A Herdeira do Olimpo escrita por Nogitsune Walker


Capítulo 22
Surpresas




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Maya

            Dormi feito pedra aquela noite. Pena que não foi por muito tempo. Quando acordei, apesar de me sentir bem renovada, o sol mal tinha dado as caras no acampamento. Me remexi na cama, tentado voltar a dormir, mas logo começou a ficar muito quente na cama, e a me incomodar. Viro de lado, Percy ainda dormia um sono pesado. Respiro fundo, me levanto devagar, pego uma muda de roupas e, na ponta dos pés, vou até o banheiro.

            Tomo um banho quente, deixando que a água relaxasse cada músculo tenso de meu corpo e lavasse todo o sangue seco. Enquanto a agua caía, estendi um braço na frente do corpo e encarei a palma da minha mão aberta. Poseidon, água…talvez se eu me concentrasse… Fecho os olhos e respiro fundo.

            “Okay, Maya. Vamos devagar.” Digo pra mim mesma. Imagino as gotas d’água se juntando em minha mão, formando uma bolha que vai ficando cada vez maior. Quando abro os olhos, presencio quando, um pouco trêmula, a água escalava meus dedos abertos e subia para uma pequena bolha acima da minha mão. Ela chega a tomar o tamanho de uma bola de tênis, mas tremia tanto, que estourou e lançou água por todo o banheiro. Rio baixinho. “Bem...um pouco de prática e fica fácil.”

            Saio do banho e visto uma calça jeans confortável, uma camiseta branca de manga curta, uma jaqueta de couro e coturnos. Podia sentir ainda o celular no bolso da jaqueta. Pego o aparelho e desbloqueio a tela. Ainda eram 5:00 AM e o celular ainda possuía uma carga quase cheia. Pensei em ligar para Jonathan, ver como estava, mas duvidava que conseguisse algum sinal dentro do acampamento. Senti saudades da minha Ducati… Será que, se eu saísse só por alguns minutos… Helkon jurou que não atacaria o acampamento, mas se me localizassem até a cidade…

            “Não! Não.” Bato levemente na cabeça. “É arriscado demais, Maya.”

Me recosto na parede do banheiro, aproveitando ainda o vapor que tomava boa parte do cômodo. Minha mente logo viaja e eu a vejo, correndo até mim, como naquele sonho. Abro os olhos de uma vez, arfando. Havia me agarrado à parede, as unhas em garras fincadas na mesma. Sentia o coração batendo rápido no peito. Respiro fundo algumas vezes. Levanto a mão à minha frente e a fecho algumas vezes.

            “Não superei totalmente, não é?” Pergunto enquanto as garras se transformavam em unhas novamente.

            “Ninguém supera uma coisa assim da noite pro dia.” Responde Alhia. Tomo um susto, nem lembrava dela. “Você só não sente tanto pânico quanto antes, e acho que deveria me agradecer por isso.”

            “Te agradecer? Pelo quê? ”

            “Você não sente tanto medo, porque seu desejo de vingar Kye é maior, e eu sou esse desejo.”

            “Pra começar, foi você que o matou.”

            “Vamos discutir isso até quando? Quantas vezes terei que repetir que foi você que me criou?” Respiro fundo.

            “Está bem, não falamos mais disso.”

            “Não vai me agradecer?” Pergunta.

            “Só quando ela estiver morta.” Digo abrindo apenas uma fresta da porta do banheiro, verificando se Percy ainda dormia. Visto que sim, saio na ponta dos pés do chalé, deixando que o ar da madrugada inundasse meus pulmões.

            Ainda era possível ouvir os grilos cantando no acampamento. A área estava completamente deserta e o palco do desafio da guitarra permanecia montado, ainda que pela metade. Parecia que os filhos de Hefesto não estavam ainda muito dispostos a se livrar daquilo. Solto a respiração e ela se condensa em.minha frente. Estava esfriando bastante já, Em algumas semanas, a neve já cobriria boa parte do acampamento.

            Estralo a coluna e o pescoço, a ideia de ir até a cidade brotando novamente em minha mente.  Balanço a cabeça negativamente, espantando o frio, coloco a mão nos bolsos da jaqueta e começo uma caminhada lenta até o cais. Passando pelo palco, avistei o que parecia ser uma caixa de ferramentas que fora deixada ali por algum semideus. Olho em volta, ainda estava tudo deserto. Dou de ombros e pego a caixa, continuando como se nada tivesse acontecido. Talvez eu conseguisse concretizar aquela ideia.

(···)

“Girar o fio vermelho...encaixar na porta três…” repetia enquanto remexia nos fios do aparelho. Estava sentada na ponta do cais, a perna pendendo metros acima do mar calmo enquanto tentava decifrar todos aqueles códigos da placa do celular que pareciam cair de para-quedas devido a dislexia. Encaixo o ultimo fio. “Vamos lá”  encaixo a bateria e quase instantaneamente, começa a sair uma fumaça preta do aparelho. Tiro a bateria e desfaço a ação. “Cara, eu sou horrível nisso.” Resmungo.

“Para, nem é tão ruim. Você nem botou fogo no cais ainda.” uma voz feminina fala. Olho pra esquerda e me deparo com Luana se aproximando com um sorriso radiante no rosto. “Uma vez eu tentei mexer com um computador, ele começou a pegar fogo na hora. Meu irmão ficou puto comigo.” Ri enquanto se sentava ao meu lado. Sorrio pra ela.

“Pensei que só eu acordava cedo assim” ela ajeitou o cabelo bagunçado.

“É um pouco difícil dormir com um lobisomem adulto roncando igual um trator do seu lado. Ainda mais depois de uma noite agitada...se é que você me entende.” Ela brinca, me cotovelando de leve. Sorrio de lado e baixo os olhos para o celular desmontado na minha perna.

“Onde vocês estão dormindo?” pergunto enquanto tentava encaixar um parafuso minúsculo na placa. Luana se espreguiça e coloca os braços atrás da cabeça.

“Aqui, ali. Qualquer lugar desde que a gente durma.” ela me olha quando uma faísca solta do lugar onde eu mexia. “Sabe...Tem um cara na minha alcateia, ele consegue fazer qualquer coisa que envolva aparelhos tecnológicos. Ele me ensinou um pouco, se quiser ajuda.”

“Não precisa, eu só…” enfio um fio e ouço um estalo, seguido de uma fumaça preta e do som de Luana segurando o riso. Jogo a cabeça pra trás e solto a respiração. “Eu sou horrível nisso, não sou?”

“Nãaao.” Ironiza Luana rindo. Rio também. Ela estende a mão, pedindo o aparelho.

“Dá aqui, deixa eu ver isso.” entrego o celular pra ela. Ela torce o nariz. “Pensei que fossem proibidos aqui.”

“Eles são, são um atrativo de monstros. Qualquer tipo de tecnologia é.”

“E o que está tentando fazer com esse aqui?” pergunta, já mexendo nos fios de formas que nem sabia serem possíveis. Apoio minhas costas no cais e deixo a mão cair ao lado do corpo.

“Eu queria descobrir o que exatamente faz os monstros serem atraídos quando semideuses usam tecnologia, pra poder bloquear para que a gente pudesse usar sem problemas.” digo enquanto me concentrava para tentar fazer a água do mar subir até minha mão. Ver Luana mexer no celular estava me deixando meio tonta.

“Hm...sei.” resmunga. Pude ver a água tremular abaixo de minha mão e começar a se erguer, bem devagar. Sorrio comigo. Já era um avanço. Agora só faltava o ar, a terra, o fogo e o gelo. Como eu faria em uma semana? Daria meu jeito. “Ainda não consigo superar você ter me vencido aquele dia.” Fala Luana.

“Que dia?”

“Da primeira vez que lutamos.” Ela coloca a capa do celular, terminando de parafusa-lo. “Você usava uma máscara de Kitsune. Lembro de ter acertado uma patada naquela mascara, mas mesmo assim você me venceu. Nunca superei aquilo.” Sorrio.

