CASTELOBRUXO - O Início de Uma História escrita por JWSC


Capítulo 22
CAPÍTULO 5 – Bola Quente




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A Floresta Profunda, assim como foi nomeada pelos povos antigos, guarda diversos segredos e relíquias de seu passado. Atualmente, estima-se que apenas um quarto de sua imensidão seja conhecida e dentro deste, somente três quartos foram explorados pelos bruxos. Há partes da floresta em que outras criaturas como caiporas, puerios e graminions não se aventuram. Regiões onde capelobos, gorjalas, moñais e outros tomaram como sua residência.

Contudo, há um ponto, no meio da floresta que é dito como o divisor entre o conhecido e desconhecido. Essa região possui uma imensidão de árvores próprias e de habitantes únicos, de modo que recebeu nome próprio. É chamada de a Floresta dos Sussurros. Uma floresta triste e deprimente, com pântanos lodosos e árvores de aspecto melancólico, sendo o local de permanecia para as almas daqueles que morreram e não conseguiram realizar a travessia.

Pouquíssimos seres se aventuram em tais terras, pois há muito tempo que se teme os fantasmas e espírito. Dizem as lendas que somente a antiga raça dos Encantados, em suas dezenas de formas, conseguem adentrar a floresta e sair sem sofrer ataques dos espíritos.

Em meio a essa floresta, através de um córrego arenoso, uma alma chora baixinha enquanto olha para dentro de uma gruta. Ela não ousa aproximar-se, pois o ser que ali habita é antigo e poderoso, sendo capaz de lhe causar mal.

Mas a pequena alma soluçante não conseguia deixar de sentir pena e agonia pelas vítimas que eram levadas para o interior da gruta. Sempre eram trazidas de bom grado, aparentando uma felicidade inocente, porém assim que adentravam o interior mais profundo da gruta, ouviam-se choros e pedidos de socorro. Estes não duravam mais do que breves momentos, sendo silenciados de forma rápida e eficiente.

Na noite anterior, o ser havia trazido a quinta criança para a gruta e a pequena alma somente se questionava quanto ao tempo ainda se passaria até que alguém fizesse algo a respeito.

— Alguém virá fazer algo, alguém virá fazer algo — dizia a pequena fantasma para si mesma, com esperança de que em algum lugar, alguém ouvisse seu lamento.

 

Os meninos esperaram até o fim da aula. Não era sempre que Maria ia para o local das árvores cantantes, então eles tiveram que se esconder e aguardar de forma diária.

— Ela não vem — disse Roberto.

— Shhh... Não fala alto — advertiu Eduardo.

— Vamos esperar mais uns minutos — recomendou Hugo.

— Acho que ela não vai vir. Vou entrar — disse Roberto.

— Não, espera — Eduardo segurou o amigo pelo ombro. — Espera mais um pouco. Ela vai aparecer.

— Vocês acham mesmo...

Roberto foi silenciado pela mão de Eduardo no momento que Maria saía da pirâmide. Ela caminhou pela estrada que ligava a escola às estufas, ao Campo de Quadribol e ao Jardim das Estátuas.

— Vamos — chamou Miguel e os jovens acompanharam Maria, a uma distância em que ela não pudesse vê-los.

Às vezes a jovem sumia da vista, como se evaporasse, nestes casos os meninos se embrenhavam em meio as árvores com caiporas e avançavam rápido, seguindo o caminho da estrada, até ver a jovem.

Depois de algum tempo andando, Maria mudou sua direção, antes de chegar ao Jardim das Estátuas, entrando no meio das árvores. Aqui o silencio reinava absoluto, e os jovens tiveram que se esforçar para manter o caminho seguida por Maria sem chamara a atenção desta. Depois de alguns minutos, eles chegaram ao campo aberto.

Maria se encaminhava para o local onde havia se sentado e acomodou-se na grama. Os garotos não saíram da floresta, apenas buscaram um local confortável para esperar.

Passou-se cinco minutos, dez, vinte, trinta minutos e não houve qualquer sinal da pessoa encapuzada sair da floresta, bem como as árvores não cantaram. Permaneceram em silêncio durante todo o período. Quase uma hora de espera depois, Eduardo viu algo se mover entre as árvores do outro lado do campo.

— Gente, olhem. Ali, estão vendo.

O que parecia ser uma sombra andando entre as árvores tomou forma e volume. A pessoa encapuzada surgiu entre as árvores e caminhou pela grama. Era lata, maior do que qualquer pessoa que já tivessem conhecido. Sentou-se ao lado de Maria e começaram a conversar.

