Consequências. escrita por MedusaSaluz


Capítulo 6
Avião


Notas iniciais do capítulo

As partes em itálico são lembranças/flashbacks

Boa leitura!



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Ravena olhou pela pequena janela para a imensidão azul e branca. Sentia uma mistura de estranhezas e incertezas. Era raro estar olhando para o céu diurno com tanta profundeza. Voltando seu foco para mais internamente do avião, viu seu reflexo na janela. Se estivesse mais distraída nem se reconheceria. Seu cabelo, antes violeta, estava negro como as penas do corvo que originara seu nome, além de ter ganhado uma franja reta que cobria a pedra em sua testa. Lentes faziam seus olhos se incomodarem, então não as usava naquele momento, mas seriam necessárias tardiamente.

— Você está linda, amiga! – Disse Kory, encantada com a nova aparência de Ravena, que havia batido na porta de seu quarto há poucos. Não entendia porque sua melhor amiga havia mudado a cor dos cabelos e de seus olhos. Mas, por algum motivo, preto e azul sempre pareciam adequados para a empata. – A que devemos essa repentina e inesperada mudança?

— É sobre isso que vim falar com você, posso entrar?

Estelar, sem saber porque, tinha a sensação de que Ravena não contaria boas notícias.

A Tamaraniana tinha razão. Após ouvir que a amiga deixaria os titãs por “razões muito pessoais”, não tinha certeza do que sentia. Com uma fusão de sentimentos negativos, sua reação não poderia ser diferente. Ravena observou a ruiva voltar o rosto para o carpete cor de rosa.

— Eu... fiz algo? – Ravena viu as lágrimas molhando o carpete. Não conseguia identificar as emoções de Kory, seus poderes lhe falhavam mais uma vez. Ler outras pessoas era mais difícil do que ela imaginava sem suas habilidades. Mas sabia o que deveria dizer.

— Você não tem culpa, Kory. Ninguém tem. – Abraçando a alienígena em prantos ela permaneceu por pelo menos duas horas.

Estar fora de seu uniforme lhe era estranho, sentia-se nua, ou vestida apenas com suas roupas de dormir. Buscou com as mãos pálidas o capuz em suas costas, para levantá-lo sobre sua cabeça. O moletom preto não era como seu manto, mas ajudava a se esconder. O jeans com rasgos nos joelhos era extremamente desconfortável. Não pelos rasgos, mas pela carteira sobre qual estava sentada. Desajeitadamente, tirou a carteira preta, que muitos chamariam de masculina, de dentro do bolso e abriu. Olhou para sua foto três-por-quatro dentro do bolso de plástico translúcido.

— Tem certeza que não quer sorrir, baixinha? – Victor olhou para ela, sentada no banco a frente do fundo branco. Quase pronto para apertar o botão.

— Por que eu deveria? – Ela perguntou, a única sobrancelha irônica se levantando e escondendo-se atrás da franja escura.

Cyborgue olhou para a amiga e tombou a cabeça para o lado. Como era assustador ver Ravena como uma jovem normal. Os pés cruzados vestiam tênis de lona, que ele mesmo usava quando era apenas um atleta no ensino médio, as calças rasgadas tinham a barra dobrada, porque eram muito compridas para ela, sem mencionar que eram largas, a camiseta preta não tinha estampa nenhuma. Lembrava de quando ele era normal. Ela seria a pessoa que menos gostaria dele na escola. A garota esquisita que não falava com ninguém e só sabia ler.

Isso seria na escola.

Ali, para ele, Ravena era sua irmã mais nova que sairia de casa sozinha pela primeira vez.  Mesmo que externamente fosse uma garota “normal”, ela ainda era a empata irônica e apática que todos os titãs conheciam e amavam. Ela não precisava mudar por inteiro. Aquilo era só um disfarce.

— Victor? – Ela chamou, a voz rouca tirando-o de seus devaneios.

— Desculpe, você tem razão, não precisa sorrir.

Clique.

Procurou outras coisas na carteira. Dinheiro, números de telefones, endereços para seu destino. Ouviu algo cair no chão. Se abaixou para procurar, seja lá o que fosse. Viu o cartão de plástico com fundo patriótico sem dificuldade. Tentou-o pegar de forma desgraciosa, já que suas unhas eram muito curtas e o cartão muito fino. Ao conseguir finalmente manusear o objeto, viu a mesma foto impressa e algumas informações falsas sobre si mesma. Nascida em Gotham City, Cabelos Pretos, Olhos Azuis. Seu aniversário, altura e gênero estavam corretos. Uma outra informação não sabia dizer se era real ou não.

— Qual nome vai escolher? – Richard perguntou enquanto digitava as informações a serem impressas no novo documento falso de Ravena.

Aquela para a maioria das pessoas seria uma pergunta muito difícil. Como escolher um nome? A maioria dos heróis já tinham nomes antes de escolherem serem heróis. Um codinome é muito mais simples de ser escolhido. Mas ela sempre fora Ravena. A pequena Ravena, a jovem Ravena, a gema Ravena, a heroína Ravena. Ela não era Kal El que caiu na terra e foi rebatizado de Clark Kent. Mas o Superman foi chamado assim porque tinha uma família. Ela também teve. Mais ou menos.

— Rachel Roth. – Ele olhou para ela, estranhando que ela não tivesse levado muito tempo para fazer essa decisão. Entendendo, como de costume, os questionamentos de Asa Noturna que não eram verbalizados, ela se adiantou a responder. – Era o nome da minha mãe.

— Pensei que o nome dela fosse Arella. – Ele disse, lembrando-se das poucas vezes que o nome da mãe da amiga foi mencionado por ela.