“Você devia ser uma das mais fortes da sua alcateia então.” Ela dá de ombros.

“Bem, eu e Helkon lutávamos de vez em quando para treinar. Eu ganhava a maioria das vezes”

“A maioria?” Pergunto. Ela ri.

“Er, bem...eu tinha que deixar ele ganhar algumas, não é? Nossos alfas são escolhidos por batalhas. Só o mais forte pode liderar a alcateia. Se ele perdesse muitas vezes pra mim, iriam começar a pedir uma oficial e eu não gosto muito de ser a líder. É muita pressão.” ela liga o celular e o estende pra mim. “Tente agora.”

Pego-o de suas mãos e me surpreendo por encontrá-lo funcionando perfeitamente.

“Funcionou?” Luana pergunta colocando as ferramentas de volta na maleta.

“Me diga você. Quando estou mexendo nele, sente algum cheiro mais forte? Mais intenso?” ela fareja o ar , depois balança a cabeça negativamente.

“Nada.” sorrio.

“Obrigada, Lua.” Agradeço.

“Ora, não foi nada.” encaro a linha do horizonte, já podendo perceber o céu clareando lentamente.

“Eu encontrei Helkon ontem à noite.” digo.

“Helkon? Aonde?” Questiona surpresa.

“No...Bar. Nós conversamos e ele pediu que eu te dissesse que ele sente muito, que deveria ter ouvido o que disse. Ele pediu perdão.” A expressão de Luana fica séria, mas logo suaviza quando dá um sorriso de lado.

“Sinto saudades da minha alcateia, mesmo sabendo que se voltasse eles me executariam por traição. Helkon, Átila, Dexter, Marcus, Ellaria…” Ela abre mais ainda o sorriso, mas ao ouvir o nome da filha de Helkon, esmoreço. “Helen e Ellaria. São…”

“A esposa e filha de Helkon.” Completo, sentindo um gosto amargo na boca. Ela me olha embasbacada e um vento forte sopra, agitando nossos cabelos.

“Sim. Como você sabe?” Passo a mão no cabelo. Como iria contar isso à ela?

“Helkon me disse ontem, quando conversamos.” esfrego o colar se Poseidon. “Você não as viu quando saiu do seu território, não é?” Pergunto. Ela pensa um pouco e franze o cenho.

“Não.” Suspiro.

“Ela as pegou.” dobro os joelhos na frente do corpo. Incrivelmente, só agora havia notado como a situação se assemelhava à minha anos atrás. “Lorena. Ela as usou para chantagear Helkon, pra garantir que ele viesse fazer o que ela queria.”

“Agora que você falou...ele tinha saído assim que Lorena desapareceu. Pensei que ele tivesse ido beber ou coisa do tipo, mas quando voltou, não parecia mais o mesmo.” ela arregala os olhos quando percebe. “Não...Está me dizendo que…?” Aceno e os olhos dela ficam levemente vermelhos. “Céus. Ellaria era tão jovem, tinha tanta coisa pela frente....”Sua voz estava embargada. Respiro fundo.

“Vocês duas eram muito próximas?” Luana acena positivamente.

“Eu e ela nos dávamos super bem, quase como se eu fosse da família.” seu nariz se tornara vermelho e ela enxuga os olhos, antes que as lágrimas caíssem. “Pensei que Helkon as havia mandado para uma outra alcateia por segurança...Não acredito. Não consigo acreditar.”

“Ele me prometeu que não atacaria o acampamento nessa semana, que era uma tradição suas velar os mortos por sete luas.” ela acena. Esfrego os dedos. “Eu estava pensando em ir na cidade...resolver uns assuntos. Você...não gostaria de ir? Quer dizer, não acredito que os lobos vão ataca-la, e eu sei me virar em campo aberto, então…”

“Mas, se expor assim? Você só tem quinze anos e seríamos só nós duas contra… bem, você sabe.” Olho para o mar, começando a se agitar abaixo de nós.

“Ele me jurou pelo Rio Estige que não nos atacaria. Esse é o juramento mais sagrado para nós. Quebra-lo, não é uma opção nem para deuses.” Enfio a mão no bolso da jaqueta, fechando meus dedos em volta do celular. “Não precisa vir se não quiser.” digo, levantando e pegando a caixa de ferramentas no cais. Luana passa a mão nos olhos e se levanta também.

“Não, eu vou com você. Não importa se minha alcateia irá tentar me prender, se vai me perseguir, isso é algo que não posso deixar passar.” ela se apressa à minha frente. “Kye deixou o carro dele estacionado ao pé da colina, depois que voltamos da casa de seu pai. A chave deve estar no porta luvas. Eu te encontro lá?” Aceno.

“Se encontrar alguém, não conte que vamos sair sem a permissão do Sr. D e de Quiron. Isso é meio que proibido por aqui.”

“Está bem.” diz e sai correndo, se transformando em loba e entrando na floresta. Suspiro e tiro o celular do bolso. Ele estava coberto por uma fina camada de gelo, que parecia sair da minha mão.

“Queria ter mais tempo pra isso.” resmungo enquanto o gelo derretia.

Aproveitei enquanto ainda estava escuro e voltei à área dos chalés para colocar a caixa de ferramentas onde havia encontrado. Estava tudo bem, até ouvir o som de uma porta se abrindo atrás de mim e passos. Me levanto e viro, dando de cara com Nico. Ele para a poucos metros de mim e me fita por alguns segundos. Ergo a cabeça, me lembrando da conversa que tivemos na noite anterior.

“Como você sabia?” Pergunto. Ele sabia a que eu me referia, Pude ver pelo seu olhar. Nico apoia o braço no cabo da espada que estava sempre presa a seu cinto.

“Meu pai é o deus do submundo e dos mortos, Maya. Eu sinto essas coisas.” ele enfia a mão na jaqueta, tira de lá o vidrinho com o liquido claro que havia me mostrado antes e o estende para mim. “Eu prometi que te daria quando voltasse.”

Pego o vidro e analiso o conteúdo por alguns segundos.

“O que é?” Pergunto finalmente.

“Água da fonte de Mnemósine.” O vidro parece gelar em minha mão.

“A essa altura, essa memória ainda é importante?” Ele acena.

“Se você for mesmo ajudar, vai precisar disso.” Ele aponta para o vidro. “Não tome sozinha. Por mais que seja pouca, a água é muito poderosa. Não sabemos o que pode acontecer se você se descontrolar novamente.” e se vira, saindo do espaço e me deixando sozinha com os grilos.

Minha mão se fecha em volta do vidro e o guardo no bolso. Cuidaria disso mais tarde. Se aquilo fosse mesmo me fazer viajar fundo em minha memória, não sei se suportaria rever tudo aquilo. Olho em volta, observando as muitas estrelas que ainda pontilhavam o céu escuro.

“É só uma visita.” repito pra mim fechando os olhos. “Você só vai lá, vai dar um oi, verificar se está tudo bem e sair. Sem surpresas. Sem mundo mitológico. Sem ameaças que podem matar todo mundo.” Abro os olhos e quando me viro, quase grito ao esbarrar com alguém familiar. “Pelos deuses, Pietro!” exclamo. Mal havia sentido que ele se aproximava. Seus olhos azuis brilharam de diversão quando exibiu um sorriso torto. O encaro. “Pare de fazer isso, garoto! Vai acabar me matando de susto!”

“Fazer isso o que?” Pergunta.

“Isso! Parece que você anda sem fazer barulho, sei lá! Só pare de me matar de susto.” Respiro, recuperando o fôlego. Ele ainda sorria. Bufo. “Como você faz isso afinal? E por que você já está acordado? E será que dá pra parar de me olhar assim?” Ele me encara por alguns segundos, contendo o riso.

