Os Voos de Madison escrita por Yasmin, Cristabel Fraser, Paulinha


Capítulo 1
Capítulo 1 - Substituto


Notas iniciais do capítulo

Happy New Year!!!!
Oi, gente, olhem só quem está iniciando o ano com uma história nova? Rsrsrs
Sim... Dona Bel e, eu estamos nisso juntas, esperando de coração que vocês gostem do enredo que esse casal maravilhoso irá protagonizar.
Espero, vê-los nos comentários.
Beijosssss, ah a Bel mandou recadinho pra vcs:
Pra mim é um imenso prazer estar escrevendo junto dessa autora maravilhosa a qual considero uma amiga.



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Trilha sonora deste capítulo:https://www.youtube.com/watch?v=GpKnu8iTTDc

— Só mais cinco... Só mais cinco minutos, mãe. — resmungo sonolenta.

— Não filha, acorde! — sinto suas mãos em meus cabelos, fazendo minha mente relaxar ainda mais. — Acorda minha menina! — repetiu carinhosamente, tornando o momento um motivo a mais para não acordar. Pois, era raro isso acontecer. Durante todos esses anos eu nunca tinha recebido um cafuné, um afago, qualquer demonstração de carinho vindo dela. E, do fundo do meu coração eu gostaria que esse momento durasse para sempre. Ou que se repetissem mais vezes. Mas, o que está acontecendo agora, não é algo que posso controlar. Tudo depende do meu consciente que vez ou outra me permite sonhar. Então, obrigo minha mente continuar neste sonho, no qual recebo um afago de suas macias e delicadas mãos.

Suas unhas estão pintadas de um tom rosa e por sua pele ser branca, assim que imagino, estão um pouco enrugadas por ela já ter seus cinquenta anos.

Remexo para o lado esquerdo no delicioso e aconchegante colchão que estou deitada apreciando este momento. Só me lembro de ter sonhando algo parecido quando eu tinha uns nove anos. Foi meu sonho mais realístico, onde pude criar os traços de sua face, baseando-se nos meus. E no meu sonho ela era linda. Éramos tudo uma para outra. Éramos nós duas e nosso trailer que nos levava numa viagem de norte a sul do país. E em nosso último destino, chegamos numa cidadezinha que sempre quis morar e lá tinha um hotel velho, caindo aos pedaços que compramos e depois reformamos e foi nesse exato momento que meu sonho sonhado há dezessete anos fora interrompido, mas eu ainda consigo me lembrar com riqueza de detalhes em como planejei conscientemente, de que maneira tudo aconteceria.

O hotel teria dois andares, no térreo, teria um restaurante e minha mãe seria a chefe, e no andar de cima seriam os quartos. Belos quartos decorados com papeis de parede. Na minha imaginação infantil, ele seria todo rodeado por bambus, e a luz seria aquela meio amarela, fria, para combinar, meio estilo havaiano. Perfeito para a cidadezinha, no mínimo encantador. Nesta época, passou pela minha cabeça que eu poderia ser arquiteta para tornar isso real, e isso me rendeu coleções de desenhos de plantas de casas, tudo metrificado e calculadinho para não dar errado.

Mas daí o tempo foi passando, as prioridades mudando... Pensando bem, acho na verdade, que a realidade foi ficando mais próxima e infelizmente eu me perdi no meio de tudo, ou melhor, eu encontrei novos caminhos no meio de tudo. O fato é que, alguém chegou à minha frente e comprou o antigo hotel e o transformou em um belo lugar, totalmente diferente daquilo que planejei.

Mas esse não era o pior detalhe. A mãe dos meus sonhos nunca havia chegado com seu trailer colorido. Tão pouco me levado para conhecer os lugares mágicos que toda criança almeja conhecer.

Essa única parte da minha verdadeira história é a mais dolorosa, no entanto não me permito chorar, tão pouco pensar ou perder qualquer milésimo de tempo da minha vida, por alguém que era obrigada me amar, no entanto foi à primeira abrir mão de mim, por algum um motivo torpe, grave, injustificável. Eu não sei.

Enfim, abro os olhos. Volto para vida real e finalmente me levanto. Eu sempre consigo despertar sozinha, depois de anos acordando em horários diferentes, meio que meu organismo acostumou. Nunca me atraso, ainda mais quando esse é meu último voo da semana e finalmente dormirei na minha própria cama e não em uma cama de hotel.

Rapidamente, faço meu ritual, tomo uma ducha quente, seco os cabelos, faço minha impecável maquiagem e por fim, me fantasio de aeromoça.  Logo, estou pronta para voar.

