A Herdeira do Olimpo escrita por Nogitsune Walker


Capítulo 9
De Cara Com o Inimigo


Notas iniciais do capítulo

Próx cap dia 16, aproveitem Nyahnianos do meu coração ^^ ♥



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(Três dia atrás)

Luana

Estamos já a duas semanas nessa casa abandonada e só conseguimos verificar três semideuses, sem sucesso. Como não podemos deixá-los ir pelo risco de sermos descobertos, estamos os mantendo em cativeiro no porão da casa, acorrentados às paredes. Hoje é a minha vez de levar comida a eles. Desço as escadas com algumas sacolas e destranco a porta. Um garoto que parecia ter 14 anos, acho que era uma cria de Hermes, estava deitado de lado, dormindo, virado para a parede com um braço dobrado sob a cabeça enquanto a outra mão repousava sobre as correntes de bronze celestial. Seus cabelos castanhos estavam imundos e desgrenhados e ele estava pálido (todos estavam) devido à falta de luz do sol. Deixo uma sacola contendo comida e água ao seu lado. Em outro canto do porão, um garoto loiro com olhos castanhos e o rosto sujo de poeira que aparentava 17 anos, fazia carinho na cabeça de uma garota morena com olhos âmbar que se aconchegava em seu colo. Ela devia ter menos que 13 e, apesar de estarem pálidos e magros, sua beleza confirmava o parentesco com Afrodite. Vou até eles que se encolhem quando me aproximo. A garota esconde o rosto no ombro do irmão, que me encara com um olhar de desgosto. Entrego a ele duas sacolas e as correntes tilintam quando ele estende a mão para pegá-las, oferecendo o conteúdo de uma em seguida para a irmã. Saio e tranco a porta, odiava esse tipo de situação. Subo para o primeiro andar da casa e vou até um quarto no fundo do corredor. Bato três vezes na porta.

"Entre." Alguém responde. Entro no quarto. No centro, havia uma mesa de madeira com um mapa de Nova York e algumas facas espalhadas por cima deste. Atrás da escrivaninha, um beta segurava uma garotinha que não devia ter mais de 12 anos sentada em uma cadeira de madeira enquanto Helkon, parcialmente transformado, cheirava o sangue que saía de um corte no seu antebraço direito.

"Você a está assustando." Digo e ponho a sacola sobre a escrivaninha enquanto vejo Helkon molhar os dedos com o sangue da garota e depois lambê-lo, manchando suas presas e seus lábios. Ele volta seus olhos vermelhos brilhantes para mim e, à medida que ele revertia a transformação, vejo seus olhos voltando ao tom verde esmeralda com manchinhas cor de cobre.

"Não me ensine a fazer meu trabalho, Lua." Ele diz e limpa os dedos na calça. "Cria de Hécate, 11 anos, não há nenhum tipo de diferença perceptível em seu sangue, também não é ela."

"Não precisava ter cortado a garota, Alfa." Digo. Ele dá de ombros e pega a jaqueta de couro no cabideiro, abrindo a porta para sair.

"Não demore, Luana. Precisamos de nossa melhor rastreadora." Ele diz e sai. O beta o segue e eu fico sozinha no quarto com a garota.

Ela abaixa a cabeça e aperta o lugar onde Helkon a havia cortado, tentando estancar o sangramento. A garota tinha os cabelos ruivos cacheados e seu rosto era pontilhado por sardas. Não devia ter mais que 1,50 de altura e seus olhos pretos demonstravam medo. Vou até ela e me agacho em sua frente, ficando em seu nível de visão.

"Desculpe o que eles fizeram, okay? Só estão desesperados, querem voltar logo para casa." Digo. Rasgo uma tira de minha blusa e faço um curativo em seu braço.

"Vocês não são monstros..." ela diz baixinho para si mesma. Ela estava com medo, mas tinha algo mais, estava curiosa.

"Como tem certeza disso?" Pergunto oferecendo a ela a sacola com comida e água.

"Monstros nos matariam assim que nos vissem, mas vocês capturam, não matam." Ela responde enquanto comia. Suspiro. A inocência é uma coisa tão bonita.

