TWD - Quarta Temporada escrita por Gabs


Capítulo 10
Dez


Notas iniciais do capítulo

"Você era, é e ainda será a minha missão."



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Passei a mão pela testa, impedindo o suor de cair em meus olhos, pois sabia que aquilo arderia como o inferno se acontecesse. Logo que amanheceu, continuamos caminhando sobre os trilhos e mesmo depois de ter olhado com raiva para Eugene, o qual não parava de falar, tive que pedir para que maneirasse, pois aquilo estava me irritando profundamente.

Mas ele não parou.

— Só está me incomodando. – Eugene comentava com Tara, enquanto andava ao seu lado – Sou um cara justo. Você me ajuda a achar suprimentos, e rachamos a bateria e as bebidas encontradas, por menos que seja. Fechado?

— Por favor, Eugene, fica um pouquinho quieto. – Falei alto, num resmungo irritado – Aprecie o silêncio, cara. Isso não vai te matar.

Ao lado do cientista, Tara riu um pouco, mas parou subitamente. Mais à frente, eu vi o porquê. Havia outra placa do Terminus e desta vez, estava pichada com o que parecia ser sangue.

“GLENN,

VÁ PARA O TERMINUS.

MAGGIE, SASHA E BOB”

Pisquei algumas vezes, olhando para as letras feitas com sangue.

Um riso escapou pela minha garganta.

Glenn saiu correndo, seguindo os trilhos como tínhamos feito durante todos aqueles dias. Ajeitei a minha mochila em minhas costas e apressei meus passos, andando o mais rápido que podia sem me cansar facilmente, enquanto olhava meu amigo coreano correr mais à frente.

— Conversei com o Abraham. – Jason me disse, assim que apressou seus passos até mim e começou a caminhar ao meu lado – Ele não vai mais te incomodar.

— Qual é a dele? – Perguntei baixo, crispando meus lábios – Aquele homem paga por uma briga.

— Não importa mais. – Ele comentou, como se aquilo pudesse responder minha pergunta

— Você confia neles? – Perguntei novamente, mas desta vez, mais baixo do que antes

— Sim. – Ele respondeu, me olhando por alguns instantes – Você não?

— Não os conheço. – Resmunguei, dando de ombros – Mas vou ter que ficar de olho naquela loirinha.

— Nela? – Ele perguntou e riu baixo – De todos que estão ali, você a acha mais perigosa? Ela não sabe nem usar uma arma.

— Não importa que não saiba manusear uma arma. – Murmurei, olhando para ele – Porque ontem, ela me lembrou eu mesma, quando me ameaçou por ter brigado com Abraham. Não se engane, Jason, aquela mulher mataria por seus amigos, assim como eu já matei pelos meus.

— Você não me contou nem o começo pelo que passou, não é? – Ele perguntou baixo, olhando atentamente para os meus olhos

— Não. – Murmurei novamente, negando com a cabeça – Mas, - respirei fundo, dando de ombros – acho que você passou por coisas parecidas. Me diga, como encontrou com eles? Não acredito que você tenha deixado o exército com o seu grupo, pelo que eu percebi, apenas o Abraham é militar...

— A primeira que eu encontrei foi a Kylie. – Ele me contou, depois de uns segundos em silencio – Ainda estava com uns soldados que saíram comigo da base improvisada que o exército fez. Nos encontramos em Cartersville, a uns... – Ele juntou as sobrancelhas, pensando – sete ou seis meses atrás, não me lembro exatamente. Ela nos ajudou e a convencemos de se juntar ao nosso grupo, você sabe, uma médica sempre é bem-vinda num grupo de militares. Encontramos com Abraham em Kennesaw e ele nos deu todo aquele discurso de salvar o mundo, aceitamos ir com ele, até quando fosse conveniente para nós.

— Você foi bem vago. – Comentei com ele, olhando-o – Esperava uma história e tanto.

— Não é uma história legal, cheia de finais felizes. – Ele comentou, respirando fundo – Perdemos muitas pessoas no caminho até aqui, de formas nada aceitáveis.

Murmurei qualquer coisa em resposta, sabendo como ele estava se sentindo.

Glenn se mantinha mais à frente, agora ele não estava mais correndo e sim andando muito rápido. Encarei a estrutura gigante da torre de concreto que se aproximava cada vez mais, e quando passei ao lado dela, me pareceu que tinha uns quatro andares ou mais.  