— Pontual como sempre, senhorita... — comenta Boggs, o comandante, quando me encontra na recepção do hotel. Fui a primeira a descer e enquanto esperava me distraí folheando alguns prospectos de viagens. — Pronta para seu último voo comigo? — Senta na cadeira a minha frente e diferente dos meus prospectos ele pega uma revista de automóveis.

— Será um prazer senhor. — respondo em certo lamento, pois pensei que esse dia nunca chegaria, mas desde que a companhia aérea renovou o seu presidente, estamos passando por uma restruturação de funcionários, bem como corte de gastos. E há uma semana ele foi informado que seria dispensado. Não foi nada pessoal como pensamos de início, porque ele não foi o único, houveram demissões em massa, principalmente com funcionários mais antigos. Comissários de bordo, pilotos ou qualquer outro acima de cinquenta anos foram dispensados. Eu não sei qual a finalidade disso, mas dei graças a Deus por ainda ter meus vinte e cinco. Pois ainda preciso desse emprego que mesmo não sendo tão glamoroso como dizem - usando o exemplo de Boggs -, não ganhamos tantas folgas ou tanto dinheiro quanto nossos parentes pensam.

 E uma mulher jovem como eu, é impossível manter algum tipo de relacionamento amoroso que seja forte o bastante para superar a ausência e até mesmo se manter firme nas regras de um. Todavia para mim ele ainda é suficiente para honrar as contas de casa e a mensalidade do curso de hotelaria que faço nas horas vagas, uma vez que ainda não descartei a ideia de ter meu hotel do jeito que um dia sonhei, aliás que com o tempo eu o aperfeiçoei e, atualmente materializa-lo é o que me impulsiona a ser milimetricamente responsável. E não mandar os donos da Everlines para o lugar mais quente da terra.

— Já pensou no que vai fazer? — pergunto solidaria a situação.

— Sinceramente não... — deixa a revista de lado e tira seu quepe, azul marinho. — Acho que vou descansar um pouco. Não vê? — Passou a mão onde deveria ter cabelos – Estou careca. — riu de si mesmo — Me dediquei a vida toda a essa companhia, perdi meus cabelos e agora serei substituído por um moleque de no máximo... — ele hesitou fazendo uma careta engraçada — Trinta anos. — bufou, lamentando o quanto estava se sentindo descartável e para um homem de sua idade aquilo não era nada prazeroso.

— Não é justo. — digo.

— Não é nada justo — Boggs concorda — Mas, há males que vem para o bem, quero pensar que essa mudança, seja um sinal divino, algo do destino.

— Divino?

— Sim. — Ele se aproximou e disse baixinho como se fosse um segredo — Para enfim colocar em pratica meus planos. — Recolocou o quepe e juntos levantamos quando avistamos a minivan que nos levaria ao aeroporto, estacionando na porta do hotel. — Então, eu pensei em comprar meu próprio avião. — disse — Fazer fretes particulares, controlar meus horários, ser meu próprio dono. Está na hora de aproveitar minha família. A atenção que não dei para minhas filhas, quero dispensar a minha neta. Camile que logo terá o bebê. – sua fala me fez sorrir, saber que ele fará desses limões uma deliciosa limonada me encoraja a seguir em frente, quando finalmente for minha vez.

 E a forma que num voo e outro ele sempre comenta sobre sua família é no mínimo encantadora. Acho muito bonito, mesmo dizendo que passou a maior parte do tempo ausente, devido aos ossos do oficio. Com certeza, se fosse meu pai eu entenderia.

         — Espero que tenha sucesso em sua nova jornada e que possa aproveitar sua família. Elas devem ter muito orgulho do senhor. — Falei pegando minha mala de rodinhas quando o resto da equipe estava encerrando a conta no hotel. Ele meneou a cabeça agradecendo, no entanto seu semblante demonstrava inquietação.

— Mas, me prometa uma coisa? – ele se virou antes de chegarmos à porta.

— Sim. — respondi sem ter ideia do que me pediria.

— Faça da vida dele um inferno!

— Dele quem? — pergunto confusa.

— Do novo piloto. É um moleque metido a Tom Cruise. — fiz cara de quem não entendeu — Top Gun... — explica — Um playboy dos céus. — Ele revirou os olhos enquanto entravamos na van. E eu ri, lembrando quantas vezes assisti ao filme, aliás o personagem era um dos meus favoritos, porque me lembrava alguém, na verdade uma paixonite de infância. E, com o passar dos anos descobri que a aviação era algo que tínhamos em comum. Na verdade, foi através da aviação que nos reencontramos, quero dizer, eu o reencontrei, já que nesse reencontro descobri que ele se quer lembrava do formato de minha sombra. Não vou mentir, por um lado foi bom, assim parei de fantasiar como seria nosso futuro juntos e depois que concluímos o curso nunca mais tive notícias suas. E, confesso que agradeço pelo sumiço, pois o garoto gentil que um dia me encantou havia se tornado insuportável, pernóstico, pretensioso, cheio de si, me fazendo ter repulsa a caras metidos à Mavericks.

