A Herdeira do Olimpo escrita por Nogitsune Walker


Capítulo 21
"Cada um deles."


Notas iniciais do capítulo

Galera, só passei para avisar que estarei colocando a fic em revisao, entao n se assustem se receberem varias atualizações duranrte a seman. No mais, aproveitem.



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Helkon

 

 

"O que aconteceu com você?" Era a pergunta que eu me fazia. Há quatro semanas, se alguém tomasse meu território, eu perseguiria o desgraçado até suas patas sangrarem de tanto correr. Então, o que aconteceu com você, Helkon? Simples, uma bruxa amaldiçoou meu território, impedindo que nos transformássemos e nos chantageou para que viajássemos para o outro lado do país atrás de uma criança que era a própria filha para fazer um ritual. Bufo e acendo mais um cigarro, o quinto já.

Desde que havíamos voltado, eu estava nesse telhado. Bebendo, fumando, vendo o tempo mudar de uma manhã ensolarada para um temporal e tentando lembrar porque mesmo eu não havia corrido atrás daquela porra de mulher e arrastado sua cara por todo o caminho para fora de meu território. "Mas você foi, lembra? Você foi até onde ela estava. Se lembra do que viu? Do que aconteceu?" Aperto a garrafa da cerveja e ela se estilhaça em minha mão, derramando o líquido espumante que rapidamente foi levado pela chuva. Sim, eu me lembrava. Dou uma longa tragada no cigarro enquanto pegava outra cerveja da grade e abria-a, dando um longo gole.
Elas estavam acorrentadas e amordaçadas naquela casa. Feridas, inconscientes. Lorena as pegara de reféns. Bufo de raiva e jogo o toco do cigarro na chuva.

"Seu estúpido. Não faz nada certo." Resmungo para mim mesmo. Eu poderia muito bem ter voltado, sem atacar. As coisas continuariam da mesma forma, mas elas estariam comigo. Estaríamos nós três nessa casa. Estaríamos fazendo algo insano, mas ao menos estaríamos juntos.
Sinto um nó na garganta. Caía uma chuva parecida com essa naquela noite. Minha filha, Ellaria, estava tão linda. O cabelo longo negro, os olhos verdes com manchinhas de cobre, assim como os meus e o sorriso e expressão travessa da mãe, Helen. Tão linda... Ela havia acordado quando avancei contra a bruxa. Lembro de ela tentar se libertar das correntes, mas estavam encantadas e ela não podia se transformar. A mãe continuava desacordada. Sinto as lágrimas rolarem por meu rosto, levadas pelos respingos da chuva que acariciavam meu rosto como os dedos de uma criança.

"Eu não ia machuca-las, lobo estúpido. Mas você não me deu escolha." Lorena dissera. Ela havia me prendido na parede com uma espécie de feitiço e caminhava triunfante até Helen, que permanecia desacordada. Lorena a pegou pelo pescoço e sem dó, cravou uma adaga em seu coração. Helen acordou e começou a se debater, tentando escapar das suas mãos, mas Lorena apertou seu pescoço, sufocando-a. Ela olhou para mim e chorou, lutando por sua vida, tentando se libertar, mas a bruxa fora mais forte. Ellaria assistia aquela cena horrorizada, em choque, sem saber reagir ao ver a morte da mãe. Seu sangue manchava o chão daquela casa, até que ela simplesmente parou, sua alma se esvaíra. Lorena a solta e seu corpo cai com um baque surdo. Ela se vira pra Ellaria, as mãos e a roupa suja de sangue. Retira o punhal do abdome de Helen e avança lentamente.

Ellaria se desesperara. Tentou se levantar e correr, mas a bruxa a alcançou e agarrou seu cabelo, puxando-a mais pra perto e encostando o punhal em sua garganta, a fez caminhar até estar em minha frente.

"Está vendo, criança? Se seu pai não tivesse me atacado, talvez você vivesse um pouco mais." Eu me debatia tentando sair de seu feitiço. Ela estava tão perto.

"SOLTE-A! DEIXE ELA EM PAZ! " gritava, as lágrimas cortando meu rosto como um rio. Ellaria soluçava, os olhos vermelhos pelas lágrimas. Lorena apertou mais a faca e me olhou no fundo de meus olhos.

"Ela vai ficar em paz sim. Agora você, não posso dizer nada sobre isso." e com um sorriso malicioso, desliza a lâmina sobre seu pescoço, abrindo um corte profundo.

"NÃO! NÃÃÃO!" Ellaria arregala os olhos e começa a se debater, tentando levar as mãos ao corte, mas estavam presas às suas costas. Ela agonizava enquanto o sangue jorrava e eu só podia assistir. Minha roupa já estava encharcada pelas lágrimas e Lorena...assistia tudo sorrindo.

"Agora…" diz, vindo em minha direção e ficando de frente para mim. Eu tentava a alcançar parra arrancar aquele sorriso do rosto dela, e ela se divertia com meu esforço. "A menos que queira que isso aconteça com o resto de sua alcateia, é melhor fazer o que eu mando." e desaparece com um estalo, me libertando e fazendo as correntes de Ellaria e Helen sumirem.
Ellaria ainda estava viva. Corro para ela e a tomo em meu colo. Ela estava fraca, os olhos verdes se tornando opacos. Leva a mão até meu rosto e ela esboça um sorriso manchado de sangue, chorando.

"Amo...você...papai." Balbucia, tossindo sangue e engasgando. Eu chorava tanto. Abracei seu corpo.

"Desculpe Ellaria." Murmuro entre soluços enquanto sua alma deixava seu corpo. Naquele momento, olhei para o lugar onde ela estivera e gritei a plenos pulmões:

"EU VOU TE MATAR SUA DESGRAÇADA! JURO POR TUDO QUE É MAIS SAGRADO!"
Aperto a garrafa da cerveja e ela novamente se estilhaça em minha mão.

“Porcaria.” Resmungo e chuto os cacos para longe. Agradeci por estar chovendo, pois isso disfarçaria as lágrimas que rolavam por meu rosto. O que mais doía, era o fato da garota que a bruxa tanto almejava, se parecia muito com Ellaria. Apesar de que Ellaria tinha o cabelo mais escuro, olhos verdes e não possuir cicatrizes, era impossível olha-la e não lembrar de minha filha. Bufo mais uma vez e, indo para uma área coberta no telhado, me recosto e acendo outro cigarro, sentando-me e recostando na parede com a porta que dava acesso aos andares inferiores.

Quando abro outra garrafa, alguém abre a porta e avança no telhado. Era Marcus, o irmão mais novo de Lua. Ele estava com a expressão carrancuda desde que Luana havia se juntado aos semideuses e estava praticamente me ignorando por tê-la expulsado sem dar ao menos uma chance dela se explicar. Quando vê que eu estava lá, da meia volta imediatamente pra sair, mas o impeço.

"Marcus?" Chamo. Ele para e seu corpo se retesa.

"Sim, Alfa?" Pergunta entre dentes. Suspiro.

"Sinto muito por Luana." Ele olha para mim por cima do ombro, os olhos brilhando de ódio. Estendo a garrafa intocada de cerveja para ele, como um pedido de trégua. Ele olha da bebida pra mim e seu nariz torce em desgosto.