Passados cinco ou dez minutos de conversa, a pessoa levantou-se e acenou com a cabeça para Maria, retornando para o meio das árvores. Maria aguardou um pouco e depois levantou-se, entrando pelo meio das árvores em direção a escola. Os garotos aguardaram um tempo em silêncio e logo tomaram o rumo da escola.

— Quem era? — perguntou Hugo.

— Eu não sei — respondeu Miguel.

— O que eles conversaram? — questionou Eduardo para ninguém em especial.

— Deve ter sido algo rápido, viram como a Maria voltou? — comentou Roberto.

— Como? — perguntou Eduardo.

— Com raiva! — disse Maria, alguns metros à frente dos jovens.

— Maria... — Eduardo não conseguiu completar.

— Agora estão me espionando?

— Não é isso — defendeu-se Hugo. — Nos só estávamos preocupados.

— Preocupados? Com o que? Eu não vou levar vocês para enfrentar uma criatura perigosa.

— Maria, não é assim — começou Eduardo.

— E como é? Não basta não me apoiarem ainda desconfiam de mim?

— Nós te apoiamos — rebateu Miguel. — Entendemos o que houve.

— Não, não entenderam. Vocês não viram. Os dois estavam perplexos lá, não conseguiam fazer. Estavam em pânico enquanto aquele homem derrubava um a um os aurores e patrulheiros. Ele nos enfeitiçou para que fôssemos forçados a andar na frente dele, como escudos e sabe-se lá mais o que faria se não fosse a chegada do diretor. E tudo isso para que?

Os jovens permaneceram em silêncio.

— Depois, eu tive que entrar naquele lugar, onde aquela besta estava. Eu vi o fogo ser jogado em cima do Eduardo e depois ele sumir. Sei que foi o diretor, mas o que eu devia pensar na hora? Nós quase morremos lá e para que? Valeu a pena?

A pergunta foi direcionada para Roberto, que permanecia de cabeça baixa.

— Não está sendo justa, Maria. Ele se desculpou — Miguel defendeu o amigo.

— Ele se desculpou? Só isso? Umas desculpas gerais? Para todos? Ele sequer faz ideia do que houve? Do que ele nos fez passar? Ele entende, Miguel?

— Ele está tentando...

— Tentando o que? Não nos colocar em outra dessas situações? Ou tentando esquecer e fingir que nada aconteceu como vocês fazem?

— Maria, por favor — pediu Hugo.

— Não, eu estou cansada disso. Não quero mais isso.

— Por isso buscou ajuda com um estranho? — disparou Miguel.

— Esse “estranho” que você diz, me ouviu e me apoiou. Por conta dela eu continuei a estudar. Ela me ajudou mais do que qualquer um de vocês.

— E quem seria ela? — questionou Miguel.

— Alguém que eu não apresentaria a vocês.

— Você também não sabe quem é e está sendo tão imprudente quanto o Roberto foi. Você está sendo injusta com ele, Maria.

— Eu não acredito que você ainda defende ele!

— Pense bem, Maria — disse Eduardo. — Você não conhece essa pessoa. Nós não conhecemos, pode ser aliada daquele bruxo.

— Vocês são impossíveis. Eu estou cansada e com sono. Vou voltar para a escola e não quero mais vocês me seguindo. Tchau!

A jovem virou-se e correu para a escola. Seus olhos já estavam marejados e a visão estava embaçada, mas ela não se importou. Continuou correndo até o dormitório. Subiu as escadas e empurrou a porta do dormitório 2-B, antes que o rosto sequer se movimentasse.

— Cuidado, minha jovem — disse a carranca com expressão de um velho de monóculo.

 Maria entrou no dormitório feminino e desabou na cama. Somente tirou os sapatos e escondeu as lágrimas no travesseiro. Adormeceu e teve um sonho onde saia da escola, ia para a floresta e no meio dele havia uma casa bonita, como em um conto de fadas. Com cerca de madeira e um jardim florido. Na porta, uma mulher sorridente a aguardava e chamava, com um sorriso no rosto. Dentro da casa, o pai e a mãe sorriam, bebiam e comiam, como a tempos Maria não via fazerem. Foi o sono mais doce que a jovem tivera em tempos.