— ESPEREM AÍ! – Escutamos Abraham gritar, chamando nossa atenção e assim que me virei para olhá-lo, o vi contornar a estrutura de concreto, sendo seguido pelos outros – Vamos parar aqui. Cansaço dá lentidão. Lentidão dá em morte.

— Não é nem meio dia. – Glenn retrucou, depois de olhar para o céu

— Não quero nem saber. – Abraham também retrucou, deixando suas coisas no chão – A gente só dormiu umas horas direto desde que o bicho pegou. Esse lugar parece seguro. Nós precisamos descansar. – Ele encarou Glenn, enquanto balançava a cabeça negativamente – Eu sei. Você precisa encontrá-la. Rosita, Kylie, Jason e eu também temos uma missão. É manter esse homem vivo, levá-lo a Washington e salvar o mundo inteiro. Então vamos subir nessa torre e nós vamos agora!

Ele parou de falar assim que escutamos um grunhido familiar. Levantei meu olhar para o segundo andar da torre e vi um caminhante se aproximando da beirada, a qual não tinha proteção.

— Saco. – Eugene murmurou, também olhando para cima

— Ei, cuidado! – Kylie praticamente berrou, apontando para o caminhante lá em cima – Ele vai cair, sai já daí.

— VAI! – Abraham berrou e correu em direção a Eugene, se metendo na frente dele

Quando o Sargento fez aquilo, Eugene acabou batendo nas costas de Tara e a empurrou sem querer, a fazendo cair. Meu olhar não ficou preso nela por muito tempo, pois acompanhei a queda do caminhante até ele estourar a cabeça no chão.

— Você se machucou? – Escutei Kylie perguntar

— Estou bem. – Tara resmungou, mas não parecia verdade

A mulher loira se aproximou dela e se agachou, assim que levou sua mão para o tornozelo de Tara, a escutou suspirar pesado.

— Temos de ficar aqui. – Rosita falou alto

—  Certo. – Kylie murmurou - Quem me ajuda a carregá-la?

Glenn deixou a sua mochila no chão e se aproximou a passos largos de Tara, a ajudando a se levantar com a ajuda da mulher loira.

— Tudo bem? – O coreano perguntou a ela

— Sim. – Tara respondeu, afirmando com a cabeça

— Quer parar ou continuar? – Glenn lhe perguntou, olhando para seu rosto

— Continuar. – Ela respondeu – Estou bem.

— Tem certeza? – Perguntei em dúvida, ao vê-la pular de um pé só

— Estou bem. – Ela repetiu, me olhando por alguns instantes

— Então ok.

— Se ela consegue continuar, todos nós podemos. – Glenn comentou, olhando para Abraham – Ou vocês podem ficar. Vocês não precisam de nós, nem nós de vocês. Está tudo bem.

— Vocês dois são uns cretinos. – Rosita resmungou alto, olhando dele para mim, enquanto apontava levemente para Tara – Ela faz tudo que vocês mandam porque acha que deve um favor. Deixem de serem babacas e esperem aqui algumas horas.

— Ei. – Jason disse a ela, em um tom de aviso

— Ei o quê? – Ela retrucou, encarando ele

— Você só quer saber de manter o Eugene a salvo, não é? – Perguntei, me virando subitamente na direção de Abraham, ignorando os outros – Aposto que é só por isso que quer parar. Vamos fazer um acordo: Continuamos até o sol se pôr, o Glenn faz um belo de um strip-tease e dá a roupa de proteção para o Eugene agora mesmo. – Olhei brevemente para o coreano, apenas para vê-lo murmurar que eu era uma idiota, mas mesmo assim concordar com o que eu estava dizendo – Ótimo, ele concorda. Desse jeito será bom para todo mundo.

— Menos para ela. – Rosita retrucou logo em seguida

— Não é a mãe dela. – Abraham falou para ela e depois desviou o olhar para a Tara – Se ela diz que pode andar, ela pode andar. Trato feito. – Ele me disse, voltando a me olhar nos olhos

— Certo. – Murmurei e depois me virei para o meu amigo – Pode fazer o seu show, coreano.

Glenn balançou a cabeça negativamente, dizendo novamente o quanto eu era idiota e começou a tirar a proteção policial, para depois entregar ao Eugene e continuarmos com a nossa viagem.