“Bem, pelo o que eu li, Macaria tem uma espécie de passo silencioso. Já estou acordado porque eu queria ver uma coisa com Quíron e não, não dá pra eu parar de te olhar assim.” Responde pacientemente.

“Por que?” ele dá de ombros.

“Gosto da forma como você fica agitada depois de levar um susto. É fofo, até.” Abro a boca pra falar que não tinha graça dar susto nos outros, mas paro assim que meu cérebro associa as últimas palavras. Devo ter ficado vermelha já que o sorriso dele aumentou mais ainda. Balanço a cabeça.

“Q-Que coisa você foi ver com Quíron?” Gaguejo, mudando de assunto. Ele baixa os olhos para o colar e, esfregando um pingente com o desenho de uma caveira com uma rosa na boca, responde.

“Eu precisava falar com meu pai. Tem mais de três dias que ele não tem nenhuma notícia minha e a essa altura, acho que ele já deve ter posto até o FBI pra me procurar.” Explica.

“E…?” Ele dá de ombros.

“Bom…” Começa. “Quíron falou que só podemos sair com uma missão, e que não seria prudente sair do acampamento ainda com tudo acontecendo.”

“Hum…” Digo. Olho de um lado pro outro, verificando se estávamos sozinhos e faço sinal pra ele se aproximar. “Eu e Luana vamos à cidade, resolver algumas coisas. Se quiser ir…”

“Tudo bem.” Responde antes mesmo de eu terminar de falar, suspirando como se tirasse um enorme peso de suas costas. Ergo uma sobrancelha.

“Mesmo? Sem contradições nem lição de moral?” Ele dá de ombros com um sorriso zombeteiro.

“O que é a vida sem um pouco de perigo?” Diz. Sorrio de volta.

“Está bem então.”

Começo a andar em direção à floresta, fazendo sinal para que Pietro me acompanhasse. Passamos por uma área coberta, para evitar que algum campista ou sátiro nos visse. Atravessamos a fronteira e quando já estávamos perto, pude avistar o Impala 67 preto de Kye estacionada. Jonas e Luana estavam encostados no carro, de costas pra nós, provavelmente namorando. Sorrio, ao menos alguém estava feliz no meio daquilo tudo. Dou meia volta até o lado do motorista, assustando-os um pouco.

“Desculpe atrapalhar, pombinhos, mas vamos antes que nos descubram.” Apresso, já entrando no carro e sentando no banco do motorista. Jonas e Lua entram no de trás, enquanto Pietro entrava no da frente. Pego a chave no porta luvas e coloco na ignição. Não ligo ainda, em vez disso, fecho os olhos e inspiro por alguns segundos, percebendo ainda o cheiro dele no carro. Devo ter ficado por bastante tempo, pois senti a mão de Pietro em meu ombro.

“Morena, está tudo bem?” Pergunta. O olho nos olhos, ele parecia preocupado. Sorrio disfarçando e aceno, dando a ignição no carro.

“Só estou com saudades.” Respondo, já arrancando com o carro. “Próxima parada: Nova York.”

(···)

Deixei Luana e Jonas a alguns quarteirões da casa do Brooklyn. Disseram que só queriam chamar a atenção de Helkon, que o resto da alcateia poderia não ser tão compreensivo quanto ele naquele momento.

“Se precisar de ajuda, é só me ligar.” Digo depois de dar meu número pra ela. Luana dá de ombros.

“Acho que você seria a última pessoa que eu chamaria.” Ela sorri e bagunça meus cabelos de forma maternal. Não pude evitar de sorrir sem graça quando fez isso. “Se alguma coisa der errado com você, não venha nos buscar. Vá direto para o acampamento. Eu e Jonas sabemos nos virar.” Sussurra pra mim. Fecho a cara pra ela.

“Eu não abandono meus amigos no meio do campo de batalha.” Digo séria. Ela apenas sorri.

“Não se preocupe. Somos mais rápidos em comparação com a minha alcateia. Eles nunca vão nos pegar. Só não perca tempo voltando aqui.” sorrio, mais calma. Dou a partida no carro.

“Até mais tarde.” Digo, guiando o carro pra longe. Olhei pra Pietro, submerso em pensamentos. Ele olhava atentamente para a cidade, como se matasse a saudade. “Admirando a paisagem?”

“Um pouco.” Responde distraído. “Só aproveitando o tempo para aproveitar um pouco do meu lado “mortal”.” Diz fazendo aspas com os dedos.

“Ainda em choque?” Pergunto, de forma casual. Ele acena.

“É muito estranho isso. Num dia eu estava fazendo um trabalho sobre mitologia, no outro tudo pula pra fora do livro.” Ironiza se ajeitando na cadeira. “Estou com medo de ler Harry Potter e comensais da morte começarem a me perseguir.”

Encaro a rua por alguns segundos, antes de cair na gargalhada e quase fazer o carro bater. Ele ri também.

“Está bem, você conseguiu me fazer rir antes de Jonathan. Merece um prêmio por isso.” comento enquanto virava uma esquina e esperava o semáforo abrir. Vejo quando ele se vira, ficando de frente pra mim e meus olhos desviam para o azul dos seus, que brilhavam de maneira travessa.

“Sério?” Pergunta, um sorriso dançando em seus lábios. Sinto meu rosto corar levemente, mas retribuo o sorriso e aceno devagar.

“Sério.” aperto o volante, um pouco nervosa. “O que você vai querer como prêmio, senhor palhaço?”

Ele põe o dedo na boca de forma pensativa, e depois de alguns segundos, dá de ombros.

“Por enquanto, só que você me encontre no bosque do acampamento. Vá sozinha e sem perguntas.” diz inocente, me olhando com certa expectativa. Ergo uma sobrancelha.

“No bosque? Mas…” ele ergue um dedo, cortando minha fala.

“Sem perguntas.” Ressalta, sorrindo enquanto passava a mão no cabelo escuro. Fecho a cara pra ele.

Sem perguntas.” Imito.

“Você quem disse eu podia escolher.” Diz dando de ombros e apontando logo em seguida para um ponto na rua, em frente a um portão alto. “Pode me deixar aqui?”

Olho pelo vidro, onde uma gigantesca placa anunciava a entrada de um condomínio. Ergo uma sobrancelha.

“Você mora aqui?” Pergunto boquiaberta. “Você é rico?”

“Não exatamente.” Diz um pouco constrangido, tirando o cinto de segurança. “Meu pai projetou o lugar, em troca, o dono deu uma das casas pra ele.” Explica, saindo do carro. “Eu te ligo? Não vou demorar muito.”

“Não precisa.” Digo saindo do carro também e trancando tudo. “A casa de Jonathan é só a alguns quarteirões daqui. Posso ir andando.” Ele acena.

“Está bem.” Por precaução, salvo sru número na mimha agenda e ele faz o mesmo.

Espero até que Pietro entrasse no condomínio para começar a andar. Ainda temia que estava fazendo a coisa errada, mas meu coração estava praticamente implorando por isso, e acho que meu cérebro não estava muito disposto a contestar naquele momento.

Depois que deixei Pietro no condomínio, cainhei pensativa pela rua, atenta a possíveis perigos. Haviam poucos pedestres e quase nenhum monstro a vista, mas não relaxei nem por um segundo. Era estranho caminhar entre os mortais depois dos últimos dias. Sentia como se a qualquer momento, um carro pudesse explodir do meu lado, ou alguém pular em mim, o que não era de tudo mentira.

Parei na esquina do quarteirão de Jonathan, inspirando o cheiro que fez parte de um dos melhores momentos da minha vida. A rua estava deserta, e a casa parecia meio vazia. A caminhonete dele, estava estacionada em frente a porta da garagem. Talvez ainda estivesse dormindo, mas eu já tinha vindo até aqui...

