Os Voos de Madison escrita por Yasmin, Cristabel Fraser, Paulinha


Capítulo 3
Capítulo 3 - Fugitiva


Notas iniciais do capítulo

Oi, boa tarde!
Atrasada par variar.
Espero que gostem...
Beijoss



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Eu era uma das cinco crianças que viviam no lar de Ripper. Na verdade, eu fui à última chegar à casa amarela, que por fora era bonita, mas, no interior caía aos pedaços. Lá havia sido o último lar temporário, que aos meus onze anos, mais uma vez, o estado havia escalado. Mas, como sempre, em menos de duas semanas, eu fugi daquilo que me separava da possibilidade de encontrar meus verdadeiros pais.  

        — Você não pode mais fugir, querida, a Sra. Ripper, era uma boa senhora... — suspirou — Eu não vou conseguir mantê-la, por mais tempo aqui. E hoje nossa última chance.

        Eu não respondia, apenas olhava para senhora Trace que na maioria das vezes era muito paciente comigo. Na verdade, me protegia todas as vezes que eu fazia malcriação. Principalmente no dia de visitas, o que correria logo mais, quando os casais ricos, apareceria em busca de uma criança bonita e sadia.

        Normalmente, eles iam à ala dos bebês, ou dos pequenos com pouca idade. Somente em último caso, visitavam o minha área. Cujo, aquela, das crianças que passavam da idade de ser adotadas.

Se eu ficava triste com isso? De modo algum... eu comemorava.

— Linda, como uma flor. — tocou em sua barriga — Quero que ela seja linda como você, querida!!

 Trace estava grávida. E dizia que era uma menina, uma menina que eu já invejava antes mesmo dela nascer. Não era aquela inveja ruim, era só aquela coisa boba, de uma menina órfã, que sonhava em ter uma mãe como ela.

— Terminei. — ela pegou um espelho em sua bolsa e colocou na frente do meu rosto. — Perfeita!!! — Ela havia feito duas tranças e colocado um laço rosa que combinava perfeitamente com meu vestido. Eu realmente estava apresentável, e temia, temia muito que dessa vez alguém me adotasse.

Desesperada com a possibilidade, eu levei a mão no cabelo, queria desmanchar o belo trabalho que minha assistente social feito. Mas, não o fiz, pois, um garoto adentrou no almoxarifado que a diretora Coin havia cedido para que fosse sua sala. Ela dizia a senhorita Trace que o orçamento estava apertado, então o espaço era tudo que restava. Mesmo assim, nunca ouvi Trace reclamar.

— Mãe!!!

Um garoto loiro, com os olhos, cuja cor parecia o oceano — não que eu já tivesse conhecido um — aproximou-se de nós duas me olhando assustadoramente.

Abaixei meu rosto, quebrando totalmente nosso contato.

— Vamos demorar?

Trace que iniciava a separação de alguns documentos. Olhou de um jeito questionador para ele.

— Não vai dar um oi, a Katniss?

— Oi, Katniss!!! — eu o olhei rapidamente, dando apenas um leve aceno de cabeça. — O gato comeu sua língua? — Perguntou quando não emiti nada. A senhorita Trace riu.

— Ela é tímida, Peeta. — A essa altura eu já estava vermelha de raiva do garoto, metido a besta. — Esse é meu filho, Katniss. Não precisa ter vergonha dele e não liga para o que disse, é um boquirroto.

— Percebi. — falei sem querer e a senhorita Trace riu mais ainda, fazendo o garoto me olhar com indiferença.

— Vamos demorar mãe? — perguntou novamente com um ar de chorão. Semicerrei os olhos na direção dele, achando-o totalmente o contrário do que a mãe dizia dele.

— Mais um pouco, Peeta. — ela beijou a testa dele e se levantou, desajeitada pela enorme barriga. — Só preciso acompanhar os visitantes, depois disso, podemos voltar para casa. — Ela separava algumas fichas...

— Não vejo ninguém aqui. — O tal Peeta girava o grande globo terrestre, mas logo o parava com o dedo indicador. Parecia fazer um sorteio, como uma roleta russa. A última vez que fez o movimento, o país sorteado havia sido Japão. — Estou perdendo o meu domingo, eu devia estar na casa do Finnick, jogando meus games... — iniciou uma série de reclamações até a mãe dele se estressar. Nesta hora eu ri por dentro.