Continuamos caminhando seguindo os trilhos do trem, conversando, mas nunca durava mais do que poucos minutos.

— O seu amigo não vai muito com a minha cara. – Jason comentou, segundos depois de ver Glenn olhar para trás, diretamente para nós e depois continuar a olhar para frente – Devo me preocupar?

— Não. – Respondi, juntando levemente as sobrancelhas – Ele está apenas... cuidando de mim, do melhor jeito que pode. Assim como eu cuido dele.

— Você iria mesmo atirar no Abraham, naquele dia que nos encontramos?

— Obvio. – Eu lhe respondi no mesmo instante e ao notar seu olhar, acrescentei – Não me olhe assim. – Resmunguei – Vai me dizer que você não protegeria aqueles que ama?

— Não pensaria duas vezes. – Ele murmurou, respirando fundo

— Assim como sua amiga loira. – Comentei com ele, dando de ombros

— Não deveria se preocupar com ela. – Ele me disse, negando com a cabeça algumas vezes – Você devia mesmo tentar conversar mais com ela. Vocês duas são parecidas, vão se dar bem. – E ao me ver revirar os olhos, ele riu e me empurrou pelo ombro – Deixa de bobeira, ruivinha.

Mais à frente, no caminho que estávamos seguindo, estava um túnel. Assim que Glenn correu, percebi o mais importante, na parede de entrada do túnel, tinha outro recado de Maggie, mas agora tinha mais um nome como assinatura.

“GLENN,

VÁ PARA O TERMINUS.

MAGGIE, SAM, BOB E SASHA”

— Sam. – Li seu nome, com um pequeno sorriso nos lábios - O Anderson está com eles.

— Estamos chegando perto. – Glenn nos avisou o obvio, depois de passar a mão no recado e olhar para os dedos – Ainda está fresco.

— Com certeza não dá para passar por cima. – Abraham comentou, olhando para o túnel – Que tal contornar?

Encarei o túnel completamente escuro, poderia ser perigoso, mas era o caminho mais rápido que tínhamos até eles.

— O que acha? – Perguntei, me virando para encarar meu amigo de olhos puxados – Contornamos ou continuamos?

— Continuamos pelo túnel. – Glenn respondeu no mesmo instante – Vai levar um dia, talvez mais para contornar. Se a Maggie atravessou, eu vou atravessar. Estamos perto.

— Cala a boca um pouco. – Abraham mandou, se aproximando a passos largos do túnel – Ouviram isso? – Ele mal esperou nossa resposta antes de continuar – É um túnel escuro e comprido cheio de corpos reanimados. Não tenho plena certeza de que faço o Eugene atravessar vivo. – Ele passou a mão pelo cabelo ruivo - Minha recomendação séria: Tirar o dia de folga, pegar o desvio e ir na boa, mas sei que não fará isso. Então é aqui que a gente se separa. Sinto muito. – Ele tirou a mochila das costas e a colocou no chão, perto de nós – Vocês dois estão sozinhos.

— Não estão, não. – Tara comentou, se aproximando de nós

— Ei, nem pensar. – Comentei, ao ver Kylie tirar três latinhas de comida de dentro da sua mochila – São suas. Vão precisar para a viagem.

— Vocês também. – Ela comentou logo em seguida, me oferecendo as latinhas – Vamos, pegue.

Mordi os lábios, enquanto colocava minha mochila camuflada para frente e abria o zíper. Kylie colocou as latinhas dentro da minha mochila e voltou a se afastar.

— Obrigada. – Agradeci, ao fechar a mochila e arrumá-la em minhas costas

Ela deu de ombros, como se aquelas latinhas não significassem muita coisa.

— Vão precisar disso também. – Abraham comentou, tirando uma lanterna de dentro da mochila e estendendo-a para Glenn – Aqui.

— Obrigado. – Glenn agradeceu, ao pegar a lanterna - Desculpe ter socado sua cara.

— Eu não. – Abraham lhe disse, ele sorria – Gosto de brigar.

— Nós sabemos. – Resmunguei, olhando para ele

— Boa sorte. – Rosita nos disse, enquanto se aproximava de Glenn para lhe dar um abraço - Tente não ser um cretino. – Ela comentou, assim que se afastou dele e se virou para me olhar – Você também, mas faça um pouco de esforço pelo menos. – Ela me abraçou, um pouco mais apertado que eu imaginei e eu resmunguei para ela tirar aquelas argolas, o que a fez rir e ir abraçar a Tara, antes de ir para perto de Abraham

— Vocês três são pessoas boas. – Eugene comentou, alternando o olhar entre nós – E eu preciso dizer meninas, que vocês duas são muito gostosas.

