CASTELOBRUXO - O Início de Uma História escrita por JWSC


Capítulo 23
CAPÍTULO 6 – Encontros na Floresta




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Giuliano olhava pela janela o céu azul.

A sala estava composta quase que inteiramente por bruxos mais velhos, vindos de vários lugares para assistir a palestra. A maioria eram bruxos vindo de países da América do Sul, mas identificou um grupo de três africanos, dois asiáticos e um bruxo que parecia ser europeu.

O tema da palestra era A utilização das Artes das Trevas para a criação dos Ivunches. Giuliano estava particularmente sem interesse em proceder com a palestra. Havia dormido pouco e teria de encontrar-se com os caçadores de recompensa mais tarde. Porém, fez o melhor para explicar o assunto e responder aos questionamentos feitos.

Após a saída de todos da sala, recostou-se em sua cadeira e fechou os olhos, permitindo-se perder-se m pensamentos.

— Professor?

O chamado o despertou de seus devaneios. Abriu os olhos e reparou na figura alta e esquelética na porta da sala.

— Diretor. Em que posso lhe ajudar?

— Parece cansado, Giuliano.

— Tenho dormido pouco. Muitas coisas para pensar.

— Imagino. Gostaria de conversar em particular se possível.

— Sim, com certeza, senhor diretor. Por aqui.

Saíram da sala de aula por uma porta lateral que deu acesso ao escritório particular do professor Giuliano. Era bem decorado com quadro de animais e flores que se moviam como se uma brisa leve caminhasse pela sala.

— Sente-se, por favor — Giuliano indicou uma de suas poltronas que estavam no canto, separadas por uma mesinha de centro de madeira negra.

— Obrigado, Giuliano. Minha idade já não me permite ficar em pé por muito tempo.

O sorriso de Giuliano foi simpático.

— Tem uma bela sala, professor.

— Obrigado. Tento fazer parecer com a casa dos meus pais.

— Eles gostam de quadros e plantas exóticas?

— Sim, meu pai é herbologista e trabalha no Governo. Minha mãe era pintora no Governo.

— Entendo. Meus pêsames, pela morte de sua mãe..

— Não se preocupe, diretor. Pelo que soube ela continuou a pintar, mesmo com o ataque. Ela dizia que aquele quadro seria a obra prima dela.

— Onde ele está agora?

— No Governo. Na entrada do Ministério da Cultura e Arte. Como uma homenagem. Se bem que ela queria que o quadro ficasse no museu em São Paulo, para que todos pudessem ver quando quisessem.

— Entendo.

— Bem, mas em que posso lhe ajudar, diretor?

— Gostaria de compartilhar algumas inseguras que tenho, professor.

— Estou ouvindo, diretor.

— Me preocupa que a escola não esteja inteiramente segura.

— O que quer dizer?

— De um modo geral, está. Me preocupa que estejamos deixando passar algo. Algo óbvio e visível, mas que não estamos dando a devida importância. Talvez por conta de que não tenhamos prestado atenção por algum tempo, um certo descuido e falta de cuidado, se me permite dizer.

— Não compreendo, diretor. Acredito que as defesas da escola estejam em ordem. O professor Luís é especialista no assunto.

— Sim, sim. Ele é e usufrui de minha inteira confiança. Porém, não paro de pensar que estejamos deixando algo passar. Algum canto que não olhamos já faz um tempo.

— O senhor tem ideia de que lugar é este?

O diretor permaneceu em silêncio por algum tempo.

— Lembra-se daquele livro? Aquele que só crianças podem ver?

— O livro do aluno Pedroso?

— Isso. Naquele livro, haviam diversas passagens secretas e caminhos escondidos, certo?

— Sim, mas os mais importantes sempre foram protegidos. Seja pelos funcionários ou pelas magias antigas. Como a Passagem do Tosco, o Arco do Pântano, a Floresta Profunda, o Caminho de Pedra.

— Sim, mas naquele livro haviam meios de ultrapassar estes obstáculos.

— O senhor acha que algum aluno poderia tentar ultrapassar os obstáculos?