Quase automaticamente, caminho de forma silenciosa, até que pudesse enxergar através da janela da casa. A televisão estava ligada e no sofá, pude ver a silhueta de sua cabeça, sozinho. Inspirei fundo, tentando captar qualquer cheiro que não fosse o dele, mas ele parecia estar sozinho...Estranho. Normalmente, Evelyn estaria com ele...ela devia estar dormindo ou algo do tipo.

Caminho a passos silenciosos até a varanda da casa, sentindo minhas mãos tremerem. Estendo o dedo até a campainha e inspiro fundo.

“Agora não tem mais volta.” Sussurro, ao apertar e ouvir o doce som da campainha. Espero alguns segundos, viro de costas para a casa, tomando coragem. Ouço passos cansados quando Jonathan se levanta e aguardo, olhando para meus pés. Ouço-o girar a maçaneta e a porta se abre com um rangido.

“Bom dia. Posso...” Olho por cima do ombro, para seus olhos claros e a barba por fazer com vários trechos grisalhos. Arfo minimamente, sentindo meu coração disparar de saudade. Os olhos dele brilham um pouco e ele sorri de lado. “ Você cresceu.” Diz.

Sinto meus olhos marejarem e corro para o abraçar, afundando meu rosto em sua camisa e inspirando fundo seu cheiro. Sinto quando seus braços fortes me envolvem em um abraço apertado e ele beija minha testa. Sua barba faz cócegas em minha pele e rio, enquanto fungava e enxugava minhas lágrimas em sua camisa.

“Eu senti saudades. Tem tanto tempo que não te vejo...” Ele ri, o que faz seu peito largo tremer. Depois, coloca as mãos em minha cabeça, e bagunça meus fios.

“Eu que o diga!” Exclama. “Quando foi que você cortou esse cabelo assim? Quase não te reconheço! E isso é hora de você estar acordada? Deveria estar dormindo.” Começa, cruzando os braços.

“Er, eu estou com alguns problemas recentemente, sabe?” Digo, dando de ombros, mas sorrindo. “Estou ajudando alguns amigos a resolver uns problemas...” Ele ergue uma sobrancelha.

“Problemas? Sei...” Ele vira de lado, abrindo espaço para que eu entrasse. O faço e ouço quando ele fecha a porta. Cruzo os braços e fecho os olhos, inspirando fundo. Por um momento, senti uma paz interior, que julgava ser impossível para mim. Fiquei assim, até sentir o toque quente de Jonathan, me apertando de lado. “Está bem, minha guerreira. Pode começar a me contar o que aconteceu.”

Olho seus olhos claros e sorrio, tentando afastar a preocupação, mas o bolo em minha garganta s intensifica, lobo meu lábio inferior começa a tremer e soluço, começando a chorar. Tudo o que eu estava guardando até agora, sendo liberado, e eu não conseguia formar uma mísera palavra. Jonathan suspira e me abraça forte, passando proteção. Ele passa sua mão por meus fios enquanto eu soluçava, encharcando sua blusa, e sussurrando palavras de conforto.

“Shhh...calma, pequena.” Ele sussurra, me pegando no colo e deitando minha cabeça em seu ombro, como fazia quando eu era menor. Ele me leva até o sofá em seus braços e me abraça, até que o choro diminuísse. Incrível, como trocar algumas poucas palavras com ele, me faziam ficar assim. Aos poucos, relaxo, sentindo o nariz arder. Ele beija minha testa e brinca com minha orelha.

“Pronto...Agora. O que foi dessa vez?” Pergunta, erguendo minha cabeça suavemente para encará-lo. “Foi...um monstro feio perseguindo minha guerreira?” Pergunta, tocando meu nariz. Sorrio de leve e ele retribui. Depois, faz uma cara pensativa. “Ou será que foi um pesadelo? Mas tenho certeza que o pesadelo já deve estar se cagando de medo atrás da mamãe.” Brinca, fazendo cosquinhas na minha barriga. Rio e enxugo o que escorria do meu nariz, mas logo esmoreço.

“Eu estou passando por tanta coisa...” Digo, enrolando o tecido de sua camisa em minhas mãos. Minha cabeça recai sobre seu peito largo. “Eu queria te contar tanta coisa...”

“Então conte. Não precisa esconder nada de mim, Maya. Sabe disso.” Ele diz, acariciando meus cabelos. Suspiro, como diria isso a ele? Ao ver como eu ficara quieta, tenta puxar assunto. “Sabe, eu estava pensando...Você não gostaria de passar seu aniversário aqui? Quer dizer...você quase nunca vem, e eu sinto saudades...por que não vem com seus amigos?”

Ele me olha com uma expectativa e sorrio meio sem graça. Não queria preocupar ele. Nem sei se sobreviveria àquela semana, então aceno, fungando devido ao choro recente.

“Eu...vou tentar, está bem?” Seus olhos se iluminam quando sorri.

“Vou considerar isso como um: Sim pai, eu vou passar meu aniversário de 16 anos na sua casa já que você perdeu dois dos meus porque eu esqueci de te convidar.” Diz fazendo uma vozinha fina, como se me imitasse. Solto uma risada e soco seu braço.

“Eu não falo desse jeito.” Coro quando ele sorri, e fico um pouco sem jeito quanto novamente, bagunça meus fios. Respiro fundo e me aproximo, beijando sua bochecha. “Eu preciso te contar algumas coisas, da próxima vez que eu voltar aqui, está bem?”

Ele ergue uma sobrancelha e faz biquinho.

“Você já vai? Acabou de chegar! Fica só para o café, por favor.” Pede, juntando as mãos. Dou uma risada, quando ele faz olhinhos parecido com os do gato de botas. Arfo, cedendo aos poucos.

“Para, pai! Você prometeu que não faria mais essa cara pra mim.” Digo cruzando os braços e tentando fazer uma cara séria. Ele faz sons como um cachorro chorando e esfrega os cabelos curtos em minha bochecha, pedindo carinho. Reviro os olhos sorrindo. “Ta bom seu bebezão! Eu fico para o café. Quer que eu faça carinho na barriga do cachorrinho também?”

Ele ri, levantando a camisa até o umbigo, o que deixava seu abdome definido até demais para um cara na casa dos 40 à mostra.

“Se você quiser eu aceito.” Diz brincando. Reviro os olhos de novo e acerto um soco fraco em sua barriga. Ele se dobra fingindo dor. “Ai! Quando ficou tão forte?!”

“E quando você ficou tão criança?” Faço uma pausa. “Ah é, esqueci. Você sempre foi assim.”

Ele faz um bico de raiva e rapidamente, me pega, jogando meu corpo por cima de seu ombro. Dou um gritinho, e logo gargalho.

“Me solta, pai! Não vale. Você é maior que eu.” Digo rindo, enquanto ele me levava até a cozinha.

“Não solto não! Isso é pelo soco. E outra, ser advogado sozinho é chato! Nós nunca mais jogamos paintball. Você me deve dois anos disso.” Diz, enquanto me largava em uma cadeira da mesa da cozinha. Rio, sentindo minhas bochechas doerem e ele me acompanha. Senti saudades de Jonathan. Ele tinha todo esse jeito de conseguir me fazer esquecer dos problemas. Sempre achava tempo pra mim, mesmo quando estava atolado até o pescoço de trabalho e quando ficávamos juntos, eram sempre as melhores horas do dia.

Acompanhei enquanto ele fazia ovos mexidos e o cheiro me trouxe lembranças de quando era mais jovem, numa época em que eu so precisava me preocupar em afastar os monstros da casa. Suspirei nostalgica, enquanto ele colocava os ovos já prontos em nossos pratos e se sentava ao meu lado, depositando um beijo em mimha testa.

“No que está pensando?” Pergunta, enquanto comia. Começo a comer também, não evitando o sorriso.

“Na época que eu morava aqui. Quando você conheceu Evelyn...onde ela está? Está dormindo?” Ele nega.

“Está na casa dos pais. Queria passar um tempo com eles...antes da cirurgia.” Diz, com os olhos brilhando. Alargo mais o sorriso.