— Não se diz isso pra mulher nenhuma, seu idiota. – Kylie resmungou alto, depois de lhe dar um tapa no braço

— Está tudo bem. – Comentei, tentando segurar o riso – É meio que bom escutar isso depois de ter tido um bebê.

— Viu só? – Eugene perguntou para Kylie, num resmungo

— É, mas... – Tara murmurou, olhando para ele – Eu gosto de mulher, então para mim tanto faz.

— Eu sei disso, Tara. – Eugene comentou, afirmando com a cabeça

— Bem, - Kylie murmurou, se afastando de Eugene – boa sorte. – Ela me estendeu a mão, em um aperto e assim que eu apertei sua mão, ela se virou para Tara e Glenn – Boa sorte para vocês também.

— Então é isso. – Jason comentou, ajeitando sua mochila em suas costas, antes de se virar para Abraham – A conveniência acabou, colega.

O homem ruivo crispou os lábios e alternou seu olhar entre mim e Jason.

— Vai trocar uma missão louvável por um rabo de saias?

— Não, ele não vai. – Kylie disse meio alto, alternando seu olhar entre os dois, antes de se fixar em Jason, com dúvida – Você vai?

— Vou. – Jason respondeu, seu tom de voz novamente me pareceu cauteloso e eu só o ouvia falar daquele jeito quando se dirigia a ela

Kylie Weller estalou a língua, avaliando o homem à sua frente.

— Então, - Ela disse, depois de alguns segundos – estará sozinho desta vez.

— Não, não vou estar. – Ele comentou, se aproximando dela e lhe puxando para um abraço apertado. Assim que a largou, ele sorriu – Não seja uma bomba-relógio toda hora.

— Não seja um babaca toda hora. – Ela retrucou, balançando a cabeça negativamente

— E você, - Jason se virou para Eugene, balançando a cabeça negativamente algumas vezes – não faça esses tipos de comentários para as mulheres, é bizarro e assustador.

— Fui verdadeiro. – Eugene comentou, olhando para ele

— É, cara, eu sei que foi. – Jason concordou, rindo – Mas não é assim que se arruma uma foda.

— Beleza. – Abraham bateu as mãos, chamando nossa atenção para si – Se vocês se encrencarem aí dentro.... Deem meia-volta. Vamos voltar à primeira estrada que cruzamos. Talvez nos encontrem antes de acharmos o carro certo.

— Valeu. – Glenn agradeceu, olhando para ele

Os quatro se afastaram de nós, fazendo mesmo caminho que viemos. Jason se aproximou de nós e trocou algumas palavras com Glenn. Não escutei direito, mas acho que ele estava tentando se entender com o coreano.

— Vamos? – Perguntei a eles, já começando a caminhar para dentro do túnel

— Espere por nós. – Tara pediu, meio baixo

— Ei. – Escutei Glenn dizer, e me virei para olhar, ele estava falando com Tara, enquanto caminhavam atrás de mim – Eu sei o que está passando. Depois que tudo isso começou, quando me toquei que nunca mais veria minha família e amigos de novo, fiquei entorpecido. Passava o dia entorpecido. – Ele notou o silêncio dela - Só quero dizer que entendo.

Esperei que eles chegassem até mim e continuei a caminhar do lado deles, tendo uma visão melhor, já que agora, Glenn tinha ligado a lanterna e estava iluminando o caminho.

— Quando Brian contou que queria conquistar a prisão, eu sabia que era má ideia. – Tara nos contou – Quando encontrei minha namorada, ela estava morta. A minha sobrinha. Minha irmã foi cercada e estraçalhada. Eu vi acontecendo. E quando vi a Gabriela se esgueirando pelo pátio, tentando não chamar a atenção dos mordedores... eu sabia que tinha que ajudá-la. – Ela balançou a cabeça negativamente, respirando fundo – Mas mesmo assim, nada me faz esquecer o que o Brian fez ao pai da Maggie. – Glenn parou de andar e olhou para ela, meio que pedindo para que ela continuasse ou parasse de falar, eu não sabia dizer – Porque nessa hora eu descobri, naquele segundo, a espada, eu quis gritar “Não”, mas não deu tempo. O Brian falou que talvez matássemos pessoas. Eu fui a primeira a topar. Eu me agarrava ao “Talvez”.

