A Herdeira do Olimpo escrita por Nogitsune Walker


Capítulo 2
Um dia...Normal?




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Maya

 

Ficamos no shopping até amanhecer, devia ser umas 7 da manhã quando saímos e acabamos comendo por lá mesmo. Comprei algumas calças jeans, camisetas, blusas, dois pares de botas e dois de tênis, uma touca já que a minha estava rasgando pelo uso e uma jaqueta de couro linda além de renovar meu material de arte. Quando já estávamos entrando no carro de Rachel para voltar para o AP ela recebeu uma ligação. A princípio parecia tudo bem, mas alguma cousa que disseram a fez ficar preocupada.

"Certo, estou indo." Ela disse e desligou o celular.

"Algum problema?" Pergunto.

"Não muito grave" ela responde sentando no banco do motorista e ligando o carro "mas vou ter que sair e devo voltar tarde...ou amanhã"

Me sento no banco do carona, encaro o estacionamento por alguns segundos.

"Tudo bem, eu cuido das coisas lá no AP"

"Sério?!"

"Aham"

"Cara, você é demais!" Rachel diz e me dá um abraço de urso no pescoço.

"Ei, Rachel, você está me sufocando" digo sufocada. Ela me solta de uma vez e inspiro profundamente recuperando o fôlego.

"He-he, desculpe." Ela disse e voltamos para o AP.

Quando chegamos, Rachel só guardou as coisas que tinha comprado e foi ao aeroporto pegar um Helicóptero, me deixando sozinha. Como não tinha muita coisa para fazer, tomei um banho quente e aproveitei para lavar o cabelo.

Enquanto o vapor se dissipava, eu penteava meus longos cabelos escuros e pensava sobre o sonho da noite anterior. Tentava ao máximo esquecer meu passado, esquecer toda essa loucura de deuses, monstros, profecias e tal, mas o fato de poder enxergar através da Névoa não ajudava. Sempre que via os monstros na rua, tentava evitá-los, mas na maioria das vezes eles sentiam meu cheiro (valeu mesmo sangue olimpiano) e me atacavam. Olhando pelo lado positivo, esses ataques me ajudavam a manter a prática com as armas já que havia fugido do acampamento.

Enquanto me encarava no espelho do banheiro, analisava alguns detalhes do meu rosto. Meus lábios relativamente grossos, o nariz fino e as pálpebras do olho direito eram cortados por finas cicatrizes de batalha. A íris dos olhos que às vezes pareciam mudar de cor quando eu era criança, (descobri que realmente mudavam quando fui ao acampamento, foi uma surpresa para mim, mas eu aprendi a controlar com o tempo) agora estava num verde-mar que era a cor original e meus cabelos ondulados estavam grandes o suficiente para que conseguisse senti-los encostando na base da coluna e claramente era possível ver que algumas mechas estavam mais claras, um cinza quase branco. Uma ideia passou pela minha cabeça.

"O que acha de começar o ano letivo com um visual novo?" - Sub (subconsciente)

"Ótima ideia" dou um meio sorriso e vou me vestir. Visto uma calça jeans azul claro rasgada na coxa, botas pretas, uma blusa regata preta com uma caveira cinza estampada e a jaqueta de couro já que o tempo estava frio. Deixei o cabelo secar naturalmente, peguei meu celular e fones de ouvido e os coloquei no bolso da frente da calça, a chave da moto e o capacete e quando já ia abrir a porta, parei bruscamente e levei a mão direita ao pescoço procurando meu colar de prata, nada. Dei uma olhada rápida por cima da sala e da cozinha do AP, nem sinal dele. Como estava com um pouco de pressa, ergui a mão e disse:

"Venit" (ou VENHA em latim). Quase instantaneamente, um objeto de prata veio voando saindo do quarto atravessando toda a extensão do apartamento vindo parar na minha mão. Era uma correntinha de prata bem simples, não parecia ser muita coisa, mas o colar era encantado, virava qualquer arma que eu quisesse e voltava ao meu pescoço magicamente caso eu o perdesse, consegui ele em uma missão suicida que fiz quando tinha doze anos. Que missão?...bem, não importa, a questão é que ele apareceria no meu pescoço de um jeito ou de outro, mas eu me sentia mais confortável quando eu mesmo o colocava.

