CASTELOBRUXO - O Início de Uma História escrita por JWSC


Capítulo 20
CAPÍTULO 3 – Curiosidade




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A mulher caminhou até o centro do vilarejo.

— Inara! Inara! Inara!

Logo seus gritos chamaram a atenção de outros residentes que saíram de suas casas, curiosos com o chamado da mãe.

— Mara, o que foi? — perguntou uma senhora, vizinha da mulher.

— Inara, não sei onde ela está. Alguém a viu?

Todos negaram, uma negativa que apertou o peito da mãe e a vez vacilar.

— Calma, Mara — disse a senhor com a mão no ombro da mulher. — Vamos encontrá-la. Pedro! — um garoto gordinho aproximou-se. — Chame seus amigos e procurem Inara no campinho. Acalme-se, Mara, os meninos vão achá-la, ela deve estar brincando por aí.

A senhora levou a mãe para dentro da casa, enquanto os residentes cochichavam e comentavam o ocorrido.

 

Alguns metros de distância da vila, a jovem Inara olhava o fluxo do rio, sentada em uma pedra a beira rio. O rio separava a parte da Floresta Profunda em que as vilas estavam instaladas da Floresta dos Sussurros, na outra margem.

— Ela não me deixou brincar ontem — disse a menina para a água.

— Por quê? — a voz veio em resposta, quase um sussurro.

— Não sei. Ela não me deixa mais sair para brincar quando escurece. Mesmo na casa da minha amiga.

— Mas por quê? Você é uma boa menina, não?

— Sim, sou uma boa menina. Mas como dizem, nem sempre ser bonzinho é bom.

— Não, minha jovem. Você é doce e delicada, não deve pensar assim. Uma jovem e talentosa bruxa como você tem todo um futuro grandioso pela frente. Quantos anos já tem?

— Tenho nove.

— Logo poderá entrar em uma escola de magia e ser grandiosa. Quando estiver lá, poderá andar sem ter medo. As escolas são bem protegidas e te ajudam a melhorar o grande talento que tem.

— Não sou tão boa com magia.

— Não sabe o que diz. Me mostre um pouco e me deixe julgar.

A jovem levantou-se e puxou a varinha de treino das vestes. Fez um movimento pouco preciso e disse endi. A pequena esfera brilhante oscilou no ar, produzindo pouquíssima luz. Fraca demais para se manter, a esfera sumiu poucos segundos depois de surgir.

— Viu? Quase não parece um feitiço.

— Mas parece muito bom para uma garota de nove anos, minha cara — disse a voz de modo encorajador. — Somente precisa ser lapidada, ter um aperfeiçoamento.

— Como?

— Se quiser, posso lhe mostrar algumas técnicas e truques.

Uma mancha negra surgiu do fundo do rio, permanecendo próximo da superfície da água. Em seguida, algo branco e longo estendeu-se para fora da água. O braço possuía a parte interna branca como gelo e a parte superior esverdeada e escamosa. A mão branca abriu-se com suavidade, expondo dedos longos e finos, com unhas brancas como leite.

— Se quiser, eu posso te mostrar muito.

A mão aproximou-se da margem, com calma.

— Mas minha mãe, ela não vai querer.

— Mas se você melhorar e mostrar para ela que pode cuidar de si com a magia, ela não iria lhe valorizar? Quem sabe, até te deixar brincar mais vezes. Não seria bom? Poder cuidar de tudo e todos sozinha?

— Sim, seria. Você acha que consigo?

— Apenas você pode me dizer isso, minha cara. Você consegue?

A mão esbranquiçada estendeu-se e aguardou próxima a margem.

A jovem garota olhou ao redor, respirou fundo e caminhou entrando na água. A correnteza tentava puxá-la, mas ela se esforçou para continuar em frente.

Quando chegou perto da mão, a água alcançava seus joelhos. Ela olhou para a mancha negra submersa e para a mão, em seguida para sua varinha de treino e decidiu-se. Apertou a mão branca e selou o seu destino.

 

 

— Levantem as varinhas e apontem para as esferas. Isso, bem na mira, sem tremer a mão, mocinha. Não queremos que bote fogo na sala de aula. Isso, muito bem. Agora, os senhores devem proferir o encanto para produzir fogo. Mentalizem o calor e a chama saindo da ponta de sua varinha. Sintam o calor e desejem que esse calor surja. Quando acharem que sentiram o calor, digam o feitiço.

Os jovens alunos começaram a proferir o feitiço e balançar as varinhas. Variavam entre usar a palavra Tatá ou Incendio, deixando que seu instinto identifique a palavra certa. Faíscas saltaram de algumas varinhas e algumas pequenas explosões ocorreram, mas nada muito significativo.