“Você conseguiu?!” Exclamo. Ele acena e dou um gritinho de alegria. “Quando vai ser?”

“Daqui há alguns meses.” Declara, estufando o peito de orgulho. “Provavelmente, depois do seu aniversário. É por isso também que eu gostaria que você o passasse aqui. Queria que estivesse presente, quando ela voltasse a enxergar.”

Sorrio de lado, terminando de comer os ovos. Evelyn, a esposa de Jonathan, possuía uma doença que causava a cegueira. Agora, já estava em um estágio extremamente avançado, mas ela agradecia por poder ter visto o rosto de Jonathan antes de se perder na escuridão. Sorrio um pouco besta. A história dos dois era de fazer qualquer um se apaixonar. Suspiro, e logo sinto meu celular vibrando no bolso do casaco. Me assusto um pouco, e Jonathan ergue uma sobrancelha. Rio um pouco nervosa e pego o celular.

“Desculpa, eu só…” Paro quando vejo o número de Pietro brilhando na tela. Franzo o cenho. Jonathan pigarreia.

“Algum problema?” Nego rápido.

“Não, eu acho. É só um amigo que veio comigo.” Disfarço, atendendo o telefone. “Alô?”

Maya!” Pietro parecia um pouco afobado. Ao fundo, ouvi o som de vidro se quebrando. Arregalo os olhos.

“O que foi, Pit?!” Pergunto, séria. Outra coisa se quebra ao fundo e prendo e prendo a respiração. “Onde você está? O que aconteceu?”

Monstros! Têm vários deles aqui! Têm Ciclopes, e algumas coisas parecidas com galinhas misturadas com mulheres...Têm muitos, não dou conta sozinho.” Engulo em seco e olho pra Jonathan, que parecia preocupado. Suspiro e baixo os olhos.

“Chego em cinco minutos.” Digo, desligando o celular sem dizer mais nada. Me levanto da cadeira e dou um beijo rápido em Jonathan. “Desculpa, pai. Mas eu preciso ir.”

Ele esmorece.

“Tem a ver com o que você quer me contar?” Pergunta. Suspiro e aceno, já da porta da sala.

“Sim. Tchau. Vou sentir saudades.” Me despeço, enquanto saía pela porta da sala. Respiro fundo por alguns segundos, controlando a vontade de chorar e bufo. Por alguns minutos, esquecera de tudo, mas como tudo o que é bom dura pouco né…

Olho para os lados, ainda era muito cedo. Começo a correr e assim que dobro a esquina, me transformo em uma gigantesca loba cinza, correndo para o condomínio de Pietro.

Alcancei o lugar em pouco tempo, e assim que pulei o muro pra entrar na propriedade, ouvi ao longe o som da batalha. Percorri todo o terreno o mais rápido que pude, farejando o cheiro de Pietro. Depois de varios segundos naquilo, finalmente avistei a casa, e vi a gravidade do problema. A casa estava cercada por monstros, contei pelo menos uns 7 ciclopes e 15 harpias. Tive que cessar a corrida e me esconder atrás de uma casa, à medida que me transformava em humana de novo. Sentia meu coração disparado, eram muitos. Respiro fundo, tentando pensar.

“Posso acabar com isso rápido, se me deixar assumir.” Fecho a cara.

“Cala a Porra da boca, Alhia! Não quero sua ajuda!” Disse em voz alta, enquanto erguia a mão e imaginava uma metralhadora surgindo. Rapidamente, meu colar aparece, e se transforma na maior que eu consegui imaginar. Bufo de raiva apertando o apoio. “Isso não vai servir! Nem com todas as balas do mundo! São 7 ciclopes adultos!”

Reclamo, frustrada. Sinto um puxão no meu estômago e um frio intenso tomar conta de meu lado esquerdo. Arfei, não pode ser.

“Não! Volte! Você não pode assumir, vai mata-lo.” Digo, enquanto tentava conter Alhia de tomar conta do meu corpo. Pelo vidro da janela da casa, vi o momento que meu olho esquerdo ficava completamente negro, com a íris vermelha. Ela sorri e pega a arma de minha mão, trazendo-a para a esquerda. A arma instantaneamente começa a fumegar e ela ri..

Isso vai ser divertido.” Diz, enquanto se apossava do outro braço, mas não totalmente. Olho horrorizada. Como ela estava fazendo aquilo? Sinto que revira os olhos em minha cabeça. “Relaxa, bebê chorona. O grifo foi suficiente para começar. Mas porque matar um semideus se posso cuidar de vinte e dois monstros que se regeneram? Vale muito mais a pena.”

Ela brinca. Fecho a cara quando, contra minha vontade, ela sai de nosso esconderijo improvisado e aponta a arma para os ciclopes. Sinto-a quente, mas o calor não me incomoda. Era agradável até. Cedo, sem perceber e Alhia sorri, posicionando o dedo no gatilho.

“Relaxa. Isso é pra te mostrar que não somos inimigas.” Ela finge que atira e prendo a respiração no mesmo segundo, depois, ela suspira e a metralhadora se dissolve. Franzo o cenho.

“O que está fazendo?” Pergunto. Sinto quando faz um biquinho.

“Infelizmente, tem razão. Só a metralhadora não daria conta. Em vez disso...” Duas katanas aparecem, uma em cada mão. A lâmina da mão esquerda, começou a fumegar de uma forma amedrontadora, enquanto a da direita, foi revestida por uma fina camada de gelo. Alhia sorri e gira as duas armas na mão, tencionando as pernas em seguida. “Ah sim, agora sim. Hora de acabar com alguns monstros.”

Ela pula e começa a correr na direção deles. As primeiras que notam nossa aproximação, são as harpias. Elas grasnam e voam em nossa direção. Alhia sorri de lado e pula, decepando com um único golpe, três que se aproximaram mais rápido. Quando a lâmina deixa seus corpos, em vez de se dissolverem em poeira dourada, as harpias entram em combustão instantânea, fazendo um cheiro de queimado inundar meus pulmões. Torço o nariz, mas confesso que foi incrível.

Não babe ainda. Estamos só começando.” Ela brinca e assisto quando, com a espada da mão direita, ela corta um dos braços da harpia e o mesmo congela instantaneamente. Ela finca as duas espadas de uma vez no coração do monstro e quando tira, todo o seu corpo se estraçalha, fazendo pedaços voarem. As outras harpias começam a se aproximar, dessa vez em número maior e Alhia cruza as espadas na frente do corpo, formando um X. Sinto um impulso elétrico percorrer meu braço e ouço um trovão acima de nós. Prendo a respiração.

“O que está fazendo?” Pergunto, quando os monstros estavam perto. Dez metros, oito, seis...Alhia sorri.

Fritando alguns pássaros.” E quando os monstros estavam tão perto que podia sentir o cheiro deles, um raio cai bem no ponto em que as espadas se cruzavam. Alhia tenciona as pernas e, enquanto absorvia a carga, ela impulsionou o raio pra frente, o mandando em direção aos monstros. Assisti boquiaberta quando a eletricidade, tão sólida que poderia tocá-la, ricocheteou em todas as harpias que se aproximavam, eletrocutando-as no ar e as fazendo cair no chão, inundando o lugar com um cheiro horrível de penas queimadas. Ela separa as espadas e o raio cessa, voltando o céu à claridade de antes. Eu sentia todo o corpo tremendo com a eletricidade, mas assim que vi os monstros caídos, comecei a rir de nervoso, e logo gargalhei. Alhia sorri de lado. “Tá bom, criançona. Pode admitir.”

Paro de rir e sorrio de lado.

“Tá bom, isso foi incrível. Mas não muda o fato de que...” Começo e ela revira os olhos.

Não muda o fato de que matei o grifo.” Ela completa entediada, voltando depois à posição de ataque quando três dos ciclopes se aproximavam. “Já entendi o recado. Não precisa repetir a cada cinco minutos. Tá legal, me culpa pelo resto da vida, mas se concentre agora.”

