A Herdeira do Olimpo escrita por Nogitsune Walker


Capítulo 19
Eu Prometo


Notas iniciais do capítulo

queria ter postado ontem mas o site nao queria carregar



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Maya

 

Lembro apenas de partes da noite anterior. Lembrava de uma sensação estranha, como se minha alma estivesse fora do meu corpo por alguns segundos, mas depois voltasse. Lembrava de conversar com Kye enquanto ele tentava me acalmar para que eu dormisse sem que Lorena me aterrorizasse e me lembro depois de uma voz calorosa e reconfortante surgir e depois, simplesmente apaguei. Sem sonhos, sem pesadelos...apenas eu e minha mente em um longo e merecido descanso.

Acordo depois do que para mim não pareceu ser uma hora de sono, mas assim que meus olhos se acostumam à luz que entrava pela janela, percebo que há muito já havia amanhecido. Ainda sonolenta, me remexo na cama tentando voltar a dormir, mas quase como se estivesse sido acionado por controle remoto, uma espécie de “filme” da batalha da noite passada passou pela minha cabeça. Lobisomens atacando semideuses com intenção de matar, sangue, ossos quebrados, o encontro com meu irmão gêmeo de quem eu nunca ouvira falar antes, uma promessa de que eu me entregaria, um tiro e.…Chris.

Foi como se eu tivesse levado um soco na cara. O sono se foi completamente e foi substituído por um aperto no coração, um sentimento de culpa avassalador. Culpa por todos os que foram feridos, os semideuses capturados pelos lobos, por todos no acampamento que agora mal sabiam se seus irmãos estavam vivos...levo a mão aos olhos quando senti que marejavam e fungo, não conseguindo impedir que uma lágrima rolasse pelo canto do olho.

“Está chorando?” Uma voz masculina pergunta, lesa pelo sono. Olho para cima e praticamente dou um pulo quando reconheço os deslumbrantes olhos azuis de Pietro me encarando de volta. Me sento apressada na cama e me arrasto para a ponta oposta do colchão, o coração disparado pelo susto. Pietro arregala os olhos e coça a cabeça, constrangido. “Me desculpe, não queria te assustar.”

Olho para ele pasma dou uma leve analisada no ambiente. Ele estava sentado com as costas apoiadas na cabeceira do beliche e as pernas estendidas no colchão, um travesseiro preso entre seus cabelos pretos desgrenhados e a parede como uma tentativa de ficar mais confortável e parecia cansado. Em seu colo, estava o travesseiro que alguns segundos ante eu estava dormindo. Olho do travesseiro em seu colo para a almofada na parede e depois para Pietro, entendendo a situação. Rapidamente, limpo uma lagrima que escorria, tentando disfarçar.

“Não, eu só não esperava que você estivesse...bem...na minha cama.” Ele pareceu corar.

“Er, bem...eu tinha vindo falar com Kye ontem à noite, mas ele precisou sair e pediu que eu ficasse aqui com você por causa de seus...hum...pesadelos.”

“E você achou que deveria deitar comigo na cama?” Digo irritada. Talvez fosse toda essa pressão, o stress ou o cansaço que estivesse nublando meus pensamentos, mas aquilo não me pareceu lá muito...decente. Ele corou mais ainda.

“Oh, céus. Não! Não é o que parece.” Tenta se explicar, tropeçando nas próprias palavras. “É só, você começou a tremer e resmungar umas coisas estranhas, mas pareceu se acalmar quando eu me aproximei e quando me sentei do seu lado na cama, você praticamente deitou no meu colo.”

Agora eu podia sentir meu rosto queimando. Olho em volta tentando disfarçar e percebo que na mesa de cabeceira da cama, havia uma mochila de Nylon preta que parecia bem cheia.

“Isso é seu?” Pergunto indicando a mochila. Ele a puxa da mesa e estende para mim.

“Não. Kye deixou aqui há algumas horas e disse para te entregar quando acordasse.” Puxo a mochila de sua mão e abro o zíper do meio. La dentro, haviam algumas mudas de roupas. Calças jeans, camisetas, uma jaqueta de couro e um par de coturnos enrolado em uma sacola onde encontrei roupas íntimas. Suspiro.

“Obrigado por ficar aqui comigo, Pietro.” Agradeço enquanto colocava a mochila no ombro e me levantava. Quando me levanto, piso de mal jeito e quase caio, mas consigo me segurar à tempo na grade do beliche. Senti uma dor no tornozelo. Não estava torcido, foi só um susto. Ainda assim, manco um pouco enquanto ia para o banheiro dos fundos. “Merda.”