— É uma possibilidade. Me assusta a ideia de que, com os desaparecimentos, algum aluno tenha interesse em utilizar algum desses meios para escapar da escola. Sabe como os jovens são impulsivos.

— Entendo. Porém, é impossível localizar o livro. Apenas jovens podem acessá-lo.

— Sim, portanto, devemos buscar outra forma de garantir a segurança deles. Inovando os obstáculos para que sejam um pouco diferente de como estão nos livros. Acho que ainda me lembro de algumas coisas do livro.

— E de que forma eu posso ajuda-lo, senhor?

O diretor sorriu de satisfação.

— Quero que você aplique alguns de seus feitiços, daqueles que utilizava antes.

— O senhor tem certeza? Uma das condições para me dar este cargo foi justamente não utilizar os feitiços, senhor.

— Neste caso abrirei uma exceção, professor. Mas, apenas para que os jovens sejam afastados desses locais, não exagere, por favor. Não quero jovens tendo ataques cardíacos.

O diretor sorriu e Giuliano retribuiu.

— Sim senhor. Farei o melhor, diretor.

— Obrigado, professor. Peço que esta conversa fique somente entre nós.

— Sim, com certeza. Tenha um bom dia, diretor.

— Você também, professor.

O diretor passou pela porta e deixou Giuliano com seus pensamentos. Agora teria que organizar e relembrar os feitiços que utilizava antes. Sentia-se empolgado pela oportunidade, mas receoso dos interesses do diretor.

 

Maria acordou cedo no sábado. Não havia agendado qualquer das palestras ou planejado o dia. Queria apenas ficar na cama mais um pouco, até que todos tivessem saído do quarto. Quando a última garota saiu do quarto, ela parou de fingir dormir e fitou o teto.

As meninas haviam tomado uma postura distante com ela depois da derrota no jogo de bola-quente. Os garotos já não eram uma opção. Até os puerios evitavam aproximar-se dela, ficando no canto mais distante do quarto, observando-a com atenção. As frutas cristalizadas estavam no chão fazia uma semana.

— Maria?

A voz sussurrou de seu travesseiro. Baixa e cuidadosa.

Maria levantou o travesseiro e com pressa puxou o pequeno espelho de mão. Era antigo e sem qualquer enfeite ou adorno. Para olhos inexperientes, não passava de um espelho simples  sem nada de especial.

Porém, para Maria, ele fazia parte dela. Desde que encontrará o objeto , no primeiro dia de aula, a garota havia se apegado a ele. A única coisa que a mantinha ali, o seu único amigo verdadeiro.

— Olá! Você está aí?

— Sim — sussurrou o espelho.

— Fico feliz. Estive só esses dias e queria companhia.

— Desculpe, minha querida — respondeu o espelho. — Estive um pouco ocupada.

— Tudo bem. Agora você está aqui comigo.

— O que se passa com você, minha cara?

Maria repassou os últimos eventos da forma mais completa que conseguiu. Ao final da narração, o espelho permaneceu em silêncio por um tempo.

— Não deve se preocupar com isso, minha jovem. Eles não sabem o que fazem e não te entendem como eu.

— Mas me irrita que eles não tenham feito nada. Só uma reclamaçãozinha. Só isso!

— Não nutra raiva contra eles. Com o tempo eles aprenderão que você estava certa. Aquele garoto quase matou vocês e os fez de refém de um bruxo mal. Não é algo que se esqueça com facilidade e se perdoe.

— Sim, e tudo isso para que? Para que ele possa provar que o pai não morreu da forma que dizem? Provar que ele estava certo? Nossa vida pelo orgulho dele?

— Você tem razão de estar mal com isso, mas não permita que essa situação te atrapalhe na escola. Você precisa crescer e desenvolver suas habilidades mágicas. Não deixe que isso te atrapalhe.

— Gostaria tanto de poder de te ver.

— Foi justamente para isso que eu vim. Consegui achar um meio de nos vermos, minha cara.

— Verdade? Como?

— Preste atenção e faça exatamente como eu te disser. Se tudo der certo, hoje, no fim do dia, nos encontraremos.

