CASTELOBRUXO - O Início de Uma História escrita por JWSC


Capítulo 5
CAPÍTULO 5 – O Labirinto Sobre as Águas




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Semanas depois...

Orlando subia as escadas para o seu quarto e escritório, no quinto e último andar do Prédio Principal. Dois caiporas, os mais velhos da pequena tribo que vivia na Floresta Profunda, o acompanhavam de cada lado. Os pelos das criaturas, que um dia foram vermelhos vivo, agora estavam esbranquiçados e quebradiços.

Os três conversavam por legilimencia sobre o pedido que o Ministro do Meio Ambiente Mágico havia feito ao diretor. Os caiporas não eram acostumados com as palavras e sua comunicação era basicamente por gestos e sons. Legilimencia era a melhor forma de se comunicar com eles que usavam imagens, memórias e sensações para transmitir o que queriam.

Os caiporas tinham uma preocupação especial com a criatura que viria para a escola, uma vez que ambos possuíam uma longa história de combates e eram inimigos naturais. Entre agosto e setembro era a época em que os pequenos caiporas nascidos entre março e abril começavam a ganhar autonomia e andar pelas terras desacompanhados. A ideia de uma criatura rival e perigosa nas terras da escola havia gerado comoção entre os caiporas.

Orlando esperou calmamente até que os caiporas transmitissem todas as suas preocupações e medos. Ao terminar eles já estavam na porta do escritório. Orlando enviou sua resposta por legilimencia. Ele mostrou o local onde a criatura ficaria, no canto mais afastado do Magizoo, com uma dúzia de bruxos patrulheiros e aurores especializados em enfrentar situações de risco. Mostrou a dezena de feitiços de proteção que seriam lançados na região, inclusive no portão de entrada para o Magizoo. Por fim, garantiu que a segurança dos caiporas seria tão importante quanto a dos próprios alunos.

Os caiporas se pensaram por um momento, bloqueando suas mentes da legilimencia. Depois de alguns instantes, eles concordaram e se despediram do diretor, saltando pela janela.

— Queria eu ter essa agilidade para me mover — disse Orlando, olhando a janela por onde as criaturas saltaram. — Uma preocupação a menos.

Ele abriu a porta do escritório e no momento que pisou no chão da sala, sentiu o arrepio subir por sua nuca. Seus olhos ágeis reviraram o cômodo e sua mão moveu-se para a varinha.

— Não precisa me atacar, irmão — a voz veio de trás da mesa de carvalho, com entalhes de diversas criaturas mágicas douradas.

— Pelas barbas de Merlin, Augusto. Eu quase o estuporei.

O outro homem surgiu por baixo de um manto de invisibilidade. Estava em pé, atrás da poltrona de tecido bege.

— Imaginei que o manto não funcionaria para entrar na escola — Augusto disse segurando o manto.

— E não deveria mesmo — Orlando respondeu enquanto ia para a sua poltrona, atrás da mesa. — Pode me explicar como conseguiu entrar? Sei que não aparatou.

Augusto sorriu e andou pelo escritório, analisando as pinturas móveis e os equipamentos. Virou-se para Orlando e o analisou. Ele havia envelhecido demais, pouca lembrava do grande bruxo que um dia o ensinou.

— Você está velho.

— E você mal-educado.

— Eu? Juro que bati antes de entrar.

— Mas ainda assim entrou, o que me faz lembrar que ainda me deve uma explicação.

— Assim como espero uma explicação — Augusto aproximou-se e apoiou os punhos na mesa, como sempre fazia quando estava incomodado com algo. — Como permitiu que trouxesse uma criatura classificada como Letal para a escola?

— Não foi uma escolha minha.

— Sei que não foi. Acredito que você não faria isso, mas não posso ignorar tal fato. Estão colocando os alunos, funcionários e as criaturas mágicas da Escola em perigo.

— Foi o que eu disse ao senhor Mariano, o Ministro do Meio Ambiente Mágico. O que fez com que ele fosse bem enfático na ajuda que o Governo da Magia nos deu para reconstruir o Magizoo, as Estufas e a Muralha da Escola depois do ataque da F.U.L.A.M.

— Pelo amor dos Uirapurus, até quando o Governo da Magia vai usar os revolucionários para justificar suas ações?

— Acho que até quando as pessoas mantiverem o medo do retorno deles em seus corações. — Orlando viu a irritação no rosto de Augusto. — Não fique assim. A F.U.L.A.M. realizou o maior ataque da história do mundo mágico sul-americano. É natural que as pessoas carreguem consigo as dores desses tempos.

— Mas já fazem trinta e cinco anos. Está na hora de pararmos de ter medo do passado e seguirmos em frente, Orlando. Você viu o fim deles.

