei.

— O que você quer?

— Pedir desculpas. - ele disse

Severus suspirou e tirou um pote de sua bolsa.

— Eu fui até a cozinha e peguei os restos da sobremesa. - ele sorri

Sorri.

— Nós acabamos de jantar!

— E desde quando isso te impede de comer? - ele riu

Suspirei e abri mais a porta, o suficiente para deixá-lo entrar.

Ele deu uma risada e sentou no chão, apoiando suas costas em minha cama. Sentei ao seu lado e peguei uma das colheres que ele havia trazido.

— Me desculpe, Lily. - ele disse - Eu sei que você está fazendo o que deve para conseguir acabar com isso.

Assenti.

— Eu aceito suas desculpas. - sorri

Ele sorriu.

— Você está tendo algum progresso? - ele perguntou

— James tem ficado um pouco distante, por causa da confusão do dinheiro. - eu expliquei - Mas estamos um pouco mais próximos.

Ele assentiu.

— Você acredita nele? - Sev perguntou - Sobre o dinheiro?

O encarei.

— Acredito. Por incrível que pareça. - murmurei - Você não?

— Eu não sei. - ele deu de ombros - James me parece competente, mas é muito ingênuo da parte dele não saber a situação do povo. Eu não sei se realmente acredito que ele esteja mandando esse dinheiro. Talvez ele e Peter estejam se divertindo no escritório fazendo você pensar que estão trabalhando.

— Sev, ele está uma bagunça. - protestei - Ele está com olheiras fundas e está com um olhar desanimado há dias.

Severus deu de ombros mais uma vez.

— Eu não sei, Lils. - ele repetiu.

Assenti.

— Tudo bem. - sussurrei

— Está com saudades da sua antiga vida? - ele perguntou

Ri.

— Um pouco. - revelei - É delicioso ficar aqui no castelo sem ter responsabilidades mas eu sinto falta da adrenalina do meu trabalho.

Severus revirou os olhos.

— Sev, eu estou acostumada a matar pessoas. - eu disse o encarando - Você tem que se acostumar a isso.

— Não tem como você gostar de ser uma assassina. - ele disse

Dei de ombros.

— Mas eu gosto. - eu disse - Severus, eu sou muito boa nisso. As pessoas me admiram. E você sabe que eu só mato pessoas horríveis, Slughorn era um porco.

— Eu sei, eu sei. - Sev suspirou - Mas você também tem que se acostumar com o fato de que eu não gosto do seu trabalho.

Suspirei e revirei os olhos.

— E Lucius? - ele perguntou

O encarei.

Eu não pensava em Lucius desde a nossa primeira noite no castelo. E eu não consegui me sentir mal por isso.

— O que que tem ele? - murmurei

— Está com saudades dele? - Sev bufou

Dele, não. De transar com ele, talvez.

— Não sei. - dei de ombros - Você sabe que nós dois não somos nada muito sério.

— Para você, não é. - ele disse - Mas para Lucius…

— Bom, é a vida. - dei uma risada

Severus riu e se levantou.

— Eu vou para o meu quarto. - ele disse

Assenti.

— Te vejo amanhã. - sorri

— Até amanhã, Lils. - ele murmurou

— Boa noite, Sev.

Ele foi até a porta e a abriu.

— Sev! - murmurei

Ele me encarou.

— Eu senti sua falta. - dei de ombros.

Ele sorriu.

— Eu também. - ele disse

Sorri.

— Sonhe comigo! - dei uma risadinha

— Sempre. - ele riu.