— Tudo bem.

O espelho sussurrou as instruções e Maria as ouviu atentamente. Ao final, o espelho pediu que ela repetisse e concordou com as informações.

— Nos vemos em breve, minha querida. Fique bem.

— Obrigada. Até breve.

Maria guardou o espelho embaixo do travesseiro e voltou a deitar na cama. Estava mais leve e calma. Os puerios haviam sumido ou fechado os olhos, nunca se sabia. Ela decidiu levantar-se e fazer o que havia sido encorajada. Pegou suas coisas e saiu do quarto. Algumas garotas olharam para ela quando passou pela sala, mas ela as ignorou.

 

— Vamos lá, alunos. Vocês conseguem.

O professor George incentivava os alunos a produzir água de suas varinhas.

— Vocês devem identificar sua natureza mágica e proferir a palavra corretamente. Aquamenti se for de origem europeia e Ytororoma se for de origem indígena. Vamos. Pensem na água jorrando de suas varinhas e caindo nos baldes. Sintam e queiram que a água jorre. Paulo, não adianta fazer careta para o balde, ele não vai ter medo de você.

O objetivo da aula era preencher os baldes em frente dos alunos com água. Após quase trinta minutos de aula a primeira aluna conseguiu lançar um jorro de água. Elizabeth pronunciou a palavra Ytororoma e fez com que o balde fosse preenchido de água cristalina e limpa.

— Meus parabéns, minha jovem — parabenizou o professor. — Vocês conseguem também, concentrem-se.

O professor aproximou-se do balde da aluna e com um sorriso fez com que a água sumisse.

— Mais uma vez. Até pegar a prática. Vamos todos! Quero ver os baldes cheios.

Mais dez minutos e Miguel conseguiu preencher seu balde usando Aquamenti, outros cinco minutos e Eduardo conseguiu utilizando a mesma palavra. Em seguida vários alunos conseguiram preencher seus baldes com água, o que rendeu pontos para a sala.

Feitiços era a última aula da quarta-feira, o que significava que eles tinham cerca de duas horas livres até o jantar.

Eduardo, Miguel, Hugo e Roberto desceram as escadas internas da pirâmide, em direção ao Saguão Principal. Saíram pela porta que dava acesso aos dormitórios e viraram à direita, pegando o caminho que levava ao campo de quadribol, as estufas e ao Jardim das Estátuas.

— Eu queria terminar o dever de poções — reclamou Roberto. — Não podemos deixar essa aula de vocês para depois?

— Já adiamos muito e você vai gostar — encorajou Eduardo. — O Miguel conhece vários feitiços legais.

— Só alguns, que meu irmão me ensinou — disse Miguel.

— Seu irmão faz parte do Clube de Duelos, não? — questionou Hugo.

— Sim, ele está na categoria intermediária. Ele me ensina alguns feitiços durante as férias. Acreditamos que quando mais preparado para a vida, melhor conseguiremos viver e saber feitiços é sempre bom.

— Na semana passada ele me ensinou o feitiço de reflexo — disse Eduardo animado.

— Feitiço de reflexo? — perguntou Hugo.

— O Reflectum serve para refletir o feitiço lançado. Mas para que ele funcione o bruxo que conjura deve conhecer o feitiço a ser refletido e tê-lo utilizado pelo menos algumas vezes — explicou Miguel. — Caso o bruxo conheça, mas não o tenha utilizado, apenas parte do feitiço é refletido. Se o bruxo não conhecer o feitiço a ser refletido, o Reflectum não funcionará. Quando nós brigamos com aquele do segundo ano, eu consegui refletir parte do feitiço dele, por conhecer o Confundus, mas eu só o lancei umas duas vezes na vida.

— Mas vocês não teriam problemas se caso os guardiões descobrissem o que andam fazendo? — perguntou Roberto.

— Se eles descobrissem sim — respondeu Miguel.

— É que eu pensei que nós poderíamos...