— Sim, eu vi muitas coisas naqueles tempos. Muita dor e sofrimento, medo e angustia. O que presenciamos naqueles dias, eu espero que não se repita, mas não espere que o Governo vá deixar de usar essa carta. É a melhor forma de controlar as pessoas, não? O medo é uma das mais fortes correntes que temos no pescoço, extremamente difícil de quebrar.

— Mas não impossível — Augusto ficou pensativo.

— No que está pensando?

— Só tendo uma ideia.

— Cuidado, Augusto. Não vá se meter em encrenca.

— Não se preocupe. Estarei bem. Enquanto isso, converse com o Ministro, faça com que ele mude de ideia.

— Você trabalha no Governo da Magia, Augusto. Mais precisamente com o Ministro da Segurança Mágica. Poderia falar com ele. É o cargo mais próximo ao Presidente.

— O cargo de Ministro da Segurança Mágica perde força quando o cunhado e irmão querido da Primeira-dama é o Ministro do Meio Ambiente Mágico. Estamos de mãos atadas, meu irmão.

Ambos riram e Orlando serviu uma bebida para os dois. Depois de alguns minutos de conversa descontraída, Augusto se foi, embaixo de seu curioso manto de invisibilidade. Deixando Orlando com suas preocupações.

 

Roberto vasculhava as páginas do livro. A Professora Hermenita Carona, que lesionava Estudo das Criaturas Mágicas para os alunos do primeiro ao terceiro ano, havia falado na última aula sobre as propriedades mágicas do leite de norques e o quão difícil era conseguir, sendo um dos ingredientes para retardar e combater o veneno das garras dos capelobos e muito utilizado contra magias negras.

Os norques eram criaturas gigantes, classificados como Inofensivo (I) pelo Ministério do Meio Ambiente Mágico, de aparência semelhante a seu primo distante, o peixe-boi, porém com três vezes o seu tamanho. Costumavam ser encontrados em praias rochosas, onde geralmente hibernavam por anos, usando feitiços de proteção e camuflagem para se esconderem e não serem incomodados. Seu leite era muito apreciado pelos bruxos por ter propriedades mágicas únicas, o que fez com que o Governo da Magia elaborasse leis severas para quem atrapalhe o período de hibernação deles.

Já os capelobos eram criaturas astutas, classificadas como criaturas a se ter Atenção (A). Geralmente evitavam contato com bruxos ou pessoas comuns, mas quando alguém invadia seu ninho eles se mostravam agressivos usando suas garras afiadas e venenosas para atacar.

Roberto pesquisava as diversas utilizações para o leite dos norques. Verificando se podiam ser usados para enfrentar criaturas das trevas. Para isso, além do Manual de Estudo das Criaturas Mágicas Volume 3 e o livro Sobre as Criaturas das Trevas – Pesadelos e Bicho-papão, ele tinha o livro de Preparo de Poções Volume 4 na cama, junto a vários pedaços de papéis com anotações.

— O que é isso?

Roberto teve um susto com a pergunta. Eduardo estava na porta do quarto dos meninos.

— Eu estava...

— Você está estudando? — Eduardo sorriu. — Mas hoje é sábado e é de tarde. Não se inscreveu em nenhuma palestra?

— Sim, me inscrevi. Mas é que ela só começa às quatro da tarde.

— E o que está estudando? Trato das Criaturas Mágicas, Sobre as Criaturas das Trevas... Preparo de Poções? O que quer fazer exatamente?

— Só estou... tentando tirar uma dúvida. Sobre o leite dos norques.

— E o que quer saber?

Roberto olhou com curiosidade para Eduardo. Não sabia se o outro garoto estava realmente interessado ou se estava apenas brincando com sua cara.

— De verdade. Quero saber, eu juro.

— Bem, quero saber se tem como usar o leite contra uma Criatura das Trevas.

— Que criatura?

Roberto ficou um pouco apreensivo. Ele segurou o marcador de folha que havia deixado na página da criatura em questão, mas não sabia se mostrava para Eduardo. Não sabia se ele reagiria como os outros no passado.

— Diz logo, que criatura é essa?

Roberto ganhou coragem e puxou a folha. Eduardo passou o olho pela página e fez expressão de dúvida.

— Que criatura é essa? Um dementador?

— Não. — Roberto virou o livro para Eduardo e apontou o nome da Criatura na página seguinte. — É um mortalha-viva, ou pano negro, manto da noite, sombra da morte, enfim, dependendo da região o nome muda.

— Nunca ouvi falar dessa criatura.

— Elas são raras. Mais raras que os chupa-cabras ou a teiniaguá. Em outras palavras, é quase impossível de ser encontrada.

— Mas porque você quer saber sobre elas?