"Sabe que não vai poder ir para casa, não é? Está presa aqui." Digo passando a mão por seus longos fios ruivos.

"Eles vão nos encontrar, sempre encontram, mas não vão matar vocês se souberem porque estão fazendo isso. Eles escutam." A garota diz. Me surpreendo. Tão jovem, tão inteligente. Ela me olha e diz "Você é bonita."

Dou um meio sorriso. Me transformo parcialmente. Minhas presas se alongam, minhas orelhas se tornam pontudas e meus olhos brilham num tom Azul bem claro. Nas minhas mãos, as unhas crescem e se transformam em garras.

"O que acha de mim agora?" Pergunto. Ela vira a cabeça de lado, pensa um pouco e responde:

"Seus olhos, parecem com a lua. São bonitos." Ela diz. Gargalho. Acabo de falar para uma garota que ela está presa e mostro que sou uma loba e o que ela me diz? "Seus olhos são bonitos."

"Sinto muito, criança. Mas vou ter que te levar pra junto dos outros."

"Cynthia." Ela responde.

"O quê?"

"Meu nome e Cynthia." Ela diz e se levanta. Não parecia assustada com a situação, como se fosse a melhor que vivera em anos. Ela estende sua mão para mim e eu a tomo.

"Meu nome é Luana. Agora vamos, vou te levar aos outros." Digo. Vamos até o porão e no caminho, ela não parou com a cabeça quieta um segundo sequer. Olhava tudo e todos com uma curiosidade que só vemos em crianças.  Um grupo de crianças tentava se transformar em um canto da sala e, quando um deles conseguiu, Cynthia fez menção de ir em direção ao lobo branco com manchas negras que havia aparecido mas aperto sua mão de leve repreendendo-a e continuamos indo ao porão.

Chegando lá, prendi seus pulsos às correntes ao lado da cria de Hermes (que ela reconheceu como Ryan) que ainda dormia em um sono pesado. Ela não reagiu, apenas ditou-se entre Ryan e a parede. Ryan abre um olho para ver o que acontecia e, reconhecendo a garota, a abraça e eles começam a cochilar. Vou em direção a Helkon que me esperava na caminhonete.

"Você não deveria se aproximar deles." Ele diz sentando no banco do motorista. Dois betas sentam nos bancos do carona e eu subo na carroceria.

"E você não deveria assustar crianças, lobo mau, e acho que aqueles porquinhos treinados no porão da casa serão um problema se conseguirem se soltar." Retruco. Ele gargalha e dá de ombros, dá a partida e percorremos o caminho mais uma vez em direção ao estreito de Long Island, em busca do semideus que a bruxa tanto almejava.

(Dias atuais)

 

Estávamos já a três dias tentando capturar outro semideus. Eles haviam redobrado a segurança e estava quase impossível pegar um sozinho, Helkon já estava ficando impaciente. Esta noite, iriamos tentar a sorte de novo.

 

Maya

 

Não posso dizer que não notei que Rachel estava diferente. Desde que ela reencontrou Percy e Annabeth, já peguei diversas vezes me encarando, mas quando ela via que eu a olhava de volta, ela desviava o olhar.

Quando saímos do campus para ir para casa, ela, Percy e Annabeth vieram me fazer um pedido estranho.

"Maya, o que vai fazer no fim de semana?" Annabeth me pergunta.

"Por enquanto não tenho nada programado." Respondo.

"Percy e eu queríamos saber se você e Rachel querem ir conosco em uma viagem." Ela diz dando um sorriso.

"Viagem para onde?"

"É surpresa. E aí, vocês vão?" Percy parecia bem empolgado. Rachel me abraça de lado e fala com jeito de criança pidona:

"Vamos Maya, vai ser divertido. Além do mais, essa seria uma ótima oportunidade para vocês se conhecerem melhor." Reviro os olhos e suspiro profundamente.

"Não me venha com gracinhas, ouviu?" Digo apontando para ela de modo acusatório. Ela concorda. "Tudo bem, eu vou."