— Como farei isso? — pergunto curiosa, tentada por seguir com seu plano. Na verdade, eu era expert em perturbar a vida alheia. Aprendi a não ser eu mesma desde pequena, principalmente quando não queria ser adotada por ninguém.

— Ah, você sabe... — Enquanto seguimos rumo ao aeroporto Boogs lista uma série de problemas nos quais eu só poderia recorrer ao comandante. – Se vingue por mim e por todos os outros. Pois descobri que o novo comandante é namorado da filha do presidente. – Saber disso uma raiva exponencial tomou conta de mim, trocar Boogs um experiente piloto por qualquer outro, era loucura. De todos os outros com quem voei, sempre foi o mais cuidadoso e prudente. Nunca sequer fizemos uma parada de emergência. E turbulências quase não eram sentidas. Então, analisando tudo isso. É justo que eu faça o que me pede.  E ainda de brinde, poderei me vingar de um metido à Maverick... Ele que me aguarde.

— Será um prazer senhor. — Encerramos o assunto e seguimos para nosso último voo juntos.

                                                ****

Era tarde da noite, quando cheguei ao aeroporto de Madison e me dirigi ao espaço reservado a nossa equipe, Annie minha melhor amiga e companheira de voo, havia chegado mais cedo para o reconhecimento do novo piloto e copiloto. Eu não estava animada para comparecer na apresentação, e como não sou obrigada a adiantar meu horário, cheguei em cima da hora, nem um minuto a mais nem um a menos.

Quando o último degrau da escada rolante chegou ao piso de acesso ao meu portão de embarque, avistei Annie acenando alegremente para mim.

— Cinco minutos atrasada, senhorita. — ela diz alegre e me abraça apertado como se não me visse há anos e depois que a solto ela ajeita seu novo quepe.

— Não estou não, vamos... — A puxo comigo antes que algum passageiro mal-humorado nos aborde para reclamar da demora do embarque mesmo que ainda estamos no horário. — E aí, como eles são? — Caminhamos na direção da nave, mas após minha pergunta ela interrompe nossos passos.

— Eu ainda não consegui decidir. — sua fala é eufórica. Super nervosa.

— Decidir o que? — Volto a andar e ela me acompanha.

— Qual deles é o mais lindo. — Olha para trás, para ter certeza que não havia ninguém se aproximando — O copiloto tem os pares de olhos verdes mais lindos que já vi na vida.

— Ah, sério?

— Sério, Katniss, você precisa ver... O copiloto, ele... Ele é incrível — seus olhos brilham e eu já vi tudo.

— Annie. — Foi minha vez de agarrar seu braço e conduzi-la para um canto isolado do extenso corredor de embarque — Sabe que a empresa não aceita relacionamentos entre funcionários. — Ela faz uma cara de quem não sabe do que estou falando — Não finja que não sabe do que estou falando, você precisa desse emprego. Não vai se estrepar por ele, quer parar no olho da rua? — Conheço muito bem a Annie, somos amigas há anos e há algum tempo estamos dividindo um apartamento, e pôr sermos como carne e unha, sei que quando seus olhos brilham dessa maneira é porque está caída por algum par de calças e não me estranharia de forma alguma que sua cabecinha maluca já tenha planejado a data, hora e local que sucederá a cerimônia do seu casamento com o copiloto — E, esse tipo de homem não olha para pessoas iguais a gente. — Volto a andar e ela me segue, pelo barulho dos saltos no chão, prevejo que ficou irritada. Irritada, não. A melhor palavra é transtornada.

— Iguais, como? — Ela para antes de entrar na aeronave. — Qual o problema conosco? — Pergunta sonhadora, parece que não enxerga a verdade do mundo. Assim como eu, ela é praticamente sozinha. Foi criada pela avó que ganha uma miséria aposentadoria do governo. Ou seja, não temos com quem contar a não ser nós mesmas. Não quero que se machuque e homens como esses que descreveu, eles nos olham sim, mas somente para passar uma noite. Depois que descobrem quem realmente somos, se desinteressam no mesmo instante.

— Você é linda, Annie, mas esses caras... — Aponto para a cabine dos pilotos. — A maioria deles jamais olharia para alguém como a gente. — explico suavemente, ela é mais nova uns três anos ou dois e a proteção intensa da avó não ajudou muito. É sempre muito sensível.

