CASTELOBRUXO - O Início de Uma História escrita por JWSC


Capítulo 16
CAPÍTULO 16 – Conclusões (FIM DO LIVRO 1)


Notas iniciais do capítulo

Encerra-se este primeiro livro.
Agradeço a todos que aqui permaneceram e me incentivaram a continuar.
Obrigado.



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Orlando caminhava de um lado para o outro em sua sala.

O pequeno grupo o observava, enquanto aguardavam o último membro chegar. Ninguém falava, sabiam que Orlando se manteria em silêncio até que todos estivessem ali. Passados alguns instantes a porta do escritório abriu-se e Augusto entrou na sala. Todos olharam para o homem alto que apenas encarava Orlando da porta.

— Muito obrigado por ter vindo, Augusto — Orlando esboçou um sorriso cansado e apontou a cadeira ao lado de sua poltrona.

Depois que Augusto sentou-se Orlando virou-se para os outros. O grupo a sua frente era formado por oito bruxos. Rostos conhecidos de muitos anos e muitas histórias, algumas jamais divulgadas e que morreriam com os presentes. Estavam rostos conhecidos pela escola, como a professora Hermenita, o professor Fernando, o professor Giuliano. Outros conhecidos pela comunidade, como Gilberto e Marcela, e haviam os desconhecidos pela grande maioria que, na opinião de Orlando, eram os mais importantes ali.

— Acredito que todos saibam o que houve —  começou Orlando. — Acredito também que Romeo e o Santiago já saibam disso, certo?

Duas bruxas concordaram.

— Sim, Romeo estava em viagem por ruínas antigas no Chile quando soube e avisou que já está retornando — disse a mais miúda, com olhos pequenos e um montera em tons de rosa na cabeça. — Disse que quer falar com o senhor assim que chegar.

— Santiago informa que chegará amanhã — continuou uma bruxa velha, magra e de cabelos grisalhos. — Pretende passar para conversar com o Presidente da Magia e logo em seguida virá falar com o senhor.

— Ótimo — concordou Orlando. — Não esperava nada de diferente de Santiago, obrigado. Peço alguns minutos dos senhores para que escutem o que tenho a falar sobre o ocorrido. Está claro que houve o vazamento de informações e, se me permitem presumir, um plano muito elaborado para desencadear todo o ocorrido.

— O senhor suspeita de conspiração? — questionou um bruxo barbudo e de sobrancelhas grossas.

— Suspeito que alguém dentro do Governo esteve envolvido, mas não irei apontar nomes ou prolongar este assunto, ainda não temos certeza.

— Seria uma das famílias que os apoiaram antes? — perguntou o professor Giuliano.

— Não sei, mas é possível. Ocorre que houve o vazamento da informação de que uma criatura de nível Letal estaria vindo para a escola. Houve a informação de que ficaria no Mini-magizoo e que teria guarda. O que me chama a atenção é que diversas coisas ocorreram quase que ao mesmo tempo de modo esquematizado. A saída dos aurores, minha ida ao Governo,

— Mas a retirada dos Aurores foi uma ordem do Ministro de Segurança Mágica, não acha que... — Giuliano deixou que a ideia pairasse no ar e se fixa-se na mente dos presentes.

Orlando retirou das vestes um documento.

— Vejam este documento. — O documento foi passado de mãos em mãos. — Esta é uma cópia do documento enviado para o auror chefe da operação aqui na escola. Neste documento, o Ministro de Segurança Mágica chama de volta os seus funcionários, o que motivou minha ida ao Governo. Ocorre que, este documento, pelo menos o original que os aurores levaram para ser dissecado, é falso. Foi habilmente adulterado para passar em uma investigação preliminar.

— Entendo — concordou Giuliano. — O original acredito que foi entregue diretamente para o chefe das operações. A situação estava tensa e mesmo que ele utilizasse um feitiço de revelar, não aparecia a falsificação. Acredito que tenha sido um feitiço poderoso.

— El Último Secreto —  disse Orlando.

— Entendo — assentiu Giuliano.

— Um feitiço arriscado e poderoso — completou Fernando. — Se feito de forma errada pode ter consequências graves. Uma variação do feitiço Fidellius, acredito.