"Que ótimo! Saímos sábado de manhã." Annabeth diz. Ela dá um abraço em mim, e vai em direção ao carro de Rachel. Percy a segue depois de se despedir de mim também e se senta no banco de trás. Ao que parece, pegariam uma carona com ela. Rachel me abraça.

"Te vejo em casa." Ela diz. Retribuo o abraço.

"Até lá." Digo. Ela vai até o carro e dá a partida. Aos poucos, eles vão se afastando, indo em direção a Manhattan. Subo na minha moto e sigo para o Brooklin. Não fui correndo, precisava pensar um pouco sobre uma estratégia de fuga caso meu plano de "investigar sem ser vista." Falhasse. Como não consegui pensar em nada e vi que o esforço já estava fazendo minha cabeça doer, acelerei e deixei que o ronco do motor acalmasse meus pensamentos até que chegasse em casa.

Não esperei que anoitecesse. Assim que cheguei no apartamento, deito na minha cama e espero o sono chegar. Dobro um braço por baixo do travesseiro e seguro no cabo de couro da adaga que mantinha lá. Desde o ataque da empousa, nunca mais dormi desarmada, odiaria receber mais dessas visitas indesejadas. Em pouco tempo, meus olhos começam a pesar e caio num sono pesado sem sonhos.

Depois do que pareceram minutos para mim, desperto sentindo um pequeno volume peludo sobre meu peito, mas ainda não abro os olhos. Num reflexo, agarro os pelos e levo a adaga de encosto ao corpo do que quer que estivesse sobre mim. Abro os olhos e me vejo segurando um gato persa de pelagem marrom escura e olhos cor de caramelo com uma lâmina no pescoço.

"Calma princesa! Não me esfole ainda." Ouço a voz de Kye na minha cabeça. Suspiro. Tiro a lâmina de seu pescoço e o solto.

"Caramba Kye, eu poderia ter te matado! Como entrou aqui?" Sussurro para ele.

"Sua amiga aí do lado deixou uma janela aberta. Eu simplesmente entrei." Ele responde. Olho para a direita e vejo Rachel dormindo num sono pesado. Olho pela janela e vejo que já estava escuro lá fora, devia ser quase meia noite. Cara, como eu consegui dormir por um dia inteiro?

"Vamos? Estou me coçando para entrar em ação de novo." Ele diz. Aceno positivamente.

"Me espere no telhado, vou pegar algumas coisas." Ele mia em resposta e sai do quarto. Levanto-me sem fazer barulho e vou até meu armário. Lá, pego a bainha do punhal prendendo-a ao cinto e reviro o fundo da gaveta procurando minha máscara. Percebo ale estou com as mesmas roupas que fui para a faculdade, botas de couro, uma calça jeans folgada, uma blusa de alça fina que deixava as costas à mostra e o moletom que Kye me dera de manhã. Resolvi trocar a blusa por uma de manga longa preta que eu tinha e continuei com a jaqueta de Kye. Enquanto me trocava, acho a máscara. Ela era feita de madeira, branca com o formato de uma cabeça de raposa e alguns detalhes em vermelho, um Kitsune. Havia ganhado a máscara de presente de Jonathan, quando completei 14 anos. Dou um sorriso com a lembrança, coloco a máscara no bolso da jaqueta e vou de encontro a Kye.

Ele me esperava no telhado, deitado e em sua forma de grifo. Olhava atentamente para a lua cheia que aparecia por entre as nuvens, pensativo. Quando percebe que me aproximava, levanta-se e estica as patas e se inclina um pouco, como se quisesse que eu montasse em suas costas.

"Não se empolgue muito cérebro de passarinho, hoje vou com minhas próprias asas." Digo enquanto colocava a máscara no rosto.

"Por que não?" Ele pergunta de forma dramática.

"Tem muito tempo que não uso minhas asas, Kye. Não posso ficar sem treinar." Digo alongando os braços. Ao meu lado, sua forma começa a se reduzir e a mudar, dando lugar à uma coruja das neves branca. Olho para ele intrigada.

"Porque uma coruja?" Pergunto. Ele levanta voo e pousa no parapeito do telhado.

