Consequências. escrita por MedusaSaluz


Capítulo 8
Ela




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— É isso que está acontecendo. – Ravena francamente contou tudo aquilo que lhe estava acontecendo. Zatanna não era uma completa estranha para si, mas também não a conhecia. Não sabia muito o que esperar, mas sabia o que queria: auxílio.

— Eu acho que é mais do que eu posso lidar, Ravena. – Zatanna lhe respondeu, torcendo a boca. A moça a sua frente endireitou a postura. Sentia-se voltando à estaca zero por um segundo. - Quando você chegou a essa dimensão, você procurou ajuda na Liga. Eu fiz eles negarem, porque sua magia é muito diferente da minha, é perigosa. - A empata não se sentiu ofendida. Sabia que se os Titãs soubessem sua origem provavelmente fariam o mesmo. A verdade era que magia dependente de emoções eram uma bomba relógio e qualquer mago sabia disso. - Eu estava errada e quero te ajudar agora. Sei muito pouco sobre Trigon, mas eu conheço a pessoa certa para o seu problema. – Uma luz pequenininha se acendeu dentro de si, era esperança.

— Quem? – Só precisava do nome.

— Um velho amigo.

Ravena olhava para a prova a sua frente. Sabia o conteúdo. Então porque não tinha a mínima vontade de responder o teste de acordo? Aquilo nem era de verdade, era? Ela estava no curso de história para ter algo para fazer enquanto tinha de lidar com aqueles problemas todos. Salvar o mundo com os Titãs era tudo que tinha feito, mas não era uma opção naquele momento. Olhou para o relógio acima do quadro negro. Tinha mais cinquenta minutos de prova.

Num movimento impulsivo, assinou a folha de provas como Rachel Roth com seu número de matrícula a frente. Deixou o questionário completamente em branco. Se dirigiu à mesa do professor e colocou a folha sulfite sobre a mesa, virando-se de costas antes de se dirigir para porta, ouvindo um suspiro preocupado a suas costas, para o qual não dava a mínima importância. Ao sair da sala, foi direto para a frente do departamento de história. Sabia que poderia sentar-se na escada por um tempo. Ou não.

A escada estava cheia das mesmas pessoas de sempre. Ela não queria ficar ali. Todos preenchendo o silêncio falando de qualquer coisa descartável. A dificuldade naquela tarde de terça-feira era ter para onde ir. Sabia que tinha seu café favorito, mas parecia ser meio deprimente e clichê estar sozinha em uma cafeteria. Por sorte, tinha companhia para chamar. Sacou o celular do bolso da jaqueta e procurou dois contatos específicos na lista.

“Para: Rose M.; Tara M.

Doyle’s às 15?”

Enviar. Não sabia exatamente como havia se tornado amiga de Tara Markov e sua prima Rose. Só sabia que um dia elas derrubaram seu café e lhe pagaram um novo. Tara achou que ela tinha uma leve semelhança com a moça dos Jovens Titãs que salvara sua vida. Rose achava que sua prima era obcecada com a titã de cabelo roxo e via ela em qualquer lugar. Ravena no fundo não sabia como se comportar com aquela conversa. Desde então, a amizade delas é se encontrarem na cafeteria para beberem algo e para Rachel, a aluna de história, observar enquanto Tara, aluna de arquitetura, e sua prima, Rose, aluna de ciências políticas, discutiam trivialidades.

Não sabia sobre como se sentia sustentando amizade com Tara, já que Garfield afirmava com muita certeza que aquela garota, de alguma forma, era sua amiga Terra, que retornara da morte sem explicação nenhuma. O titã verde, por sua vez, deveria ser a pessoa mais suspeita em falar de uma ressureição de Terra, graças ao vínculo emocional que desenvolvera com ela antes de sua morte. Mas, mesmo sem afirmar categoricamente que Tara e Terra se tratavam da mesma pessoa, ela sabia dizer a semelhança física era inquestionável.