"Você sente muito? Você sequer deu chance de ela se defender! A expulsou logo de cara!"

"Ela estava com o inimigo, Marcus. " Contrario calmamente. ele se vira pra mim.

"Porra Helkon! Ela era a pessoa mais confiável que você poderia ter no seu bando e a expulsa só porquê ela foi a única que viu o quão cego você estava e fez alguma coisa a respeito?"  Não respondi, pois só conseguia encara-lo, envergonhado porque ele tinha razão, e Luana também estava certa. "Tenho que dizer: se eu tivesse a coragem que ela teve, teria feito a mesma coisa. Está certo que todos querem voltar para casa, tendo a liberdade de nos transformar que sempre tivemos, mas o que estamos fazendo para conseguir isso de volta? Você viu o que aquela bruxa fez! Imagina o que faria com aquela criança!"

Encaro o chão.

"Está certo, é desumano, mas é tarde demais para voltar atrás." Me levanto e termino com o liquido amargo com um único gole, acendendo outro cigarro. Marcus bufa.
"Então, vai continuar com isso." Ele cospe no chão. "Você e só mais um cachorrinho assustado."
"Tem razão. Me deixar convencer por aquela bruxa foi burrice. Coloquei a todos em perigo, mas estaríamos de qualquer jeito se continuássemos lá, não é?" Ele se cala. "Um bando de lobisomens que não pode se transformar. Um alvo fácil. Qualquer um que tivesse juízo suficiente para nos atacar o teria feito se ainda estivéssemos lá. Em vez disso, cá estamos nós. Do outro lado do país, tentado capturar um semideus para que tivéssemos nossa casa de volta. Horrível, não é? Lutar pra ter nossas raízes de volta!"

"Você não lutou! Simplesmente fugiu de lá!" Não me controlo. Agarro-o pelo pescoço e o pressiono contra parede.

"Não lutei?! Você estava lá quando corri até a bruxa e tentei expulsa-la sozinho?!" Ele nega. "Você estava lá, quando ela raptou Helen e Ellaria e as usou como reféns?" Ele nega de novo, tentando respirar a todo custo. "Você estava lá quando…" um nó se faz em minha garganta, mas respiro fundo e o olho nos olhos. "Você estava lá, quando eu as vi morrendo em meus braços por lutar contra aquela desgraçada ia, e depois as enterrei horas antes de partirmos? "

Ele arregalou os olhos. Para muitos, Helen e Ellaria haviam migrado para alcateia amiga a meu comando, para que ficassem protegidas. Claro. Ninguém estava lá. Ninguém viu os corpos. Ninguém. As lágrimas rolaram descontroladas.

"Exatamente. Você não estava lá. Mas fazer o que né? Eu sou só mais um cachorro assustado." O solto. Ele ainda me encarava boquiaberto. "Talvez você queira se juntar à Luana. Quer saber? Pode ir. Não me importa mais. Só quero que esse inferno passe." Vou até a porta e a abro para sair. Antes de descer, olho para ele. "Mas se acha que Lorena pode matar minha família e sair viva disso? Está muito enganado. Eu farei justiça." e saio, deixando-o sozinho no telhado e indo até a garagem.

Pego uma das caminhonetes. O dia passara rápido, já estava quase anoitecendo. Suspiro e aperto o volante, dando a partida e dirigindo por toda Nova York, até a estrada que eu percorrera outras vezes antes, sempre com o mesmo destino. Não segui todo o caminho até lá. Em vez disso, parei em um bar de meio de estrada que havia visto nas outras vezes. Como ainda chovia, quando entrei, o bar estava relativamente vazio, exceto por dois ou três bancos no galão ocupados por bêbados e uma mesa bem lá no fundo, de onde um cheiro anormalmente forte emanava. Segui até a mesa. O dono daquele cheiro não parecia muito disposto a levantar a cabeça quando me sentei em sua frente. Estava encharcado e encarava fixamente um copo pela metade de cerveja. Deveria ter saído quando vi que o copo estava recoberto de gelo, que parecia sair de suas mãos, mas quando levantou os olhos, estes eram completamente negros. Suspirei e coloquei as mãos sobre a mesa.

"Então. Finalmente nos conhecemos."

 

Maya

 

"Então, finalmente nos conhecemos." Falou o homem à minha frente. Lentamente, levanto os olhos, um pouco tonta pelo efeito do álcool.
Fora a barba com poucos fios grisalhos, não daria mais que vinte anos para ele. Parecia cansado, como se não dormisse há dias. Mantinha seu corpo curvado, os braços fortes sobre a mesa e os olhos verdes com manchinhas de cobre fixados em mim. Eu mantinha as mãos fechadas em torno do copo de vidro, tensa. Podia sentir o gelo se formando do contado com minha pele. Por que eu estava tão tensa? O homem a minha frente, era um lobisomem.
"Veio me capturar?" Pergunto de forma amarga, mal reconhecendo o sentimento em minha voz. Medo? Raiva? Ansiedade? Impossível dizer. Ele torce o nariz e se recosta no banco da mesa.

“Capturar você…” murmura para si mesmo, testando as palavras em sua boca. “Não, não vim capturar você.”

“Então o que quer comigo?” Ele dá de ombros e tira um maço de cigarros do bolso, pondo um na boca e o acendendo.

“Com você? Nada com o que tenha que se preocupar.” Dava para ver que ele queria sorrir, mas a forma como seus olhos estavam vermelhos e inchados, parecia que tinha chorado há pouco tempo. Ele pega a cerveja da mesa e dá um longo gole, acabando com todo o conteúdo de uma vez, depois pondo a garrafa vazia na mesa. “Só quero conversar.” Diz por fim. “Sem lutas. Sem ameaças. Só uma conversa.”

“Quem é você?”

“Meu nome é Helkon. Sou o alfa da alcateia que seus amigos vêm enfrentando há algumas semanas.” Diz entediado, girando a garrafa entre os dedos. Tive que me controlar muito para não avançar no pescoço dele. “Para ser sincero, não esperava encontrar você aqui.”

“Não tenho nada o que falar com você.” Digo, preparando para me levantar e ir embora, mas o que Helkon diz em seguida chama minha atenção.

“Eu queria ter feito diferente.” Diz com a voz sombria. Viro pra ele. “Poderia ter evitado tanta coisa.” Continua. Bufo.

“Devia ter pensado nisso, antes de vir para cá e atacar o acampamento.” Digo amarga, sentindo meus olhos marejarem. “Devia ter pensado nisso, antes que três inocentes morressem sem motivo!” Exclamo de raiva e batendo forte com a mão na mesa. O copo que eu segurava se estilhaça instantaneamente, o que provoca o olhar curioso dos mortais. Helkon concerta a postura.

“Vão cuidar da vida de vocês!” Grita para os homens do bar e se volta para mim. “Acha que foi a única que perdeu pessoas por conta disso?” Pergunta, quase tão amargo quanto eu, mas sua voz era quase tão carregada de dor quanto a minha. “Eu perdi minha esposa e filha no mesmo dia, porque não queria fazer o que fiz. As duas, mortas bem na minha frente enquanto eu assistia sem poder fazer nada, porque eu não queria seguir a vontade da porra da sua mãe! Tem noção de como me senti?!”