— Sim. Uma aposta inteligente não acha? —  Olrando levantou-se e começou a caminhar pela sala. — O Último Segredo é uma versão um tanto mais restrito do Feitiço Fidelius. Não pode esconder ou tornar intangível algo, mas mantem invisível os traços de alteração por magia. Apenas o fiel do segredo tem conhecimento deste, pois entrega seu sangue para realizar o feitiço se comprometendo em manter aquele segredo que somente pode ser revelado com seu sangue, não com sua vontade ou algo assim.

— Mas como descobriram que se trata de uma fraude? —  questionou Hermenita.

— Primeiro, a informação veio do próprio Ministro. Enquanto aguardava para falar com o Presidente da Magia, acabei por me encontrar com o Ministro e fui ter uma conversa com ele. Ele pareceu surpreso, pois não havia dado a ordem para retirar os aurores, inclusive estava indo para sua sala, pois sua secretária havia dito que o auror Armando o estava esperando.

“O outro indício que tive da situação foi o modus operandi em si. Creio que muitos de vocês, principalmente os argentinos reconhecerão a forma de atuação, já que a Argentina teve certos problemas com esse feitiço alguns anos atrás. Tudo me soou extremamente familiar. Até chegar ao ponto crucial. Havia algum bruxo capaz de entrar e sair das terras da escola sem ser identificado. Um bruxo capaz de passar por feitiços antigos de proteção que, infelizmente, me passaram ignorei o soar. Um certo bruxo me veio a mente, que utilizava o Último Feitiço com maestria, era especialista em invadir locais e fazia parte da F.U.L.A.M.

— Mas ele está morto, não? — perguntou a bruxa de montera. — Pelo menos é o que foi publicado. Aliás, o senhor mesmo o matou.

— Também pensei nisso, mas algo me disse para voltar para a escola. Enquanto voltava, certos pontos foram encaixando-se. Este certo bruxo possuía um fascínio por criaturas mágicas perigosas. Tinha uma coleção de criaturas que usava para os fins da organização.

— Gregório... — disse o bruxo com sobrancelhas salientes.

— Exato. Ele esteve na escola e foi o responsável por tudo que ocorreu.

— Mas a F.U.L.A.M. deixou de existir há trinta anos — pensou a bruxa velha. — O que ele queria aqui?

— Ele acredita que a organização ainda existe e segue atuando.

— Isso é preocupante — apontou Fernando e apoiou o dedo nos lábios, pensando. — Você crê que seja verdade?

— Não — afirmou Orlando. — Não acredito que a F.U.L.A.M. tenha retornado suas operações como antes, mas creio que alguém queira que pensemos que assim. Essa parte que me preocupa. O Governo já manipula a sociedade com o medo de grupos invisíveis, assim como Augusto já nos disse, mas com um escândalo destes... O Governo poderia desfrutar de meses fazendo o que bem entender sob o argumento de combate a este grupo, mesmo que nem se saiba da existência real.

— Concordo — disse o bruxo sobrancelhudo. — Não lutamos contra o terror imposto pela F.U.L.A.M. trinta anos atrás para revivermos esse medo de forma invisível agora. Acho que devemos investigar em silêncio.

Todos ficaram em silêncio, olhando para Orlando que disse:

— Bem, irei conversar com Santiago e Romeo sobre isto e logo ficarão informados quanto o que concluirmos. Até lá, peço que se mantenham atentos. Não é provável que a F.U.L.A.M. esteja atacando, mas há alguém que quer isso. Vejam se há casos semelhantes aos ataques deles de trinta anos atrás. Mas deixo claro, não estamos em guerra. Entenderam?

Depois que houve a concordância dos presentes, Orlando dispensou o grupo e caminhou até a janela. A escola estava silenciosa, pois a maioria dos alunos havia ido embora para as férias de fim de ano. Logo teria de conversar com os três jovens que estavam no Mini-magizoo e descobrir como os três foram parar ali, o que o fazia ficar mais tenso.

— Três pobres almas... Tão jovens...

 

Maria estava sentada em uma das poltronas no salão do primeiro ano C.  Miguel havia retornado para sua família na Argentina, seu irmão em pessoa havia buscado o garoto na Vila Garaipo, uma das poucas vilas inteiramente bruxas da América do Sul e responsável por dar acesso para a escola.

Eduardo surgiu no corredor de aceso aos dormitórios. Pela expressão havia dormido pouco durante a noite.

— Olá.

— Oi — respondeu a garota, encolhida na poltrona, como estivera várias vezes naqueles dias.

— Você está bem? — perguntou o garoto.

— Sim — ela respondeu, mas sua voz saiu baixa e distante.