Aprendi esse truque de "chamá-lo" alguns dias depois de consegui-lo. Servia quando o perdia e quando queria o transformar em alguma arma. Para fazê-lo voltar a forma de colar, era só dizer "reditum" (VOLTE em latim).

Pus o colar, tranquei o apartamento e desci para a garagem do prédio. Mesmo faltando alguns meses para completar dezesseis, nunca tive problemas ao andar de moto em Nova York. Quando se é uma semideusa, vive no mundo mortal e consegue enxergar através da Névoa (o que é um caso muito raro segundo Quíron), você acaba aprendendo a manipulá-la a seu favor. Minha Ducati estava perto da rampa que dava acesso à rua. Coloquei o capacete e liguei a moto. O ronco familiar do motor me acalmou um pouco. Andar de moto sempre me acalmou. Depois de alguns segundos, arranquei e fui em direção às ruas movimentadas da Nova York matinal.

(...)

Chegando em Manhattan, estacionei a moto perto de uma doceria que eu ia muito quando era mais nova e adorava, o nome era Doce América. O salão que eu ia era bem próximo ao Uper East Side, então fui andando aquele pedaço do caminho. Chegando na fachada, olhei através do vidro para o lugar. Era pequeno com relação aos gigantescos prédios do bairro, tendo só um andar, mas ainda assim era bem amplo. 

A decoração moderna com o piso branco e as paredes pintadas em cinza escuro com faixas vermelho-vivo não tinha mudado muito com o tempo, agora exibia alguns quadros com moldura em madeira desgastada. Algumas pessoas ocupavam as cadeiras da fila de espera, algumas lendo revistas e outras mexendo no celular. Entrei e um pequeno sino na porta anunciou minha presença.

"Olá, bem-vinda ao EUA's Hair." Disse uma menina na recepção. Usava um terninho azul escuro, um lenço vermelho e branco no pescoço e o cabelo liso castanho estava preso em um coque, suas feições eram semelhantes à de uma asiática e tinha os olhos escuros. Em um crachá preso do lado esquerdo com o desenho da bandeira, lia-se o nome Julia em preto.

"Obrigada." Respondo com um sorriso.

"Tem hora marcada?"

"Ah...bem...não." "droga" penso. Saí com tanta coisa na cabeça que esqueci de ligar.

"Bom, vejamos, são quase oito horas então..." Julia falou para si enquanto mexia no computador. "Tem um horário livre às nove e meia"

"Pode ser mesmo." Respondo. Uma hora e meia de espera era pouca coisa, poderia sair para dar uma volta até dar o horário.

"No nome de quem?" Pergunta Julia.

"Maya Walker"

"Certo Mrs. Walker, o que pretende fazer?"

"Quero cortar o cabelo, bem curto, e dar uma hidratada."

"São U$25,00 no total."

"Certo. Vou dar uma volta e quando estiver no horário eu volto" digo. Pago o salão e saio. Volto para onde minha moto estava. No caminho, alguém esbarra em mim tentando chegar mais à frente.

"Ei, olha por onde anda." Exclamo.

"Desculpe." Um garoto se vira. Ele tinha os olhos verde-mar como os meus e o cabelo escuro como meu. Tinha um pequeno colar de couro com algumas contas pintadas e usava uma camiseta laranja escrito Acampamento Meio-Sangue. A princípio, tomei um susto mas tentei não demonstrar. Ele continuou andando apressados como se estivesse fugindo de alguma coisa. Olhei para trás e vi um bocado de harpias correndo na direção dele. Para quem não sabe, harpias são monstros semelhantes a galinhas, mas com algumas partes humanas como o rosto. Controlei a névoa fazendo que elas me ignorassem, mas elas continuaram perseguindo o garoto. Não queria me envolver, mas as harpias estavam em um número muito maior que ele. 

Corri até minha moto, dei a partida, coloquei o capacete e segui as harpias. Mais à frente, vi ele entrando em um Palio azul e pisando fundo no acelerador. Acelerei de modo que não perdesse o carro de vista. Após dois quarteirões, ao menos seis cães infernais de quase três metros de altura saltaram de um beco e bloquearam o caminho e o garoto foi forçado a virar indo em direção à uma rua menos movimentada. Os monstros continuaram correndo atrás deles e, um pouco mais à frente, ele virou à esquerda e acabou num beco sem saída. Parei a moto na esquina do beco e desci sem tirar o capacete. O beco era amplo o suficiente para que os cães infernais formassem um arco e o encurralassem. Ele tirou um pequeno objeto do bolso da calça, parecia uma caneta esferográfica comum. "O que ele vai fazer com isso? Escrever "me chute" no traseiro dos cães infernais?" —Pensei. Então ele destampou a caneta e ela se transformou numa espada de bronze celestial de fio duplo, aproximadamente 90 centímetros.