Mecho a mão machucada.

“Sinto muito por suas perdas, mas Você espera que eu te perdoe por isso? Quando meu melhor amigo, meu irmão, minha família, foi morto pela pessoa que você estava ajudando?” A raiva subia à minha cabeça e as lagrimas rolavam novamente pelo meu rosto. O semblante de Helkon se fecha.

“Não quero que me perdoe. Só queria conversar. Pensei que pelo fato de sua mãe ter nos feito passar pelas mesmas coisas…” rio de nervoso, cortando-o no meio da frase. Ele me olha sem entender. “De que está rindo?”

Respiro fundo.

“Mesmas coisas…” a frase causou um gosto metálico em minha boca. Olho em seus olhos verdes. “Acha mesmo, que a dor que sentiu nas mãos dela, foi a mesma que eu senti?”

Ele fecha a boca e me encara nos olhos. Talvez estivesse buscando evidências de uma piada. Sustento seu olhar. Me sentia um tanto mal pelo que ele passou, mas dizer que foram as mesmas? Encosto na cadeira, ele acompanhando cada movimento meu.

“Não sei.” Responde por fim. “Não faço ideia do que passou, mas ambos perdemos pessoas importantes por conta dessa briga. Não podemos entrar em um consenso?”

“Eu entendo como se sente, mas posso afirmar que você não me entende.” Fecho as mãos em punho, pois as senti esquentar e não queria que começassem a pegar fogo ali. “As pessoas só vão entender as outras quando passarem pelas mesmas coisas.”

Sua expressão se torna séria e ele fecha as mãos em punhos.

“Me deixe tentar entender. Não quero que mais ninguém morra por isso.” Encaro seus olhos verde claro, uma ideia passando pela minha cabeça.

“Escute. Podemos conversar, entrar em um acordo, mas com uma condição.” Ele se recosta na cadeira.

“Qualquer coisa. É só dizer.” Respiro fundo e coloco a mão no bolso da jaqueta, sentindo o vidro do celular.

“Há uma casa, em Manhattan. Lá mora um casal. Um homem por volta dos quarenta anos e sua noiva.” Tiro o celular do bolso e desbloqueio, acessando a galeria e selecionando a foto de Jonathan e Evelyn. Percebo que as narinas de Helkon dilatam quando uso o aparelho. Talvez seja esse o efeito que semideuses e tecnologia causam. Mostro a foto de meu pai ao lobo. “Prometa para mim, que ninguém de sua alcateia, Lorena ou Matthew, chegará perto deles.”

Helkon pega o celular e o encara por longos segundos, memorizando a foto. Depois me devolve o celular.

“Tem minha palavra. ” Diz com a voz grossa. Olho o aparelho por mais alguns segundos, depois de perceber que ao lado da foto de Evelyn e Jonathan tinha uma minha de Kye, e depois o guardo de novo.

“Jure pelo Rio Estige.” peço. Ele franze o cenho. “Apenas jure.”

“Eu juro pelo rio Estige.” Diz e um trovão ribomba no céu. Relaxo um pouco e me debruço sobre a mesa. Helkon pede outra cerveja ao garçom quando este passa e enche o meu copo, enchendo outro para si. Depois de dar um longo gole, ele me encara. “Vocês teriam se dado bem.” Murmura triste.

“Quem?” pergunto, lutando contra a vontade de beber novamente. Mas acho que meu corpo gostara da sensação que o álcool causa porque meio segundo depois, eu já engolia o liquido amargo novamente.

“Ellaria. ” Responde choroso. “Ela tinha a sua idade. Era linda, forte. Queria ser a Alfa da alcateia um dia.” fantasia Helkon, depois bufa de raiva. “Quero matar sua mãe pelo que fez a ela.”

Rio comigo mesma.

“Entre na fila.” Digo. Ele ri também.

“Pode pedir perdão à Luana por mim? Por não ter aceitado o que ela disse?” Não entendo muito bem, mas aceno. “Obrigado.”

Dou mais um gole na cerveja, já me acostumando a seu gosto.

“Sabe, no começo achei que você fosse um babaca ambicioso. Acho que eu estava errada.” Comento. Ele ri e coça a barba.

“No começo eu era um idiota ambicioso, mas cansei disso. Só continuo nessa palhaçada, porque minha alcateia depende de mim.” Comenta, enchendo novamente seu copo. “Mas eu garanto, que se estivéssemos do mesmo lado, eu faria questão de te ajudar a acabar com Lorena.”

“Então, vou fazer assim. Se em algum dia, estivermos lutando lado a lado contra Lorena, Juro pelo rio Estige que dividirei a morte dela com você.” Digo. Talvez fosse só efeito da embriaguez, mas me senti bem segura naquelas palavras. Helkon esboça um sorriso branco quando o trovão ribomba selando meu juramento.

“Esperarei por esse dia, com garras e presas preparadas.”

“Assim espero.” Encho meu copo e dou outro gole.

“Não atacaremos seu acampamento nessa semana, em respeito aos seus mortos.” O encaro, ele parecia um pouco triste.

“Obrigada, Helkon.” Agradeço.

“É, bem...minha alcateia não sabia sobre minha família. Souberam hoje, quando eu meio que joguei na cara de um beta. Nós temos essa tradição de honrar nossos mortos por sete luas.” Explica. Aceno.

“Espero que elas alcancem o Elísio.” Digo.

“Obrigado.” Diz e se levanta, pronto para sair. Quando ele passa por mim, seguro seu pulso, me lembrando de algo. Ele para e se vira. “O que foi?”

“Os semideuses que vocês sequestraram. Eles estão bem?” Pergunto sem o encarar nos olhos.

“Sim, estão todos bem. Mas não posso liberta-los.” Suspiro e solto seu pulso.

“Entendo.”

“Adeus Maya.” Ele diz.

“Adeus.” Respondo e ouço quando ele se afasta da mesa, abre a porta e liga o motor da velha caminhonete, te afastando.

Fez bem.” Alhia diz em minha mente. Bufo.

“Desde quando você está do meu lado?”

“Eu não sou sua inimiga, Maya. Sou só uma parte de você que você não consegue controlar. Uma parte muito poderosa.” Se explica. “Você não precisa me controlar, só precisa me aceitar.”

“Para você matar o resto dos meus amigos?” Pergunto amarga. Alhia ri.

Não adianta, Maya. A cada dia, eu cresço cada vez mais dentro de você. É só uma questão de tempo até você ceder de novo.”

“Não. Nunca mais.” Senti que ela ia revidar, mas através da chuva que caía lá fora, ouvi um barulho de bater de asas, seguido pelo som de cascos e passos. Olho por cima do ombro para a porta e pouco tempo depois, um Pietro encharcado entra no bar. O cabelo dele estava colado na testa devido à chuva e ele parecia sério. Percorre todo o lugar com o olhar, até que seus olhos se fixam em mim e ele parece relaxar um pouco. Fechando a porta atrás de si, ele vem até mim, se senta no banco à minha frente, cruza os braços e me fita com uma expressão séria. Meu olhar percorreu seu rosto, com vários grãos de areia grudados no cabelo preto, bochechas e camisa, até se fixar em seus penetrantes olhos azuis.