— A palavra proferida deve ser tocada e sentida pelos senhores — continuou George, o professor de Feitiços que os havia acompanhado no primeiro ano e agora lecionava para os alunos do segundo ano B. — Assim, como já devem ter visto em Teoria da Magia, vocês possuem sangue europeu, africano, indígena e de outras ramificações mágicas. Desse modo, os senhores devem tentar as palavras mágicas que despertem o íntimo de sua magia. A palavra “Tatá” significa fogo no idioma indígena tupi antigo e se sua natureza magica estiver mais ligada aos feiticeiros nativos, está será a palavra que despertará a sua essência com mais facilidade. Contudo, caso sua essência mágica seja europeia, a probabilidade da palavra “Incendio” despertar o efeito é maior. Vamos, experimentem, descubram a sua natureza mágica.

Os alunos continuaram a treinar por alguns minutos sem resultado, com o professor auxiliando-os. Após alguns minutos, uma das esferas se incendiou e, como esperado, Elizabeth estava de frente para a esfera, tendo proferido o feitiço “Tatá”. A esfera queimou brilhante por alguns instantes e em seguida as chamas se desfizarm, tornando a fica imóvel no ar, esperando para ser queimada novamente. Miguel incendiou a sua esfera pouco tempo depois dizendo “Incendio”. Maria foi a terceira a conseguir incendiar sua esfera, usando a palavra “Tatá”.

O restante da aula correu tranquilo, de modo que ao final todos os alunos haviam conseguido incendiar suas esferas, alguns com certa dificuldade.

— Bem, darei apenas dez pontos para a senhorita Elizabeth e dez para o senhor Miguel, pois, conforme conversamos no início da aula, apenas aqueles que conseguissem incendiar as esferas antes de decorridos vinte minutos de aula receberiam pontos. Se esforcem mais na próxima aula. Sugiro que estudem sobre um líquido essencial para a vida, pode ser o foco da nossa próxima aula. Uma boa tarde.

O som de sino anunciou o fim do quarto período e da última aula do dia, deixando o período de três horas livre até o jantar. Os alunos saíram da sala de aula de feitiços, localizada no segundo andar, onde um pequeno tumulto de alunos se estabeleceu.

— O que vão fazer? — perguntou Eduardo.

— Acho que vou terminar o dever de Trato da Fauna Mágica — comentou Roberto.

— Não, vamos fazer algo melhor, mais animado. Tem jogo de quadribol hoje?

— Acho que não — respondeu Hugo. — Esse ano terá menos jogos, já que os quatro melhores times da escola estão participando do Campeonato Interescolar.

— Podemos ir no prédio anexo de estudos — sugeriu Eduardo. — Lá não tem o museu de artefatos das trevas?

— Seria interessante, mas nós podemos entrar? — questionou Miguel.

— Acho que sim, vamos tentar. O que me dizem? — Eduardo estava ansioso.

— Ok. — Confirmou Roberto.

— Tudo bem. — Miguel concordou.

Hugo apenas balançou a cabeça.

— Acho que vou descansar um pouco — disse Maria. — A gente se vê depois.

— Tem certeza? — perguntou Eduardo, mas a jovem já havia descido as escadas. — O que tem ela?

— Não sei, mas vamos? — Chamou Hugo.

Miguel olhou de canto para Roberto que estava de cabeça meio baixa. Pelo jeito ele e Maria ainda não tinham conversado sobre o que sentiam. Ele tocou o braço do amigo e o chamou para acompanhar o passo dos outros.

— Vamos.

 

O Prédio Anexo de Estudos, oficialmente chamado Edifício de Estudos Específicos Prof.. Pablo Hernandez, era uma construção nova nos terrenos da escola, construído em homenagem ao professor Pablo que proporcionou avanços significativos no estudo de estudos das artes das trevas na escola. Era composto por dois edifícios conexos, sendo uma torre de pedra negra e um anexo térreo em forma de quadrado, sendo este construído de tijolos e madeira cinzento. No topo da torre haviam quatro gárgulas, cada uma virada para um ponto cardeal. Muitos alunos juravam que as gárgulas se moviam e que alçavam voo em noites de chuva, mas nenhum funcionário ou professor jamais confirmava a história.

O prédio servia de sala de aula para as matérias de estudos das artes das trevas e defesa pessoal, possuindo ainda o Museu de Artefatos das Trevas e a Biblioteca Confidencial.

Os alunos do quarto ano, com o lobo-guará laranja estampado nas camisas, saíam do prédio, tendo terminado sua última aula do dia. Os jovens passaram pelos alunos do quarto ano e entraram no prédio. Assim que passaram pelo portão de entrada, se encontraram em uma câmara com quatro janela e lotado de quadros nas paredes e vasos de plantas em cores escuras.

Haviam duas portas de ferro negro no lado oposto da entrada e entre elas uma bancada com uma recepcionista.

— Bom dia, alunos, em que posso ajuda-los? — A moça sorriu, fazendo-a ficar ainda mais bela para os meninos que pararam no lugar. Era jovem devia ter por volta de vinte anos, de pele morena, olhos claros e cabelo cacheado caído nos ombros.

