Hospedando uma sereia. escrita por Gabii Vidal


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Não tenho o que dizer, espero que gostem e comentem ♥ Esta sendo incrível escrever.



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Eu voltava da escola correndo, pegava atalho pelo porto, então tive que redobrar minha atenção para não cair na água gelada.

 Minha camiseta estava molhada e grudava no meu corpo, junto com o fedor de peixe. Obviamente a caixa com peixes para dissecar tinha que me escolher como alvo. Eu estava surpreso, porém não chocado...Azar não era uma novidade assim tão grande na minha vida.

Eu nasci destinado ao sofrimento e ao fracasso...Pelo menos foi o que meu tio me disse quando ele estava bêbado.

Nasci em uma família de pescadores muito pobres, desde que eu vim a esse mundo morei na mesma casa, um cubículo suspenso sobre o mar, sendo realista! Meus pais desapareceram uma vez quando foram pescar e nunca mais apareceram...Na época eu tinha três anos mais ou menos, o tempo deixou de ter a importância que tinha antes, todos me diziam que eles iam voltar, mas eu nunca tive esperanças.

Como se isso já não bastasse colocaram um tio alcoólatra para cuidar de mim...Se bem que quando ele não bebe é até legal, mas isso é tipo uma ou duas vezes no mês. Ele nunca se preocupou muito com meus estudos, disse que pescar não exige equação, então eu fui para a escola por vontade própria, porque dependendo dele eu não saberia nem ler.

E espero que ele esteja certo quanto a equação, pois estou aqui no 1° ano do ensino médio sem saber encontrar a porcaria do X. É, no mínimo, humilhante.

Cheguei no fim do porto e vi meu cubículo flutuando, ele havia aguentado mais um dia.

 Atravessei a ponte de madeira que ligava a casa do porto e abri a porta com certa dificuldade, ela estava emperrada.

Tirei a camisa fedendo a peixe e joguei em um canto perto da porta, depois cuidava dela.

 Fui até o banheiro para tomar um banho, mas logo me arrependi, a água estava gelada a ponto de congelar. Mas não teve jeito, terminei o banho o mais rápido possível e saí batendo os dentes.

Vesti meu bermudão e minha camiseta azul, era hora de pescar.

Saindo do banheiro eu dei dois passos até a sala, com a madeira rangendo sob meus tênis. Se o piso quebrava era um mergulho para uma hiportemia.

Abri a porta que dava para a sala da pesca, o que era basicamente um cômodo sem paredes onde ficava amarrado o barco e os equipamentos para pescar.

 Eu me dirigia a Firinfinfeia, o bote, quando algo se agarrou no meu tornozelo.

 Berrei e dei dois pulos para trás arrastando o que me segurava de trás da estante de iscas.

 Meu corpo inteiro gelou e começou a tremer. Nunca pensei que fosse possível, mas a pressão que eu sentia no meu tornozelo era bem real.

 —U-uma sereia...—Gaguejei tentando registrar o ocorrido.

Seus olhos lilás me encararam com desespero, algo que mexeu até mesmo com minha alma. 

—Me ajude, eu lhe imploro. —Ela apertou meu tornozelo mais forte e eu vi que ela estava a ponto de chorar.

 

Me agachei do seu lado e tirei sua mão do meu tornozelo.

 —Como posso fazer isso?  Te levar para o mar? —Perguntei, extremamente confuso, nunca vi nada sobre resgate de sereias no Animal Planet.

—Não! —Ela gritou, negando com a cabeça —Não posso voltar para lá!

 Seus cabelos castanhos brilharam, como se uma corrente elétrica tivesse passado por eles.

 —Então o que eu faço?

 Ela me olhou no fundo dos olhos, em forma de suplica.

—Poderia me acolher em sua casa? —Meu queixo caiu, eu não podia simplesmente acolher uma pré-adolescente com cauda em casa, meu tio acabaria se utilizando da pobrezinha por dinheiro.

—Claro. —Respondi contra a minha vontade e depois tampei minha boca com ambas mãos, enquanto ela esboçava um sorriso vitorioso.

—Agradeço a sua hospitalidade, mas pode me dar um pouco de privacidade? —Assenti com a cabeça —E algum de seus trajes também , pelo que observei vocês humanos não costumam sair na rua da forma como vieram ao mundo.

—Não mesmo, vou ver o que arrumo para você. —Disse no automático, ainda estava chocado por tê-la deixado ficar, eu só podia ser um idiota.

Fechei a porta e caminhei até o baú no meu quarto. Alguma das roupas femininas que colocaram no meu armário da escola deveria servir nela.

 Separei as peças que pareciam ser do seu tamanho, mas é difícil dizer o número da pessoa quando ela tem uma cauda atrapalhando.

Bati de leve na porta e esperei a resposta que levou uns dez segundos.

—Coloque no chão, não olhe para cá! —Decidi obedecer, vai que sereias realmente comiam carne humana de aperitivo.

 Abri a porta só o suficiente para as roupas passarem e fui para a sala, me sentando no velho sofá.

 Não conseguia pensar em nada, só em como eu era idiota e em como sair daquela situação, mas nada me veio a mente.

 

Esperei uns vinte minutos até que ela aparecesse na porta da sala usando um vestido branco de renda que por algum milagre era o tamanho exato dela.

 A garota estava descalça e cambaleava para andar, tropeçou algumas vezes, mas conseguiu chegar até o sofá e sentar do meu lado.

Seu cabelo havia secado de forma mágica, e agora uma cascata de fios lisos batia até suas costas.

—Eu realmente agradeço que me receba em sua casa...É assim que se chama, não é? —Concordei e ela prosseguiu —Tentarei causar o mínimo de problemas o possível, mas...

—Mas...— A incentivei a continuar.

—Eu gostaria de ir para a escola, poderia me levar?  

 Arregalei meus olhos e olhei para ela.

 —O que você vai querer na escola? Pessoas da sua idade dão tudo para sair de lá!

—Pessoas da minha idade? Nunca vi um humano que tenha vivido mais de 120 anos! —Ela zombou e começou a mexer no cabelo.

—Espera...—Parei para analisar a frase e tive um choque —Você tem 120 anos?!

—O quê?! —Ela me encarou parecendo ofendida —Por acaso eu tenho cara de bebê?! Imbecil...

—Não me culpe! Aqui 120 anos é bastante coisa! Como eu iria saber que idade de sereia é igual idade de cachorro?

Ela pareceu não entender, e apenas suspirou.

—Tenho 324 anos, o que dá aproximadamente...treze anos na idade humana, por aí.

—Tenho 17...—Disse apenas para não ficar o silêncio, aquela garota era bizarra. —Mas, qual seu nome?

—Me chamo Melodia! —Ela sorriu orgulhosa do nome e eu tive que conter um riso, que nome incomum, sem dúvidas eu não chamaria uma filha minha assim. —E você, garoto?

—Leonardo, mas por favor, me chame de Leo. —Me apresentei e ela nem tentou segurar o riso.

 —Que nome horroroso! Seus pais não te amavam? —Fiquei vermelho de raiva, ninguém havia educado a pirralha?

—E o seu então?! Quem chama Melodia? —Retruquei, aquela pirralha era insuportável.

—Muitas pessoas. —Ela respondeu seca e escorregou no sofá —Mas me chamam de Mêlo, se você preferir...—Ela parecia triste. Ótimo, além de chata a menina era sensível.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado e espero ainda mais ver vocês nos comentários ♥