Depois de alguns segundos de puro silêncio, não consigo me conter.

“Vai ficar me olhando a noite toda?” Ele espreita os olhos, respira fundo e apoia os cotovelos na mesa.

“Você me deixou sozinho na praia.” Diz, sem alterar a expressão. Não aguento e dou uma risada.

“Sim. E…?” Pergunto. “Veio do acampamento até aqui debaixo de chuva e com risco de monstros te seguirem só para dizer que te deixei sozinho?”

Ele ergue uma sobrancelha e levanta o dedo indicador.

“Não. Eu vim do acampamento até aqui debaixo de chuva e com risco de monstros me seguirem, para dizer que por você ter me deixado sozinho na praia, tem areia grudada em lugares que eu nem lembrava que existiam.” Diz. Encaro seus olhos e, sem me , começo a rir. Ele faz um bico e volta a cruzar os braços. “Não teve graça. Vai demorar para sair, sabia?”

“Teve sim.” Digo entre um riso e outro. Ele tentou continuar sério, mas logo cedeu e me acompanhou rindo também. Depois de alguns segundos, tive que parar pois minha barriga começara a doer. Vi que Pietro olhava da garrafa de cerveja para mim. “O que foi?”

“Não acho que deveria estar bebendo. Ainda mais algo tão forte.” Diz pegando a garrafa vazia e a afastando de mim. Giro o copo entre os dedos, pensativa.

“É a primeira vez que faço isso.” Digo num tom baixo. “Meu pai fazia isso, até pouco tempo depois que fui morar com ele. Ajudava ele a aguentar quando lembrava da família.”

“O que aconteceu?” Pergunta. Aperto o copo de vidro, até que ele quase se quebrasse.

“Um acidente de carro.” Digo com a voz rouca. “E um único segundo de fraqueza.”

Faz-se silêncio na mesa, e baixei os olhos para meu colo, pois senti que marejavam. Ouço quando ele se levanta e senta ao meu lado. Pietro segura minha mão de forma suave, e, gentilmente, tira o copo das minhas mãos. Ele toca meu queixo de forma delicada e guia meu rosto para que encarasse o seu.

“Há outras maneiras de suportar a dor.” Diz com a voz doce. Sinto meu rosto esquentar por ele estar tão perto. Viro a cabeça levemente e ele recolhe a mão, mas não sai de meu lado.

“Não precisava ter vindo atrás de mim.”

“Sim, eu precisava.” Ele leva as mãos até um colar e esfrega um dos pingentes. “Foi a última coisa que eu prometi a ele.” Ele novamente me olha nos olhos. “Prometi que cuidaria de você. Mas mesmo se não tivesse prometido, eu viria.”

Sinto meu rosto esquentar mais ainda e desvio os olhos para as mãos entrelaçadas.

“Você não deveria se aproximar. Todos que se aproximam se vão de alguma forma. Meus avós, Chris, Kye...” Listo, pesarosa.

“Eu não ligo.” Responde firme. “Se for para ter um lugar no seu coração, eu aguento qualquer coisa.” Fala tão decidido, que não consigo evitar de olha-lo no rosto. Ele não parecia que se arrependeria daquelas palavras e naquele momento, senti uma sensação calorosa me envolver. Sorrio de lado para ele.

“Vai me ajudar a catar os caquinhos?” Ele sorri de volta, revelando duas covinhas e fazendo seus olhos azuis brilharem de uma forma diferente.

Pietro se aproxima mais e seus braços fortes me envolvem em um abraço apertado e quente, passando uma sensação de proteção muito reconfortante. Afundo o rosto em sua roupa molhada e inspiro fundo, sentindo seu cheiro, o que fez com que meu coração acelerasse de tal forma que parecia uma escola de samba em meu peito. Naquele momento, sabia que mesmo que eu dissesse o contrário, não poderia negar que ele já tinha um lugar em meu coração. Depois, beija minha testa de forma carinhosa e se afasta um pouco, sorrindo.

“Cada um deles.” Responde. Abro mais ainda o sorriso. Parecia que eu tinha ganhado um anjo da guarda.

Senti minha mão direita esquentar um pouco e olho para baixo. Ela ainda estava envolta na jaqueta de couro, mas com uma pontada de curiosidade, desenrolo minha tala improvisada e me surpreendo, ao perceber que os ferimentos em minha mão cicatrizavam. Sorrio. Sabia o que aquilo significava, mas por enquanto, guardo só para mim. Ele toca de leve meu ombro.

“E então, como está?” Olho em seus penetrantes olhos azuis e abro a mão, sentindo uma pequena brisa desfilar por entre meus dedos.

“Como se daqui a alguns dias, fossem lançar Avatar: A Lenda de Maya.” Rio. Ele ri também, uma risada curta, mas sincera.

“Tudo bem, foi boa.” Comenta respirando. “Mas sério morena, como você está com isso tudo?”

Abro e fecho a mão algumas vezes, buscando as palavras.

“Não sei direito, Pit.” Murmuro. “Não acho que vou lidar com isso tão bem. Eu e Kye...ele era como um irmão mais velho, sabe? Um membro de uma família que eu demorei muito para conseguir, e ele ir assim...por minha causa…” sinto um nó se formar em minha garganta, mas Pit percebe e me abraça de lado, afagando minha cabeça. Aceito seu carinho e me aconchego em seu ombro.

“Não foi sua culpa.” Diz. Sua voz me acalma e o nó se desfaz em minha garganta. Ele dá um beijo carinhoso em minha testa. “ Não se culpe, morena. É exatamente isso que eles querem. Querem te destruir por dentro, achar uma brecha e uma fraqueza, para usar isso contra você. Mas não vou deixar, está bem? Não vamos deixar eles conseguirem o que querem.”

Sorrio com suas palavras e permanecemos algum tempo em silêncio, onde a única coisa que eu ouvia, era o bater do coração dele e sua respiração leve.

Conte a ele.” Alhia falou em minha mente. Soube no mesmo instante sobre o que ela se referia, mas reluto.

Não sei se estou pronta.” Responde em pensamento. Sinto algo quente em meu ombro, como se ela o segurasse.

“Pode me odiar pelo tempo que for, mas dessa vez, me escute. Você está preparada. Eu sinto.” Diz. Não sei se já confiava em Alhia, mas naquela hora, meu lado “sombrio” pareceu certo. Fecho os olhos e inspiro fundo. Penso nela, em seu rosto. Sua imagem se forma em minha cabeça. Cada detalhe de seu rosto, aberto em um sorriso de escárnio. Sinto algo como um puxão em meu estômago, seguido de um arrepio, mas aquilo não era medo. Não...aquilo...era desejo de vingança. Um desejo que por muito tempo estivera implícito no medo, vinha à tona agora, transformado na única vontade que eu tinha de acabar om aquele inferno. Abro os olhos.

“Pit?” Chamo baixinho.

“Sim?” Responde.

“Eu…” respiro fundo mais uma vez, reunindo coragem. “Eu queria...Não. Eu creio que devo te contar uma coisa.”