Roberto se encolheu um pouco. Ele olhou para as próprias mãos e para a varinha ao lado dos livros. As lembranças voltaram aos poucos na mente, o que era engraçado, pois elas nunca iam embora de verdade. Tudo passou como um flash em sua mente, a noite, o frio, a sombra, o medo.

— Tudo bem — Eduardo quebrou o silêncio. — Na verdade eu vim te chama para ir brincar. Quer?

— Brincar?

— Os alunos do quinto ano estão apostando que nenhum aluno do primeiro ano consegue atravessar o Labirinto Sobre as Águas. Quer provar que eles estão errados?

— Eu não sou bom com esportes.

— Ninguém é — Eduardo riu. — Vamos, é só para se divertir. A Maria, o Hugo e o Miguel estão lá. Vamos, vai ser divertido.

— Eu não sei.

— Estamos em Castelobruxo, quando vamos ter outra oportunidade dessa? O máximo que vai acontecer é se molhar um pouco.

Roberto ficou relutando, mas por fim aceitou o pedido. Ambos desceram as escadas e saíram para o Jardim. Roberto já estava nervoso quando desceu as escadas, mas ficou imensamente mais nervoso quando viu o grupo de alunos reunidos ao redor do Labirinto. Pensou em voltar para o quarto, mas não queria parecer um medroso na frente de Eduardo.

Logo viram Maria e Miguel junto com outros alunos do primeiro ano. Todos com a camisa de Castelobruxo, com a vitória-régia costurada. Os alunos do quinto ano andavam com camisas brancas onde havia costurado o símbolo da serpente alada vermelha, símbolo do quinto ano. Além deles, haviam alguns outros alunos de outros anos.

— Lá vem mais dois — gritou um dos alunos do quinto ano.

— Aqui, aqui. Fiquem esperando a vez de vocês aqui — uma garota puxou os dois pelo braço, até que ficassem próximos dos outros alunos do primeiro ano.

No Labirinto Sobre as Águas, Hugo, o outro Eduardo e alguns outros alunos do primeiro ano tentavam se equilibrar sobre as pequenas rochas planas que boiavam na água, enquanto os alunos do quinto ano os incentivavam a a continuar e indicavam possíveis caminhos para pegarem. Uma garota acabou saltando em uma pedra no momento que esta afundou, soltando um grito seguido por um splash!

— Estão vendo? — Um aluno do quinto ano aproximou-se dos recém-chegados. — Esse é o Labirinto Sobre as Águas. Não é um labirinto com paredes, mas da mesma forma, você nunca sabe qual o caminho que deve fazer para chegar do outro lado. O desafio é escolher bem a pedra que você vai pisar e tentar adivinhar qual das próximas não vai afundar. Não vale usar magia ou qualquer equipamento mágico e se cair na água está desclassificado e tem que voltar para a fia. O que acham? Conseguem chegar do outro lado?

— E se chegarmos? — questionou Eduardo. — O que ganhamos?

— Vão descobrir se chegarem — respondeu o outro sorrindo.

O grupo que foi com Hugo não conseguiu ir muito longe. Hugo ainda chegou na metade do labirinto, mas escolheu errado a pedra e ficou ilhado, sem nenhuma outra por perto, poucos instantes depois, a pedra em que estava afundou e ele se molhou.

— Vocês são os próximos. Sugiro que tire os óculos jovem.

Roberto obedeceu e guardou os óculos no bolso da calça.

— Não vai arranhar o vidro dos óculos? — Maria questionou.

— Uso o Oculus Reparo depois — ele respondeu.

— Preparados? Vão!

Os jovens saíram e saltaram nas pedras. Pouco depois ouviram os splash de outros alunos caindo na água. Roberto viu pelo canto do olho que Maria estava a duas pedras na sua direita, Eduardo estava três na sua frente à esquerda e Miguel vinha cauteloso atrás dele. Ele viu todos saltando e sorrindo, Maria soltou um pequeno grito quando achou que ia cair e riu da vergonha. Roberto permitiu sorrir, algo que fazia raramente.

No fim do dia, nenhum aluno do primeiro ano consegui atravessar, o que já era esperado pelos alunos do quinto ano.

— E aqui finalizamos nossa competição de hoje. Infelizmente nenhum aluno do primeiro se mostrou capaz de alcançar o fim do Labirinto Sobre as Águas que fez várias vítimas hoje. — Os alunos do quinto sorriam felizes por terem se divertido, os alunos do primeiro ano sorriam também, com as roupas encharcadas. — Mas devemos parabenizar três alunos por terem chegado mais longe. Hugo e Eduardo do Primeiro Ano C e Gabriel do Primeiro Ano A, vamos pedir para que os professores entreguem pontos a cada um de vocês. Uma boa noite a todos!  


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