Ouvia vozes, muito baixas, mas eram vozes. Tentava falar alguma coisa, mas seus lábios não se moviam, tentou mexer o braço, mas novamente foi em vão, seu corpo não respondia a seus comandos, mas podia claramente sentir todo ele doer. Sentia frio, aos poucos a vida parecia se esvair de seu corpo. Estava mais perto da morte do que nunca, e com esse pensamento algo veio a sua mente, a única coisa que conseguia pensar naquele momento, e tudo parecia perder a importância, toda a tristeza que sentia em relação a seu pai, em relação a ser chamada de fraca e querer provar o contrário, tudo isso desaparecia aos poucos, e a única coisa que permanecia em sua mente era...

- N-Neji...Nii...San...

Conseguiu pronunciar essas palavras em tom quase inaudível, mas havia conseguido, estas que foram acompanhadas de uma fina e solitária lágrima que escorreu de seu olho direito...Não podia morrer, tinha que ficar viva, ainda tinha muita coisa que queria fazer, que queria dizer, que queria sentir. Então finalmente as vozes cessaram, e tudo pareceu ficar mais escuro que nunca.


Seus olhos azul-claros eram abertos lentamente, piscou algumas vezes, para em seguida abruptamente sentar-se na cama.

- Hinata-sama! – Quase gritou essas palavras, olhando de um lado para o outro, para finalmente perceber que estava dentro de um quarto do hospital de Konoha, recebia soro em seu braço direito e vestia as típicas roupas de hospital, mas não havia notado que em a cadeira no canto da sala estava ocupada por uma pessoa, que se manifestou em seguia, fazendo o Hyuuga virar-se para onde vinha o som, e somente assim perceber que não estava sozinho.

- Não grite Neji, aqui é um hospital. – Essa voz era do pai de Hinata, tio de Neji, e no mesmo instante que ouviu aquilo o jovem pôs seus pés para fora da cama, fazendo menção de se levantar.

- O que aconteceu? Ela está bem? Onde ela esta? – Perguntava, sentindo seu coração estranhamente apertado, precisava vê-la, precisava saber se ela estava bem. O Hyuuga mais velho apenas encarava o sobrinho seriamente, permanecendo assim por longos segundos.

-...Os ninjas médicos fizeram tudo que puderam, realizaram todos os procedimentos necessários, mas os ferimentos dela eram muito graves...A Godaime pessoalmente cuidou de Hinata, e nos disse que o estado dela ainda é muito crítico – Permaneceu fitando o tio por mais alguns segundos após aquelas palavras, esperando que ele dissesse que aquilo era apenas uma brincadeira de mau gosto e que Hinata estava bem, mas ele não disse nada. Fechou com força seus olhos, desejando que fosse só um pesadelo, mas quando os abriu novamente estava no mesmo lugar, sim, aquela era a terrível verdade, mas era dolorosa de mais.

- Neji...O que realmente aconteceu para ela ter ficado naquele estado? – A voz de seu tio interrompeu suas tentativas de fugir daquela verdade, forçando-o a encara-la, e fazendo com que o jovem agora passasse a encara-lo, não conseguindo mais esconder a tristeza que sentia com aquilo.

- Ela...Ela já estava treinando há algum tempo, treinamentos muito pesados que estavam causando alguns ferimentos sérios nela, eu já havia dito para ela parar, mas ela não me ouviu. Então, nós...Nós lutamos ontem. Ela queria me provar que não era fraca e eu não protestei, entendia os motivos dela, e por isso lutei de verdade. Ela me venceu, mas parece que acabou muito mais ferida do que eu. – O Hyuuga mais velho quase não acreditava naquelas palavras, ele realmente não acreditava na força de Hinata, não acreditava que ela havia conseguido vencer o gênio dos Hyuuga. E Neji percebeu isso, o que fez uma estranha raiva tomar posse de seu corpo, fazendo com que cerrasse os punhos com força, ainda encarando o tio.

- Ela queria provar a todos, e principalmente a você que era forte. Você não sabe o quanto Hinata sofria com sua indiferença, e...Também com a minha. – Neji se levantou da cama, tirando o soro do braço e caminhando com um pouco de dificuldade até a porta, mas antes que saísse completou.

- Nós dois, e todos do clã Hyuuga, somos os mais culpados pelo estado de Hinata. Nós nunca reconhecemos que...Ela é realmente forte. – E saiu pelo corredor, deixando seu tio sentado do mesmo modo na cadeira, digerindo aquelas palavras com dificuldade, somente naquele dia ele havia percebido como havia subestimado Hinata, e sentia-se extremamente culpado por isso, mas agora já era tarde.