Levanto, para poder contar, olhando-o nos olhos. Ele parecia sério, ao mesmo tempo que preocupado e curioso. Percebi que no fundo, ele queria saber, mas não queria invadir meu espaço pessoal. Ele põe um braço sobre a mesa.

“Não precisa, se não quiser.” Diz sincero. Balanço a cabeça negativamente.

“Não. Eu guardei isso por muito tempo, e me consumiu de uma forma que você nem tem ideia. Não posso mais guardar isso, pelo menos não de todos.” Não, não podia.

Em todo esse tempo, Kye foi o único para quem eu contei cada detalhe. Nem Jonathan sabia a história toda, só que ela me maltratava. Não sei se podia mais segurar, não depois que vi Alhia. Olho meus pulsos, reconhecendo nitidamente as marcas das cordas que me prenderam por tantos anos e por todo o antebraço, as finas marcas irregulares, praticamente desaparecendo devido ao tempo, mas visíveis para qualquer um que se esforçasse para vê-las.

Minhas mãos tremem ao lembrar daquela época. Fecho os punhos e os levanto, deixando que a fraca luz do bar os iluminasse.

“Consegue ver?” Pergunto trêmula. Ele pega meus pulsos delicadamente e olha com atenção. Quando enxerga as marcas, passa o dedo levemente por elas, traçando cada contorno, cada risco, cada mancha, que por dias me fizeram passar noites em claro. Contraio os músculos num reflexo e ele para o movimento no ato.

“Eu te machuquei?” Pergunta preocupado. Nego com a cabeça.

“Foi só um reflexo.” Ele ainda me olha preocupado. “Não machuca mais Pit, só em sonh… Quer dizer, pesadelos. Só machucam em pesadelos.”

“Pesadelos…” repete, em um estado quase hipnótico. Ele segue o olhar pelos meus braços, até os ombros, e depois para a pequena porção de pele que a gola da camisa deixava à mostra. Sim, elas estavam por toda a parte. Ele solta meus pulsos, provavelmente já imaginando. “Isso, foi sua mãe?” Aceno.

“Se é que alguém pode ser chamada de mãe depois daquilo.” Digo amarga. Esfrego o colar, pensativa e depois de reunir toda a coragem que consegui encontrar, despejo a verdade sobre ele. Tudo o que eu senti, desde que começara a me entender por gente, resumido em palavras baixas inaudíveis aos ouvidos dos mortais, mas o suficiente para fazer Pietro empalidecer. Não foi fácil, mas depois de vários minutos, consegui contar.

“Não sei como aguentei tudo aquilo.” Comento quando terminei. Esfregava o colar de Poseidon entre os dedos, para me livrar da ansiedade. “Me lembro vagamente de uma mulher que as vezes levava comida para mim, cuidava de minhas feridas. Ela dizia ser minha tia, mas Lorena não teve irmãs. Nunca descobri quem ela era.”

“Eu...não sei o que dizer.” Diz embasbacado. “O que ela fez, céus. Isso foi…”

“Desumano? Cruel? Insano?” Pergunto pensativa. “Não há limites para a ambição. Mas agora, já basta. Eu vou arrasta-la por todo o Tártaro se for preciso, mas não vou mais vacilar por conta dela. Está certo que ainda tenho medo, mas enquanto minha vontade de acabar de vez com isso for maior, não vou deixar o medo me dominar novamente.” Falo decidida. Ele sorri de lado.

“Então, acho que já posso te contar.” Ele diz sorrindo.

“Contar o quê?”

“Jonas e Luana me contaram, sobre um plano de Kye para amenizar a situação, já que segundo essa tal profecia...bem, você sabe.” Esmoreço um pouco. Essa profecia, a que dizia que eu iria me entregar.

“Sei.”

“Eu ainda não acredito muito nisso de destino e não gosto da ideia de um espirito antigo me dizendo o que vai ou não acontecer, mas isso não vem muito ao caso agora.” Fala rápido. “A questão é, Kye teve uma ideia, e pode dar certo.”

“Tenho medo dos planos de Kye, mas fala.” Pietro sorri e me conta o plano. Disse os que estavam envolvidos, o que pretendia que cada um fizesse...tudo, e o melhor, é que batia exatamente com o que já tinha em mente. “Quando vocês pretendem pôr isso em prática?”

Ele pensa um pouco.

“Ainda não discutimos isso. Mas seria bom dar um prazo, só por conta dessa profecia. Para dar uma segurança de que nada vai dar errado.” Diz. Sorrio de lado ao perceber como ele se preocupava.

“Sim, tem razão. Para falar a verdade, não gosto muito de profecias também, mas melhor não arriscar.” Ele acena. Ficamos nos encarando por alguns segundos, até que ele começou a ficar vermelho e desviou os olhos para o relógio de pulso, arregalando os olhos logo em seguida.

“O que foi?” Pergunto.

“Quíron vai me matar. Rachel vai me matar. Percy vai me matar.” Lamenta mostrando o relógio, que já marcava meia noite. “Eu vou morrer sem completar dezenove.” Rio.

“Então, acho melhor voltarmos logo, certo? Não quero que você leve uma bronca do meu meio irmão e da minha amiga.” Rio de nervoso. Ele ri.

“Certo. Vamos, Morena.” Ele se levanta, liberando a passagem para mim. Deixo alguns dólares em cima da mesa pela bebida e, ainda um pouco grogue pelo álcool, abraço Pietro de lado. Sorrio e o abraço de volta, afundando meu rosto em sua camisa.

“Não me abandone, está bem?” Ele me aperta e beija o topo de minha cabeça.

“Nunca.”

É estranho estar bêbada. Não completamente, mas e como se as coisas aumentassem e diminuíssem, e isso me deixava tonta. Consegui continuar de pé até o lado de fora do bar, mas Pietro deve ter percebido meu estado porque logo me segurou quando eu quase caí na lama que havia se formado devido a chuva.

“Ei, Morena. Quanto você bebeu?” Pergunta preocupado, enquanto eu me apoiava na parede.

“Acho que muito. Pelo menos pra quem nunca bebeu.” Balbucio me sentindo enjoada.

“Quer que eu pegue uma água ou…” antes que ele terminasse de falar, me desprendo de seu braço e viro na direção oposta, o vomito jorrando no chão lamacento. Não demorou até que todo o álcool que eu havia bebido saísse pela boca, e quando acabou, tentei não olhar para a poça amarelada que se misturava à lama.

“Eu nunca mais vou beber de novo.” Balbucio, escorando na parede e tomando fôlego. “Eu odeio, odeio, odeio vomitar. Odeio com todas as minhas forças. Se toda vez que eu beber acabar desse jeito, eu não vou beber nunca mais.” Digo, arfando para recuperar o fôlego. Pietro esboça um sorriso e se aproxima.

“Se sente melhor?” Pergunta estendendo a mão. Aceno rapidamente e aceito sua mão, deixando que ele me guiasse para a estrada.

“Sim. Como você veio até aqui, aliás?” Ele ri.

“Um amigo seu me deu carona.” Diz e mais à frente, ouço um relinchar familiar, seguido do som de um trote que se aproxima rápido. Sorrio instantaneamente quando o pégaso se aproxima.

