CASTELOBRUXO - O Início de Uma História escrita por JWSC


Capítulo 2
CAPÍTULO 2 – Puerios




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Os dormitórios ficavam cerca de quinze metros de distância do prédio principal da escola, conectados por um caminho feito de pedras amarelas, cuidadosamente posicionadas para ficarem lisas, sem relevo. Os dormitórios ficavam em uma construção quadrada de cinco andares. Possuía várias janelas com pequenos arcos ao redor, lembrando construções antigas. Plantas e raízes cresciam pelo prédio, movendo-se de forma independente atrás da luz do sol.

A entrada era um portão de madeira e ferro com três metros de altura e permanecia aberto a maior parte do tempo.

— O portão fica aberto durante todo o dia — explicou o jovem alto. — No fim do dia ele é fechado pelo Senhor Ramirez ou pelo Senhor Gomes. De qualquer modo, estejam dentro antes do portão fechar, ou ficarão do lado de fora.

— Junto com os cadejos — um dos garotos do quarto ano disse e os outros riram.

— Não assusta eles — uma das meninas deu uma tapinha no ombro dele.

Por dentro, o prédio quadrado, espaçoso e bem iluminado. Possuía um enorme jardim no meio, iluminado pela luz solar que entrava por uma abertura no teto. O jardim tinha várias plantas coloridas, uma fonte com duas estátuas, uma sereia e um homem abraçados, e alguns bancos de mármore.

Ao redor desse jardim havia o andar térreo e mais quatro andares superiores, cada andar possuía um número gravado nos pilares de sustentação, iniciando por 0 no térreo e terminando no 7. No primeiro andar, à esquerda de quem entrava, havia o número 1 nos pilares, no canto oposto havia sido gravado o número 2. Essa era a ordem numérica seguida, um número de cada lado, menos no último andar, onde o 7 estava em ambos os lados.

O grupo caminhou até ficar perto do jardim. Ali os do quarto ano explicaram o sistema de andares e deram as instruções:

— Este é o dormitório. O nome oficial do prédio é João Mendes de Sá, em honra ao seu fundador, o bruxo João Mendes de Sá que foi o segundo Diretor da Escola na Era Moderna, entre 1567 e 1577. — O jovem falava de forma entediada, como se contasse a mesma história diversas vezes e já estivesse farto dela. — O andar térreo, este que vocês estão, é onde ficam os banheiros ali e ali, as salas de estudos e de lazer ficam por ali. O primeiro andar é onde estão os dormitórios dos alunos do primeiro e segundo ano, o segundo andar é dos alunos do terceiro e quarto ano, o terceiro andar é dos alunos do quinto e sexto ano e o último andar é dos alunos do sétimo ano. Podem subir essa escada ali para chegarem ao seu dormitório.

O jovem e seus companheiros apontaram para as escadas que levavam ao primeiro andar, fizeram uma breve despedida e depois foram para o jardim. O jovem então lembrou-se de algo e chamou os estudantes iniciantes.

— Quase esqueci. Não mexam com os puerios. Eles... não gostam de outros seres vivos.

Dizendo isso o garoto entrou no jardim e deixou os alunos por sua conta. Eles se olharam e logo alguns começaram a subir a escada, sendo seguidos pelos outros.

O primeiro andar tinha um corredor largo de pedras negras com várias estátuas e quadros no lado esquerdo, onde estavam pintadas pessoas que cumprimentavam os novatos e animais que corriam de um lado para o outro. Haviam cinco grandes portas de madeira bem distantes umas das outras. Na madeira haviam sido esculpidos rostos velhos e bem trabalhados, que pareciam estar dormindo. Com calma e cuidado, os alunos começaram a andar pelo corredor.

Acima da primeira porta havia a letra A em destaque, indicando que era a sala do primeiro ano A. Quando um grupo de alunos passou por ela o rosto na porta se contorceu, abriu os olhos e disse:

— Leila Cristina Ruárez.

Os alunos pararam assustados.

— Oi? Como?

Um dos alunos disse e a porta olhou para uma jovem de rosto redondo e com sua voz grossa disse:

— Leila Cristina Ruárez. Pode entrar na sua sala.

A aluna aproximou-se e a porta de madeira moveu-se para o lado, dando passagem para dentro da sala. Em seguida, o rosto chamou o próximo nome:

— José Eduardo Campos.

Os alunos começaram a mover-se pelo corredor e os rostos nas portas se contorcia e chamava o nome do aluno assim que ele passava. Eduardo passou pela porta A, pela B e somente quando passou pela C ouviu seu nome.

— Eduardo Silva Nunes, Maria Camila das Rosas e Gabriel Augusto Xavier.

Através da porta havia uma sala, com capacidade para cerca de vinte pessoas. Algumas poltronas estavam dispostas em círculo de um lado, uma mesa e algumas cadeiras do outro. Haviam duas estantes, uma com portas de vidro, onde troféus e fotos eram exibidos, e outra com portas de madeira escura. Alguns alunos já olhavam o lugar, abrindo portas e gavetas com cuidado. Em cada uma das quatro paredes havia o estandarte da escola, seguido pelo símbolo da vitória-régia, além de alguns quadros que sorriam e indicavam lugares para os alunos olharem. Um tapete bonito e bem trabalhado cobria todo o chão.