“Quer ajuda?” Ele pergunta da cama.

“Não.” Respondo, um pouco grosseira. Piso um pouco forte com o tornozelo dolorido e quase caio de novo.

“Tem certeza?” Insiste.

“Tenho!” Respondo enquanto me equilibrava na perna boa. Viro a cabeça pra ele. “Por que você se preocupa tanto? Nós mal nos conhecemos!”

“Eu não sei!” Exclama. “Não consigo explicar! Eu simplesmente sinto que deveria estar perto de você. É quase como um instinto! Eu não consigo simplesmente deixar de sentir isso.”

O encaro, desacreditada.

“Como pode sentir algo assim por alguém que acabou de conhecer?” Ele abre e fecha a boca algumas vezes, provavelmente tentando encontrar palavras para argumentar, mas a fecha definitivamente quando não as encontra. Suspiro. “Foi o que pensei.”

“Maya, esp-” diz se levantando da cama para vir em minha direção, mas estendo o braço para impedi-lo de se aproximar.

“Por favor, Pietro. Eu preciso de um tempo sozinha.” Ele baixa a mão.

“Certo, se é o que você quer...vou respeitar isso.”

“Obrigado.” Ele acena com a cabeça e se vira, indo em direção à porta de cabeça baixa, pensativo. Não espero até que ele saia, simplesmente vou até o banheiro e tomo um banho, esperando que a água quente relaxasse meu corpo tenso e me fizesse esquecer de tudo aquilo.

Quando terminei, o banheiro parecia uma sauna devido ao vapor e aproveitei ainda o quente naquela manhã fria. Enrolei-me na toalha azul do box e sentei na tampa do sanitário, encarando os feixes de sol que entravam por uma pequena janela e que se destacavam no vapor. Enquanto observava o vapor se dissipar, algumas lembranças voltaram a minha mente...lembranças dos meus avós.

Nesta, estávamos os três sentados em um banco de carvalho numa fazenda. Era noite, vovô havia acendido uma fogueira para nós perto do lago e contava o conto de Narciso enquanto assávamos marshmellows e nos aquecíamos em um cobertor de lã que vovó havia tricotado poucas semanas antes. Eu devia ter seis anos na época. Lembro de que naquela noite, enquanto eu adormecia nos braços de minha avó, pensei ter visto vovô revirar as cinzas da fogueira e tirar de lá algumas pedrinhas marrons. Ele pegou essas pedrinhas, jogou-as na margem do lago e quando jogou um pouquinho de água, um pequeno broto apareceu e cresceu até se transformar em um gigantesco carvalho. Quando ele veio se sentar junto a nós de novo, vovó disse: Amo quando você faz isso. Não sei se eles sabiam que eu estava acordada, mas quando perguntei no dia seguinte sobre aquilo, eles disseram que tudo havia sido um sonho meu.

Sinto a lágrima deslizar pelo meu rosto com a lembrança. Fungo e a limpo.

“Vamos Maya, você já superou isso.” Repreendo-me enquanto enxugava outras que desciam acompanhando a primeira. Quando finalmente consegui me controlar, tirei uma muda de roupas da mochila. Uma calça jeans confortável, uma blusa de algodão de manga comprida azul escura, a jaqueta de couro preta e o par de coturnos. Não me preocupei muito com o cabelo, apenas enxuguei e deixei desarrumado, é o charme dele. Quando fechei a mochila, percebi que a parte da frente da frente estava um pouquinho pesada e quando a abri, um sorriso instantaneamente se formou ao reconhecer meu celular.

“O ruivo pensou em tudo mesmo.” Digo para mim enquanto pegava o aparelho e verificava que a bateria estava cheia.

Tudo bem! Eu sei que tecnologia atrai monstros, mas pergunta se eu ligo? Se não me pegaram em quinze anos, não será agora que vou deixar uma dracaenae ou um ciclope me derrotar. Coloquei o aparelho no bolso da jaqueta e quando ia fechar o zíper, um brilho lá dentro chamou minha atenção. Abro um pouco mais o zíper e meu sorriso desapareceu quase tão rápido quando apareceu. “Não pode ser…”

Enfio a mão lá dentro e um arrepio percorre meu braço quando toco a gélida prata do bracelete que Luke me dera.