Sorrio de lado e aceno. Está bem. Observava impressionada a forma como ela atacava os monstros. Cada movimento era preciso. Não havia nenhum erro sequer, como se houvesse treinado toda a vida para aquelas lutas. Confesso que foi agradável até, pois ela não estava mais tentando tomar meu corpo para ela. Estávamos trabalhando em conjunto, em harmonia. Eu não sentia medo de Alhia. Sentia como se realmente, eu precisasse dela, para equilibrar a energia que tinha dentro de mim. Ela sorri, quando termina de matar o sexto ciclope.

Finalmente entendeu?” Pergunta, enquanto regredia, devolvendo meu corpo ao meu controle. Aperto o cabo das espadas, sentindo o suor escorrer pelos braços.

“Se é assim, então por que...por que aquilo aconteceu? Por que não foi como agora?” Ela termina e pisco algumas vezes, sentindo minha cabeça doer um pouco. A ouço suspirar, no fundo da minha mente.

Nós temos que atuar sempre em equilíbrio, Maya. Somos como Yin e Yang. Nenhuma de nós pode ser mais do que a outra. Temos que estar sempre em equilíbrio. Você me prendeu por muito tempo, o que deixou seu lado Yang crescer, mas eu também cresci, e quando finalmente consegui me libertar, eu tinha coisas demais pra liberar. Por isso, aquilo também foi culpa sua. Então...não adianta negar. Você precisa de mim.” Ela diz. Processo suas palavras por um tempo, até suspirar e coçar meus cabelos curtos.

“Tem razão.” Digo por fim. “Agora eu entendo. Me desculpe, Alhia.”

Não peça desculpas para si mesma, é estranho.” Ela ri e rio junta, mas subitamente, ela para. “Espera. Tem algo errado. Não eram sete ciclopes?”

“ Eram. Onde está o...” Ouço o som de vidro se quebrando dentro da casa e arregalo os olhos. “Merda. Como eu esqueci dele?”

Entro correndo na casa, encontrando um verdadeiro pandemônio lá dentro e no canto, vejo um ciclope pressionando Pit contra a parede e o erguendo vários metros no chão. Ele tinha um corte feio na cabeça e sangue escorria, sujando seu rosto e manchando sua roupa. Sinto a raiva me subir pelo corpo e aperto o cabo das duas espadas. Sabia que minhas íris ficavam vermelhas pela raiva e dei um passo em direção ao monstro, que erguia um porrete para Pietro.

“EI!” Grito, antes que ele desferisse o golpe. O monstro vira seu olho castanho para mim e ergo as espadas. Pietro fixa seus olhos azuis em mim, mas estava mais focada no monstro agora. Dou alguns passos, ficando no meio da casa. Senti um cheiro de queimado quando algumas tábuas à minha volta começaram a pegar fogo. Ergo uma lâmina para o monstro. “Porque não deixa o garoto em paz e enfrenta alguém do seu tamanho?”

O ciclope ergue a monocelha e começa a gargalhar, exibindo os dentes amarelados. Ele larga Pietro, que escorrega pela parede, com a mão no pescoço. O monstro se vira pra mim com um sorriso sádico.

“Será um prazer, florzinha.” Fala lambendo os lábios e vem correndo em minha direção, erguendo o porrete. Espero o momento certo e corro também, escorregando por entre suas pernas e acertando seu calcanhar, o que o faz cair de joelhos. Sua perna congela e me levanto, girando o corpo e arrancando seu braço com um único golpe de espada. O membro entra em combustão instantaneamente e o monstro urra de dor. Me viro e como um golpe final, cravo as duas espadas em seu coração. O corpo do monstro começa a endurecer, congelando, á partir do ponto em que as laminas tocavam seu corpo, transformando-o em uma estátua de gelo e por fim, derretendo com o calor que emanava da outra espada. Quando termina, faço as espadas voltarem a forma de colar em meu pescoço.

Obrigada, Alhia.” Agradeço mentalmente, enquanto me virava e ia até Pietro, que assistia a tudo boquiaberto. Senti quando ela sorri no fundo de minha mente.

Eu não fiz nada. Foi tudo você.” Não pude evitar de sorrir, mas foi por um milissegundo, antes de me agachar ao lado de Pietro e ver o corte em sua testa. Ele ainda parecia embasbacado.
            “O-O quê você...? Como você?...Eles eram mais de vinte!” Gagueja. Dou uma risada, enquanto analisava o corte em sua cabeça.

“Você bateu a cabeça muito forte.” Digo calma, enquanto tirava um pedacinho de ambrosia de dentro do casaco e lhe entregava. “Aqui, vai se sentir melhor.”

“O ciclope virou gelo! E pegou fogo! Como você fez aquilo?” Pergunta, comendo a Ambrosia. Dou de ombros.

“Estou aprendendo a controlar. Acho que fui bem. Mas você...” Olho em volta, para a zona que estava a casa, voltando depois o olhar para ele. “Onde está seu pai?”

“Ele...não está aqui.” Diz, um pouco triste. “Eu fui cercado antes de poder sair. Meu pai deve estar trabalhando.” Resmunga enquanto se levantava. “Obrigado.” Sorrio.

“Não há de que.” Respondo. Tombo a cabeça para o lado. “Como pretende explicar ao seu pai essa bagunça quando ele chegar?”

Ele suspira e esfrega a cabeça.

“Eu estou ferrado, não estou?” Rio e aceno, estendendo a mão para ajudá-lo a se levantar.

“Não se preocupa, eu te ajudo a arrumar tudo antes do seu pai voltar.” Ele sorri.

“Obrigado, Maya.” Dou de ombros enquanto ajeitava o sofá que estava fora do lugar.

Juntos, arrumamos toda a sala que estava uma verdadeira zona, além da cozinha, que estava com vários pratos quebrados. Não demorou muito, e logo a casa estava nova em folha, exceto por um ou outro prato que ele poderia dar falta. Quando acabamos. Pit falou que ia no quarto pegar algumas coisas e me pediu pra esperar na sala. Me sentei no sofá e esperei, olhando algumas fotos que estavam na mesa de centro de um garotinho ao lado de um homem alto, com uma espingarda de caça nos ombros. Sorrio de lado e, quando já ia pegar o porta-retratos, ouço o som da porta se abrindo. Olho para o lado, a tempo de ver um homem com um paletó nos braços entrar na casa. Ele tinha olhos castanhos, e parecia tão cansado que não me percebeu de primeira, somente quando entrava e vinha em direção ao sofá que seus olhos se fixaram em mim e ele literalmente travou. Dou um sorriso sem graça e ele olha de um lado pro outro, meio sem entender.

“Ham...está perdido, garoto?” Pergunta. Encaro sua face e solto uma risada logo em seguida. Ele ainda me olha sem entender.

“Desculpe mas...eu realmente pareço um garoto?” Pergunto olhando para minhas roupas, dando leves risadas. Ele ergue uma sobrancelha e dá um meio sorriso.

“Desculpe, senhorita. Está perdida?” Me levanto, sacudindo a poeira de minhas roupas.

“Não, senhor. Eu estou aqui com o...” Já ia falar Pietro, mas o mesmo aparece na sala e me corta.

“PAI!” Exclama com um sorriso e vai até ele, lhe dando um abraço. O homem retribui, com um sorriso.

“Por onde você andou, parceiro? Eu já ia pôr a S.W.A.T. atrás de você.” Comenta. Pit sorri, ajeitando uma mochila nas costas.

“Eu estou...eh, bem...eu estou...” Ele gagueja e reviro os olhos, me aproximando.

“Ele estava comigo, senhor Mattore.” Digo com um sorriso e estendendo a mão. “Eu sou Maya. Maya Morgan Walker. Pietro estava acampando comigo e alguns amigos. Desculpe se não conseguimos falar com o senhor, o lugar não pega sinal de celular.” Explico. Pietro me olha murmurando um Obrigado, e retribuo com o meu melhor olhar de Você me deve essa. O pai dele aceita meu cumprimento.