E então ela continuou a andar.

E nós fomos atrás.

Caminhei ao lado deles durante todo o tempo, as vezes pedindo para Glenn mirar a lanterna em um ponto especifico, só para matar a minha curiosidade do que tinha ao redor. O túnel não era muito largo, cabia apenas um trem e seria morte na certa se os transportes ainda funcionassem.

Mas nada como um apocalipse para mudar as coisas.

— Não entendo porque veio com a gente. – Comentei aleatoriamente, me virando para olhar o rosto de Jason – Você simplesmente largou uma missão louvável e amigos. E eu não entendo ainda mais como o Abraham não insistiu para te levar junto, você é um bom soldado, Harris.

— Deixei claro para Abraham que ficaria com eles até quando fosse conveniente, ou até completar a minha própria missão. – Jason me respondeu, me olhando por alguns segundos – Você era, é e ainda será a minha missão. Não importa quanto tempo passar e pouco me importa as circunstancias, eu vou estar do seu lado. – Ele balançou a cabeça, enquanto olhava para frente – Já passamos um inferno muito pior do que mortos andando por aí, Gabriela. Estamos ligados, não só no campo de batalha como parceiros, mas fora dele também. E eu sei que aquela mulher pela qual eu me apaixonei ainda está aí dentro, em algum lugar.

— Shh. – Glenn falou subitamente e por alguns momentos achei que ele estava irritado com a faladeira de Jason – Escutem.

Apurei meus ouvidos, tentando escutar o que ele tinha escutado. Tinha grunhidos abafados mais à frente. Assim que a lanterna iluminou o resto do caminho, um resmungo escapou pelos meus lábios. Havia um desmoronamento mais à frente, e em baixo dele, havia alguns caminhantes vivos, presos entre os escombros. Glenn foi um pouco mais à frente e eu o segui de perto, apenas para olhar o que tinha acontecido. Dois desmoronamentos e no meio deles, havia um pequeno espaço. Mas ainda assim, tinham muitos caminhantes presos nos escombros, com os braços para fora tentando nos pegar.

Mas era seguro, por ora.

— O sangue está fresco. – Jason comentou, se aproximando de nós – Deve ter acontecido hoje.

Glenn apontou a lanterna para o teto, onde vimos alguns buracos pequenos em volta do buraco principal, de onde os escombros vieram.

— Segura isso pra mim. – O coreano me pediu, entregando a lanterna em minhas mãos. Enquanto eu segurava a lanterna, ele ajeitava a sua mochila em suas costas e pegava sua faca – Obrigado.

— Passar por cima? – Perguntei a ele, quase afirmando

— É, passar por cima. – Glenn me respondeu, balançando a cabeça positivamente

Tirei minha faca de combate do coldre e deixei com que ele fizesse as honras, que matasse o primeiro caminhante. Com a ajuda da lanterna, matei alguns caminhantes no meu caminho e escalei o pequeno muro de escombros que tinham se formado ali. Quando cheguei lá em cima e Glenn iluminou o caminho, vi que aqueles caminhantes soterrados eram apenas o começo. Haviam muito mais logo à frente e assim que viram a luz da lanterna, vieram em nossa direção, grunhindo e gemendo cada vez mais alto.   

Eram muitos para contar.

E isso não era nada bom.

Fiquei ali, encarando Glenn passar a lanterna no rosto de todo o caminhante que se aproximava de nós, tentando pegar nossos pés.

Eu sabia o que ele estava procurando.

Maggie.

— Glenn. – Tara o chamou, abaixando o tom de voz – O que está fazendo?

— Ela não é um deles. – Glenn respondeu, meio rápido

— Quê? – Tara perguntou confusa

— Não tem corpos no chão. – Glenn continuou – Então, a Maggie e os outros atravessaram. Ela atravessou. – Ele repetiu, respirando fundo – Nós temos de nos livrar deles.

— Não temos tantas balas. – Jason comentou, se inclinando um pouco para ver o chão

— Então, forçamos a passagem. – Glenn murmurou, olhando para os caminhantes

— Temos que achar outra maneira. - Tara comentou logo em seguida

Meu amigo foi para o outro lado do escombro e apoiou a lanterna ali, antes de voltar até nós. E de um jeito rápido, ele nos explicou seu plano.