Hugo deu uma leve cotovelada em Eduardo.

— Eu... é... bem... Então...

A jovem sorriu e aguardou pacientemente.

— Eu queria... Nós queríamos... Queríamos ver o museu, se possível.

— Infelizmente, apenas a partir do terceiro ano que vão poder visitar o museu. Desculpem.

— Ah, não... tudo bem. Obrigado. Nós vamos... é...

A porta de ferro do lado esquerdo da jovem abriu-se com força e um homem a atravessou. Vestia-se em tons de cinza e parecia nervoso. O professor Giuliano aproximou-se da bancada e colocou a maleta negra sobre a bancada, enquanto assinava um documento que tirou das vestes.

— Vou sair e não retornarei hoje. Caso o diretor venha me procurando entregue essa pasta para ele. — Colocou o documento que acabou de assinar dentro de uma pasta de couro e entregou para a jovem. — Caso ele não venha, lance um feitiço para selar e deixe em sua gaveta. Entendido?

— Sim, senhor.

A jovem apressou-se a guardar a pasta em uma das gavetas com cuidado. O professor não havia notado a presença dos jovens até aquele momento, o que o fez franzir as sobrancelhas.

— O que essas crianças verdes estão fazendo aqui?

— Eles só queriam ver o museu. Eu já disse que não tem autorização.

— Muito bem. Podem ir crianças, não tem nada para vocês aqui. Vão!

Os jovens rapidamente saíram da câmara, batendo a porta.

— O senhor não deveria ser assim com eles — disse Regina. — Eles são só jovens e estão curiosos.

— A curiosidade é boa, mas deve ser tratada com cautela. Caso não saiba, a curiosidade daqueles jovens os fez causar um tumulto muito grande no fim do ano passado.

— Foram eles?

— Sim. A curiosidade deles quase os matou e causou um grande estrago. Devemos tomar cuidado com a nossa curiosidade às vezes.

O professor olhou de modo significativo para a jovem que apenas concordou e se recostou em sua cadeira.

— Bem, estou indo. Até amanhã, Regina. Tranque tudo quando sair.

O professor saiu pelo portão. Regina olhou para a gaveta onde estava a pasta e um arrepio correu sua espinha. Ela se recompôs e voltou a preencher as folhas de autorização para o dia seguinte.

 

Maria caminhou até a porta da cozinha, indo em direção aos dormitórios. Assim que percebeu que os jovens não estavam seguindo-a, começou a caminhar em direção ao Jardim das Estátuas.

O caminho formado de ladrilhos largos era norteado por diversas árvores, onde os caiporas brincavam, comiam e dormiam de forma tranquila. Todo o terreno da escola era coberto por árvores distantes umas das outras o suficiente para não parecer uma floresta fechada, mas próximas o bastante para que os caiporas saltassem entre elas.

A jovem se sentiu andando por um bosque calmo, no fim do dia. Uma brisa suave passava pelos ramos altos e anunciava uma noite fresca. Os caiporas daquela região estavam cochilando no alto, alguns pendurados de cabeça para baixo, roncando e emitindo sons enquanto dormia. Em outra árvore, dois caiporas se chutavam enquanto dormiam e outro mastigava de forma sistemática metade de uma maçã.

A brisa soprou novamente, passando pelos cabelos da jovem. Uma melodia baixa e sentimental acompanhava o vento. Por um momento ela achou que era sua imaginação acompanhando o ritmo da tarde, contudo, na segunda vez que a brisa passou ela percebeu que de fato havia uma melodia baixa.

O Jardim das Estátuas surgia no topo da pequena colina, contudo, a melodia não vinha de lá, mas de um lugar a esquerda dele, longe, em meio as árvores. A jovem saiu do caminho de ladrilhos e adentrou em meio as árvores. Logo não haviam caiporas nas árvores. Depois de uma hora de caminhada, com o aumento gradual da melodia, ela chegou em uma região onde as árvores diminuíam de tamanho e se tornavam mais próximas umas das outras. Ao atravessar os ramos baixos ela se viu em um campo aberto que separava as árvores da escola de outra floresta.

As árvores do outro lado se moviam de forma calma e a melodia ali estava mais alta. Maria aproximou-se mais e ficou surpresa ao reparar nas árvores. A melodia não vinha da movimentação dos ramos, bem como não havia vento ali. As árvores cantavam a melodia triste e sentimental, com rostos esculpidos nos troncos. Expressões velhas e sábias que moviam os lábios com cuidado, gerando o som que ouvia.

Maria sentou-se próximo as árvores e ali ficou, ouvindo o som que as árvores produziam até que a noite caísse. Quando o breu noturno se estabeleceu, as árvores pararam de cantar e pareceram cair em um sono profundo. O estômago de Maria roncou e ela decidiu que era hora de voltar para a escola para jantar, mas prometeu a si mesma que voltaria para aquele lugar.


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