“Muito prazer, Maya. Sou Colton.” Diz com um sorriso. Ele se volta para o filho. “Da próxima vez, manda pelo menos um sinal de fumaça! Tem noção de como fiquei preocupado?”

Pit baixa o olhar, um pouco envergonhado, mas logo sorri.

“Ora, você não veria um sinal de fumaça mesmo.” Brinca dando de ombros. Os dois se encaram por alguns segundos e logo começam a rir. Sorrio ao ver a relação dos dois, pareciam ser bem próximos. Depois, Pit me olha de esguelha e sorri pro pai. “Er, bem...nós temos que ir. Sabe...coisas de acampamento.” Colton pareceu um pouco triste, mas sorriu.

“Está bem. Mas não me deixe sem notícias por muito tempo.” Diz lhe dando um apertão de ombro. Ele me olha. “Foi um prazer te conhecer, Maya.” Diz com um sorriso. Sorrio de volta e ele se aproxima, como pra contar um segredo. “Tente colocar um pouco de juízo na cabeça desse garoto. Você me parece ser bem sensata. Ponha ele na linha, está bem?” Sussurra, mas olhando para Pit, o que me fez ter certeza de que ele queria que o filho ouvisse. Rio e aceno.

“Pode deixar, senhor Mattore. Vou cuidar dele.” Digo lhe dando um sorriso de lado enquanto Pietro me puxava para fora da casa. Quando saímos, percorremos rápido o caminho do condomínio até o Impala de Kye, onde entro no banco do motorista rindo, mas já dando a partida enquanto Pietro entrava no banco do carona. “Não que eu não entenda sua pressa, mas ele é um cara legal.” Digo sorrindo, enquanto manobrava o carro na frente do condomínio e dando a volta, dirigindo até o ponto que havíamos combinado com Luana e Jonas. Pit sorri.

“Sim, ele é. Mas se ficássemos mais tempo, ele começaria a falar sobre como eu tinha uma bunda branca quando era bebê.” Diz, olhando pela janela, para o condomínio que se afastava. Um sorriso brota em meus lábios e ele arregala os olhos quase que ao mesmo tempo, escorregando a cabeça e a batendo na porta. “Eu não deveria ter dito isso, né? Merda!”

“Owwn, não fica axin Pietrinho da mamãe. Xua bundinha era muito bunitinha, tá?” Falo fazendo uma voz meio paparicada enquanto apertava uma de suas bochechas. Ele revira os olhos.

“Cala a boca, Walker.” Diz emburrado. Ri disso por mais algum tempo, pelo caminho até nosso ponto de encontro com os lobisomens.

(...)

Encontramos com os lobisomens poucos minutos depois. Como o dia já clareava, junto com ele, vinha a agitação da cidade grande. Quando chegamos ao ponto, Luana estava com os olhos vermelhos e inchados, sinal de que havia chorado. Jonas a consolava, mas via como também estava abatido. Fora isso, os dois pareciam bem. Paro o carro na frente do terreno e eles entram, cabisbaixos. Suspiro e olho para o retrovisor.

“Lua...você está bem?” Pergunto, preocupada enquanto guiava o carro pelas ruas. Ela acena e funga, assoando o nariz na camisa.

“Eu só...não consigo acreditar ainda.” Diz com a voz rouca e o nariz entupido. Baixo os olhos por um segundo, enquanto os prédios passavam à nossa volta.

“Sim, sei como é.” Digo somente, num fiapo de voz. A viagem continuou silenciosa à partir daquele ponto. Ninguém pronunciava uma palavra sequer, se concentrando apenas na ida de volta ao acampamento.

Quando chegamos, já estava quase na hora do almoço. Estacionei o carro perto da floresta, bem a tempo de ouvir o galope de Quíron se aproximando rapidamente. Vi o rosto do velho centauro, antes de poder valar qualquer coisa.

“Onde vocês estavam? Como saem assim sem avisar a ninguém? Têm alguma noção do quanto todos estavam preocupados? Foi uma atitude irresponsável, infantil e suicida.” Ele despeja, enquanto saíamos do carro. Seu rabo balançava de um lado para o outro, o que demonstrava o quanto estava irritado. Simplesmente suspirei, trancando o carro e indo até ele.

“Desculpe, Quíron. Foi minha ideia. Sei muito bem o que poderia ter acontecido e me responsabilizaria caso qualquer um tivesse se ferido.” Disse de cabeça baixa. O centauro olhou pra mim e suspirou logo em seguida, pondo a mão em meu ombro.

“Seu irmão está preocupado, Maya. Ele está surtando desde que acordou e não te viu no chalé. Por muito pouco, ele não pegou Blackjack e foi atrás de você.” Fala com um olhar de preocupação. Sorrio, ao saber da reação de Percy e aperto a mão de Quíron.

“Desculpe. Não vou fazer isso de novo.” Digo, com um sorriso sem graça. Ele retribui o sorriso e olha para Pietro, Luana e Jonas.

“Evitem falar disso, okay? Para os campistas, vocês estavam apenas na floresta. Só Percy, o sr. D. e eu sabemos que saíram. Queremos evitar o pânico então, sigilo.” Diz, enquanto se virava, voltando para o acampamento. Jonas e Luana o seguem, mas quando eu já ia acompanha-los, sinto o toque de Pietro em meu ombro.

“Não se esqueça. Bosque do acampamento, de noite. Vá sozinha.” Sussurra para que só eu ouvisse. Sinto um arrepio de leve, mas aceno, confirmando. Ele sorri e continua seu caminho. O sigo, sentindo algo estranho no estômago, mas sorrindo para não demonstrar. Acompanho-os até a casa grande e assim que entro, sou atacada por um par de braços fortes que me apertam contra uma camiseta laranja um pouco babada.

“ONDE RAIOS VOCÊ SE METEU? SABE COMO EU FIQUEI PREOCUPADO? O QUE EU FARIA SE VOCÊ SUMISSE ASSIM! NOSSO PAI ME MATARIA E DARIA DE COMER AOS PEIXES! COMO EU PERCO MINHA IRMÃ MAIS NOVA DE VISTA?” Ele berra, enquanto me abraçava. Se bem que parecia que ele estava tentando mudar meus ossos de lugar pela forma como o fazia. Dou uma risada de leve e retribuo seu abraço.

“Também senti sua falta, cérebro de peixe.” Brinco, enquanto inspirava o cheiro de maresia impregnado em sua roupa. Logo me afasto, depois dele ter estralado quase todos os ossos que eram possíveis ser estralados e sorrio para o mesmo. “Se importa se eu...ficasse no chalé? Estou um pouco cansada...” Ele fecha a cara.

“Na na ni na não! Você só vai pro chalé depois que comer alguma coisa, ouviu, mocinha?” Fala mandão, me pegando pelo braço e puxando em direção ao pavilhão. Reviro os olhos e olho por cima do ombro para o grupo, que assistia a tudo segurando o riso. Olho pra Pietro e movo os lábios sem emitir som. A gente se vê. Ele acena e sorri, e seu sorriso foi a última visão que tive, antes do cérebro de peixe me arrastar até o refeitório.

Percy só me deixou ir para o chalé, depois que me viu acabar com o terceiro prato de arroz com strogonoff. Eu literalmente saí de lá rolando, mas foi engraçado até. Quando cheguei no chalé, desabei na cama e apaguei imediatamente, caindo em um sono sem sonhos. Quando acordei, já era noite, e podia sentir ao longe o cheiro da madeira queimada da fogueira, o que significava já ser bem tarde. Suspiro, me arrastando pra fora da cama e indo até o banheiro, tomando um banho rápido para despertar do sono. Vesti uma calça jeans normal, uma blusa branca que se ajustava bem ao meu corpo, botas e um casaco cinza, já que fazia um pouco de frio. Caminhei até o bosque, ficando na entrada e olhando de um lado para o outro, esperando Pietro. Dou um longo suspiro, visto que ele demorava e me recosto em uma árvore.

