CASTELOBRUXO - O Início de Uma História escrita por JWSC


Capítulo 11
CAPÍTULO 11 – Torta de Amendoim e Cola-Língua




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No sábado a escola acordou barulhenta. Por todos os corredores e locais os alunos conversavam sobre qual time iria ganhar o jogo daquela manhã. Tanta agitação era justificada, pois naquele dia iria ocorrer o jogo final entre dois dos times de quadribol mais conhecidos da escola.

O time Voo do Alicanto iria competir contra o time Tempestade Vermelha pelo quarto lugar na lista de times campeões da escola. Os quatro melhores times iriam representar a escola no Centésimo Quadragésimo Primeiro Campeonato Sul-americano Interescolar, que ocorria a cada dois anos entre as três melhores escolas de bruxaria da América do Sul. A grande campeão levaria a Taça de Quadribol Juvenil e os competidores uma quantia em prêmio, além de terem seu nome gravado no Rol dos Campeões.

Após o café, os alunos se dirigiram para o campo de Quadribol, na parte mais distante da escola, bem depois das estufas e do Mini-magizoo, nos limites dos terrenos da escola. Por conta do jogo, foi permitido que andassem sem o uniforme da escola, sendo acompanhados pelos professores que organizavam a caminhada e os lugares dos alunos nas arquibancadas. A agitação era incentiva nas árvores pelos caiporas, que saltavam de galho em galho provocando os alunos e realizando suas brincadeiras.

Além dos alunos, o campo ainda teria a presença de olheiros de grandes times e familiares dos jogadores, bem como fãs que contribuíram com o pagamento de ingressos para assistir. A multidão nas arquibancadas entoava os hinos e cânticos de cada um dos times. Entre os que levantavam suas vozes, haviam aqueles que vestiam o branco e amarelo, com desenhos do pássaro alicanto nas camisas ou pintado nos rostos, e os que vestiam o cinza e vermelho do outro time, com nuvens vermelhas com relâmpagos cinzentos pintados na bochecha.

  Luís observou até que os grupos de alunos se acabassem na colina depois das estufas, em direção ao Campo de Quadribol. Tinha que utilizar o tempo em que praticamente toda a escola estava no campo da melhor forma possível. Assim que o jogo começasse, os aurores e patrulheiros iriam trazer a criatura. O trabalho tinha que ser ágil e perfeito. A criatura precisava chegar, entrar no Mini-magizoo e ali permanecer antes que a partida acabasse.

Ele sabia que a partida podia durar horas ou acabar em questão de minutos, tudo era possível quando se tratava de quadribol.

Logo o silêncio estabeleceu-se no campo, enquanto o juiz dava instruções aos times. Em seguida houve o som do apito e a agitação recomeçou com o início da partida. Era possível ouvir, ao longe, a voz do narrador ressaltar os lances mais marcantes da partida.

— Agora — disse para um dos patrulheiros mais próximos.

O homem jovem, vestido em diferentes tons de verde e marrom, saiu em disparada para avisar aos outros. Poucos instantes depois, a grande caixa de ferro cruzou o portão lateral, sendo trazida pelos patrulheiros e supervisionada por dois aurores que lançavam feitiços de forma constante sobre ela.

O chefe dos patrulheiros aproximou-se de Luís.

— Dia, professor.

— Dia, Chefe dos Patrulheiros. Como estamos?

— Melhor agora. A criatura é difícil de ser domada. É imune a maioria dos feitiços e é esperta — disse o Chefe dos Patrulheiros visivelmente cansado. Tinha olheiras grandes e negras embaixo dos olhos, além do cansaço visível na voz. — Tentamos acalmá-la com feitiços relaxantes, mas eles sozinhos não são suficientes. Tentamos dar poção do Morto-Vivo, mas temos poucos bruxos com habilidade em fazer a poção com perfeição e descobrimos que precisaríamos de um barril da poção para acalmar a criatura.