Depois de mais ou menos uns cinco minutos, os caminhantes já estavam começando a se amontoarem perto da lanterna e tinham aberto um caminho no outro lado do túnel para nós. Glenn foi o primeiro a passar, seguido por mim e Jason, e tentando não fazer muito barulho, ficamos ali esperando com que Tara terminasse de descer os escombros, mas todos nós olhamos para ela quando a escutamos o som das pedras se movendo e Tara soltar um grunhido assustado.

— Tara. – Glenn se aproximou dela, rápido – O que foi?

— Não consigo. – Tara sussurrou

— Droga...

Olhei por cima dos ombros de Glenn e vi o que tinha acontecido. Tara estava com o pé preso no escombro e agora, o coreano estava tentando puxar seu pé para fora. Jason passou por mim e foi tentar ajudá-lo. A pedra que estava em cima do pé dela parecia muito pesada.

Enquanto eles estavam tentando libertá-la, eu me mantive perto deles, tentando me esconder o melhor possível dos caminhantes que estavam do outro lado do túnel, entretidos por uma misera lanterna.

— Mais uma vez. – Jason disse em um sussurro e logo em seguida escutei os dois fazerem força

— Vão embora. – Tara sussurrou, atraindo nossos olhares incrédulos – É sério. Vão embora.

— Não. – Glenn resmungou e tentou mais uma vez levantar a pedra de cima do pé dela

— Glenn, vocês não podem me salvar. – Tara disse aos sussurros – Mesmo que me solte, eu não posso correr. E se vocês ficarem aqui me ajudando, eles vão nos pegar.

— Deve haver uma saída. – Glenn disse para ela, num tom de voz baixo e sério – Deve haver outro jeito.

— Glenn, Jason... – Eu os chamei, também aos sussurros, quando vi que eles já estavam nos notando – Eles estão vindo.

— Vão embora! – Tara praticamente gritou – VÃO!

Antes mesmo de resmungar “Merda” escutei Glenn dizendo que não iriamos embora. Saquei minha pistola quando vi que os caminhantes já estavam perigosamente perto e atirei, mirando em suas cabeças. Quando Glenn e Jason se juntaram a mim no tiroteio, realmente achei que iriamos conseguir matar todos eles. Mas esse sentimento acabou quando apertei o gatilho e um som oco saiu da pistola.

Meu pente havia acabado.

Ótimo.

Quando achei que teríamos que matar todos apenas com facas, notei que uma luz forte estava se aproximando e por causa disso, tampei meus olhos, me encolhendo. Escutei Abraham berrar para que nos abaixássemos e praticamente me joguei no chão, antes do tiroteio começar.

Assim que os grunhidos dos caminhantes acabaram e os tiros cessaram, eu me levantei, com o apoio de Jason. Vi perfeitamente Glenn sair correndo e ir abraçar Maggie.

E mesmo sem ligar que iria atrapalhar o reencontro dos dois, eu corri em direção a minha melhor amiga e me joguei em cima do meu casal preferido, para abraçá-la também.

— Ei, eu também estou aqui. – A voz de Sam chamou minha atenção – Quer dizer, nós também estamos aqui.

— É cara, eu tô te vendo. – Jason comentou e depois soltou uma risada alta

— Não fode. – Escutei Sam murmurar – Harris?

Me separei deles, bagunçando o cabelo curto de Maggie, enquanto dizia o quanto senti sua falta. Mas logo deixei com que o casal melação ficassem a sós e fui abraçar o resto do meu grupo.

Um Bob baleado.

Uma Sasha meio séria.

E um Sam risonho.

Os outros não perderam tempo ao montar um acampamento ali perto dos escombros e enquanto Maggie e Glenn retiravam os corpos, Sasha ascendia uma fogueira no meio dos trilhos. Fiquei ali, conversando com Sam e Jason, perto da fogueira.

