CASTELOBRUXO - O Início de Uma História escrita por JWSC


Capítulo 10
CAPÍTULO 10 – Herbrólias e Nodelonas




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Orlando sentou-se na poltrona de seu escritório, próximo a janela. Ao seu lado, a professora Hermenita Carona e o professor Fernando Santimbugo bebericavam suas xícaras de café. Preto para o professor e com leite para a professora.

— Isso não vai ser bom — repetia o professor Fernando, balançando levemente a cabeça, fazendo com que as diversas lentes do óculo criado por ele mesmo balançassem. Era o único professor de astronomia da escola e o segundo de adivinhação, tendo criado os óculos para observar as estrelas. Compartilhava seu amor em decifrar o futuro com seu irmão gêmeo, o professor de Aritmância, Francisco.

— Mas é necessário — disse Orlando com as mãos apoiadas nos joelhos e os dedos cruzados.

— O que nossos irmãos disseram? — Questionou a professora Hermenita.

— Também estão preocupados —  respondeu Orlando. — Na realidade, se preocupam desde que recebi a carta. São parte das minhas dores de cabeça diárias —  disse sorrindo, mas apenas a professora sorriu de volta, Fernando estava concentrado no café.

— Não vai dar certo — afirmou Fernando.

— Tenha fé, meu irmão — encorajou Orlando.

Nesse momento, a porta abriu-se devagar. Por um momento, pareceu que ninguém havia adentrado a sala, mesmo que Orlando sentisse a presença de alguém ao lado da porta. No instante seguinte, Augusto surgiu por baixo de sua capa de invisibilidade, sorrindo e acenando com a mão.

Entretanto, não foram sorrisos que ele encontrou nos outros. Fernando estava de olhos arregalados para o visitante e se recostara na poltrona logo após Augusto surgir. Hermenita havia inspirado profundamente e olhava de forma séria para ele. Orlando estava com um olhar meio desapontado para Augusto.

— O que foi? Algum problema? — Perguntou Augusto.

— Sente-se, irmão — ofereceu Orlando. — Precisamos conversar.

— O que houve? Problemas com a Irmandade?

Orlando olhou para os outros dois.

— Sim e não — ele apoiou as mãos sobre a calça social cinza que usava por baixo do sobretudo verde escuro, quase negro. — Temos algo muito sério a conversar com você, irmão. — Augusto prestava atenção em cada palavra de Orlando. — Esta informação não foi a público e duvido muito que irá, portanto, deve, em respeito ao Código de Honra e ao juramento à Irmandade, prometer que não sairá desta sala — após a confirmação de Augusto ele continuou: — Pois bem. Na noite de sexta-feira, houve um ataque a um dos Guardiões da escola. O sr. Bernardo afirmou que alguém o atacou, dentro das terras da escola.

“Ele terminava sua ronda pelo Mini-magizoo quando alguém o atacou. Pelo que disse, a pessoa usou um feitiço de abafamento, na esperança que ninguém o ouvisse agir. A pessoa que o atacou, dirigiu-se para uma parte escondida e tentou fazer algo, que nenhum de nós sabe ao certo o que foi. Bernardo tentou o impedir, mas foi derrubado."

— Como está o Guardião? — Questionou Augusto. Os outros se entreolharam, havia algo naquela conversa que não o agradava. — O que foi? O que houve?

— Bernardo passa bem —  tranquilizou Orlando. — Foi atingido por um feitiço de combate que o atordoou. Enfrenta uma gripe forte por ter ficado na chuva, mas está sendo tratado. Sorte que Magda estranhou a sua demora e foi procura-lo. Este caso se mostra extremamente curioso em vários pontos, entende? O que a pessoa fazia perto do Mini-magizoo? Por que se escondia? Por que atacou um Guardião? E, talvez uma das perguntas mais curiosas, como conseguiu entrar na escola em segredo?

De súbito Augusto percebeu o rumo da conversa.

