CASTELOBRUXO - O Início de Uma História escrita por JWSC


Capítulo 6
CAPÍTULO 6 – Livro de Feitiços vol. 1




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Dias depois...

Maria subia as escadas para o dormitório. Havia esquecido o livro para a aula de Feitiços que começaria dali a meia hora e teve que pular a sobremesa do almoço para poder chegar a tempo na aula, o que fez com grande tristeza, pois era sorvete. Ao chegar na porta do dormitório 1-C, a porta de madeira com o rosto esculpido moveu-se, permitindo que a aluna entrasse na sala.

Ao entrar na antessala com pressa, quase esbarrou em outra aluna que ia em direção a saída distraidamente, lendo uma carta.

— Desculpa, Maria. Quase esbarrei em você.

— Não foi nada, eu devia andar com mais calma.

Ao entrar no quarto feminino, Maria começou a busca pelo livro perdido. Abriu as suas gavetas, em seguida as bolsas e por fim seu guarda-roupas, sem encontrar o livro que queria. Ela levantou o travesseiro e olhou embaixo da cama, vendo inclusive as camas ao redor da sua.

— Mas aonde esse livro foi parar?

Ela colocou as mãos na cintura e tentou relembrar todos os lugares em que passou. A Biblioteca, a sala de Estudos Gerais, o Saguão Principal onde almoçou. Tantos lugares, mas todos pareciam improváveis. Roberto era quem caminhava com um livro embaixo do braço para todo canto, não ela.

— Bem, se estiver no quarto eu encontro.

Ela levantou a sua varinha, de um tom marrom claro, quase bege, e disse:

Accio, Livro de Feitiços volume 1!

Por um instante nada ocorreu, foi então que houve um estampido e algo disparou do teto para a cama. Maria ficou olhando paralisada, enquanto o puerio olhava para ela. Ele carregava o livro nas mãos e encarava com seus grandes olhos amarelos a criança a sua frente. O pelo negro escondiam todo o resto do corpo, de modo que era impossível ver a pele, a boca, o nariz ou qualquer coisa que não fossem os olhos.

— Oi, pequenino.

O puerio ficou olhando para ela, para sua mão com a varinha e para os lados. Ele segurava o livro entre os dedos negros com firmeza, como se fosse o escudo que garantiria sua segurança.

— Você gosta do livro?

Maria estendeu a mão livre, devagar, na direção do livro e escondeu a que segurava a varinha.  A pequena criatura afastou-se, olhando da mão estendida para a garota.

— Não precisa ter medo. Não vou te fazer nada. Vem aqui.

Ela aproximou-se mais um pouco e o puerio decidiu agir. Ele soltou o livro com força na cama e saltou para as vigas de madeiras, sumindo dentro do canto escuro do teto. Maria o procurou pelo teto do quarto, mas ele já havia sumido. Ela sorriu e pegou seu livro, saindo do quarto. Em sua mente, havia feito um novo amigo interessante.

 

Eduardo, Miguel e Roberto caminhavam para sala de aula de Feitiços. Conversavam sobre a aula que tiveram na manhã, sobre Estudos Gerais. O objetivo da matéria era melhorar o vocabulário, a gramática e dar conhecimentos basilares sobre matemática, física, política, geografia dentre outras matérias consideradas “não mágicas”, ou seja, uma aula puramente comum, sem nada de magia, o que fazia ser uma das aulas mais chatas para os jovens bruxos.

Andavam distraídos pelo corredor, tentando esquivar-se dos alunos que caminhavam de um lado para o outro, quando Roberto, sem perceber, acabou tropeçando no pé de um estudante que estava sentado em um banco e, por consequência, caiu no chão.

— Cuidado por onde anda, branquinho — disse o aluno, em referência ao símbolo da vitória-régia branco na camisa.

— Desculpa — respondeu Roberto enquanto pegava os livros.

Eduardo abaixou-se para ajudar a pegar os livros, mas Miguel ficou encarando o aluno com o símbolo verde na camisa.