"Voo silencioso, princesa. Precisamos ser discretos." Ele responde. Concordo com a cabeça. Respiro fundo, faz muito tempo que não me transformo desse jeito. Imagino as asas surgindo nas minhas costas, criando ossos e depois músculos e sendo revestidas por penas brancas macias e em pouco tempo, elas aparecem em minhas costas. Estico-as completamente para os lados apenas para matar a saudade delas, tinham quase três metros de envergadura. Encolho-as e bato algumas vezes para exercitar os músculos, senti tanta falta de estar nessa forma. Subo no parapeito do telhado, mantendo o equilíbrio apesar do vento forte. Estávamos a 30 andares de altura e a rua lá em baixo estava bastante movimentada. Seria uma queda e tanto caso alguma coisa desse errado.

"Vou na frente." Kye diz levantando voo. Inspiro profundamente, o que eu faria era loucura. Dobro as asas totalmente em minhas costas, fecho os olhos, tomo coragem e mergulho para uma provável morte.

A adrenalina me invade, abro os olhos e vejo o chão chegando a uma velocidade assombrosa. Estendo as asas e me deixo planar entre os edifícios do Brooklin. A sensação de voar de novo é libertadora, emocionante, você sente como se suas preocupações simplesmente desaparecessem e só sobrasse a emoção do agora. Dou uma risada gargalhada enquanto fazia acrobacias no ar.

"Senti tanta falta disso!" Grito. Dou a volta em um prédio e continuo voando em direção ao acampamento.

"Se soubesse que você ficaria desse jeito, teria te chamado para voarmos juntos mais vezes." Kye diz enquanto descrevia um círculo a minha volta. Seguimos rindo até que a cidade começasse a diminuir atrás de nós.

(···)

Estamos agora na estrada para os campos de morangos. Abaixo de nós, só asfalto e breu. Pousamos na base da colina meia hora depois. Estava tudo calmo, calmo até demais. Dobro as asas, mas não as recolho, não sabia quando iria precisar delas novamente.

"Eu, Maya Walker, permito sua entrada no acampamento." Digo. "Vamos pelas árvores Kye, pela copa onde a folhagem é mais densa."

Levanto voo e pouso no galho mais alto do pinheiro de Thalia. Peleu não fez menção de acordar ou impedir minha entrada, apenas continuou cochilando, protegendo o Velocino. Kye pousa a meu lado. Damos uma olhada em volta, o acampamento estava todo escuro, com exceção de alguns pontinhos luminosos que se moviam lentamente entre as árvores.

"Vamos ver o que é. Lembre-se, sempre pelas copas. Não faça movimentos bruscos." Digo em pensamento para Kye. Ele acena e nos esgueiramos pelas árvores até que as chamas das tochas se tornassem mais nítidas e percebêssemos uma movimentação inquieta entre elas. Era um grupo de seis campistas, quatro meninos e duas meninas, todos vestidos com armadura de batalha completa. Dois dos meninos e uma menina estavam armados com arco e flecha, os outros dois meninos com espadas e a menina com uma lança, devia ser um dos grupos da patrulha da fronteira. Na árvore ao lado, Kye faz barulho ao pousar e uma flecha passa zunindo por mim se cravando a milímetros de distância da cabeça de Kye.

"Calma Julian, deve ter sido um morcego qualquer." Ouço a menina com o arco dizer. O menino que havia atirado arma outra flecha e eles começam a se afastar.

"Você está bem?" Pergunto em pensamento

"O que você acha? Por muito pouco não perco a cabeça. Eu preciso dela para viver, sabia?" Ele responde com a voz esganiçada. Dou uma risada.

"Vou me aproximar da área dos chalés. Você vigia esse grupo e me avisa se algo acontecer, qualquer movimentação suspeita, certo?" Ele bufa em resposta.

" -Vigie o grupo que quase arrancou sua cabeça fora. - Às vezes acho que você quer me matar." Ele responde e voa se aproximando do grupo. Sigo pelas árvores do bosque até que a área dos chalés estivesse à minha vista. Não havia nenhum movimento suspeito. Ao longe, ouço o som de uma caminhonete se aproximando pela estrada. O barulho do motor aumenta enquanto se aproximava até que para.