Eduardo fitou os nós dos dedos, sem saber exatamente o que dizer.

— Sabe do Roberto ou do Hugo?

Ela balançou a cabeça negando.

— Não vejo o Hugo desde ontem, quando ele entrou no quarto.

— A cama dele estava arrumada quando acordei. Estou indo ver o Roberto. Quer vir?

Maria pensou. Não sabia se queria mesmo ver o garoto o qual a ambição secreta tinha feito com que passassem por tamanha situação. Maria teve que ter sessões de exames com o professor Giuliano e a professora Vitória, ambos de Defesa Contra as Artes das Trevas, para verificarem eventuais resquícios de magia no corpo dela. Por outro lado, gostaria de saber o que o garoto teria a dizer.

— Maria — chamou Eduardo. — Ele precisa nos dizer e nós temos que ouvir. Vamos?

Maria teve vontade de explodir com ele ali, naquela hora. Como assim? Ela teria que ouvir algo? Roberto tinha que ouvir, ele tinha causado tudo. Queria que ele pagasse por ter feito com que ela passasse por tudo, mas de algum lugar de sua mente veio uma voz calma, que pediu que esperasse.

— Vamos — ela respondeu.

Ambos saíram do dormitório e desceram as escadas. Ao saírem do prédio que abrigava os dormitórios encontraram Hugo. Ele estava sentado, nos degraus que davam acesso ao corredor que ligava os dormitórios ao prédio principal.

— Bom dia — ele cumprimentou os amigos. — Estão indo ver ele?

Eduardo concordou.

— Você vem?

— Sim — disse Hugo e sacudiu a poeira da roupa.

Juntos os três entraram no Saguão Principal e passaram pelas mesas vazias. O silêncio reinava por todo o lugar. Antes de chegar ao corredor que dava acesso ao portão por onde entraram no primeiro dia, eles subiram as escadas.

O primeiro andar era amplo, quase tão amplo quanto o andar inferior. Estavam no meio do andar, ao lado subia a escada para o segundo andar. A direita, esquerda, frente e atrás haviam corredores largos que passavam pelas salas e acabavam nos arcos de acesso aos jardins exteriores.

Continuaram pelo corredor logo a frente e entraram na última porta do corredor, onde havia o entalhe na madeira de uma varinha tocando uma mão machucada. Estavam em uma sala de espera, um pequeno espaço retangular com cadeiras de madeira dispostas em fila, alguns jornais e folhetos em uma cesta ao lado das cadeiras, velas acesas em vários cantos que emitiam um brilho branco e não amarelado.

Nas paredes haviam vários folhetos, panfletos e cartazes com orientações sobre como tratar a picada de um ferrão-furioso, os efeitos da mordida de um guirivilho no uso da magia e um grande e sinistro cartaz com o contorno de uma criatura grande onde havia escrito: “Nunca ataque um capelobo, sempre use um feitiço de luz ou o feitiço Natus Odoris, sempre pensando no cheiro forte de flores”.

— Bom dia — disse a enfermeira chefe, uma mulher baixa, de cabelos curtos e pele bronzeada. — O que desejam.?

Eduardo ficou um pouco confuso, a mulher era somente alguns centímetros maior que ele, de modo que não sabia se devia trata-la com o mesmo respeito de um adulto. Foi Hugo quem falou:

— Viemos ver nosso amigo. Roberto.

— Desculpem, ele me disse que não quer ver ninguém além da família. — Desculpem, ele me disse que não quer ver ninguém além da família e, claro, o diretor e os professores.

— Poderia perguntar de novo? — pediu Hugo. — Por favor, diga que o Hugo está pedindo., sou amigo dele.

— E os outros? Quem são?

— Eu sou Eduardo e ela é Maria.

— Eu sou Eduardo e ela é Maria, somos amigos.

— Um minuto. Irei ver.

A mulher sumiu por uma porta e alguns segundos depois reapareceu.

— Vocês têm quinze minutos. O direito vai querer falar com ele antes do almoço.

— Obrigado — disse Hugo e passou pela porta.

A enfermaria era um espaço amplo, devia pegar um corredor inteiro. As velas de chama branca iluminavam todo o lugar e diversas camas estava disposta com cortinas para privacidade. Ao lado direito deles havia uma sala com uma janela na direção das camas. A mulher entrou na sala e continuou a folhear o jornal bruxo.

Roberto estava na segunda cama a partir da salinha da enfermeira. Olhava para os dedos de forma fixa. Somente levantando a cabeça quando Eduardo disse “Bom dia”.