Neji andava pelos corredores apoiando-se nas paredes, procurando onde estaria o quarto de Hinata. Já devia ser madrugada daquele dia, pois os corredores estavam escuros e completamente vazios, assim não havia ninguém a quem pudesse perguntar qual seria o quarto de Hinata, então, a última opção que lhe restava era usar seu Byakugan para encontra-la. E foi isso que fez, mesmo ainda estando fraco, precisava vê-la. Encontrou, era um dos quartos no final do corredor, reservado para estados críticos, o que fez o medo de perder a prima só aumentar no Hyuuga. Caminhou até a porta, suspirando antes de por a mão na maçaneta e lentamente a abrir, deparando-se com Hinata deitada em uma cama, recebia soro e suas mãos estavam enfaixadas, estava ligada a um aparelho, que monitorava seus batimentos cardíacos, sua pele estava anormalmente pálida, e o bipe do aparelho era tão fraco quanto à respiração da kunoichi. Neji parou na porta, e por alguns segundos ficou a olha-la, a visão de sua prima daquela maneira doía, uma dor maior que a de qualquer ferimento, e sem que percebesse, sua visão estava embaçada, e em seguida um líquido quente escorreu por seu rosto, estava...Chorando. Aproximou-se a passou lentos de Hinata, segurando levemente uma das mãos dela, estava fria, e aquilo somente fez com que Neji sentisse seu coração sendo destroçado por dentro.

- D-desculpe...Desculpe Hinata-sama. Eu sei que a culpa de você estar assim é em parte minha, eu subestimei você, queria sempre te proteger e não notei que você não precisava de proteção, você é forte Hinata-sama. Desculpe-me...M-mas, por favor, não vá embora... – Suas palavras eram baixar, e a última frase havia sido terminada por um soluço, as lágrimas agora escorriam sem controle de seus olhos, e após ter se calado a única coisa que se podia ouvir naquela sala escura era o bipe do aparelho. Aproximou-se mais da cama, abaixando seu rosto um pouco mais para que ficasse próximo ao da Hyuuga mais nova, podia agora sentia a fraca respiração dela tocar sua face, e com isso fecho seus olhos, deixando que algumas lágrimas escorressem de suas bochechas e caíssem sobre as de Hinata.

- Hinata-sama...Aishiteru...– E seguindo essas palavras veio um singelo toque de lábios, que não durou mais do que cinco segundos, mas que demonstrou tudo que Neji sentia pela prima, e que escondera durante todo tempo pro trás de toda aquela indiferença. Após separar os lábios novamente Neji abriu seus olhos, fitando os olhos ainda fechados de Hinata, para em seguida sentar-se em uma cadeira bem próxima a cama, apoiando seus braços na cama e deitando sua cabeça sobre eles, chorava e soluçava sem controle, não queria perder Hinata, aquilo era pior do que qualquer coisa que já tivesse passado na vida.

- Por favor, não morra...Eu preciso de você...P-por favor... – Repetia isso várias vezes enquanto se afundava em lágrimas, queria ter dito o que sentia por Hinata antes, podia ter passado mais tempo com ela, podia ter visto o lindo sorriso de sua prima mais vezes, mas ao invés disso deixou com que a rixa entre a família principal e a secundária e o seu objetivo de ficar mais forte separa-los, e agora, era tarde de mais para qualquer coisa. Iria perde-la, iria perde-la antes mesmo de tê-la, e aquilo era tão doloroso que parecia que quando o bipe daquele aparelho cessasse seu coração cessaria junto, e nunca mais poderia ser feliz de novo. Seria uma pessoa morta por dentro, sem Hinata ele não teria mais vida.

- Neji-nii-san...E-eu...Eu não...N-não vou a lugar nenhum. – Aquela voz doce e baixa surpreendeu Neji, tanto que ele achou que fosse apenas uma peça pregada por sua mente, mas quando ergue o rosto já inchado devido ao choro deparou-se com os orbes claros de Hinata dirigidos aos seus, ela também chorava, mas tinha um sorriso nos lábios, estava feliz. Não acreditava naquilo, tanto que passou alguns segundos apenas fitando-a, já havia perdido as esperanças que ela acordasse, mas ela acordou, e aquilo era a melhor coisa que podia querer.

- Hinata-sama!! – Não conseguiu se conter e abruptamente se levantou da cadeira, abraçando a prima carinhosamente, enquanto as lágrimas continuavam a cair de seus olhos, mas agora de felicidade.

- N-Neji-nii-san...Eu t-também...Também a-amo você... – Com mais aquelas baixas palavras da kunoichi os olhos do Hyuuga mais velho se arregalaram, não esperava que ela retribuísse seus sentimentos, mas ouvir aquelas palavras era tudo que poderia querer, além de que ela ficasse viva. Finalmente se separou do abraço, fitando-a diretamente nos olhos enquanto pela primeira vez em muito tempo, sorria. Hinata retribuía o sorriso, e apesar de estar com a pele anormalmente pálida e sentir-se fraca, sentia-se mais viva do que nunca, somente quando estava bem próxima da morte que percebeu quais eram seus verdadeiros sentimentos. E depois daquela última frase nada mais precisou ser dito, apenas com os olhares eles se entendiam, entendiam os sentimentos um do outro e tudo o que se passava em suas mentes, e um desejo mútuo que há muito tempo estava escondido na mente de ambos se realizou, os lábios finalmente se juntaram em um beijo terno e delicado, que demonstrava tudo o que sentiam, a felicidade, a preocupação, a paixão e...O amor.