Roberto parou de falar. Os outros garotos perceberam o silêncio repentino e olharam para trás. Roberto estava parado no lugar, fazendo movimentos estranhos com a cintura e os pés juntos, enquanto balançava os braços tentando manter o equilíbrio.

— O que está fazendo? — Perguntou Hugo.

— Eu não sei. Meus pés parecem que estão grudados.

— Grudados?

— Sim, grudados!

A resposta veio da direita, onde quatro jovens surgiam. O mais alto vinha na frente, com expressão de deboche e arrogância. Júlio Garcia tinha um sorriso malicioso no rosto. Atrás deles seus amigos Paulo, Frederico e um jovem roliço de cabelos curtos o seguiam.

— Vejam só, agora são verdinhos — anunciou Júlio. — Parece que a escola deixa qualquer um passar de ano. Que decepção para a comunidade bruxa. Você conhece esse feitiço, não? Locomotor Mortis. Você o usou em Frederico no ano passado, se lembra?

— Eu me lembro — disse Frederico, com raiva.

— Hoje é o dia de vocês pagarem pelo que fizeram e disseram. Acham que vão manchar o nome da minha família e ficar impune?

— O nome de sua família? — questionou Eduardo. — Quem manchou o nome da sua família?

— Calado! Não ouse falar comigo, seu sangue impuro — disparou Júlio.

— Você não tem respeito pelas famílias antigas, impuro? — lançou Paulo.

— Se houvesse algo a se respeitar na família dele, nós respeitaríamos — afirmou Miguel segurando firmemente a varinha.

— O que você sabe da minha família, seu arrogantezinho?

— Sei muito. Meus pais trabalhavam para sua família, nas minas. Sei o suficiente para saber que sua família usa famílias bruxas menores para trabalhar de forma escrava para eles, pagando pouco e fazendo com que se arrisquem demais.

— As pessoas aceitam o trabalho que querem. Minha família não obriga ninguém a ficar nas minas — retrucou Júlio.

— Vocês não deixam escolhas para as famílias menores. Ou trabalham dessa forma ou ficam sem nada.

— Se parassem de choramingar como você e fizessem o deles direito não precisariam trabalhar tanto.

— Seu filho de uma...

— Miguel — chamou Eduardo. — Não faça nada aqui. É o que ele quer. Estamos na frente da escola. Você vai ser suspenso. — Virou-se para Júlio e gritou. — Você é muito bom em provocar os outros, grandão. Se isso é tudo que você quer, conseguiu. Agora pode ir.

— Ah, aí que se engana, impuro — debochou Júlio. — Nós só começamos.

Com um sinal, os três amigos de Júlio correram para onde Roberto estava e o carregaram para fora da pista, entrando na floresta. Júlio correu atrás deles, sendo seguido pelos quatro jovens.

Inflictus! — berrou Miguel na direção de Júlio. Um feixe vermelho surgiu da ponta de sua varinha e voo pela floresta como uma flecha na direção de Júlio. O feitiço acertou um galho acima da cabeça deste, causando uma pequena explosão.

— É tudo que tem, fracote? — zombou Júlio.

— Miguel, pare! — Berrou Eduardo enquanto corriam. — Vamos nos distanciar mais da escola e aí pode disparar.

Por uns dez minutos todos correram, até chegar a uma pequena clareira. Júlio e seus amigos pararam. O roliço tremia e apontava a varinha para a cabeça de Roberto. Os outros dois se posicionaram ao lado de Júlio.

—  Vou ensinar vocês a não contarem por aí mentiras sobre terem me vencido em um duelo — ameaçou Júlio.

— Posso atacar agora? — perguntou Miguel.

— Pode! — gritou Eduardo. — Flipendo!

Eduardo foi seguido por Hugo e Miguel que dispararam seus feitiços contra os alunos mais velhos que se esconderam atrás das árvores.

Flipendo! — Gritou Frederico por trás de uma árvore.

O feitiço passou ao lado de Hugo que correu para a proteção de uma árvore. Eduardo e Miguel protegeram-se atrás das árvores, deixando somente Roberto e o aluno gorducho na clareira.