 As harpias atacaram primeiro. Ele desviou da primeira e a golpeou na asa. O monstro instantaneamente de dissolveu em pó. Pelo menos cinco foram para cima dele ao mesmo tempo, ele descreveu um arco com a espada e as matou no ar. "Ele é bom" pensei. E então os cães atacaram. Um deles avançou contra o braço que ele segurava a espada o mordendo. Ele fez uma careta de dor, mas não largou a espada. Outro avançou em direção ao outro braço. O garoto levou o relógio que trazia no pulso à boca e usou os dentes para apertar um botão. Imediatamente, o relógio se expandiu transformando-se num escudo que usou para bater no focinho do cão infernal que avançava o jogando para o lado. Depois bateu com o escudo na cabeça do que segurava seu braço, que o soltou atordoado. O garoto o golpeou imediatamente e se virou golpeando o outro que estava caído. Ambos se dissolveram em sombras. Quando se virou, os outros três o atacaram, um pulou sobre ele o jogando contra a traseira do palio, amassando o carro e o deixando atordoado e os outros monstros avançaram juntos. Não aguentei ficar só assistindo. Antes que os monstros o atacassem, entrei no beco e gritei:

"EI! POR QUE NÃO PEGAM ALGUÉM DO TAMANHO DE VOCÊS?!"

Todos se viram em minha direção. Estendo as mãos a minha frente com os dedos polegar e indicador estendidos em formato de arma.

"Venit!"- exclamo. Sinto meu colar se dissolver em um vapor e um par de Berettas carregadas com bronze celestial aparece em minhas mãos. Atiro primeiro nas Harpias que já voavam em minha direção, contei quinze. Miro na cabeça delas e atiro. Graças aos deuses sempre tive uma boa mira. Quinze harpias, quinze tiros e todas viraram uma nuvem de poeira de monstro. Como as armas eram encantadas, as balas não acabavam então não precisei recarregar. Ao fundo, vi outras duas descendo como mísseis em direção ao garoto que tentava se levantar. Atirei quando elas estavam bem próximas dele e acabei o sujando um pouco. Dois dos cães infernais começaram a correr em minha direção. Como eles eram maiores, as pistolas não seriam tão efetivas. Mudei a posição, agora como se estivesse segurando duas espadas e pensei "Recensere" (MUDE em latim). As pistolas brilharam em dourado e se esticaram até eu estar segurando duas espadas de bronze celestial com fio duplo, aproximadamente um metro de comprimento. Avancei contra os cães. 

Um deles saltou para tentar me pegar por cima. Saltei também um pouco para o lado e quando passei por ele, ergui as espadas paralelamente e as passei em seu flanco. O monstro se dissolveu em sombras e eu aterrissei a poucos metros de distância, com um cão de cada lado. Eles avançaram contra mim vindo da esquerda e da direita. Esperei eles chegarem perto o suficiente e quando chegaram, tomei um impulso e saltei o mais alto que pude. Eles não conseguiram frear a tempo então bateram com as cabeças "esses monstros são muito burros" penso e aterrisso com um pé em cada cabeça dos cães. Eles se recompõem rápido, mas antes de atacarem, desfiro um golpe contra cada um com as espadas e eles se dissolvem em sombras. Olho para o garoto, ele estava com uma mão um pouco acima da nuca aparentemente suja de sangue e com a outra se apoiava no carro. A espada e o escudo tinham sumido. Ele estava boquiaberto revezando o olhar entre o lugar onde os cães estavam antes e mim e depois de um tempo, a única coisa que conseguiu dizer foi:

"Pelos deuses! Como você conseguiu fazer isso tudo com um capacete na cabeça?!"

Dou uma risada para mim mesma. "Reditum" digo baixinho, e as espadas se dissolvem em luz dourada na minha mão e se materializam em forma de colar no meu pescoço.