— Você não devia deixar os pés esticados assim, pode causar um acidente — disse Miguel.

O garoto levantou-se, mostrando o símbolo verde com o desenho de um graminion costurado, revelando que era um aluno do segundo ano.

— O que você disse branquinho?

— O que você ouviu, verdinho.

— Para Júlio, deixa isso para lá — falou uma das garotas que estava com ele.

— Você ouviu o que esse branquinho disse? — Júlio apontou para Miguel. — Você sabe com quem está falando, branquinho? Eu sou Júlio Garcia.

Miguel permaneceu com sua postura ereto e os olhos impassíveis. Ele conhecia a família de bruxos Garcia, pois ambos eram da Argentina, mas não se importava com o nome ou a fama da família.

— E daí? — Ele respondeu.

— Insolente — Júlio disparou e puxou a varinha das vestes.

Miguel puxou a sua e todo o corredor ficou quieto, olhando os dois alunos com curiosidade.

— Não — falou uma das amigas de Júlio e segurou seu braço. — Você vai ser punido. Não vale a pena só por isso.

Eduardo logo aproximou-se de Miguel e falou para ele:

— Abaixa a mão. Não tem porque brigar por isso. Vamos para a aula.

Miguel resistiu, ainda olhando para o outro garoto e quando este guardou a varinha ele relaxou. Não gostava da família Garcia, mas também não iria atacar um adversário desarmado. Saíram dali em direção a aula de Feitiços. Júlio encarou os jovens alunos até que estes entrassem na sala, proferindo sua ameaça com os lábios, em silêncio.

Maria e Hugo estavam na sala, junto com os outros alunos que formavam o primeiro ano C da escola.

— Chegamos atrasados? — perguntou Eduardo.

— Não, a professora ainda não chegou — respondeu Maria. — O que foi?

— Tivemos um desentendimento com um aluno ali fora.

— Um desentendimento?

— Sim, mas já está resolvido.

— Certeza?

— Sim — Eduardo olhou para Roberto e Miguel, ambos fingiam que nada havia ocorrido. — Vocês já fizeram o trabalho sobre a Era Antiga da Escola?

Todos negaram com a cabeça.

— Eu estou na metade — disse Miguel.

— Sério? Podia nos dar uma ajuda, não? — Eduardo sorriu.

— Sim, em troca de duas tortas com calda — respondeu Miguel com um sorriso.

— O que? Sério? Uma torta e fechamos o acordo.

— Duas.

— Uma torta e um saquinho de balas sortidas, fechado?

Miguel pensou por um momento e depois aceitou.

— Fechado.

Apertaram as mãos e fecharam o acordo.

A professora Vitória chegou logo após na sala. Vestia uma combinação de vestido de tecido leve e calças marrons, junto de um colete estranho de pele. Os cabelos estavam presos em várias tranças e usava na cabeça um chapéu pontudo verde, com diversas penas coladas.

— Desculpem o atraso, alunos. Tive que fazer um serviço para o Diretor no Magizoo. Bem, vamos começar a aula de hoje? Espero que estejam todos animados, pois vamos aprender a como fazer para levitar objetos. Peguem suas varinhas e vamos lá!

 

O Ministro do Meio Ambiente Mágico olhava para todos os detalhes do Magizoo, tentando demonstrar interesse e conhecimento sobre as estruturas e feitiços ali lançados. Orlando podia ver no rosto do homem que pouco ou nada sabia sobre tudo que havia sido feito, mas se mantinha com sua expressão neutra, apenas aguardando o fim da verificação.

Mariano Oliveira Pentagrossa era o terceiro filho de uma das mais antigas e respeitadas famílias bruxas da América do Sul. Os Pentagrossa, residiam em uma bela mansão no estado de Minas Gerais, no Brasil, e por séculos foram pessoas influentes no mundo mágico, tendo Ministros, um Presidente e vários políticos influentes.