Roberto percebeu então que suas pernas já se moviam com certa facilidade e levantou um pé para ter certeza. O garoto roliço que prestava atenção no duelo dos outros reparou no movimento e assustou-se. Roberto deferiu uma cotovelada desajeitada no garoto que o soltou no chão. O garoto roliço pareceu um pouco desorientado com tudo, mas decidiu que era melhor esconder-se. Roberto reuniu suas forças e de joelhos foi para a proteção de uma árvore.

Por um momento, todos pararam de disparar os feitiços. A respiração ofegante dos meninos preenchia a floresta.

— Perdeu a prática, verdinho — berrou Júlio. — Da outra vez, conseguiu pelo menos refletir o feitiço.

— Basta sair de trás da árvore que eu posso te mostrar alguns truques novos — desafiou Miguel. A menos que tenha muito medo.

— Medo? Vou te mostrar quem tem medo, seu verdinho de merda.

Júlio saiu de trás da árvore disparando contra a árvore em que viu Miguel esconder-se. Os seus amigos, inclusive o roliço, saíram da proteção e começaram a disparar contra as árvores onde haviam visto os garotos esconder-se.

Miguel ouvia a proximidade dos feitiços. Eduardo era bom com feitiços, mas um tanto inexperiente para o duelo. Hugo era menos experiente e Roberto era o Roberto. Os alunos mais velhos não eram tão bons, mas podiam vencer os outros e depois sobraria apenas ele para enfrentar os mais velhos. Ele precisava pensar em como sair daquela situação. Disparar a esmo não adiantaria de nada. Precisava de um plano e um bom.

Foi então que gritos surgiram do meio da clareira. Os alunos mais velhos assustaram-se com algo. Miguel ouviu o som dos passos dos jovens correndo para dentro da floresta, em direção a escola.

— Essa não — disse Eduardo, olhando para o meio da clareira.

Miguel colocou a cabeça para fora da proteção da árvore e vislumbrou no meio da clareira um grupo de cadejos.

Os cães eram negros, com olhos vermelhos brilhantes e diversas correntes presas ao corpo e as patas. No total eram seis cadejos, dois puggs, um husky, um labrador, um doberman, um cane corso e um pastor alemão. Todos olhavam para Eduardo, que havia se afastado da árvore, mas logo os cães perceberam os outros garotos que moviam-se com medo.

— São... são... cadejos — disse Roberto.

— Como enfrentamos? — perguntou Miguel.

— Luz, acho — respondeu o amigo.

— Vamos nos afastar com calma — sugeriu Miguel.

No primeiro passo que deram, os cadejos rosnaram. Os dois puggs começaram a avançar.

Lumus! — Miguel apontou a varinha para cima.

A ponta da varinha emitiu a luz brilhante, iluminando ainda mais os dois cadejos que vinham, porém, não pareceu fazer qualquer efeito neles.

— Não tá funcionado, Beto — comentou Miguel.

— Então a gente corre! — Respondeu o garoto e disparou pela floresta.

Os outros garotos correram atrás de Roberto. Eduardo olhou para trás e viu os cadejos vindo, mas já não eram cães completos, eram cabeças envoltas em uma espessa fumaça negra com correntes tilintando pela floresta. Os olhos vermelhos brilhavam em meio a floresta que já escurecia.

Os jovens dispararam pela floresta, sem rumo, apenas correndo o máximo que podiam. Foi então que chegaram a um local aberto. Sem árvores por alguns metros a frente, apenas uma floresta um pouco distante. Correram pelo campo aberto, saindo da floresta.

— Esperem — disse Hugo. — Olhem.

Na floresta era possível ver as figuras dos cadejos movendo-se. Ora cães inteiros, ora cabeças flutuantes. Eles permaneciam abaixo da proteção das árvores, observando os garotos.

— Eles não vão vir? — perguntou Eduardo ofegante.

— Parece que não — disse Hugo.

— Eles não podem sair da floresta — comentou Miguel.

— Pessoal, vejam — chamou Roberto.

Os amigos foram até onde o amigo estava. No chão na sua frente havia um círculo de grama morta.

