CASTELOBRUXO - O Início de Uma História escrita por JWSC


Capítulo 19
CAPÍTULO 2 – O Relógio do Sol




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/721371/chapter/19

Após entrarem nos terrenos da escola os jovens sentiram a conhecida sensação que a escola transmitia. A pirâmide imponente e destacada, com seus tijolos amarelados, refletindo de forma fraca e sobrenatural a luz do sol, como um fantasma antigo que observava e cuidava dos que ali viviam.

Nem o dormitório, uma construção quadrada e grande em largura, e nem o prédio anexo de estudos, uma construção cinzenta com gárgulas no topo, conseguiam se destacar em comparação a pirâmide com seus cinco andares sobrepostos e jardins repletos de vida.

Como esperado, no fim do primeiro dia de aula, os pequenos caiporas surrupiaram as varinhas dos alunos do primeiro ano e realizaram seu ritual na floresta. Depois do ritual curioso e inexplicável, todos retornaram para aguardar o banquete de início de ano.

Hugo, Maria, Eduardo e Miguel haviam acompanhado os jovens pela floresta e presenciado o ritual, idêntico ao que participaram em seu primeiro ano. Quando os caiporas iniciaram a entrega das varinhas os quatros se retiraram da floresta, voltando pelo caminho que haviam feito.

— O que será que eles fazem? — Perguntou Hugo.

— Não sei, mas é bonito — comentou Maria.

— Vocês viram o Roberto na floresta? — questionou Eduardo.

— Não, você viu? — perguntou Miguel.

— Não — respondeu o garoto.

— Vocês souberam que o Relógio do Sol se moveu? — perguntou Maria, mudando de assunto.

— Não — disseram os três garotos.

— Dizem que ontem de noite ele moveu o terceiro círculo. Vamos ver antes de entrar?

Todos concordaram e caminharam para o meio do Jardim Principal. Em um ponto no centro dele, entre o Grande Portão e a escola, havia uma construção circular de pedra com um metro de altura. Na parte superior havia uma série de seis círculos formados por blocos de pedra de diferentes tamanhos e formatos.

No meio dos círculos havia uma cruz inca que rodava calmamente em seu lugar, no sentido horário. Ao redor dela, no primeiro círculo de pedras, haviam doze blocos que rodopiavam mais lentamente que a cruz.

O segundo círculo era formado por centenas de pequenos blocos que rodopiavam um pouco mais rápido que os anteriores, porém mais lentos que a cruz do centro. Esses blocos além de moverem-se de modo circular em torno do primeiro círculo, também giravam no lugar, mostrando os dois lados de cada pequeno bloco.

O terceiro círculo era composto por um conjunto de vinte blocos onde haviam sido esculpidos o formato de vinte criaturas mágicas, dentre eles o caipora, o capelobo, os cadejos e o boitatá. Este conjunto movia-se muito lentamente, mais lento do que a cruz central.

Os outros três círculos permaneciam imóveis, sem qualquer movimento. O quarto círculo era formado por um aro repleto de escritas antigas, o quinto era composto por triângulos, quadrados, círculos e outros formatos geométricos. Por fim, o sexto círculo possuía blocos onde haviam sido esculpidos rostos com expressões faciais, como medo, alegria, raiva, tristeza, etc. A maioria dos blocos estavam intactos, porém, quatro estavam destruídos, sendo impossível verificar qual a imagem que fora esculpida.

— É esse aqui — informou Maria, apontando para o quinto círculo com formatos geométricos. — Pelo que disseram, o triângulo ficava na mesma linha desse rosto triste, mas ontem de noite ele moveu-se e agora esta entre o rosto triste e o sonolento.

— O que significam esses símbolos? — perguntou Eduardo.

— Ninguém sabe ao certo — comentou Maria. — O professor de história da magia disse que não se sabe quem construiu o Relógio do Sol. Ele existe desde antes da escola.

— De acordo com alguns, esse primeiro conjunto de doze círculos são os doze meses, o segundo conjunto são os dias do ano, dizem que há cerca de trezentos e sessenta e cinco bloquinhos representando cada dia — informou o professor Fernando que se aproximou de onde os jovens estavam. Usava um conjunto de óculos estranhos, com diversas lentes com graus diversos. — Esses outros vinte representam eventos naturais, como a chuva, ventanias, terremotos, seca. Cada criatura representa uma calamidade. Agora há muitas discussões quanto aos outros três — o homem limpou as mãos. — Bem, deixemos o rosto para as aulas. Vamos alunos, logo vai começar o banquete.