“Gendry!” Exclamo. Ele relincha novamente e sacode a crina, abaixando a cabeça para que eu lhe fizesse carinho.

“Hey! Senti sua falta, garota.” Diz em minha mente enquanto coçava atrás de sua orelha. “Esse daí não sabe voar como a gente.”

“Não seja duro com ele, Gendry. Não está acostumado com a vida de semideus.” Respondo o cavalo. Pietro se apronta ao meu lado.

“Ele está falando mal de mim, não está?”

“Nada com o que se preocupar.” Digo.

“Tem o que se preocupar sim! Você me deixou na chuva seu projeto de filho de deusa da morte! Minha sorte é que parou de chover, mas a sua não vai ser tão grande. Se tiver coco de cavalo na sua cama, não diga que não avisei.” Relincha tão rápido que não pude evitar de rir.

“O que ele disse?” Pergunta Pit.

“Nada.” Respondo. “Então, acho melhor irmos logo, não é?”

“Sim.” Ele me ajuda a subir na sela de Gendry e sobe logo atrás. Em pouco tempo, sobrevoávamos a pequena estrada de chão que ia em direção à colina meio sangue. A sensação do voo me acalmou bastante e em um estado quase hipnótico, me aconchego no colo de Pietro e ajeito a cabeça sobre seu peito.

“O que está fazendo, morena?” Pergunta e mesmo sem o olhar nos olhos, sabia que sorria.

“Cansada.” Resmungo para ele.

“Também estou, mas um pégaso em pleno voo não é o melhor lugar para cochilar.” Rio.

“Não estou cochilando, só estou descansando. Tenho que fazer algumas coisas antes de dormir hoje.” Murmuro.

“Como o quê?”

“Uma homenagem, a Kye.” Sussurro depois de um tempo. Não sei se era o cansaço, ou o efeito do álcool não havia passado completamente, já que as palavras saíam quase sem o meu controle e eu via tudo meio desfocado. “Onde está a estatueta?”

“Eu pedi que Rachel guardasse, enquanto vinha te procurar.” Ele apoia o queixo em minha cabeça. “Eles estavam se preparando para queimar os corpos de Chris e Uriah quando saí. Luana e Jonas estavam no chalé de Ares com Peter que começava a se transformar e Gina e Yan tinham levado Alex à enfermaria.” Explica, me pondo à par da situação.

“Quando chegarmos, você vai ter que avisar à Quíron, não é?” Ele suspira.

“Creio que sim. Ele estava preocupado quando saí. Queria que eu deixasse para um campista mais experiente, mas eu não queria esperar.” Seu peito treme quando ri e sorrio.

“Obrigada.” Murmuro. Ele afaga meu cabelo.

“Estou aqui para isso.” Responde. Seguimos o resto do caminho em silêncio, apenas com o vento golpeando nossos cabelos.

Após alguns minutos, descíamos para um pouso suave em frente à casa grande. O acampamento estava quieto e escuro, exceto por uma luz acesa dentro da casa e a fogueira crepitando ao longe. Pietro desce da sela e me ajuda também.

“Quer entrar comigo?” Pergunta. Nego e aliso a crina de Gendry.

“Vou ficar aqui. Respirar um pouco.” Digo. Ele acena.

“Não vou demorar.” Ele se vira e sobe os degraus da casa grande, me deixando ali sozinha com Gendry. Suspiro e me recosto no lombo do pégaso. Não muito tempo depois, meu coração quase salta pela boca quando Gendry empina de uma vez e galopa para longe. Perco o equilíbrio e caio sentada.

“Ei! O que foi?” Grito, mas ele não me responde. Talvez porque já estivesse longe, ou talvez porque o uivo que se seguiu foi mais alto e fez todo o meu corpo se arrepiar. Me viro bem a tempo de ver um imenso lobo pardo vindo em disparada na minha direção, se aproximando mais rápido do que eu conseguia acompanhar. Num reflexo, grito e ergo as mãos na frente do corpo em forma de proteção, fechando fortemente os olhos e aguardando o impacto, mas o que ouvi, foi o som de algo muito pesado sendo erguido do chão e em seguida, um puff, como se algo pesado tivesse se chocado contra, seguido de um ganido agudo. Espero. Um segundo, dois, três, sentindo o coração bater forte contra o peito. Depois que deduzi já estar segura, abri lentamente os olhos, tentando controlar a respiração e me deparo com um paredão de terra de quase cinco metros de altura por um de grossura, bloqueando o lobo que estava se aproximando e impedindo que me acertasse. Uma gota de suor escorre pela minha testa enquanto a barreira desmoronava à minha frente, revelando o gigante lobo castanho desacordado, separado de mim apenas pela faixa de terra que eu acidentalmente causara.

Ouço um bater de asas e sinto Gendry pousar atrás de mim.

Caramba, chefa! Desculpe. Você está bem? Não consegui te avisar. Quando percebi ele já estava muito perto!” Relincha o mustang em minha mente, focinhando de leve minhas costas. Eu ainda estava um pouco em choque, então não respondi até que a tremedeira que a explosão de adrenalina causara em mim passasse.

“Eu estou bem, eu acho.” Respondo num fiapo de voz. Me levanto e limpo a poeira da calça, dando alguns passos vacilantes circulando o lobo. Ele parecia desacordado, com a respiração pesada e a cara toda suja de terra. No mais, parecia bem.

Alguns segundos depois, um lobo negro e um branco se aproximam correndo. Quando chegam, Luana e Jonas adquirem sua forma Humana. Jonas se apoia nos joelhos para recuperar o fôlego.

“Esse cara...vai ser um problema em uma corrida.” Diz arfando. Luana também mantinha a respiração acelerada e suava bastante, mas parecia mais surpresa comigo que preocupada com o lobo desmaiado.

“Como fez aquilo?” Pergunta enxugando a testa. “A parede de terra. Foi legal. Como fez?”

“Não sei, foi só um reflexo.” Respondo. Ela acena.

“Obrigada por parar Peter. Eu e Jonas o perseguiríamos até Nova Jersey se ele continuasse nesse ritmo.” Ela cai sentada, descansando. O lobo começou a diminuir de tamanho, até que desse lugar a um jovem branco com as roupas esfarrapadas e um galo grande na cabeça.

“Como ele está?” Lua dá de ombros.

“O Pior já passou. A primeira transformação é a mais dolorosa, mas ele vai se acostumar rápido.” Explica.

“Tomara.” Enfatiza Jonas, se arrastando para ficar ao lado de Luana. “Não tô muito afim de ser babá de um lobisomem meio-sangue.”

“Ora Jonas, você não vai deixar ele aqui.” Luana brinca. “Se fizer, capaz de ele te atacar da próxima vez que se transformar.” Jonas dispensa o comentário de Luana com um aceno.

“Eu aguento contra seu Alfa, Lua. Um meio sangue não é nada.” Ela ergue uma sobrancelha.

“Ele é um filho de Ares.” O brasileiro da de ombros.

“Mais divertido para mim.” A conversa continua, até que Pietro sai pela porta da casa grande. Primeiro se espanta com o cenário, depois desce as escadas preocupado.