— E como conseguiram trazer até aqui e manter ela calma?

O homem de verde apontou para os aurores.

— Ela mandou dois jovens bruxos para o Emanuelli e deixou vários feridos até que um grupo de aurores chegou. Não aprovo os métodos deles, mas não nego que foram eficientes. Nós, Patrulheiros, evitamos gerar qualquer situação de risco ou perigo para as criaturas mágicas. Mas eles... bem, eles não se importam. Acho que enfrentar bruxos subversivos durante anos fez com que eles se tornassem mais radicais com seus métodos de lidar com a situação.

— Entendo. Conheci o Chefe deles, não me pareceu alguém muito propenso a seguir procedimentos mais... pacíficos.

— Bem, como eu disse, não apoio seus métodos, mas conseguiram colocar a criatura para dormir ou ficar inconsciente. Não sei bem o que fizeram, quando cheguei eles já tinham feito.

— Vamos torcer para que permaneça assim por um bom tempo. Bom dia, senhores — cumprimentou Luís assim que o grupo com a caixa de ferro aproximou-se.— Venham por aqui.

Luís indicou o caminho e assim que a caixa se aproximou da entrada, o portal expandiu-se, triplicando de tamanho para que a caixa e os bruxos pudessem entrar.

— O Setor Vermelho fica por ali, senhores. Vou lhes mostrar o caminho.

O portal voltou ao seu tamanho normal e as portas do Mini-magizoo fecharam-se, de modo que a placa de aviso balançou-se no lugar. Por todo o terreno de Castelobruxo, apenas se ouvia os sons que vinham do Campo de Quadribol, onde a Tempestade Vermelha marcava seu terceiro gol.

 

Alguns dias depois...

Definitivamente, Estudos Gerais era a matéria menos mágica que tinham, menos até que História da Magia. A matéria englobava estudos que não compreendiam o uso direto da magia, como gramática, matemática, geografia, sociologia e política. Também era a única matéria onde a comunicação entre os alunos brasileiro e de outros países era inexistente, pois na sala era lançado um contra-feitiço ao que permitia a comunicação na escola.

— Assim, podemos focar mais no aprendizado de suas línguas natais e desenvolvê-las — havia dito a professora Camila Catalanto logo no primeiro dia de aula, em espanhol e português fluentes. Era uma mulher baixa, gorducha e com cabelos encaracolados que desciam pelos ombros. — Não esperem que fora desses portões, vocês se comuniquem tão bem como agora.

Era uma professora severa em seu método de ensino, não aceitando trabalhos incompletos ou feitos de qualquer jeito. Sempre exigia o melhor dos alunos e concedia trabalhos extras para aqueles que não se saiam bem nas provas, como forma de complementar a nota.

Hugo trabalhava arduamente para terminar o trabalho de gramática. Depois da aula de Trato da Flora Mágica, que tiveram naquela manhã, havia o período de uma hora até o almoço, o que Hugo usou para tentar terminar o trabalho que se arrastava desde a semana passada. A professora Camila não havia gostado do trabalho anterior, por essa razão, designou que ele respondesse uma série de questões de concordância e gramática.

— O que está fazendo?

Roberto logo sentou-se ao lado de Hugo, colocando sua mochila cheia de livros na mesa com um baque.

— Terminando um trabalho extra de Estudos Gerais — respondeu Hugo cansado.

— Interessante. Vamos estudar hoje à noite?

— Não posso. Tenho que ir ajudar os Guardiões a levar algumas ervas para os caiporas na Floresta Profunda. Parte do meu castigo.

— Quanto tempo ainda tem de castigo?

— Uns quatro dias. Depois estou livre.

— Entendo. A resposta é ararambóia —  Roberto apontou com o dedo. — “Qual o principal ingrediente utilizado na poção de Mudança de Cor da Pele e quais suas características? ”, a resposta desta é ararambóia. Mais precisamente a pele dela. Tem uma descrição dos diferentes usos da pele no “Livro Prático de Poções” e no “Mil Ingredientes que Você Precisa Conhecer”.