 

— O que pretende fazer, Orlando? — O professor Alexandre colocou sua xícara na mesa. — Vai seguir o que o Governo pede?

— Ainda não sei — respondeu Orlando. — Não dizer nada para os alunos e ainda assim não suspender as visitas as vilas vizinhas? Com o desaparecimento de crianças? Não acho que seja prudente.

— Mas se não fizer isto, ou terá que suspender as visitas deste ano ou informar os alunos do que acontece, se já não souberem. De qualquer modo, irá desagradar alguém.

— Resta saber quem é melhor desagradar, não?

— Bem, nunca fomos muito íntimos do Governo. Se quer minha opinião, avisar os alunos a tomar cuidado é a melhor opção.

— Sim, entendo — Orlando bebericou de sua xícara e a pousou na mesa. Os olhos estavam fixos no líquido acobreado que movia-se cada vez mais lento até parar e formar uma superfície lisa na xícara.

Olhou o relógio na parede e percebeu que estava quase na hora de dar início ao ano escolar. Desceu as escadas junto com o professor Alexandre. Entrou no Saguão Principal, onde os alunos e professores conversavam.

Como sempre, assim que percebiam sua entrada, alunos e professores se silenciavam. Orlando caminhou até sua poltrona-trono de madeira viva e os ramos floresceram e ondularam, assim como era previsto. Ele agradeceu e em seguida levantou-se:

— Bem-vindos a mais um ano de aprendizado na nossa querida Escola de Magia & Feitiçaria de Castelobruxo. Estamos muito felizes com a presença de todos aqui e estendemos nossos braços para auxiliá-los em seu aprendizado. Tenham em mente os objetivos que pretendem alcançar neste ano e, caso não saibam quais os objetivos que tem em mente, é o momento de pesquisar e escolher. Lembrem-se que com determinação e fé todos podemos alcançar aquilo que nossos corações desejam. Independente do ano escolar em que estejam, todos aqui passam a ser membros da nossa grande comunidade bruxa da América do Sul. Todos devem se sentir orgulhosos por isso. Para os que começam, se empenhem cada vez mais em conseguir o sucesso merecido, para aqueles que iniciam o último ano, é hora de fechar os últimos botões de suas camisas de graduação e iniciar um novo livro de suas vidas. Tenham fé em si mesmos.

Iniciou-se uma salva de palmas pelos professores. Após, houve um silêncio.

— Bem, vamos agora para a parte burocrática. — Sorriu e pegou a folha das mãos de Alexandre. — Como sabem, este é o momento de descobrir quais classes conseguiram as melhores pontuações entre aqueles de seus anos escolares. Vamos começar. A classe do primeiro ano que mais conseguiu pontos foram os alunos da sala B, que agora passam a ser os alunos do segundo ano A. — Vivas irromperam dos alunos que agora eram do segundo ano A. O diretor continuou a falar, fazendo com que os alunos das respectivas salas mencionadas comemorassem. — Os alunos do segundo ano que obtiveram a melhor pontuação foram os da sala D, que passam a integrar o terceiro ano A. Os alunos do terceiro ano que obtiveram a melhor pontuação foram os da sala B, que passam a ser do quarto ano A. Os alunos do quarto ano que obtiveram a melhor pontuação foram os da sala A, que continuam no quinto ano A. Os do quinto ano que obtiveram as melhores pontuações foram os da sala C, que passam para o sexto ano A e os alunos do sexto ano que obtiveram a melhor pontuação foram os da sala B, que continuam como sétimo ano A. Parabéns à todos. 

Os vivas continuaram por alguns segundos, até que o diretor pediu silêncio.

— A relação das salas e suas pontuações já se encontram no quadro de avisos ali. Podem ver depois.  — Orlando apontou para o quadro verde, com documentos enfeitiçados que se moviam. Um novo documento se materializou no quadro, onde constava a classificação das salas por ano e a pontuação. — Para os alunos que ingressam hoje no primeiro ano, eu informo que durante todo o ano suas atividades e conquistas serão pontuadas para a sua sala. Ao fim do ano letivo, serão apurados os pontos que sua sala acumulou e no primeiro dia do ano letivo seguinte serão publicadas. A sala que conseguir a melhor pontuação passa a ser a sala A do ano seguinte e poderá gozar de diversos benefícios e regalias durante o ano letivo. Em outras palavras, se esforcem para ganhar pontos para sua sala e conseguir desfrutar dos prazeres de ser da sala A.