“O que aconteceu?” Pergunta.

“Só um recém lobisomem descontrolado. Nada de mais.” Brinca Luana. Ela olha de Pit para mim algumas vezes. “Então...como estão as coisas, Maya?”

“Estão indo.” Respondo vagamente, distraída. Ao longe, consegui identificar a silhueta e a cabeleira de Rachel, entrando no que parecia ser uma gruta entalhada em pedra. A ansiedade para ir falar com ela estava me matando.

“Falei com Maya, Lua.” Exclama. O rosto de Luana se ilumina quando sorri.

“E então?” Pergunta.

“Tudo o que eu quero agora, é arrastar a cara de Lorena por todo o mundo inferior e manda-la para o Tártaro de onde nunca deveria ter saído.” Falo com convicção. Pit sorri.

“O ódio leva a raiva, a raiva leva a dor e a dor ao sofrimento, pequena Padawan.” Recita a frase. Dou um soquinho de leve em seu braço.

“Não pode citar Star Wars para mim, Pit.” Ele ri e dá de ombros.

“Acabei de fazê-lo e ainda estou bem.” Ri. Rimos junto com ele. Depois de alguns segundos, não consigo segurar a ansiedade.

“Olha, eu vou conversar com Rachel...e vou tentar dormir um pouco. Se precisar falar comigo, sabe onde me encontrar.” Ele concorda com a cabeça.

“Vejo você amanhã.” Diz com um sorriso aconchegante. Me despeço de Luana e Jonas e, subindo na sela de Gendry, levanto voo, indo ao encontro de Rachel.

 

Rachel

 

Foi só o tempo de eu colocar os pés na gruta que as coisas começaram a dar errado. Primeiro, senti a tonteira comum de quando o oráculo de Delfos se manifestava, mas dessa vez, era diferente. Ele não chegou a falar, simplesmente começaram a passar imagens aleatórias em minha cabeça e meu corpo passou a agir sozinho, dando-me a consciência suficiente apenas para lembrar do que via.

Vi um bebê, que parecia estar se afogando. Uma silhueta de lado, com um pôr do sol ao fundo. Uma mulher sentada, escondendo o rosto entre as pernas. Uma casa em chamas. Uma espada perfurando o corpo de alguém que não conseguir identificar e por último, um brilho cegante. Cada uma dessas imagens, rabisquei no primeiro pedaço de papel que encontrei na caverna. Minhas mãos moviam o lápis com precisão sobre a folha branca, riscando cada detalhe para que as imagens estivessem perfeitas e quando terminou, eu suava bastante, minhas mãos tremiam e tinha em mãos, uma folha de papel com desenhos que pareciam sem sentido nenhum para mim, mas que pareciam ser importantes.

Permaneci vários minutos encarando os desenhos, até que o som do bater de pesadas asas me desperta. Dobro o papel de um jeito apressado e o enfio no bolso da calça rapidamente.

“Rachel?” Alguém chama da porta. Era Maya. Ela parecia cansada, como se pudesse cair dormindo a qualquer momento. Estava molhada devido à chuva, o cabelo curto extremamente bagunçado e os olhos verde-mar um pouco opacos. Me sento na cama, fechando os punhos tentando conter a tremedeira.

“Oi Maya. Está melhor?” Ela acena, mas parecia um pouco...deprimida. Suspiro. Depois de anos convivendo com ela, ela ainda tentava esconder alguma coisa.

Dou alguns tapinhas na cama, convidando-a a se sentar. Ela fala alguma coisa com o pégaso e vem até mim, desabando na cama e cruzando as pernas, depois de tirar os coturnos. Seus olhos estavam um pouco vermelhos e inchados e de perto, pude perceber que havia mais fios brancos em seu cabelo que o normal. Ela fica alguns segundos em silêncio, rodando um anel no dedo, como se não soubesse como contar alguma coisa. Cruzo os braços.

“Maya?” Chamo. Ela levanta os olhos. “Tem certeza que está bem?” Ela acena sem responder e espreito os olhos, o a faz rir. “Você está tentando esconder alguma coisa da pessoa que consegue prever o futuro?”

“Não é você quem prevê, ruiva. É o espírito de Delfos.” Diz com um leve sorriso. “Mas, eu queria mesmo contar uma coisa. Só não sei direito como começar.”

A esse ponto eu estava muito curiosa, mas pela forma como Maya estava agindo, parecia uma coisa realmente séria e difícil para ela de dizer.

“Lembra quando te contei sobre quando fui morar com meus avós?” Pergunta. Aceno. Lembrava daquela noite como se tivesse sido ontem. Foi logo depois de ela ter sido atacada por uma Empousa.

“Como poderia esquecer?” Ela acena e passa a mão no cabelo, ansiosa.

“Lembra que eu disse...que minha mãe fazia coisas comigo, para deixar claro que me odiava?” Aceno. Ela fecha os olhos por um segundo e suspira. “Então...com isso tudo acontecendo...e depois de pensar bastante, acho que deveria saber.”

E então, ela me conta a história. Dessa vez, toda a história. À cada palavra, eu me perguntava se ela estava realmente contando o que aconteceu com ela, e não o roteiro um filme de terror macabro, mas não. Ela me mostrou as marcas. As cicatrizes. Uma por uma, e se lembrava do momento que ganhara cada uma. Por vezes ela teve que parar para respirar um pouco, porque suas mãos tremiam e sua voz se alterara, mas não parou até que tudo estivesse lá.

Quando acabou, eu finalmente compreendi as coisas que aconteciam com Maya desde que nos conhecemos. A ansiedade, as súbitas paradas respiratórias, os pesadelos...tudo claro como água.

“Não posso dizer que depois de Kye, perdi o medo. Nunca dormirei direito por conta disso, mas no momento, o ódio que sinto dela supera esse medo.” Diz por fim.

“Eu...”

“Não sabe o que dizer?” Ela sorri de lado e baixa os olhos. Aceno. “Pit disse a mesma coisa.”

“Pit? Pietro?” Pergunto. Ela acena e percebo o rubor que alcança levemente suas bochechas. “Quando contou a ele?”

“Quando ele foi atrás de mim. Conversamos, ele me acalmou e eu meio que senti que podia contar para ele. E agora, estou contando para você.” Diz.

“Quem mais sabe?”

“Só vocês dois.” Responde se recostando na parede da gruta. “Rachel?” Chama depois de um tempo.

“Sim?” Ela enfia as mãos nos bolsos da jaqueta.

“Promete para mim, que não vai contar isso a ninguém? É uma coisa pessoal demais e...outras pessoas ficariam perguntando, sabe?” Pede sem me olhar nos olhos.

“Certo, eu prometo.” Ela fecha os olhos.

“Obrigada, ruivinha.” Agradece. Sorrio e a abraço de lado. Ela sorri para mim. “Você está com a estatueta?”

“Sim. Por que?”

“Quero fazer uma homenagem a Kye, e preciso dela.”

“Está bem, espere aqui.” Digo e me levanto, indo até a estante onde colocara a estatueta. Pego-a e vou até Maya. “Aqui.”