— Como você sabe, a escola encontra-se no meio da floresta — começou a falar o professor Fernando. — Retirando a parte da Floresta Profunda que está dentro das terras da escola, mas que é protegida pelas próprias criaturas que ali vivem, o restante da escola é protegido por diversos encantamentos defensivo. Tanta é a proteção que o acesso se dá apenas pelos portões laterais e pelo principal, que é uma chave de portal. Mas ainda assim, os portões possuem feitiços de proteção que apenas são suspensos quando eles ficam abertos. A floresta e os arredores agregam grande quantidade de plantas e animais perigosos. O que torna extremamente curioso pensar em como alguém entrou, atravessou o terreno sem ser detectado e aproximou-se de uma das construções mais protegidas da escola.

— Entenda bem — começou a professora Hermenita, quando percebeu os nós dos dedos de Augusto embranquecerem conforme ele fechava a mão. — Não estamos o acusando de nada, irmão.

— Não? Só faltou mencionarem meu nome — Augusto disse irritado.

— Só estamos dizendo que são circunstâncias peculiares — argumentou Fernando. — Como você era o melhor dentre nós para esconder-se e passar despercebido, nós pensamos que...

— Que eu sou o principal suspeito — disparou Augusto levantando-se da cadeira.

— Só queremos sua ajuda para entender — a professora tentou acalmar o homem. — Queremos sua ajuda para compreender como isso ocorreu.

— E talvez, no processo, extrair uma confissão, certo? — retrucou Augusto.

— Irmão — chamou Orlando, com os olhos calmos e suplicantes. — Não duvidamos de seu comprometimento à Irmandade. Mas temos que descobrir quem causou esse ataque. Estamos contando com a sua cooperação.

— Vejo bem o tipo de cooperação que querem — disse Augusto e começou a afastar-se para a porta. — Meus próprios irmãos. Não acredito.

— Irmão — chamou Hermenita, mas foi em vão. Augusto escondeu-se por baixo de sua capa e bateu a porta quando saiu.

Os três ficaram na sala. O café esfriou e ninguém mais conseguiu tomar. Orlando pensava e repensava, tentando prever o que Augusto faria. Ele era o membro mais jovem a entrar na Irmandade e o mais impulsivo, sempre em busca de ação. Orlando conseguia controla-lo no passado, mas agora, já não sabia se conseguiria.

Hugo olhava o mural de notificações onde constava uma lista dos alunos da sala C e a pontuação de cada um. Em primeiro ligar na lista estava Elizabeth, com sessenta e cinco pontos computados, logo atrás vinha Maria com cinquenta e dois pontos. Miguel constava como penúltimo da sala, com menos cinco pontos, e Hugo vinha logo atrás, como último, com menos quinze pontos.

Graças ao duelo com Júlio, ele e Miguel perderam, cada um, vinte pontos, o que significava que no total geral da sala, o primeiro ano C teria quarenta pontos a menos.

A marca na mão começava a desbotar no entorno, pois já havia cumprido dois dias de seu castigo. Como o professor Luís disse, os cinco iriam cumprir detenções, além de cumprirem com as tarefas comuns de sua série. Foram castigados em duas semanas e, conforme informado, os carimbos nas mãos somente sumiriam depois das duas semanas e desde que cumprissem com as tarefas de forma aceitável.

Hugo jurou para si mesmo que não cometeria mais nenhum ato que lhe rendesse perda de pontos e desceu as escadas, em direção ao Saguão Principal. Maria, Miguel e Eduardo tomavam o café da manhã em uma das mesas, enquanto conversavam e esperavam dar o sinete da primeira aula. Hugo aproximou-se e puxou uma das cadeiras da mesa vizinha para comer com os amigos.

— Bom dia.

— Bom dia — responderam os jovens.

O carimbo na mão de Miguel estava meio apagado nas bordas. O garoto o exibia sem a menor vergonha, com as mangas do robe verde dobradas até quase os cotovelos. Hugo, por outro lado, tentava esconder a sua, com vergonha por ter sido punido.