 

Os primeiros raios de sol surgiram no horizonte, iluminando os terrenos da escola e as paredes amareladas da grande pirâmide. Era uma manhã de sábado e o tempo começava a esfriar conforme o inverno chegava, porém, os alunos do segundo ano não puderam desfrutar daquele momento de calma.

Como era costume, os alunos do sexto e sétimo ano convocaram os alunos do segundo ano para a brincadeira matinal que ocorreria. A maioria dos alunos do segundo compareceram, uma vez que os ganhadores arrecadariam pontos para a sua sala.

Não haveria treino de quadribol naquela manhã e os alunos se organizaram sentados de frente a pequena comitiva de alunos do sexto e sétimo ano. Um dos alunos do sétimo ano, com a rã de Tromero cozida em tons de roxo escuro e preto na camisa branca, ao lado das iniciais da escola em esmeralda CB, adiantou-se e começou a falar:

 — Bom dia, crianças! — Sem esperar uma resposta ele virou-se um pouco para o lado. — E professores.

Cerca de seis professores haviam comparecido naquela manhã. A professora de voo e chefe da equipe de quadribol, Antonieta, a professora Ana Catalina, o professor Luís, de defesa pessoal, o professor Francisco, de aritmância, o professor George, e a professora Betânia, de estudo das artes das trevas.

— Nesta manhã de sábado realizaremos a segunda gincana dos alunos do segundo, a qual renderá pontos para a sua sala. A gincana de hoje será um jogo de bola quente. Vocês serão divididos em times, sendo um azul e o outro vermelho. Mesmo que a maioria conheça o jogo, eu vou repetir as regras. — Ele puxou de dentro de uaa caixa uma bola de retalhos negra, costurada com um fio prateado. — Essa é a bola que deve ser passada entre vocês. Cada time usará uma luva especial com a determinada cor da equipe. Quanto mais tempo você segurar a bola mais ela assumirá a cor da luva, mas, como já sabem, quanto mais tempo ela permanecer na mão de uma pessoa, pior será segurá-la. O time que manter a bola por mais tempo em seu poder ganha. Cada partida terá quinze minutos.

O garoto afastou-se e uma jovem do sexto ano assumiu sua posição.

— Para a gincana de hoje, a professora Antonieta nos concedeu vassouras especiais para treino. Elas não se elevaram mais do que um metro do chão e esse será parte do desafio. Não vale golpes em pessoas que não estejam segurando a bola, nem puxões de cabelo ou golpes baixos que sejam somente para machucar. Varinhas estão proibidas e outros instrumentos mágicos. Cada sala irá se organizar em times de até oito integrantes nos próximos cinco minutos. Vamos!

Os alunos logo começaram a conversar e formar os times. Os alunos do sétimo ano se posicionaram junto aos professores e os do sexto ano permaneceram próximos aos alunos, sendo os juízes da gincana.

— Pronto! Vamos, formem uma fila para cada time, da direita para a esquerda. Segundo ano A, B, C, D e E. Vamos! Vocês não sabem de ordem alfabética? Menina, não há sala meio termo, ou você é do C ou do D.

Após alguns empurrões e desorganização foram formadas as filas. O segundo ano A formou três filas, duas de oito alunos e uma de quatro, o B formou duas filhas de oito alunos, o C uma fila, o D uma fila de oito e uma de cinco e o E duas filas de oito.

— Vamos! — Chamou a jovem e desceram as arquibancadas, indo para o campo. — Como formaram dez times, faremos duas rodadas. O sorteio das equipes se dará da seguinte forma. Um capitão de cada time irá retirar uma esfera da caixa. As esferas iguais serão os times que vão se enfrentar. Caso o seu time rival seja da mesma sala, todas as esferas serão devolvidas e o sorteio refeito. Entenderam? Venham os primeiros capitães do A.

Após alguns minutos todos os capitães tiraram as esferas e os times estavam escolhidos. O primeiro jogo iniciou-se com um time da sala A enfrentando um da sala D.

Hugo, Eduardo, Roberto e Miguel ficaram no mesmo time, junto com outros alunos de sua sala, incluindo Maria, que se manteve o mais distante o possível dos garotos.

— Você acha que ela está bem? — perguntou Roberto.

— Acho que sim — respondeu Eduardo.

— Não pensa muito nisso, Beto — aconselhou Miguel. — Logo ela vai entender tudo e voltar ao normal.

— Mas e se ela estiver falando com aquela... pessoa? — cochichou Hugo.

— Alguém tem visto ela sair para a floresta? — questionou Eduardo.