Ela pega a estatueta e a encara por alguns segundos, pensativa. Depois sorri e se levanta, indo até a porta da gruta. Quando vê que eu permanecia parada, para na porta e se vira para mim.

“Você vem?” Me sento na cama.

“Desculpa, mas vou ficar aqui dessa vez. Além do mais, acho que você precisa desse tempo sozinha.” Ela sorri e baixa os olhos, esfregando o polegar em alguns detalhes da estatueta.

“Tudo bem. Tem razão. Obrigada de novo, Rachel.”

“Por nada. A gente se vê de manhã. Até.” Me despeço.

“Até.” Ela acena e sai da gruta. Ouço ainda quando o pégaso levanta voo e se afasta, mas esperei ainda algum tempo antes de pegar o papel com os desenhos no bolso. Nenhuma delas se parecia com ninguém que eu conhecia. A casa em chamas, me lembrou dos avós de Maya, mas essa não se parecia com a que ela descreveu. Não, essa tinha três andares e parecia grande, como uma mansão ou um internato. Decidi que levaria aquilo até Quíron, ele saberia o que fazer. Mesmo assim, aqueles desenhos me intrigavam, principalmente o da espada, porque tinha certeza de que já a havia visto em algum lugar. Era preta, com o desenho de uma caveira com uma rosa na boca, mas o corpo que ela atravessava, esse ainda seria um mistério.

 

Maya

 

“Você não superou seu medo completamente.” Alhia sussurrou enquanto eu montava em Gendry para ir de volta ao acampamento. Reparei que era uma afirmação, não uma pergunta.

“Ninguém supera uma coisa assim. Não completamente.” Respondo. “Mas se eu continuar tento pesadelos, eu prometo que eles acabarão todos do mesmo jeito: com Lorena morta.” Ela se cala depois disso. Agradeço por isso, pois não sei se teria cabeça para discutir com minha personalidade malvada naquele momento. A estatueta estava fria sob meus dedos e eu a segurava forte, temendo que caísse.

Gendry pousou nos estábulos. Arfava bastante, parecia cansado.

“Desculpe, chefa. Eu voei o dia todo. Até eu preciso descansar.” Sorrio e desço do mustang.

“Obrigada, Gendry. Você é um ótimo pégaso.” Agradeço enquanto retirava sua sela e a guardava. Gendry caminhou direto para sua baia e se deitou, dormindo quase imediatamente. Rio da cena e me dirijo até a área da fogueira, as harpias da limpeza que vez ou outra apareciam. Havia esquecido que o acampamento tinha esse toque de recolher.

O lugar estava vazio quando cheguei. Havia apenas uma pequena chama azulada dançando na madeira queimada, e uma figura conhecida ao lado delas, mexendo na lenha para que o fogo não se extinguisse.

“Milady.” Cumprimento Hestia com uma mesura. Ela sorri quando me vê.

“Olá, criança. O que faz aqui a essa hora? Deveria estar dormindo. Você tem uma semana longa pela frente.” Tiro a estatueta do bolso.

“O Acampamento homenageou seus mortos, acho que eu tenho o direito de homenagear o meu.” Respondo me sentando de pernas cruzadas ao lado da deusa, admirando ainda a estatua antes de lança-la ao fogo. “Naquela noite, quando você me chamou em sonho e pediu que eu viesse investigar os lobos, você sabia sobre Lorena?”

A deus esboça um sorriso culpado.

“Sim.” Confessa. “Mas quando pedi que viesse, não existia aquela profecia.” Ficamos algum tempo em silencio, onde o único som a ser ouvido era o crepitar do fogo.

“Sinto muito pelo seu amigo, criança. Não queria que aquilo tivesse acontecido.” Aceno em agradecimento.

“Milady, essa memória que a senhora havia citado. Sobre o que exatamente ela é?” Ela me olha nos olhos, sua íris castanha ressaltada pela chama da lareira.

“Quando beber da fonte, saberá.” Diz. Bufo.

“Odeio quando falam assim, por enigmas.” A deusa ri.

“Eu sei. Você não mudou isso desde que era criança.” Diz fitando a fogueira, como se recordasse uma época não tão distante. Franzo o cenho.

“Como assim?” Pergunto. Ela sorri.

“Eu estive com você sua vida toda, Maya. Sempre que estava em momentos de maior necessidade, eu aparecia para você. Seu pai me pediu isso, depois de sua nomeação.” Ela me olha nos olhos. “Ou você ainda acha que era sua tia? Pensei que Lorena fosse filha única.”

Arregalo os olhos, ao mesmo tempo que ria de nervoso.

“Era você?” Ela acena. Sorrio, mas ao me lembrar da época, uma tristeza toma conta de mim. “Porque não me tirou de lá? Afinal, você é uma deusa!”

Ela encara o horizonte, pesarosa.

“Eu gostaria de ter ajudado, mas não cabia a mim. Nós não somos permitidos de interferir na vida humana, Maya. O máximo que eu podia fazer, foi cuidar para que aquele demônio não a matasse.” Ela passa a mão de forma carinhosa em meu cabelo. “Mas cá entre nós, se fosse em outros tempos, eu teria te tirado de lá na primeira noite e queimado aquela bruxa viva.” Rio. Mesmo com uma pitada de ressentimento, Hestia havia feito mais por mim que Poseidon e sinceramente, gostaria de ter alguém como ela como minha mãe. Ela se aproxima como s e quisesse me contar um segredo e sussurra em meu ouvido. “Não conte a ninguém que eu disse isso. Zeus não lida muito bem com quem o ofende pelas costas.”

Rio mais e ela me acompanha. Depois de alguns segundos ela se levanta.

“Tenho que ir, criança. E descanse. Você tem uma longa semana pela frente.” E desaparece em um estalo, me deixando sozinha com a fogueira. Sorrio comigo mesma e encaro a estatueta uma última vez, memorizando cada detalhe.

“Já sinto sua falta, cérebro de passarinho.”  Pressiono a estatua contra meu peito e uma lágrima rola por meu rosto. “Não se preocupe, sempre estará comigo.” E jogo a estatueta no fogo, observando-a queimar lentamente.

“Você já desistiu daquele plano idiota?” Pergunta Alhia. Me levanto e inicio meu caminho em direção ao chalé.

Não vale mais à pena.”

“Ótimo. Eu não ia permitir mesmo.” Sorrio enquanto entrava no chalé. Percy babava jogado em um beliche. Passo direto e vou até a minha cama. Me deito e sorrio.

“Não se preocupe, Alhia. Tenho. Coisas por que lutar agora.” E durante aquela noite, pude sentir que um sentimento de paz se tornara maior dentro de mim. Óbvio que os problemas ainda estavam lá, martelando, mas a paz, me permitiu ter uma boa noite de sono. E isso era tudo o que eu precisava. Uma noite calma, bem dormida, e sem sonhos. A noite perfeita pra mim.


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Notas finais do capítulo

Acabei de lembrar kkkk, estarei reescrevendo a fic como uma original galera, que tambem será postada no site. Vai demorar um pouco, mas a ideia é fazer a trama com, alem de deuses e semideuses, com anjos, demonios, semi anjos e semi demonios, monstros e otras cositas mas. See ya honey



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