— Ah, obrigado — respondeu Hugo. — É a única que falta para terminar. Vou usar o período entre a primeira e a segunda aula de Poções para terminar.

— Disponha.

— Não aguento mais esse castigo — reclamou Hugo enquanto guardava seus livros. — Estou fazendo as atividades com os alunos do terceiro ano da sala E. Tem um grupo deles muito irritante. Vivem pegando no meu pé. A Magda tem que fica me protegendo deles, é muito ruim.

— Imagino.

Roberto ponderou sobre a conversa e antes que Hugo saísse questionou:

— Posso ir com você?

Hugo ficou surpreso. Nunca imaginaria que alguém iria querer cumprir o castigo com ele, menos ainda depois de falar que era tão ruim.

— Você quer ir cumprir o castigo comigo?

— Não, não. Quero conhecer os Guardiões. Sabe, ter mais contato com eles.

— Ah, entendo. Por quê?

— Quero estudar mais sobre criaturas mágicas e acho que eles podem me ajudar. Eles lidam com as criaturas na floresta.

— Ah, sim. Lidam com várias sim. Depois do segundo período da aula de Poções me encontra atrás da cozinha e nós vamos lá.

— Ótimo. Vou sim.

Roberto ficou satisfeito por dentro. Tudo corria bem até aquele momento, o que certamente deveria significar alguma coisa. Não havia conseguido o feitiço de replicar, pois era muito complexo, mas tinha um plano alternativo em mente. Aliás, seria apenas por algumas horas, que mal havia nisso?, ele havia se perguntando, negando para si a resposta óbvia.

 

Maria abriu a porta com o coração pulando do peito. Havia esquecido sua balança para a aula de poções e não poderia permitir que o professor brigasse com ela novamente. Havia descoberto que não era muito boa nesta matéria.

Tentou fazer a poção de Arco-Íris Líquido na aula passada, mas foi péssima, tendo conseguido fazer uma poção com uma série de listras monocromáticas, ao invés das coloridas que se esperava. Muitos não foram bons na aula, mas os piores haviam conseguido tonalidades fracas do arco-íris ou então quatro das sete core. Maria havia sido a única a criar uma Poção Monocromática, que uma bronca do professor que ela jurou não receber igual.

Quase não precisou procurar muito para encontrar a sua balança. Estava ao lado da cama. Seria uma razão a menos para pegarem no seu pé durante a aula.

De repente, lembrou-se do doce que havia deixado no canto do quarto. Olhou ao redor para ter certeza que estava sozinha e foi até o canto escuro, ao lado da janela.

Encontrou alguns pequenos grãos de açúcar em um canto, onde antes havia deixado algumas bananas cristalizadas. Há semanas furtava alguns doces e colocava naquele canto do quarto, para que os puerios apanhassem durante a noite. Começou trazendo alguns restos do jantar, mas logo descobriu que as pequenas criaturas preferiam os doces, principalmente, as frutas cristalizadas.

Ela olhou para cima e por um momento não viu nada além do escuro no teto. Pressionou a vista e dois grandes olhos amarelos surgiram na escuridão. Depois, ela vislumbrou o contorno peludo da pequena criatura. Ao lado, dois olhos menores surgiram, um amarelo e outro vermelho, acompanhados de dois corpos peludos e menores.

— Bom dia — cumprimentou Maria. — Espero que estejam bem hoje.

Os puerios apenas olharam para Maria, analisando a garota e o local onde haviam sido deixados os doces.

— Hoje trago mais, prometo. Dessa vez, vou trazer um mix de frutas. Vocês vão adorar. Tenho que ir para a aula. Tchau.

Maria acenou para as criaturas e logo saiu do quarto. Ao lado dos três conjuntos de olhos, outros surgiram. Cerca de dez pares de olhos, amarelos e vermelhos. Os três primeiros apontaram para onde havia sido deixado o doce na noite anterior e para a cama de Maria. Os outros puerios concordaram e então todos sumiram na escuridão do teto.