— Você está enganada. — retruca em baixo tom, mas com firmeza na voz. — Tem que parar de se menosprezar, Katniss. Sou uma boa garota e você também.

— Não foi isso que eu quis dizer... Não estou me menosprezando. — De fato tenho certas dificuldades em confiar nas boas intenções das pessoas, e minha vivência familiar tem muita culpa nisso. O que pode se esperar de uma criança que precisou fugir dos lares adotivos porque sempre acreditou que seus verdadeiros pais um dia a encontraria? Nada muito significativo, não é mesmo? — Eu tenho meus motivos, e você sabe quais são, mas, se quer saber...faça o que quiser da sua vida. Só não venha dizer que não te avisei. — Minha fala parece roubar o brilho dos seus olhos. Confesso que não queria isso. Ela é alegre o tempo todo. Sempre me faz rir no dia a dia. Mas, eu não posso deixa-la se engabelar por uns pares de olhos verdes que pode colocar tudo a perder. É dolorido eu sei, mas sou prova viva do quanto é dolorido ser rejeitada. Prometi a mim mesma que nunca mais isso iria acontecer.

— Eu sei. — responde com o semblante enraivecido e entra na aeronave que já possui um cheiro saboroso de café.

Eu suspiro e faço o mesmo, guardo minha mala no meu respectivo compartimento e coloco meu novo quepe num vermelho escandaloso.

Logo em seguida começo a checar os equipamentos. Enquanto Cato, o chefe da equipe recebe cada passageiro.

Annie e eu ficamos responsáveis pelas orientações. Os novos pilotos estão na cabine. Não deram as caras e isso já foi um ponto em seu desfavor. Já criei antipatia pois, Boogs fazia questão de recepcionar e saldar cada um dos passageiros que nesse horário, não é em grande número.

— 102. — Cato interfona ao comandante. — Podemos encerrar o embarque. — Quando desliga fica próximo a mim, me olhando sedutor como sempre. — Eu já disse que você ficou linda nessa cor? — Tivemos uma mudança nos uniformes, de azul marinho, passamos para um vermelho vivo. Um modelo mais sensual e sofisticado, coisas da nova diretoria.

— Serio? — Viro pra ele, enquanto manuseio a máquina de café.

— Sério. — responde colocando gelo no balde do único passageiro que optou por primeira classe — Parece até aquelas modelos internacionais. Em... quando vai me dar uma chance? — Mesmo sabendo das restrições da companhia, ele sempre faz esse convite. Faz três anos que dou a mesma resposta, mas parece que não cansa de ouvir um NÃO.

— Como você é insistente, se não lembra da resposta que dou todas as vezes, faço o favor de repeti-la...

— Não obrigado, não precisa repetir. — se finge de magoado — Não custa tentar não é mesmo, vai que em uma dessas viagens você caí em si e me convida para um cineminha no quarto de hotel.

— Não tem TV no seu quarto? — Ele apenas ri de minha fala e se afasta. Cato é engraçado e gentil, seu físico é no mínimo enlouquecedor. As passageiras e outras funcionárias sempre ficam babando por ele. Porém, eu nunca me interessei, nunca, nem mesmo tive aquela pontadinha de vontade de burlar as regras da empresa para desvendar o que tem por trás dos seus beijos que já foram motivo de demissões de todas as outras colegas de equipe que já teve.

— Você é difícil, hein!!! — Ele me ajuda a repor o carrinho com bebidas e enquanto fazemos isso, aproveita para reclamar do novo comandante. Dizendo o quanto ele é arrogante. Um verdadeiro pavão. Na verdade, sei que está com ciúmes da possibilidade de perder o posto do colírio da Everlines e eu apenas rio.

Em seguida o copiloto informa que levantaremos voo. Então nos juntamos a Cinna e Annie, que iniciam os avisos de segurança. Repetindo no meio corredor nosso texto milimetricamente decorado. E quando terminam é a vez do comandante se pronunciar, o que me deixa completamente curiosa quando escuto uma voz rouca, sedutora, ecoar dos autofalantes:

Senhoras e senhores, sou o comandante Mellark, venho desejar boas-vindas ao voo número 1852, e partindo do Aeroporto Regional de Dane County com destino ao Aeroporto Internacional de Minneapolis-Saint Paul. Nosso tempo de voo é de aproximadamente 1h 18min. Desejo a todos um ótimo voo!

Ótimo, voo era tudo o que ele não iria ter, pensei

 


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Notas finais do capítulo

Meninas, tem uma musica do Matthew Barber- You and Me. Coloquei o link no capítulo. Ela foi inspiradora. Deem uma ouvidinha.
Beijos espero vê-las nos Comentários.




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