— Como estão suas mãos? — Miguel perguntou.

— Boas, já voltei a sentir os dedos.

— Não vi vocês voltarem. Que horas voltaram? — Questionou Maria.

— Depois do último sinal — explicou Hugo. — O professor George de feitiços nos acompanhou até o dormitório. Estávamos cuidando das herbrólias na estufa cinco.

— Elas só florescem à noite e nas primeiras horas, absorvem quase todos os nutrientes da terra — explicou Miguel. — Então precisamos reabastecer o solo rápido. O detalhe é que elas não se alimentam de esterco, mas sim da raíz de nodelona.

— Nodelona? — Perguntou Eduardo.

— Sim — Miguel analisou os dedos feridos. — São plantas usadas para fazer poção de... acho que daquelas que melhoram o ânimo. Foram podadas na semana passada e congeladas, para não perder o efeito. Tivemos que triturar com as mãos e colocar nos potes.

— Espero que tenham aprendido a lição — disse Maria. — Ficar arranjando briga? Dentro da escola? Com alunos do Segundo ano? Onde estavam com a cabeça?

— Eles que começaram — respondeu Miguel.

— E vocês não deveriam dar corda — disparou Maria.

— E deixar eles nos azarar?

Maria estava prestes a responder quando Roberto chegou carregando um livro de capa dura e jogando-o na mesa.

— Bom dia — ele disse a todos e virou-se para Maria. — Maria, você é boa em transfiguração, não é?

— Um pouco.

— Consegue me ensinar a fazer esse? — Ele apontou para um feitiço que aparentava ser complexo, pelas etapas e instruções.

Geminio? — Maria levantou uma sobrancelha. — Esse é um feitiço muito complicado, Beto. Acho que só um professor conseguiria fazer.

— O que ele faz? — Disse Eduardo puxando o livro. — Duplica de forma perfeita um objeto. Que objeto quer copiar?

— Nenhum, no momento — respondeu Roberto. — Só estava curioso. Parece ser um feitiço muito útil. Poder copiar um objeto.

Eduardo não se convenceu com a resposta e ficou encarando o amigo, que percebeu a suspeita do outro e abaixou um pouco a cabeça. Maria pegou o livro de volta e continuou a ler.

— Aqui diz que ele pode copiar todo e qualquer objeto, mas não copia os feitiços que estiverem com o objeto. Bem como, a qualidade e perfeição da cópia vão depender da habilidade do bruxo que a executa. Realmente é um feitiço muito difícil.

— Se não me engano, há um feitiço semelhante — disse Miguel coçando o queixo. — Acho que o professor George mencionou algo. Duplio, eu acho. Pode duplicar algo, mas o objeto duplicado só existe por alguns minutos ou algumas horas, dependendo da habilidade do bruxo. Mas acho que só é ensinado para alunos do quarto ou quinto ano.

— Ah, obrigado. Acho que vou ter que esperar — Roberto puxou o livro para dentro da mochila, sob o olhar atento de Eduardo.

O sinete tocou e juntos os cinco foram para sua primeira aula do dia, Teoria da Magia, com o professor Frederico Matsuolli, um professor alto e magro, bonito e que atrai olhares das alunas por onde passava.

Depois do almoço, os alunos se dirigiram para a segunda aula que teriam naquele dia, História da Magia.

Os cinco subiam as escadas para o segundo andar, onde ocorreria a aula com a professora Fiorella. Hugo e Roberto andavam mais devagar, deixando que os colegas passassem.

— Beto — disse Hugo. Nunca entenderá a razão de chamar alguém por apelidos, mas quando Eduardo começou a chamara Roberto de Beto, o apelido pegou e ninguém mais o chamava de forma diferente. — Preciso de sua ajuda.

— Diga — Beto respondeu curioso.