— Tenha paciência, Peeta.

   Assustei quando ela respondeu pela terceira vez, mas na última elevando a voz. Não porque foi audível ou agressivo. Acho que é porque sempre é muito amável e não conheço esse seu lado “sou como qualquer mãe normal”.

— Eu não vou demorar, porque não o leva para conhecer o lago, Katniss?

— Eu? — mexi os lábios. Por que, eu? Queria dizer...

— Sim, querida. Vou demorar um pouco e preciso distrair esse bebezão, senão ele morrerá de tédio longe dos games — apertou a bochecha dele e caminhou até a porta de saída, recomendando também, que eu em hipótese nenhuma me sujasse.

— E aí, aonde vai me levar? — Perguntou ele, quando ficamos a sós.

Levantei sem respondê-lo. E caminhei para fora do almoxarifado, sentindo os passos pesados dele, logo atrás de mim.

— Você é muda mesmo?

Parei de andar com sua pergunta e respondi:

— Não, você que fala demais...

Ele levantou a sobrancelha, feito aqueles garotos bobos que fazem de tudo por uma garota bonita da escola. Continuei caminhando até estar na área externa do orfanato.

O sol estava quente, fervilhando, muito quente para aquela época do ano. No parque as demais crianças brincavam de uma forma diferente dos outros dias. Com mais cautela. Para não terminarem enlameados, da terra escura que cobria o orfanato.

Não me aproximei de ninguém, não tinha amigos. Eu era a mais velha da trupe toda. Todos que haviam chegados junto comigo. Já tinham encontrado um lar voluntário ou um tutor temporário nomeado pelo estado. Mas, eu ainda estava aqui. Contrariando Alma Coin e dando um enorme trabalho para senhorita Trace. Que me considerava o seu caso mais grave.

— Vamos ficar parados? — o garoto abusado tomou a minha frente, caminhando na direção do lago. Eu o acompanhei, vendo minhas sapatilhas brancas, ganhar uma cor amarelada a cada passo que eu dava na grama que havia sido cortada.

— Eiiii... — corri até ele segurando meu vestido — Não podemos andar de barco. — tentei fazê-lo esquecer daquela burrice.

— Ah, vamos? Está com medo?

Desafiou-me com um sozinho travesso. O garoto metido não sabia com quem ele estava se metendo. Entrei no barco, logo em seguida pegando o remo.

—Depois não diga que não avisei — me sentei.

— Pesada. — ele o empurrou, com uma força tremenda até a pequena embarcação estar flutuando na água e para que conseguisse entrar, molhou toda sua bermuda.

— Sua mãe vai ficar uma fera. — observei seu estrago.

 Ele estava em pé no centro do pequeno barco. Olhando milimetricamente para os lados.

— Ela não disse nada sobre mim e sim de você. — sentou pegando o outro remo. Então, iniciamos os movimentos até chegamos ao meio do lago com o sol ardido em nossas cabeças. O garoto era tão branco, que sua cor alternava entre rosado e vermelho. E eu ri. — Está rindo de quê?

— Parece um pimentão. — zombei tapando minha boca.

— Não tem graça. — rosnou, acelerando suas remadas, enquanto eu fazia o mesmo. O esforço era tão grande que minha testa já respingava. Quando demos por nós, já estávamos dando a volta no lago, próximo dos ciprestes que tinham seus galhos enormes imóveis pela ausência de vento. Nesse mesmo instante uma águia gigantesca voou sobre nossas cabeças. Ela era branca. As penas densas, bico pontudo e afiado. Digno de um animal cuja lenda que se diz renascer das cinzas.

— Deixe que eu reme. — pegou os remos de minha mão e tomou a direção do pequeno barco — Olha seu cabelo— apontou para o chão e vi um dos laços que devia estar no meu cabelo, caído no piso do barco, enquanto minha trança se desfazia.

— Não tem importância. — eu disse, sem me importar com aquilo.

— Pra minha mãe tem. — Me surpreendeu, ao dizer isso, e remava, com um ritmo mais lento. — Ela quer que você encontre um lar.

Todos aqui querem isso, pensei em dizer.