— Ah... Bom — foi a resposta do garoto.

— Como está?

— Bem... — a continuação do que ia dizer ficou travado na garganta dele.

— Sabe quando vai sair? — perguntou Eduardo.

— Talvez hoje — respondeu Roberto. — Disseram que não vão mais fazer exames. De acordo com o professor Giuliano o efeito hipnotizante do boitatá já passou e o feitiço do bruxo...

— Por quê? — perguntou Maria de súbito.

Todos a olharam e ela prosseguiu:

— Por quê? Por quê tudo isso?

Roberto remexeu nas cobertas, tentando organizar o que dizer. Eduardo interveio:

— Foi por causa do seu pai, certo?

Roberto concordou.

— Quando mais jovem, vi meu pai ser atacado. Ninguém acreditou em mim. Alguns me achavam louco e outros que era um delírio juvenil. Mas eu sei o que vi. Vi tão bem quanto qualquer outro veria. Tivemos que nos mudar, pois as pessoas começaram a ficar mais... cruéis comigo e com minha mãe.

— Cruéis? — perguntou Hugo.

Roberto levantou a manga da blusa. Em seu braço, perto do ombro, havia o que parecia ser uma cicatriz, mas depois de estreitar os olhos e ver melhor era visível o contorno de algumas letras.

— Men-ti-roso — leu Hugo.

— Sim —  concordou Roberto e cobriu rápido o braço. — Um grupo de adolescente me pegou e me chamaram de mentiroso. Eu disse que não era mentira e um deles xingou meu pai. Eu revidei e eles me fizeram isso. “Para aprender a não mentir”. Depois disso minha mãe começou a ser tratada com rejeição e eu deixei de ir na escola de pessoas comuns. Fomos para a capital, onde o que ocorreu podia ser abafado.

— O que aconteceu com seu pai? — quis saber Hugo.

Roberto contou a história que revivia sempre na mente. Percebia agora, compartilhando os fatos depois do ocorrido, que havia sido ingênuo. Tudo lhe pareceu tão louco e prepotente. O que pretendia? O que faria depois de encontrar a criatura, se é que estivesse na escola?

Depois que falou tudo, Maria levantou-se da cama ao lado e disse simplesmente:

— Estou indo. Espero que receba alta logo.

A garota saiu da enfermaria, sem pressa, organizando os fatos na mente.

— Sei que errei — disse Roberto assim que a porta se fechou. — Peço desculpas pelo que fiz. Foi idiota e perigoso. Eu prometo que vou me redimir com vocês. Prometo.

— Acabaram os quinze minutos — gritou a enfermeira. — Vamos crianças.

Assim, os dois jovens deixaram o amigo. Enquanto atravessavam a porta de saída Roberto enrolou-se mais nas cobertas.

 

O ano oficialmente encerrou-se.

Uma investigação administrativa foi criada para verificar a existência de vazamento de informações no Governo, mas foi encerrada por “falta de provas”. O Governo da Magia desviou todo o ocorrido, abafou os comentários e fez com que os jornais publicassem um matéria diversa da verdade.

Os jovens foram orientados a não mencionar o ocorrido para ninguém. Primeiro pelo diretor, após este conversar com o Presidente da Magia, e posteriormente por funcionários do Governo, estes deixaram implícito a possibilidade de algo ruim lhes acontecer se algo vazasse.

Roberto, Maria, Hugo e Eduardo foram para suas respectivas casas e a Escola de Magia & Feitiçaria de Castelobruxo encerrou mais um ano escolar e, assim como sua fundadora e primeira diretora determinou, no dia último dia do ano as paredes e todos os prédios da escola iluminaram-se com uma luz dourada, brilhando como se fossem feitos de ouro. Acima da escola subiu-se uma Aurora Boreal em tons de azul e amarelo onde constou escrito:

 

“O Castelo de Um Bruxo é o Local Onde Está Seu Coração!”

 

 


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Notas finais do capítulo

O próximo capítulo a ser publicado não será a continuidade da história que aqui trago, mas um capítulo informativo.
A cada final de um livro pretendo introduzir um capítulo de informações, para que se entenda melhor o mundo que imagino e que nos foi proporcionado, de forma essencial e basilar, pela grande J.K. Rowling.
Peço que aguardem enquanto este e os capítulos seguintes da trama se moldam e tornam-se escrita.
Obrigado, novamente.



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