Todos negaram.

— Mas não significa que ela não esteja indo escondida — comentou Hugo.

— Acham que devíamos verifica? — perguntou Eduardo.

— Não, acho melhor não — disse Roberto.

— Logo as coisas vão se arrumar — disse Miguel. — Tenham calma.

A partida estava quase para terminar quando Miguel notou algo curioso junto aos professores.

Enquanto os professores e alguns alunos do sétimo ano pareciam avaliar o desempenho dos jogadores, acima deles, alguns alunos do sétimo pareciam cochichar e anotar coisas em um bloquinho. De vez em quando um deles apontava para algum aluno ou time e apontava para o caderno, mostrando números.

— Parece que estão apostando na gente — comentou Miguel.

— Os professores? — disse Hugo.

— Fala mais baixo — aconselhou Miguel. — Não, os alunos do sétimo ano.

— Apostando? Isso é permitido? — perguntou Eduardo.

— Pelo jeito, não — respondeu Miguel. — Eles estão um pouco afastados dos professores e falando baixo.

— O que será que apostaram no nosso time?

Logo o jogo acabou e o time dos garotos foi chamado ao campo. Todos montaram nas vassouras de treino e calçaram as luvas azuis. Todos ficaram em formação de V, com os capitães em frente. A jovem do sétimo ano estava com a bola nas mãos.

— A partida irá começar! Se preparem! Vão!

Ela jogou a bola em direção ao meio do campo. Os capitães dos dois times dispararam na frente em direção a bola. Eduardo conseguiu pegar a bola antes que seu adversário a alcançasse e disparou de volta para os seus colegas. Poucos segundos após pegar a bola ele sentiu a mesma chiar baixo. A bola esquentou de forma gradual em sua mão e quando começou a ficar realmente quente, cerca de três segundos após segurá-la, ela começou a disparar pequenos choques em sua mão, como agulhas espetando.

— Ai! — disse Eduardo antes de jogar a bola na direção de Hugo.

O amigo pegou a bola e voou em direção a um colega, porém, um adversário entrou em seu caminho e ele teve que mudar a rota. A esfera aqueceu e começou a disparar descargas elétricas. Hugo teve que jogá-la para cima e para trás, pois já aguentava segurar a bola quente. Apenas uma pequena parcela da esfera, do tamanho de um polegar, apresentava a cor azul.

Uma garota do time adversário pegou a bola e voou na direção de seus amigos. Maria a interceptou e bateu na mão da garota, fazendo com que ela derrubasse a bola no chão. Atrás delas outra garota do time vermelho pegou a bola do chão. Miguel saiu atrás da garota e quando ela não aguentou segurar a esfera jogou para um amigo. O garoto pegou a bola e jogou para outro colega vermelho, mas a bola foi pega no ar por Beatriz que voou na direção de Eduardo e jogou para ele quando já não aguentava segurar.

Eduardo disparou para a direita, onde haviam poucos alunos, sendo seguido de perto pelo capitão do outro time. Quando a dor começou a ficar muito grande ele buscou alguém. Na sua frente ele viu Maria, voando sozinha. Ele aproximou-se dela e quando estava próximo jogou a bola para ela. A bola passou a centímetros do braço dela, mas a jovem não fez esforço para mover-se, deixando que a bola caísse na grama.

Um garoto do time vermelho pegou a bola e continuou o jogo.

Eduardo parou e observou Maria. Ela olhava em desafio para ele e em seguida retornou para os outros.

— Parece que alguém do seu time não gosta de você — disse o capitão do time adversário.

Maria continuou o jogo se recusando a aceitar pegar a bola lançada por qualquer um dos garotos, sendo que os mesmos desistiram de jogar a bola para ela. Ao fim da partida, o time vermelho ganhou.

Após todos os times jogarem foi feita a segunda rodada de partidas, onde o time dos garotos enfrentou um time do segundo ano A. Novamente eles perderam, sendo que Maria se recusou a pegar a bola jogada por qualquer um dos quatro garotos. O time campeão foi do segundo ano A, seguido do C e do E.

Ao saírem do campo, Maria passou ao lado deles, fitando a pirâmide de forma determinada.

— Vamos verificar. Apenas para saber que está tudo bem — sugeriu Eduardo.


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Notas finais do capítulo

Desculpem o hiato gente!
Muitas coisas acontecendo, mas acredito que o ritmo vai voltar.
Uma boa leitura :)



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