— Em Azarath era. Mas ela nasceu nessa dimensão.

Naquele momento ele entendeu. A mãe dela havia buscado paz em Azarath. Uma fuga do demônio a qual ela mesma havia se submetido no culto da igreja de sangue. Entre monges na dimensão branca, seu nome cheio de erros a perseguiria, a mudança de nome pareceria adequada naquele momento. Ravena, por outro lado, não tinha erros para apagar. Só queria impedir mais uma vez o mal de Trigon. Algo que deveria ter começado por outra pessoa. Deveria, na mente de Ravena, ter começado com Rachel nunca ter engravidado. Se aquilo começara com Rachel Roth, terminaria com Rachel Roth.

— Feito.

— Obrigada.

— Quando quiser, Rachel. – Era estranho usar aquele nome.

Guardou a nova identidade na carteira.

A comunicação da comissária de bordo com as cabines soou.

“Pousaremos no Aeroporto Internacional de Las Vegas em instantes. Pedimos para que permaneçam sentados e coloquem os cintos.”

A voz distorcida deu o comando, que Ravena não precisava obedecer. Não se levantara nenhuma vez durante o voo desde a decolagem. Não tivera essa necessidade. Colocou novamente a carteira no bolso traseiro, sentindo um item pequeno e metálico na ponta de seus dedos. Pegou-o, curiosa.

Em sua mão, uma moeda pequena, antiga e cobreada. Em alto relevo, o escudo de armas dos Estados Unidos, acompanhado pela frase “Em Deus nós confiamos” acima e o ano de “1868” abaixo. Do outro lado, o número cinco circulado por treze estrelas.

— Ei. – O titã verde parou na porta aberta do quarto de Ravena, estava estranhamente sério.

— Garfield? – Virou-se para a porta, surpreendendo-o com o novo visual. Ela estava de pé, sua mochila preta e batida estava sobre a cama. Ela colocava suas poucas roupas perfeitamente dobradas dentro da mochila.

— Posso entrar? – Ele perguntou. Ela não se culpava por desconfiar do comportamento de Mutano, normalmente ele entraria falando interminavelmente e sem pedir permissão. – Por favor?

— Claro. – Observou ele entrar, com sua postura alterada, sentando-se na cama. – Certo, Garfield, o que está acontecendo? – Ele levantou um olhar triste dos olhos verde folha para ela.

— Preparando as malas, né? Você não tem muitas coisas... Além de livros, claro. – Ravena não sabia aonde ele queria chegar, mas preferiu agir naturalmente.

— Para minha sorte eu já tinha pedido para Victor digitalizar a maioria deles. Os de papel ficam. Mas, eles vão comigo em um pendrive. – Ela disse, ainda colocando as roupas na mochila.

— Prático. – Ele ficou em silêncio por um instante. Decidiu se arriscar. - Já que eles vão ficar aqui na torre, se importa de eu emprestar um ou outro de vez em quando? – A resposta inicial dela foi um olhar assustado que só poderia ser descrito como cômico.

— Agora você realmente está me assustando. A única leitura que você faz são os quadrinhos dos jornais. – Ele não sabia se sentia confortável com o sarcasmo usual de Ravena ou surpreso por ela lembrar de seus hábitos.

— Estou pensando em variar. – Ele deu de ombros, passando o olhar por todo o quarto.

— Está bem, mas se qualquer coisa acontecer aos meus livros, eu juro que algo bem doloroso vai acontecer. – Ele sabia que se ela estava cedendo fácil era porque no fundo ela pensava que não veria mais os livros, mas ela não sabia que ele sabia disso.

— Certo. Obrigado. – Olhou diretamente para o espelho, o portal de “Nunca Mais”, que estava sobre a cama. – Você está com medo, sabe, de sair daqui?

— Eu não tenho medo, Garfield. – O olhar dele passou rapidamente do espelho para ela.

— A gente já passou por isso, Rae. – Lembrou-se do incidente “Medo Fatal”, quando a empata não admitia que sentia medo e acabou dando vida aos monstros de um filme de terror.

Ravena fingiu não saber do que ele estava falando e continuou a arrumar a mochila. Ele deu um sorriso nostálgico e se levantou. Foi só aí que percebeu que ele tinha algo em mãos. A mão verde pegou a mão pálida e delicadamente transferiu o objeto, fechando a mão da amiga em seguida.

— Para dar sorte. – Abraçou-a de supetão, saindo do quarto em seguida. Ela olhou para a mão tocada pelo metamorfo. A moeda de cobre era a mesma que ele lhe entregara no dia em que ela servira de portal para Trigon.

Quando sua mente se viu saindo da memória, ela se localizou descendo a escada rolante do aeroporto, sem saber qual seria seu próximo passo. Passou os olhos por todas as placas, pessoas esperando por quem chegava. Sabia que ninguém a esperaria. Ou pelo menos achava. Passou os olhos uma segunda vez, antes de ver uma garota de longos cabelos negros, vestido branco e óculos de sol segurando uma placa com o nome “Rachel Roth”. Mesmo estranhando, se aproximou.

— Está me esperando? – Desconfiadamente perguntou.

— Me disseram que precisaria da minha ajuda. – Ela disse, com um sorriso.

— Quem disse?

— Ora, Rachel, temos amigos em comum em Gotham. – Ela estendeu a mão para cumprimentar a empata, se apresentando. – Sou Zatanna.


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Notas finais do capítulo

DESCULPEM A DEMORA!
Eu sou uma fudida durante minha vida acadêmica, só consegui terminar esse por causa do feriado!
Espero que tenham gostado!
Beijos de Luz



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