Depois que a irmã de Mariano se casou com o atual Presidente da Magia, foi lhe concedido o cargo de Ministro do Meio Ambiente Mágico, um cargo ao qual ele não possuía aptidão ou conhecimento, mas que nunca recusou, em honra ao orgulho da família. Diziam as fofocas que se não fossem os seus assessores, dois ex-alunos de Castelobruxo e um vindo de uma escola de magia europeia, todo o Ministério teria caído.

Orlando podia ver que os Assessores do Ministro sabiam o que fazer e o que ver ali. Um deles, o qual ele julgou ser o estrangeiro, de cabelos louros e olhos azuis ágeis, balançava a varinha de um lado para o outro com calma, enquanto da ponta saia uma fumaça cinzenta e fina. O próprio Orlando havia usado o feitiço Ostende Defectum, para detectar eventuais falhas ou lacunas nas barreiras mágicas criadas pelos Aurores e pelos Patrulheiros. Era reconfortante saber que no Ministério haviam bruxos habilidosos em usar feitiços complexos como este.

Os outros dois Assessores eram alunos formados há cerca de quinze anos em Castelobruxo. Ambos foram prodígios em Magizoologia e Trato da Fauna Mágica, tendo sido alunos de Orlando quando este lesionava Trato da Fauna Mágica na escola. Ele havia sido o orientador da jovem Lucia quando esta elaborou sua tese sobre Os Diferentes Usos da Flor da Alma, onde o próprio Orlando se surpreendeu com as habilidades da jovem. Agora ela era uma Assessora do Ministro, o que lhe dava muito orgulho.

— Pronto, meus jovens? — disse o Ministro. Era nítido o seu tédio, mesmo que ele tentasse se manter sério e firme. Era estranho chamar os Assessores de jovens, pois a mais jovem tinha cerca de trinta e dois anos, mas pelo que se sabia, era assim que o Ministro chamava qualquer um mais novo que ele.

— Sim, senhor — responderam os Assessores.

— Bem, Diretor Orlando. Parece que está tudo nos conformes, não é mesmo?

— Sim, senhor — Lucia respondeu. — Eles juntaram uma boa reserva de Erva Noamana, podemos colocar a criatura para dormir por um mês ou mais, dependendo da dosagem.

— E os escudos estão fortes — o louro disse. — Seria necessária uma grande força da criatura para quebrar.

— Tem alimento para quinze dias e a jaula deve segurá-la bem firme — comentou o outro ex-aluno. — Pelo que vi terão três aurores em cada saída e quinze Patrulheiros espalhados pelo Magizoo, correto? Por mim está aprovado.

— Ótimo — disse o Ministro, um pouco mais animado do que deveria. — Agradeço pelo seu tempo e disponibilidade, Diretor. Não tomaremos mais o seu tempo. Não se esqueçam de manter tudo em sigilo, não queremos que o público em geral ou os alunos saibam de nada. Vamos, jovens, temos que voltar para o Ministério e eu tenho que fazer o relatório para o Presidente da Magia.

Orlando teve a leve suspeita de que o “eu tenho que fazer o relatório” significava que os Assessores fariam o relatório. Acompanhou a pequena comitiva do Ministro até a saída do pequeno Magizoo, lá eles se despediram e um dos Guardas dos Portões levou os visitantes até o portão lateral da Escola. Alexandre aproximou-se de Orlando.

— Todas às vezes que eles vêm aqui só me deixa mais nervoso quanto a isso tudo.

— A mim também, Alexandre.

— Não consigo parar de pensar que estamos esquecendo de algo importante sobre isso tudo. Tem algo faltando que não estamos notando e isso esta me incomodando.

Alexandre afastou-se e Orlando ficou pensativo. Olhou para a parte de trás do Prédio Principal e para as Estufas que se estendiam para o oeste. A leste a Floresta Profunda estava misteriosa e sombria como sempre, começava atrás do Prédio Anexo de Estudos e se estendia para além das muralhas da Escola. No Prédio Principal o som dos alunos e professores em suas atividades rotineiras fez com que percebesse que, além de tudo, era um dia normal de aula, o que o reconfortaria por enquanto.


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