"Não percebi que não tinha tirado o capacete." Respondo. Ando até ele e ofereço a mão direita para ajudá-lo a se levantar. Ele a pega e sinto seu braço fraquejar quando ele se levantava. Olho para lá e vejo as marcas da mordida do cão ocupando todo o seu antebraço. Ele percebe e diz:

"Eu sei, está horrível, mas vai cicatrizar rápido. Já passei por sufocos maiores."

Dou de ombros e pego um saquinho ziploc no bolso de trás da calça com uma massinha branca dentro. Entrego a ele.

"Não preciso dizer para você não exagerar certo? Creio que você já sabe o que Ambrosia em excesso pode fazer."

"Sei sim, obrigado." Ele responde e come um pedaço da massinha. Não demora muito e a ferida no braço dele começa a cicatrizar. Ele olha para o Palio amassado e suspira.

"Paul vai me matar." Ele diz e vai em direção ao carro. Saio da frente e vou até minha moto. Ele tira o carro do beco e o coloca na rua e antes, de ir em bora, vem até mim.

"Ah cara, sinto muito, quase que saio sem agradecer." Ele começa meio sem graça. Estende a mão direita e termina. "Muito obrigado por ter me ajudado. Se você não tivesse chegado eu seria só um monte de carne mastigada e babada essa hora."

Aperto a mão dele e respondo:

"Disponha." Tentando inutilmente segurar uma risada do comentário dele.

"Sou Perseu Jackson, mas todos me chamam de Percy."

"Er...bem...eu prefiro não me apresentar. Não sou a melhor pessoa para se começar uma amizade, mas se quiser pode me chamar de Morgan" Digo um pouco sem jeito. Morgan era meu nome do meio. Eu não gostava muito de usá-lo, mas melhor que dar o nome que eu usava.

Ele me olha de lado sem entender.

"Bom se você se sente melhor assim. Mas sabe Morgan, suponho eu, depois de você ter matado aqueles monstros que é uma semideusa. E, sabe, é bem raro encontrar semideuses ... bem... vivos no mundo mortal. Você conhece o acampamento meio-sangue?" Pergunta.

Fecho a cara, mas aí lembro que estava de capacete e ele não podia me ver.

"Olha, não gosto muito do acampamento, longa história não muito agradável, e me sinto mais segura aqui no mundo mortal." Respondo.

Percy me olha ainda sem entender por alguns segundos, mas depois dá de ombros.

"Sabe, já vi muita coisa estranha nos meus 18 anos de vida, mas um semideus dizer que se sente mais seguro no mundo mortal que no acampamento, essa é nova. Mas vi do que você é capaz então acho que tudo bem. Foi um enorme prazer te conhecer Morgan." Ele diz e volta para o carro.

"Igualmente Percy Jackson" respondo.

Ouço ele dar a partida e quando já ia ligando minha moto, ouço ele praguejando do carro.

"MAS QUE MERDA!" Ele exclama. Algumas pessoas que passavam na rua olham com uma cara estranha para o carro e continuam andando. Dou uma risada, desço da moto e vou até o carro.

"Algum problema?" Pergunto.

Percy estava com a testa encostada no volante.

"Esqueci de reabastecer. Acabou a gasolina." Ele resmungou.

Olho para o relógio do celular, 8:37, "cara, não acredito que vou fazer isso, eu acabei de conhecer ele" penso. Inspiro fundo e digo:

"Se quiser posso te levar até um pedaço do estreito de Long Island, mas não muito perto, não me sinto confortável perto demais do acampamento."

Ele me olha e seus olhos travessos pareceram brilhar por um segundo.

"Pelos deuses ainda bem que te encontrei!" Ele diz descendo do carro e trancando as portas. "E entendo sua posição. Só de me oferecer uma carona já sou muito grato."

"Claro, não vai demorar muito mesmo. Mas como vai fazer com relação ao carro e esse tal...acho que você disse Paul, certo?" Começo indo em direção à minha moto e fazendo sinal para que ele me acompanhasse.

"Vou dar um jeito. ” Ele disse. Subo na moto e ele se senta atrás. Ligo a moto e antes de sairmos, ele fala: "Ahn...suponho que não tenha um capacete extra né?"

Dou um sorriso maldoso e respondo zombeteira:

"Não vai precisar dele" e arranco antes de ele poder dizer qualquer coisa.


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