— É! E cara, ela estava lá, amarrada na cadeira, parecia pronta para voar no pescoço de alguém. – Sam contava, como se aquilo fosse um ponto alto em nossas vidas – Mas o interrogatório... – Ele fez uma careta

— O que aconteceu no interrogatório? – Jason perguntou logo em seguida, parecia muito interessado

— Algo que não merece ser comentado. – Eu resolvi intervir a conversa deles, com um comentário

— Bem, - Sam murmurou, e desviou o olhar para Jason – as pessoas do grupo são bem legais, você vai gostar deles. Apenas não... fique muito perto da Gabriela quando o Daryl estiver por perto, ele é meio territorial, se é que me entende. 

— E como vou saber quem é esse tal de Daryl? – Jason retrucou meio irritado, parecia cuspir as palavras

— Na hora você vai saber, acredite. – Sam comentou, batendo amigavelmente no ombro dele

— Ele tem uma besta. – Bob comentou despreocupado

Jason olhou para Bob, franzindo as sobrancelhas.

— Como é que foi? – Escutei Glenn perguntar

Virei meu rosto para olhar em direção a Maggie e o Glenn e os vi conversando com Kylie, Rosita e Tara, elas tinham acabado de chegar da ronda.

— O fim do túnel está seguro. – Rosita anunciou – Se algo tentar entrar, ouviremos com tempo de sobra.

— E claro, teremos mais tempo para agir. – Kylie completou, enquanto prendia novamente o cabelo em um coque

— A gente não se conhece oficialmente. – Maggie comentou alto, se aproximando de Tara, e parecia sorrir

— Ah, desculpe. – Glenn murmurou – Tara, esta é a Maggie. – Ele as apresentou - Maggie, essa é a Tara.

— Oi. – Tara a cumprimentou meio sem jeito, enquanto as duas apertavam as mãos

— Oi. – Maggie a cumprimentou, e pelo seu tom de voz, parecia sorrir  

— Ele é seu fã. – Tara comentou com Maggie, indicando Glenn com a mão

Maggie se virou para o marido e a vi alargar o sorriso.

— Gabriela e eu conhecemos a Tara na estrada. – Glenn contou a ela, e isso fez com que eu respirasse fundo – Não teríamos chegado até aqui sem a ajuda dela. - Maggie murmurou “Obrigada” e a abraçou, pude ver a expressão de surpresa no rosto de Tara. – Quando ela ouviu nossa história, falou que ajudaria. Ela é assim.

Tara sorriu sem jeito e se aproximou da fogueira, sendo seguida pelos outros três. E isso fez com que Sasha se levantasse e olhasse para eles.

— O que foi? – Glenn perguntou para ela

— Ele acabou de falar que sabe o que causou a epidemia. – Sasha me respondeu, apontando para Abraham

Então era sobre isso que eles estavam conversando?

— Sim. – Glenn concordou, balançando a cabeça positivamente – Ele sabe. Deixa eu adivinhar. Ele pediu para irem à D.C. com ele?

— Estou muito feliz que vocês se encontraram. – Abraham comentou com a gente – Deviam passar o resto da noite celebrando. Porque amanhã, não existe motivo algum para todos nós não nos enfiarmos na van e seguir para Washington.

— Ele tem razão. – Tara comentou com a gente – Eu vou.

— Não, ele está errado. – Eugene murmurou, atraindo os nossos olhares para si – Estamos a 55% do caminho de Houston para Washington. Até agora, tivemos um caminhão blindado militar e perdemos oito pessoas.

— Não foi nossa culpa. – Rosita retrucou, balançando a cabeça negativamente

— Eles morreram. – Abraham falou, olhando para Eugene

— Não acredito que teríamos melhor sorte com o carro de família que pegamos. – Eugene comentou com eles – Estamos a um dia do Terminus. Vai saber o que têm lá.

— Não faria mal dar uma olhada. – Rosita murmurou, olhando para o homem ruivo – Carregar suprimentos, quem sabe recrutar alguns para vir conosco.

— Eu vou com vocês, mas depois. – Sasha disse para eles e eu reprimi uma careta de desgosto – Tenho de ver o Terminus. Meu irmão pode estar lá. Eu preciso saber.

— Eu também. – Bob concordou, afirmando com a cabeça – As duas coisas.

— Se ele me diz que estou errado, eu escuto. – Abraham comentou, se levantando de onde estava sentado – Amanhã, vamos até o fim da linha. Depois, para Washington.

Não, não teria Washington para mim. Eu vou até Terminus ver o que tem lá e se não encontrar as pessoas que estou procurando, seguirei a busca por toda Georgia se for preciso.

Mas eu vou encontrá-los.


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