— Esse é o nosso quarto? — Eduardo perguntou.

— Sim. Mas não é aqui que dormimos — a garota que entrou com ele respondeu. — Está vendo o corredor e as duas portas ali na frente? A da direita é o quarto feminino e a da direita é o masculino. É lá que nós vamos dormir. A propósito, sou Maria.

— Eduardo, prazer.

Maria foi até a porta da direita e fez um pequeno aceno de despedida para Eduardo, depois entrou no quarto. Acima da porta da esquerda havia a letra M, indicando que era o masculino.

O quarto possuía uma grande janela ao fundo, com cortinas brancas repletas de detalhes prateados em forma de vitórias-régias, que dava visão para as terras à esquerda da Escola. Haviam doze camas, seis de cada lado, todas cobertas com uma coberta bege macia, dois travesseiros estavam na cabeceira e um criado-mudo ao lado esquerdo da cama, com duas gavetas e um nicho. Os guarda-roupas estavam posicionados ao lado da porta de entrada e no fundo do quarto, ao lado da janela. Dois garotos já estavam no quarto arrumando suas coisas.

— Pode entrar e procurar sua cama, o quarto é nosso — disse um deles sorrindo.

— Oi? Ah, ok. Obrigado.

Eduardo reparou que em cada cama havia um envelope dobrado com o nome dos alunos. Ele reconheceu a sua cama não apenas pelo envelope com seu nome, mas também porque a sua mala e mochila estavam ao lado dela. Dentro do envelope havia uma carta cuidadosamente dobrada. Desdobrou o papel e percebeu que era a sua rotina de aulas, além de outras informações gerais, como o horário que se serviam as refeições e o horário de funcionamento das instalações da escola.

— Caraca! Eu realmente estou em Castelobruxo! — disse Eduardo animado.

— Seja bem-vindo —  disse um dos alunos. — Aliás, eu sou Eduardo.

— Prazer, eu também sou Eduardo.

Os dois riram da coincidência. Eduardo Nunes olhou para a carta, ainda animado. Seu primeiro pensamento foi em ligar para sua mãe e contar sobre tudo que havia acontecido. Ele imaginou como ela ficaria animada. Mesmo sendo uma pessoa comum, ela conhecia o mundo mágico, pois foi casada com um membro do Governo Mágico e jurou segredo.

— Olha aquilo! — disse o outro Eduardo apontando para o teto.

Escondido, bem no canto do quarto, atrás de uma viga, eles viram dois olhos amarelos grandes e brilhantes os olhando. A criatura era coberta de pelos negros e aparentava ter os membros longos, para seu corpo de no máximo trinta centímetros.

— O que é isso? — Eduardo perguntou.

— É um puerio — disse o terceiro jovem que estava no quarto. Ele colocou os óculos e analisou a criatura por alguns segundos.

— Puerio? — Eduardo questionou. — Foi o que o outro aluno disse lá embaixo, né?

— Sim — respondeu o outro Eduardo. — Ele disse para tomar cuidado com eles.

— Eles não são agressivos — comentou o aluno de óculos. — São seres tímidos e que não gostam de contato com outros seres vivos, a menos que não sejam de sua espécie. Aquela ali é uma fêmea, os machos têm olhos vermelhos. Eles costumam viver escondidos nos telhados e cantos das casas e se alimentam de sonhos, sejam bons ou ruins. Alguns acreditam que eles são a razão de não lembrarmos dos sonhos que temos ao acordar.

— Uau. Você sabe muito sobre eles — Eduardo comentou sorrindo.

— Gosto de estudar criaturas mágicas — respondeu o jovem, retornando a sua atividade de organização.

— Aliás, meu nome é Eduardo.

— Roberto — respondeu o jovem.

— Qual a nossa aula de hoje?

Todos olharam os bilhetes.

— Depois do almoço é História da Magia, com a professora Fiorella Garcia Perez — Roberto comentou. — São dois períodos com a aula dela.

— Dizem que história da magia é chata — o outro Eduardo disse.

— Mas é necessária — disse Roberto. Percebeu que os outros dois o encaravam e completou: — Digo, para nossa formação. Para o currículo. Para a vida.

Os dois Eduardos riram.

— Você deve ter razão — responderam.

Eduardo Nunes anotou mentalmente mais dois assuntos para contar para a mãe, os puerios e os dois colegas de classe. Um especialista em criaturas mágicas e outro com o mesmo nome.

Mais sete alunos entraram no quarto, totalizando os dez alunos masculinos que fariam parte do primeiro ano C.

Eduardo olhou para o seu bilhete, onde seu nome estava gravado, logo acima da rotina de aulas, em uma letra curvilínea.

 

Caro Sr. Eduardo Nunes Silva, é com prazer que lhe damos as boas-vindas a Escola de Magia & Feitiçaria de Castelobruxo. Por favor, leia todo este documento, para evitar futuras penalidades. Segue sua rotina de aulas:

Rotina de Aula 1º Ano C


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