"Kye, você ouviu?" Pergunto.

"Ouvi, é um carro, acho que está próximo. Os semideuses não ouviram, ainda estão fazendo a ronda." Ele responde.

"Vá ver o que é."

Demora um pouco até que ele responda.

"É uma caminhonete azul escura. Tem um grupo de quatro pessoas ao lado dela, três homens e uma mulher, devem ter 25 anos, parecem estar discutindo alguma coisa."

"Devem estar acampando ou algo do tipo. Consegue se aproximar?"

"Não preciso, eles estão entrando na floresta, pelo bosque. Estão indo em direção ao acampamento." Me assusto.

"Como assim estão vindo em direção ao acampamento?! Mortais não podem atravessar a barreira!"

"Bom, acho que alguém esqueceu de avisar isso para eles. Acabaram de atravessar a barreira." Kye diz. Estranho, é quase impossível mortais passarem pela barreira, a não ser que não sejam mortais. Mesmo se forem monstros, ainda não é possível que eles entrem, a não ser que alguém de dentro permitisse sua entrada, mas quem faria isso sabendo o que eles fariam com os semideuses? A menos que eles tenham descoberto outra forma de entrar, e isso não é bom. Outro grupo de patrulha começa a se aproximar, um grupo menor, três garotos e uma, todos usando armadura de batalha completa. O garoto do meio parecia ter 15 anos e trazia consigo arco e flechas e algumas adagas presas ao cinto, o que protegia sua retaguarda, usava espada e escudo e parecia ter uns 17 anos. O da frente, parecia ter 15 anos também, levava consigo uma espada na mão direita e na esquerda, levava uma tocha. Se moviam devagar, com cuidado. Sinto que algo se aproximava por trás deles, quando olho em direção a eles, vejo o grupo de quatro pessoas que Kye tinha visto. Eles se escondem atrás de um arbusto e analisam o grupo, não fazem nenhum ruído. Quando se sentiram satisfeitos, o que supus ser o "chefe", faz sinal para a mulher e para os rapazes que começam a rodear o grupo da patrulha. Quando um dos rapazes passa por mim, sinto seu cheiro. Ele não era um humano, nem semideus, ele cheirava a sangue e.…cachorro molhado? Não, lobo. Era um grupo de lobisomens. O líder deles dá o sinal e os outros pulam sobre os semideuses, pegando-os de surpresa e cercando-os. Um dos lobisomens agarra o garoto que trazia o arco, mas este consegue se livrar de seus braços e saca as adagas. Os outros também sacam as armas e uma luta começa entre eles. Os lobos se transformam e atacam enquanto os semideuses se esquivam e defendem. Um dos semideuses tenta chamar reforço, mas um dos lobisomens o impede. Presto atenção, tinha alguma coisa errada.

Contei os lobisomens, a garota havia sumido. Olho em volta e a vejo semitransformada atrás de uma moita. Um dos semideuses perde a concentração na luta e começa a perder terreno, ela percebe isso e faz menção de avançar, essa é minha deixa. Recolho as asas para que possa lutar sem maiores riscos, imagino meus caninos se alongando formando presas e garras aparecendo em meus dedos. Ando por cima em busca de uma brecha e, quando a garota pulou sobre o semideus, pulo sobre ela impedindo seu ataque, dando tempo do semideus se recuperar e desviar do imenso lobo marrom que pulava em sua direção. Rolamos na relva até estarmos mais afastadas do lugar onde acontecia a batalha. A garota chuta meu abdome e saio de cima dela. Ela tenta me acertar com as garras e chutes eu bloqueio seus golpes. Ela era rápida, mas eu era mais. Em determinado momento, acerto um soco na boca de seu estômago e ela se dobra de dor, cuspindo sangue. Seus olhos, antes castanhos, começam a brilhar em um azul claro. Ela estava ficando realmente irritada.