— Semana que vem teremos o teste da professora Hermenita, para identificarmos a diferença entre um graminion e um guaraja camuflado, além de discorrer quanto aos usos das folhas dos graminions. Você viu que a minha pontuação está ruim na tabela, preciso me sair ótimo nesse teste. Você é o melhor na aula de Estudo das Criaturas Mágicas, pode me ajudar a estudar?

Roberto refletiu a proposta e de repente lhe surgiu um lampejo na mente. Uma ideia parcialmente elaborada havia brotado e ele teve que segurar a animação na voz.

— Sim, claro. Te ajudo. Quando quer que comecemos?

— Pode ser hoje à noite? Depois que limparmos as mesas do Saguão?

— Não tem castigo para cumprir hoje?

— Não, só amanhã. Vou perder metade do almoço com os alunos do primeiro ano D, limpando o Jardim das Estátuas.

— Entendo. Por mim tudo bem. Te encontro no pátio do dormitório, então.

Hugo pareceu satisfeito e Roberto se exaltava por dentro. Não seria natural que demonstrasse alegria por ajudar alguém a passar em um teste, mas não podia negar em como o destino havia lhe favorecido. Depois que ajudasse Hugo, podia lhe pedir um favor, uma ajuda para conseguir a única peça que faltava no plano que elaborava.

O professor Luís estava do lado de fora do Mini-magizoo. Ao seu redor conversavam de modo distraído os Guardiões da escola e os patrulheiros, a força especializada em lidar com animais mágicos e plantas mágicas e que garantia a proteção destes. Antes do pôr do sol, viram as silhuetas ao longe surgir através do Portão Principal, atravessando a Chave de Portal.

Os vultos negros logo começaram a mover-se. Foram recebidos pelo Secretário-chefe Cássio que os guiou até o Mini-magizoo.

— Professor Luís — cumprimentou Cássio.

— Senhor Secretário-chefe, Cássio — respondeu o professor.

— O senhor Armando Casagrande, chefe do Departamento de Contenção do Ministério de Segurança Mágica e chefe do Corpo de Aurores Sete — Cássio apresentou o homem que vinha logo atrás. Um homem com cerca de quarenta anos de idade, com uma cicatriz que começava ao lado do olho direito e subia pela cabeça, causando uma marca onde o cabelo não crescia. Tinha barba longa e olhos negros como a noite, um home intimidador com certeza.

— Senhor Professor Luís — cumprimentou o homem.

— Senhor Chefe de Departamento. É um prazer finalmente conhece-lo e espero que se sintam bem recebidos.

— Estamos honrados de fazer parte desta operação — disse o homem de modo firme e pontual, como se falasse com outro oficial a frase ensaiada.

— Ótimo — respondeu Luís. — Mas tenho que dizer que estou surpreso com a quantidade de aurores que o acompanha. Se me permite ressaltar, esperava pelo menos o dobro.

— Tivemos problemas no governo — respondeu o homem de forma brusca, como se não quisesse se prolongar no assunto. — No momento, somos a quantidade disponível. Podemos ver o local?

— Sim, claro. Eu acompanho os senhores — Luís estendeu a mão para a entrada, convidando os aurores a entrar. — Cássio, muito obrigado, eu assumo a partir daqui.

Cássio pareceu aliviado de não ter que permanecer com os aurores. Aproximou-se de Luís e segredou para o professor:

— Parece que ele não esta muito feliz com a missão. Que os céus te protejam, Luís.

Luís concordou com Cássio e logo tratou de ir junto aos aurores e patrulheiros. Sua juba laranja e as vestes claras se destacando entre os tons de verde dos patrulheiros e os tons escuros dos aurores. O portão fechou-se e um aviso mostrou-se suspenso na maçaneta negra do portão:

 

Proibida a entrada de pessoal não autorizado!

Prédio em obras essenciais para a sua manutenção.

 

A diretoria da Escola de Magia & Feitiçaria de Castelobruxo agradece a compreensão de todos.


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