Sentiu o celular vibrar uma vez:

“De: Rose M.

Minha aula de Metodologia tá quase no fim, busco a T. no departamento de matemática e vamos para lá.”

Olhou para o horário no celular. Faltavam quinze minutos para o horário marcado. Não tinha problemas para chegar, já que o café ficava há mais ou menos cinco minutos de onde estava. Caminhava em seu próprio tempo em direção ao Doyle’s, prestando atenção nas pessoas de seu caminho. Foi quando passou por ela, um rastro de fumaça. Aqui essa pessoa é chamada de rastro porque seu rosto, corpo e gênero são extremamente desimportantes. O cheiro de nicotina despertou nela a vontade de fumar. Nada fora do normal. A voz de um amigo ecoou em sua cabeça:

“Vícios são para nós motivações para continuar. O vício na vida do proletariado é um motivo para ele seguir seu dia como de costume, porque ele sabe que terá algo que compensará tudo. Novela, açúcar, sexo, cocaína, cigarros, seja o que for, vícios são um presente rotineiro. Alguns deles ainda te ajudam a passar mais rápido pela vida, essa é a diferença”

Ela sempre achara vícios desnecessários e autodestrutivos, com razão. Mas, olhando para sua vida antiga, reconheceu vícios. Leitura excessiva. Chá. Meditação. Silêncio. Eram vícios que de certa forma lhe somavam algo no momento em que era uma heroína dos Jovens Titãs. Naquele momento ela não era nada. Era uma estudante de um curso em qual ela já conhecia a maior parte do conteúdo, disfarçada, com um nome falso, sem poderes e sem um dever com a sociedade. Ela era desnecessária e autodestrutiva. E cigarros, seu novo e pior vício, também.

Enquanto andava, bateu as mãos nos bolsos procurando pelo seu maço. Encontrando no bolso superior esquerdo da jaqueta, agilmente retirou-o de lá, sua ansiedade dependente falando mais alto. Para sua maior frustração, seu maço se resumia a papel sem conteúdo. Devia ter fumado o último de manhã e, como saíra apressada, se esquecera de que deveria comprar outro maço. Sabia que Rose provavelmente teria um. Teria de esperar até que ela a encontrasse.

Chegando ao Doyle’s Café, disse a atendente que esperaria as amigas antes de pedir e se sentou. Escolheu não olhar para fora, porque realmente não se interessava no mundo externo. Sentiu seu celular vibrar em seu bolso novamente:

“De: John

Você fez tudo direito hoje? Assim facilita meu trabalho.”

A ex-titã suspirou. A resposta seria dada por aquele gesto se o amigo estivesse ali. Aquele era um dos dias que ela não queria responder aquela pergunta.

“Para: John

Fiz.”

Não passou muito tempo até que o aparelho vibrasse novamente em suas mãos. Dessa vez, acompanhado de um toque padrão, que já estava na memória do celular. Mesmo que não gostasse de conversar ao telefone, sabia que se recusasse a chamada o celular não pararia de tocar. Atendeu sem precisar olhar para o visor para saber de quem se tratava.

— John? O que foi agora? Eu te disse que durante o dia estou em aula... – A voz rouca ecoou no café, estava claramente impaciente por receber a ligação daquela pessoa.

— Se você atendeu quer dizer que está matando aula de novo. Quer parar de mentir para mim? – A voz masculina do outro lado da linha respondeu ríspida, não que uma irritação ou qualquer tom de voz dele pudesse fazê-la se sentir ameaçada.

— Quando foi que eu menti para você? – Ela perguntou, cínica. Uma prática que não tinha era contar a absoluta verdade sobre seu cotidiano para John. Uma coisa é ter uma voz que te diz o que é certo e errado dentro da sua cabeça, outra é ter um cara metido a besta em seu celular dizendo o que ela deveria fazer.

— Há menos de um minuto atrás. Você não meditou hoje. – Ele afirmou, sem um pingo de dúvida em sua voz. Ela odiava aquele comportamento.