"Vá embora, não quero ser foçada a machucar você." Digo. Ela rosna em resposta e pula em minha direção, se transformando em um imenso lobo branco no ar. Flexiono minhas pernas e no instante que ela aterrissa sobre mim, rolo para trás e empurro seu corpo com minhas pernas, ela atravessa um arbusto e aterrissa onde aconteciam as batalhas. Minha mascara cai, coloco o capuz da jaqueta, não podia me dar ao luxo de mostrar meu rosto e vou atrás da loba. A máscara havia caído perto dela. Pulo o arbusto e aterrisso sobre sua barriga, segurando seu pescoço com a mão esquerda e com a direita erguida em forma de garra em uma ameaça. Meus olhos brilham em dourado e urro alto para ela que se encolhe. Faz-se silencio na clareira por alguns segundos, até que ouço o som de algo pesado correndo e em seguida um uivo. A loba se debate e saio de cima dela, que começa a correr em direção ao chamado do Alfa. Quando vejo que já se afastaram, pego minha máscara no chão e a coloco. Viro-me e vejo o garoto do arco acudindo o da espada e escudo que estava com um corte feio no peito, mas estava faltando um, eles conseguiram levar um deles, droga. Viro-me na direção que eles haviam corrido e imagino minhas asas aparecendo. Levanto voo e vou em disparada atrás dos lobisomens. Vejo os quatro correndo e um deles carregava um garoto inconsciente nas costas. Quando já os estava alcançando, ouço um zunido e sinto duas picadas na minha asa esquerda, seguidas de uma dor agonizante. Grito de dor enquanto tentava permanecer no ar, mas eu já perdia altitude. Não consigo me equilibrar e, enquanto caía bato e quebro vários galhos até aterrissar capotando no chão da colina. Grito de dor enquanto tentava encolher a asa, sem sucesso.

"ACERTAMOS! VAMOS ANTES QUE FUJA!" Ouço uma das garotas do outro grupo gritar ao longe. Deviam ter chegado ao outro grupo quando ouviram o uivo do Alfa e, quando me viram, tentaram me acertar pensando que eu era um dos sequestradores, droga. Ouço seus passos enquanto eles se aproximavam, me desespero.

"KYE! AJUDA!" Chamo em pensamento. Os semideuses já estavam bem perto, não sabia se ele conseguiria me alcançar. "KYE!!!!" Grito de novo. Sinto a presença dos semideuses, agora atrás de mim.

"Peguem-no! Não o deixem fugir!" Ouço um garoto gritar. Me levanto e dou alguns passos, mas a dor impossibilitava que eu andasse sem tropeçar e acabo caindo de novel. Quando achei que seria pega, ouço o som de um forte bater de asas de e Kye pousa entre mim e os semideuses em sua imensa forma de grifo. Ele urra e os semideuses recuam. Olho por cima do ombro, ele estava com suas asas abertas em proteção a mim e seu pelo e penas estavam eriçados, fazendo com que parecesse ter o dobro de tamanho. Os semideuses tentaram cercar Kye, mas ele urrava e golpeava com as patas da frente, os afastando de mim, e assim permaneceu por alguns segundos. Quando conseguiu um bom espaço, ele se virou rapidamente, me pegou delicadamente com as patas e levantou voo, sem dar chance para os semideuses atacarem. Algumas flechas passaram voando por nós, mas nenhuma nos acertou. Kye voava desesperado, sempre olhando para mim para ver se eu estava bem.

"Não feche os olhos, ouviu?! Não ouse fechar os olhos!" Ele dizia em minha mente. As penas de minha asa estavam vermelhas, manchadas pelo sangue que caía sem parar. Tento dizer algo, mas a dor não me permitia pensar direito. Engasgo com um pouco de sangue que ficara preso em minha garganta e sinto o gosto metálico em minha boca. Kye não reduziu a velocidade nem por um segundo, eu sentia minha consciência se esvaindo, mas flechas comuns não poderiam me matar, ou será que podiam? Fecho os olhos para guardar forças. Depois de alguns poucos minutos, Kye mergulha em queda livre. Senti um impacto e o som de alguma coisa quebrando, depois, ele me coloca no chão por alguns segundos, o tempo de se transformar em humano, me pega no colo e corre. Ele chuta algumas coisas no caminho enquanto corria e, quando para, me deita de lado em algo macio, deixando minha asa estendida. Sinto minha máscara caindo no chão, mas não tento pega-la. Ele quebra as flechas e as retira da asa, grito enquanto ele o fazia.