— Por fim, aviso a todos que devem tomar cuidado com os seres e criaturas das Estufas, do Mini-magizoo e da Floresta Profunda. Lembrem-se que são criaturas mágicas vivas e por isso não devem ser tratadas como animais de estimação ou brinquedos. Aviso também que as visitas as vilas vizinhas serão reduzidas e peço aos alunos do terceiro ano e seguintes que tomem cuidado redobrado ao visitar as aldeias. Desejo aos senhores e senhoras um ótimo ano letivo de muito aprendizado e muitas conquistas. Agora, vamos comer, pois somos bruxos e não norques. Que venha o jantar!

 

Assim que terminaram de comer, os quatro amigos foram para o dormitório, tendo os colegas de sua sala os observando durante todo o caminho. Haviam comentado que a turma do primeiro ano C subiria para a sala A do segundo ano, contudo, os eventos do fim do ano reduziram a pontuação da sala, como punição por estarem fora das camas e pelo furto da luva replicadora.

Os quatro evitavam falar com os colegas e estes faziam o mesmo com eles. Deixaram as festividades do Saguão Principal o mais rápido possível e entraram no dormitório do segundo ano. A porta em forma de rosto sorriu e abriu para que os quatro entrassem na sala com a letra B em destaque logo acima.

Havia apenas uma pessoa na sala comum do dormitório. Um jovem de óculos, com cabelo bagunçado e vestes amarrotadas, sentado em um canto do sofá, ao lado de uma estante cheia de troféus e prêmios de outros alunos que estudaram no segundo ano B.

— Boa noite — disse o garoto.

— Boa noite, Roberto — respondeu Hugo.

Eduardo adiantou-se e sentou-se ao lado de Roberto. Miguel ao seu lado. Hugo sentou-se na poltrona que ficava na sua frente. Maria não se sentou, ficou em pé, parada ao lado da outra poltrona, um pouco distante dos jovens.

— Como foi de férias? — perguntou Eduardo.

— Bem. Vocês?

Os meninos concordaram.

— Você não foi jantar? — questionou Hugo depois de alguns instantes de silêncio.

— Não estava com fome. O professor Fernando permitiu que eu ficasse aqui, pensando.

— Pensando? — repetiu Miguel, com seu olhar analítico conhecido dos outros. A simples pergunta carrega uma série de perguntas subliminares que ele não precisava fazer.

— Sim, sobre tudo.

— E o que concluiu? — questionou Maria.

Roberto respirou fundo, cruzou os dedos e falou com calma:

— Me desculpem por tudo.

— Tudo bem... — começou Eduardo, mas foi interrompido por Miguel.

— Não, Edu. Deixa ele falar.

Roberto se recompôs.

— Eu sei que fui imprudente e não fui justo com vocês. Devia ter falado tudo mais cedo, talvez evitasse tudo...

— Talvez? — irrompeu Maria. — TERIA evitado tudo. Teríamos colocado juízo na sua cabeça. Vê o quão arriscado foi tudo isso? Você sabe quem era aquele homem? O que ele podia ter feito, além do que ele fez? Sem nem falar da criatura em si!

— Confesso que não pensei muito no plano.

— Desculpa, Beto — começou Hugo. — Mas não parece que foi nada pensado.

— Foi descuidado e precipitado — disse Miguel. — Entendo que você queria provar que não é um mentiroso ou que o seu pai foi morto pela mortalha, mas o que você faria quando estivesse frente a frente com ela?

Roberto permaneceu em silêncio.

— Eu vou dormir — disse Maria.

— Maria — chamou Hugo, mas a garota já havia saído e entrado pela porta do quarto feminino.

— Deixa ela — aconselhou Miguel.

Todos ficaram em silêncio.

— Que bom que voltou — disse Eduardo.

— Sim, muito bom — completou Hugo.

— Sim. Sem você, não teria nenhum garoto para ser meu rival nas matérias — comentou Miguel com seu meio sorriso.

— Como assim? — perguntou Hugo.

— Hugo e eu estamos aqui ainda — argumentou Eduardo.

— Eu sei, mas me referia a um desafio de verdade — disse Miguel sorrindo.

— Vai tomar banho — disse Eduardo e jogou uma almofada no amigo.

Todos riram e mudaram o rumo da conversa, para ficar mais descontraída, conversando sobre as férias, a escola e o cronograma de aulas que não havia mudado, exceto pela aula de voo, que agora havia saído da grade.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "CASTELOBRUXO - O Início de Uma História" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.