— Se você sabe a resposta, por que ainda pergunta?  - Perguntou ela, claramente mais irritada. Sabia que ele estava ajudando, mas porque de toda ajuda do mundo, ela tinha de conseguir alguém tão detestável? Por que Zatanna não poderia cuidar disso sozinha?

— Só porque você age como se já estivesse morta não quer dizer que eu queira que você morra. – A voz dele soava mais séria. Como sempre, ele sabia o que ela sentia e como sentia. E Ravena queria apenas ignorar o fato de que ele estava certo sobre aquilo.

— Olha quem fala de estar morto por dentro. – Não era uma provocação. Às vezes o lance de entender e sentir o que o outro sentia era uma via de mão dupla.

— É, mas eu sou um ser humano horrível. Você é uma boa garota. – Ao contrário de Ravena, para John, ouvir que ele estava morto por dentro era exatamente a mesma coisa que lhe dizer que a água era molhada. Não era surpreendente ou irritante.

— Assim me faz sentir um cachorro. – Se sentir boa não fazia parte do perfil de Ravena. Ela tinha voltado a negar isso desde que colocara sua vida nas mãos de John.

— Cachorros são obedientes, Ravena. – Aquilo sim era uma provocação. Ele ERA um ser humano horrível, afinal de contas.

— Vai se foder. – As palavras grosseiras de Ravena encerraram a conversa, quando ela percebeu a entrada de pessoas no café. Eram Tara e Rose.

Respondendo no automático, queria evitar entrar no assunto “John”. As primas viram o nome do contato em seu celular uma vez e perguntaram quem era. A resposta mais rápida e simples que Ravena poderia dar era que o rapaz era seu namorado, que estava fazendo um intercâmbio em Oxford. Desde então, John ganhara a fama de ser um namorado chato, insensível e idiota, mesmo que só Rose dissesse isso em voz alta. Não que estivesse totalmente errado. John era chato, insensível e idiota, só não era seu namorado.

Como não estava no humor para aquela conversa, pediu um cigarro para Rose, a fim de sair do café e finalmente suprir sua necessidade de nicotina. Pego o cigarro de filtro amarelo, foi para fora acende-lo. Sacou o isqueiro de prata, presente de Jonh, todo gravado com runas e uma cruz. Abriu-o liberando a chama para acender o cigarro.

Fumando, olhou para trás para tentar ver do que as meninas falavam.

O que viu foi uma mosca.

Uma mosca verde.

“Merda”, pensou, antes de entrar novamente no café.

— Senhorita, você não pode fumar aqui dentro. – A atendente do balcão educadamente se manifestou contra a entrada de Ravena.

— Não precisa se preocupar, já estou saindo. -  Ela disse, indo até as meninas para justificar sua ida repentina. – Gente, eu me esqueci, tenho de me encontrar com minha orientadora de pesquisa, nos vemos depois?

Saiu sem dar tempo de resposta. Ainda fumando, pensou onde poderia ir para lidar com aquilo.  Não podia ser vista com nenhum dos titãs. Aquilo estragaria seu disfarce. Lembrou-se de um local. Indo em direção de um beco próximo de seu prédio, quando os sons de automóveis cessavam, se ela prestasse atenção, podia ouvir um zunido seguindo-a.

Ao chegar no beco escuro, apagou o que restava do cigarro pisando em cima do mesmo. Virou-se e respirou fundo antes de sua fala.

— Certo, Garfield, pode falar. – Com sua fala, a mosca repentinamente se tornou um homem verde. Ele parecia diferente da última vez que o vira. Mais forte, cabelo um pouco mais comprido. Mas o mesmo canino afiado e orelhas pontudas. Era Mutano.


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Notas finais do capítulo

Mais um capítulo entregue com as demoras causadas pelos problemas de sempre, mas tá aqui!
Espero que gostem! Beijos de luz!



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