“Levantei à toa.” Resmungo, enquanto olhava pra cima e admirava as estrelas. O céu estava tá lindo àquela noite. Suspiro de forma sonhadora e só sinto depois quando um par de mãos quentes tapa meus olhos.

“Adivinha quem é.” Uma voz familiar diz, entre risos, depois que dei um gritinho de susto. Faço um biquinho e tento tirar as mãos dele de meu rosto, mas ele rapidamente as troca por vendas. “Na não, mocinha. Faz parte da surpresa.” Torço o nariz.

“O que você está aprontando?” Pergunto, enquanto o sentia pegar minha mão delicadamente e me guiar por entre as árvores da floresta.

“É surpresa. E não vale espiar.” Ele diz, e sabia que estava sorrindo. Bufo.

“Odeio surpresas.” Solto. Mentira, eu adorava.

“Vai gostar dessa, eu prometo.” Ele diz. Dou de ombros e deixo que ele me guiasse pela floresta. Estava estranhando pela demora, mas logo, não senti mais as árvores a nossa volta, como se tivéssemos entrado em uma clareira. Franzo o cenho e tento escutar, mas só ouvia os grilos. Ergo uma sobrancelha, ainda parada no mesmo lugar que ele me deixara.

“Não estou gostando disso, Pit.” Digo um pouco insegura. Ele apenas dá uma risadinha e me puxa delicadamente, me ajudando a sentar em algo que parecia uma cadeira. Ele ajeita alguns fios do meu cabelo.

“Não se preocupe. Não vou machucar você.” Diz calmo.

“Vai fazer o que então?” Pergunto, um pouco apreensiva. Não gostava de ficar assim, a mercê de outra pessoa. Ele aperta minhas mãos de uma maneira reconfortante.

“Não se preocupe. Você está tendo uma semana ruim. Só quero alegrá-la um pouco. Então, vamos fazer um jogo. Eu vou te dar algumas coisas pra provar, e você vai me dizer o que sente com elas. Combinado?” Ergo uma sobrancelha, vendo apenas a total escuridão.

“Só isso? E precisava me arrastar para o meio do bosque?” Ele bufa.

“Só...relaxe, Walker.” Ele diz. Depois, fica algum tempo o completo silêncio e me desespero só um pouquinho. Odiava não saber o que estava acontecendo.

“Hum..Pit?” Chamo.

“Estou bem na sua frente.” Diz, e pela forma como falara, sabia que sorria. “Agora, Walker, você vai abrir a boca.” Manda.

“Sério?”

“Só abra a boca.” Diz paciente. Reviro os olhos internamente e abro a boca. Ouço quando pega alguma coisa e coloca em minha boca. Era doce, um pouco grudento. Fecho a boca e mastigo, sentindo o gosto de chocolate, mas não chocolate daqui...um chocolate diferente, muito mais gostoso. Engulo. “O que era isso? É bom.”

“O nome é brigadeiro. É um doce comum no Brasil e sim, é incrível.” Concorda. Sorrio de lado, estava gostando disso. “O que sentiu quando provou?” Pergunta. Dou de ombros.

“De primeira, estranhei o gosto, mas gostei. Causa uma sensação boa. Como se eu não precisasse me importar tanto com o que acontece.” Ele ri de meu comentário.

“Sim, imaginei.” Ouço quando pega outra coisa. “Certo, pode abrir.”

Rio e abro a boca, sentindo o próximo sabor. O primeiro gosto que senti, era semelhante ao do brigadeiro, mas estava misturado a mais alguma coisa. Doce também, mas um pouquinho azeda no final. Morango. Alargo o sorriso.

“De onde você tirou essas coisas? São deliciosas.” Exclamo, enquanto ainda mastigava o morango. Ele ri.

“É, eu sei. E então? O que sente?”

“Não sei direito. Ele, causa um formigamento gostoso no rosto, aconchegante.” Explico, enquanto ria sozinha. “E feliz. Me deixa...feliz.”

“Interessante. Mas bom. Agora...” Sinto o nó da venda desafrouxar. “Você vai olhar pra cima, para o céu. Depois, vai fechar os olhos e se virar pra mim, combinado?” Pergunta, mantendo ainda a venda em meus olhos. Suspiro e aceno.

“Está bem, mandão.” Digo e ele tira a venda. Assim que tenho uma visão do céu, o ar escapa de meus pulmões. Ele estava em uma mistura de azul escuro, claro, rosa e roxo, todo pontilhado com estrelas. Meus olhos se iluminam.

“É...é lindo!” Digo sorrindo, sentindo meu coração disparar e o sorriso se intensificar. Sinto Pit sorrir.

“Agora, feche os olhos e se vire pra mim.” Diz calmo. Sorrio e faço o que me pede. Não esperava que tudo aquilo pudesse melhorar, mas estava com uma sensação...diferente. Ouço quando tira a cadeira da minha frente e se aproxima. Ele toca meu rosto suavemente, com a mão quente e ameaço abrir os olhos.

“Ainda não pode abri-los.” Ele diz, quase num sussurro. Ergo uma sobrancelha.

“O-O que vai fazer?” Pergunto, gaguejando. Ele dá uma risadinha de leve depois, só sinto quando seu nariz estava tão perto de meu rosto que poderia sentir sua respiração. Sinto meu coração disparar e travo um pouco no lugar...ele não iria? Ele iria? Sim...ele iria.  No segundo seguinte, sinto quando seus lábios tocam os meus, de maneira delicada, cuidadosa. Ele tinha lábios doces, quentes... Permaneço sem reação nos primeiros segundos, mas aos poucos, meu corpo decidiu que retribuir àquilo seria uma excelente ideia.

Meus lábios começam a se mover, devagar e eu relaxo mais o corpo. Ainda de olhos fechados, sinto quanto sua mão toca a base de minha coluna e me puxa um pouco pra perto, intensificando um pouco mais. Meu rosto formiga e sinto todo o meu corpo se arrepiar, quando uma sensação calorosa surge partindo do meu estômago, se espalhando por todo o corpo. Instintivamente, levo minha mão esquerda até seu pescoço, enquanto a direita entrelaçava em seus fios. Sinto quando sorri, e sua outra mão se junta à primeira na base de minha coluna, me puxando ainda mais pra perto  e se permitindo intensificar ainda mais nosso contato. Quando o ar me faltou, ele separou nossos lábios.

Eu sentia todo o meu rosto formigando, o coração batendo a mil no peito e as borboletas em meu estômago se agitando em um turbilhão em minha barriga. Abro os olhos lentamente, e a primeira visão que tenho, é a de seus olhos azuis, me encarando, brilhantes. Seus lábios estava abertos em um sorriso deslumbrante e tudo o que eu conseguia fazer, era encará-lo, pasma. Ele ri, e aperta minha mão.

“Era por isso, que eu tinha que te arrastar até o bosque.” Diz simplesmente, enquanto me pegava pela mão, guiando cuidadosamente para fora do bosque. Quando voltamos ao acampamento, ele me leva até a área dos chalés e me deixa na porta do meu. Antes de ir, sorri e me dá um beijo rápido na testa. “Boa noite, Maya.”

Diz, se virando e indo para o chalé dele. Permaneço parada ainda, olhando para o nada, tentando entender o que acontecera. Meu corpo inteiro estava formigando, e eu mal conseguia desfazer a expressão pasma em meu rosto...Após algum tempo na porta do chalé, acabei entrando, de maneira automática. Fui até minha cama, me deitei e fiquei encarando teto por horas, ainda viajando naquilo que acabara de acontecer, só conseguindo pensar em três palavras. Ele me beijou.


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