 

— Onde você aprendeu a duelar? — Perguntou Eduardo curioso.

A história do duelo entre Miguel e Hugo contra os alunos do segundo ano havia se espalhado pelos alunos do primeiro e segundo ano, de modo que foi alterada em vários momentos, chegando a ser dito que os alunos do primeiro ano venceram os do segundo invocando um pássaro de fogo.

Eduardo sabia da verdade. Havia ouvido o relatos dos dois jovens e tinha uma boa noção do que fizeram, depois que Miguel demonstrou às escondidas os feitiços utilizados.

— Não sei — mentiu Miguel. — Por aí, em um livro.

— Não me vem com essa. Não temos nenhum livro que ensine esses feitiços e os bibliotecários não deixariam você sair com um livro desses até que esteja no terceiro ano. Não me deixaram sair com um livro de adivinhação por eu ser “muito jovem para esse tipo de coisa”. Pode me contar, eu sei guardar segredo.

Eduardo guardava o segredo de Roberto, mesmo que uma parte do seu cérebro dissesse para contar. Procurava evitar de falar que sua mãe era uma pessoa comum, sem dons mágicos, e não falava do segredo de seu pai com absolutamente ninguém, nem com a mãe.

Miguel olhou ao redor. Estavam os dois no Saguão Principal, com vinte minutos para o início do segundo período da aula de Poções.

— Bem, você conhece o Clube de Duelos?

Eduardo concordou. O Clube de Duelos era um grupo formado por bruxos que realizavam duelos legalizados e tentavam convencer o Congresso da Magia a reconhecer os duelos como um dos esportes bruxos oficiais.

— Então, na realidade, meu meio-irmão faz parte do grupo e me ensinou alguns feitiços de ataque e defesa.

Eduardo ficou impressionado. O Clube de Duelos era seletivo com seus membros. Ninguém podia entrar a menos que fosse convidado, pois prezavam a união do grupo como base para a solidificação de seus ideais. Desse grupo, saíram alguns dos maiores e melhores bruxos da América do Sul, como por exemplo, Gabriel Devonne, ex-Presidente da Magia, Lucivalda Peixoto, considerada a maior bruxa da época, Maurício Furdigaz, o ex-Ministro da Segurança Mágica e chefe do melhor grupo de aurores de que se tem notícia, e o Professor Luís de Defesa Pessoal, ganhador dos últimos três torneios realizados pelo Clube.

— Jura? — disse Eduardo de boca aberta.

— Mas não espalha — disse Miguel logo depois de concordar. — Não quero que fiquem sabendo.

— Tudo bem. Isso explica a razão de você ser tão bom.

Miguel riu.

— Não é por isso. Sou bom por esforço meu. Procuro entender melhor o mundo que vivemos, só isso.

— Bem, poderia me ensinar?

— O quê?

— Feitiços de combate.

— Por quê?

— Quero aprender. Pode ser que precise algum dia. Nunca se sabe quando podemos precisar.

— Tem certeza? Acho que se nos pegarem podemos ter penalidades.

— É só a gente se esconder. Acho injusto que só podemos ter aula de Defesa Pessoal no terceiro e quarto ano. Queria aprender antes.

— Tudo bem, mas já aviso que eu não sou um grande conhecedor de feitiços de ataque ou defesa. Só posso te ensinar alguns e aquele Reflectum que usei estava MUITO longe de ser sequer aceitável.

— Tudo bem, já serve. É um começo.

— Ótimo, vai custar mais três tortas de amendoim com calda.

— Mais duas.

— Três.

— Duas tortas e dois cola-língua por aula.

Miguel ponderou a proposta, mas no fim aceitou. Os dois apertaram as mãos e selaram o acordo.

— Me encontra atrás da cozinha, depois do jantar.


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