— Um lar de verdade— ele disse entendido do assunto —... não aqueles indicados pelo governo.

Estranhei ele saber disso.

— Como sabe disso? — Achei que jogasse apenas vídeo game.

— Escutei meus pais conversando sobre um novo emprego que meu pai teria de recusar porque minha mãe não quer deixar o orfanato.

— Por que, não quer?

— Por você... Não até encontrar uma boa família que te adote. Mas, ela disse que você faz de tudo pra isso não acontecer, por quê? Você é doida ou algo do tipo?

— Eu não posso... — Sibilei, pensando nos meus motivos que jamais ninguém conseguiria entender...

Era só nisso em que eu pensava todos os dias. Todos os dias que eu sabotava as minhas chances de encontrar uma nova família.

— Mamãe disse que você foi péssima da última vez. Como pôde fazer aquilo?

— Eu não gostei daqueles dois. Eles já tinham seis filhos.

— Você é maluca. Não pode esperá-los para sempre. - a essa altura ele já havia parado de remar e uma leve brisa balançava os galhos do cipreste, dando força o suficiente para que o barco deslizasse vagarosamente pela as aguas verdes que caía nas margens do lago.

— Eu não quero falar disso.

— Não quer, porque é uma egoísta...

Quem esse metido a besta pensava que era pra me dizer esse tipo de coisa? Egoísta eu... será que ele não enxergava onde eu estava? Num orfanato onde pessoas inférteis — não vou dizer todas — apareciam para comparar quem era o mais saudável e robusto, como gatinhos ou cachorrinhos que eles poderiam levar para casa?

— Você não sabe o que está dizendo. — peguei o remo e iniciei os movimentos. Queria me afastar antes que eu tenta-se afoga-lo.

Então, começou um longo discurso do que eu poderia fazer com uma família. Mas, para ele, era fácil dizer. Ele era criado por seus pais. Não por um estranho que supostamente ficara comigo para receber a ajuda de custo do governo.

— Eu não posso, entendeu? — saí do barco e pisei no chão firme.

— Meu pai perdeu o emprego. Se continuarmos aqui ele não conseguirá ver o bebê nascer.

— Pra onde vocês irão?

— Alaska.

— Mas, eu não posso... — agarrei nos meus próprios medos e corri para meu esconderijo de sempre.

Da porta do meu dormitório eu conseguia ver os casais, escutando atentamente a senhorita Trace dizer o quão inteligente eram suas meninas. Ela não estava mentindo, ao menos para algum coisa útil servia a Diretora Alma Coin que nos cobrava rigorosamente as melhores notas. O orfanato municipal, digamos que poderia ao menos se orgulhar de seus abrigados.

— Quero ver ela. — Uma senhora robusta, onde eu não consegui ver o pescoço apontou para a minha cama. — Katniss. — ela riu — Se ficarmos com ela, vamos mudar esse nome — afirmou com categoria.

Assustada por ouvir aquilo, eu corri. Corri desordenadamente. Eu não podia ser adotada por alguém como ela. Alguém que me via como um objeto a ponto de querer mudar meu nome. Meu nome era a única ligação que eu tinha com minha verdadeira família. A única lembrança deixada por meio de um bilhete e nada mais.

Não. Eu não podia!

Ao passar pela porta novamente, me deparei com Peeta, o menino dos olhos cor de oceano. E supus que meu desespero estava estampado em meu rosto, pois assim que desci o último lance de escada, ele me puxou pela mão.  Guiando-nos até a direção do pequeno celeiro na área externa do orfanato.

Ofegante, paramos a corrida assim que alcançamos o chiqueiro dos porcos. Ele tinha um olhar esmaecido. Parecia com raiva, mas mesmo assim havia me ajudado.

— Terra chamando... — Peeta estalava os dedos na frente do meu rosto. Seu sorriso era irônico, igualmente como seu olhar. — Admirando a paisagem? — ele disse enquanto meus olhos percorriam por cada célula do seu corpo que havia ganhado massa e até mesmo não pude deixar de notar uma ruga na região dos olhos.  Mas ainda, continuava lindo. O meu menino presunçoso apenas havia se tornado um homem. Um lindo homem!

Ao mesmo tempo em que odiava a ideia. Uma esperança incomoda tomava de mim. Não sabia como agir, o que dizer...