"Desculpe!" Ele diz. Cuspo um pouco de sangue e arfo tentando aliviar a dor. Ouço Kye pegando alguma coisa, sinto cheiro de gás e depois, o calor de uma chama. Ele passa alguns segundos esquentando alguma coisa, firma a asa e diz:

"Desculpe Maya, isso vai doer um pouco." E pressiona o ferro quente contra minha asa, cauterizando as feridas. Grito até que minha garganta começasse a ficar irritada e meus olhos lacrimejaram, e então sinto algo molhado e gelado sendo colocado no local, amenizando a dor. Aquele filho da puta! Abro os olhos devagar para que se acostumassem à claridade.

"KYETRUS! Isso não doeu um pouco! Doeu PRA CARALHO!" Eu suava frio e arfava pelo esforço que fizera para continuar consciente. Tento me levantar, mas meus braços tremem e eu escorrego na maca. Teria caído se ele não tivesse me segurado.

"Desculpe princesa, mas você estava pálida! Eu estava desesperado!" Ele diz.

Estávamos em uma espécie de sala de cirurgia de um hospital, a porta estava arrebentada, sustentada por uma dobradiça. Haviam vários instrumentos derrubados pelo chão, um maçarico aceso em uma bancada de alumínio e ao lado, uma barra de ferro com a ponta preta e pouco suja de sangue, as pontas e hastes das flechas também sujas de sangue e uma bolsa de gelo. Minha visão tornou-se turva e eu empurrei Kye, caindo de quatro no chão vomitando sangue e o que eu comi no dia anterior. Quando terminei, ele me pega no colo como um bebê e me coloca sentada na maca.

"Consegue recolher as asas?" Ele pergunta inquieto. Tento recolhe-las e grito enquanto o fazia, minhas garras perfuravam o colchão da maca enquanto eu o apertava e sinto um gosto metálico enquanto mordia o lábio inferior para aliviar a dor. Quando acaba, Kye tira minha jaqueta e a blusa, deixando-me apenas de sutiã. As cicatrizes que deveriam estar na asa, se transferiram para minhas costas. Agora, elas estavam pouco abaixo da escápula esquerda, duas linhas brancas paralelas pretas por conta da cauterização. Kye pega um algodão que achou em um armário e o umedece com água oxigenada, limpa o local e faz um curativo, depois enfaixa a região com gaze. Quando termina, me entrega a blusa de manga longa e a jaqueta.

"Sinto muito Maya, mas a cauterização foi a forma mais rápida que consegui penas para fazer o sangramento parar." Ele diz de cabeça baixa. Visto a blusa e a jaqueta e abraço seu peito descoberto. Ele ronrona e o tremular de seu peito me acalma.

"Obrigado, mano." Digo.

"De nada, mana." Ele responde, pega minha mascara no chão e a devolve para mim. "Tem uma loja de roupas na frente do hospital. Vamos lá, não quero ficar pelado o resto da noite, está frio aqui." Ele diz e só então percebo que estava nu na minha frente. (Não que eu esteja reclamando nem nada, o cara é um gato, mas quando você pega esse negócio de irmãos, essa visão constrange um pouco.) Pego a jaqueta e entrego a ele, que a enrola na cintura escondendo as "partes" (ou pelo menos tentando)

"Vamos." Respondo. Desço da maca e cambaleio até a porta. Kye pega as flechas e me segue, dando apoio para que andasse sem cair e caminhamos pelos corredores até a saída. No caminho, vejo algumas portas arrebentadas e diversos carrinhos com itens médicos derrubados elos corredores. Olho para Kye com a testa franzida.

“Você poderia ter um pouco mais de cuidado, isso aqui está um caos. ” Ele dá de ombros.

“Teria perdido tempo demais tentando abrir as portas, não era uma opção ser cuidadoso com o lugar enquanto você perdia a consciência. ” Responde. Sorrio internamente com sua resposta e continuamos para a fria noite de Nova York.

 

 


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