— Foi aqui que Maria estava — comentou Hugo.

— Então aquela é a floresta que canta — disse Miguel, olhando para as árvores mais a frente de onde estavam.

— O que fazemos agora? — perguntou Hugo, olhando para a floresta, onde os olhos brilhantes os observavam.

— Vamos esperar um pouco — disse Miguel. — Não parece que eles vão vir. Quem sabe desistem e vão embora.

— Maria? — disse Roberto de súbito. — Aquela é a Maria?

Todos olharam para onde ele apontava. No canto mais distante, a direita. Onde a floresta cantante e os muros da escola se encontravam, eles viram uma jovem caminhando.

— Vamos! — Chamou Eduardo.

Os jovens correram para onde a garota estava. Ao se aproximarem perceberam que era Maria. Ela andava em direção a floresta cantante, mais precisamente para algum ponto entre a floresta e o muro da escola.

— Maria! — Gritou Eduardo.

A garota olhou para eles e então um braço surgiu por trás de uma árvore. Era branco e longo, com dedos finos e unhas brancas como osso. A parte superior do braço possuía um aspecto esverdeado, como se descascasse.

Os jovens pararam assustados ao ver o braço. Estavam perto o bastante para que a garota os visse e ouvisse.

— O que está fazendo, Maria? — Perguntou Hugo.

— Venha — disse uma voz vinda da floresta.

Maria virou-se para o braço e voltou a caminhar.

Um arrepio tomou conta do corpo de Eduardo e ele correu para a amiga.

— Não, Maria!

Antes que pudesse aproximar-se mais, ele sentiu seu corpo ser empurrado por uma ventania que surgiu em sua frente. Teve seu corpo arremessado para trás e caiu de costas no chão. Maria continuou a andar para o braço estendido, com os olhos semicerrados, quase como um sonâmbulo.

— Maria! — Chamou Hugo, mas a garota ignorou o chamado e apertou a mão branca.

A mão a puxou para dentro da floresta com calma. Maria foi conduzida para dentro da floresta cantante, caminhando calmamente. Ao seu lado, uma figura alta e encapuzada segurava sua mão, guiando-a em meio aos galhos e árvores.

— Vamos! — Chamou Eduardo.

— Não é melhor chamar alguém? — disse Roberto.

— Não dá tempo, vamos — respondeu Hugo, entrando pelas árvores.

Os garotos começaram a correndo, seguindo o caminho de terra, por onde Maria havia entrado. Já não sabiam o quanto haviam adentrado a floresta quando uma neblina surgiu pelo chão. Vinha de todas as direções e logo tomou o chão todo, cobrindo os pés dos jovens. As copas das árvores começaram a mover-se, como se uma ventania estivesse passando por elas, porém, ao invés do som do vento, surgiu uma melodia.

Parecia com uma cantiga de ninar, calma e suave, ritmada. Os jovens continuaram a caminhar. Já não viam o caminho de terra e a neblina ocultava o solo, fazendo com que tropeçassem e caíssem.

— Onde estamos? — Perguntou Roberto após levantar-se de um tombo.

— Não sei — respondeu Miguel. — Isso é estranho, parece que...

— Ali! — disse Eduardo. Havia um campo aberto em frente de onde estavam.

Os garotos apressaram-se na direção onde a floresta acabava. Sentiram-se aliviados ao saírem da cantoria.

— Finalmente saímos — Roberto sentou-se no chão cansado.

— Onde estamos? — Perguntou Eduardo.

— Pessoal, olhem — Miguel apontou para um ponto, alguns metros acima.

Havia uma porção de grama morta, alguns metros à frente. Mais para frente, havia um homem parado, olhando os jovens e atrás dele, a floresta onde antes haviam cadejos.

O homem aproximou-se dos garotos, com uma expressão severa no rosto.

— Espero que tenham uma boa razão para terem entrado na Floresta Cantante — disse o professor Giuliano. — Agora, venham em silêncio para a escola. Já perderam o jantar. Nem adianta reclamarem, vocês estão com grandes problemas.


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