— Oi. — foi tudo que consegui responder..

— Katniss... — ele sorriu olhando para os lados — Você é a Katniss? — Conformei com a cabeça e ele me olhou confuso.

Será que estava se lembrando de mim? Do quão, depois daquela tarde que me salvou de uma adoção passamos a ser importante um para o outro. Fazendo até mesmo...

— Prazer? — ele interrompeu meus pensamentos e estendeu sua mão direita.

Não... eu entristeci novamente. Ele não se lembrava de mim. Como eu poderia ter esperança que ele se lembraria da garota magrela maltrapilha que fui.

Eu dei um passo para trás, ficando longe do seu perfume levemente adocicado que dava uma incontrolável vontade de ficar ali só para continuar sentindo a essência.

— Prazer. — repetiu com as mãos no ar.

— Prazer. — eu disse nervosa e dei as costas para esconder a vermelhidão que tomava conta do meu rosto.

— Aonde vai?  — ele se pôs à minha frente, impedindo minha passagem — Eu não mordo. — chegou mais perto — Não, se você, não quiser. — sorriu presunçosamente, se mostrando novamente o quão, medíocre ele tinha se tornado — Brincadeira. — fez sinal de rendido ao perceber que não gostei nada, nada do seu atrevimento comigo.

— Idiota.

 Coloquei a mão na boca por ter dito aquilo ao ver seu semblante se tornar implacavelmente sério. Mas, ao ver minha feição arrependida, ele sorriu mais presunçoso que nunca.

Ele ainda era o idiota!

Afastei dele e antes de deixar definitivamente o restaurante o escutei, desejando-me “Boa noite”.

Cheguei ao quarto uma pilha de nervos. Nem o vinho que havia bebido durante o jantar fez meus músculos se aquietarem. Eu não podia ficar pensando nele e, em tudo que tinha acontecido. Não era uma boa ideia trazer à minha mente o passado. A saudade que eu senti, depois que ele havia se mudado.

Droga! Quase soltei um grito, mas logo me lembrei de que estava hospedada em um hotel. Eu precisava me distrair. Liguei a TV e com o controle passei aleatoriamente os canais até ver a abertura do programa Later Show, com David Letterman. A entrevistada era nada mais nada menos que Glimmer Rabin, uma atriz que tinha ganhado recentemente o Oscar. Eu não era muito fã dela, mas os filmes que protagonizava eram bons. Procurei algum doce na cesta em cima do frigobar. Tirei minhas roupas substituindo-as pelo meu pijama e me sentei em posição de índio no centro da cama para me entupir de guloseimas. Sem perceber minha mente já se anuviava e meu corpo caiu em câmera lenta sobre a cama.

Não vi quando dormi. Só sei que depois de rolar muito. Foi um sono só, que acordei somente com Annie ao amanhecer, entrando sorrateiramente em nosso quarto.

— Bom dia — ela disse assim que acendi as luzes do abajur e olhei as horas. Faltavam apenas alguns minutos para o despertador do meu celular tocar. — Eu...

— Vou tomar banho — interrompi sua fala e caminhei para o banheiro, sentindo uma leve dor nas têmporas. Quando sai do banho, me deparei com uma Annie sorridente demais olhando para  o lado de fora da janela — A noite foi boa? — apertei a toalha em torno do corpo e caminhei na direção da minha mala.

— Katniss... — ela me olhava culpada — Eu não consegui resistir...

Seu sorriso era largo. Mais largo que o habitual. Eu queria dizer que tudo poderia dar errado. Mas... Não consegui.

— Conte-me tudo, depois, estamos atrasadas... — ela assentiu e entrou no banheiro.

Durante os voos daquele dia eu fiquei mais calada que habitualmente. Evitei me aproximar da cabine dos pilotos. Atender o interfone ou qualquer outra atividade que me ligava a Peeta.

Até então não tínhamos nos visto, mas assim que chegamos a Madison, nos encontramos quando o ultimo passageiro deixou a nave e precisamos nos retirar também.

 E por Deus.

 Ele estava lindo.

Tão lindo que eu até esqueci-me de onde estávamos.

“Peeta”

Todos nós olhamos para uma  mulher corria na direção dele.


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Notas finais do capítulo

Até...



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