Foi como dar um play no meu cérebro. Tudo voltou como uma avalanche na minha cabeça: o envenenamento do pinheiro, a missão no palácio de meu pai, o labirinto e o incêndio...a imagem nítida da casa onde eu passei os melhores momentos da minha vida serem reduzidas a nada mais que uma pilha de escombros e cinzas, levando junto meus avós com eles. Aperto o bracelete com força, até que os nós de meus dedos estivessem brancos e saio do banheiro pisando forte, sentindo o sangue ferver pela raiva.

Quando saio do chalé, esbarro em um grupo de semideuses que conversava do lado de fora. Murmuro um Desculpa emburrado e continuo de cabeça baixa. Ouço alguém dizendo meu nome e perguntando o que eu tinha, acho que era Percy, mas estava tão imersa em pensamentos que nem me preocupei em descobrir.

Andei até sair da área dos acampamentos, a floresta estava à minha frente, a casa grande à esquerda e a praia à direita. Sempre a floresta. Já podia sentir minhas mãos se transformando, tornando-se em grandes patas caninas de um lobo cinza, então coloco o maldito bracelete no bolso da jaqueta e entro na floresta, correndo, sentindo meu corpo mudar. Não esperaria parada que estivesse completa, eu só precisava me afastar...ficar sozinha. Quando já estava em um nível avançado, pulo e termino a transformação no ar e assim que minhas patas tocam o chão, corro.

O mundo pareceu se deformar à minha volta à medida que eu acelerava. Sentia a raiva subindo a minha cabeça à cada passo. Tudo o que eu poderia ter feito naquela época, a vida que ou poderia ter tido, descendo pelo ralo por causa de uma merda de sangue olimpiano! Odeio isso! Odeio! Odeio principalmente essa merda de bracelete!

Corro por vários minutos, até que meus músculos começassem a reclamar por conta do esforço. Não queria parar, mas sentia que se continuasse nesse ritmo, acabaria desmaiando então...aproveito o impulso da corrida e pulo, me transformando em humana no ar e acertando um soco com toda a força que podia reunir em um grosso tronco de árvore morta caída no chão.

Várias lascas da madeira voam e sinto minha mão doer, mas não era o bastante. Tiro do bolso do casaco a desgraça do bracelete e o lanço com força contra uma árvore. Ele rebate e cai no chão.

VENIT!” Grito arfando e percebo quando meu colar evapora e se transforma em um par de Berettas nas minhas mãos estendidas. Assim que consigo sentir o metal frio das armas, miro no colar e atiro, sentindo o recuo das pistolas e deixando que o som dos tiros ecoasse pela floresta do vale. Grito enquanto o fazia, liberando parte da raiva. Trinta tiros...trinta e cinco, cinquenta... as balas faziam vários montes de terra pularem do chão com o impacto, criando aos poucos um buraco no chão com o colar no centro. Paro de atirar e praguejo quando percebo que os tiros não faziam efeito. Sequer haviam arranhado o metal. Bufo de raiva e chuto o monte de terra onde estava o bracelete, fazendo-o voar longe e se enganchar em uma árvore.

Recensere.” Cuspo a palavra enquanto andava apressada em direção à árvore onde estava preso. Em questão de milésimos de segundos, as Berettas deram lugar à um martelo de mão dupla gigante, cujo cabo ultrapassava minha altura e a cabeça era tão grande que poderia facilmente amassar uma abóbora gigante e com um único golpe, destruo a árvore fazendo galhos, folhas e o que quer que estivesse no caminho fosse reduzido à uma pilha de madeira destruída e repito o golpe mais algumas vezes, na esperança de que aquilo desse um fim definitivo àquela maldição.

Nunca estivera tão empenhada em destruir aquilo. Lembro te tentar queimar, amassar, quebrar e até derreter aquela porcaria, mas no final, a coisa não tinha nenhum arranhão e eu nunca conseguia me desfazer dele, então sempre acabava levando-o de volta comigo, mas não hoje.

Meus braços já doíam de levantar aquele martelo pesado. Depois de quase cinco minutos naquilo, paro um pouco. Meus braços ardiam com o esforço, eu arfava muito e em todo o terreno à minha volta, num raio de vinte metros, haviam buracos, torrões e montes de terra e lascas e pedaços de madeira. Caio ajoelhada, cansada, os braços apoiados na haste do martelo que era o que mantinha meu corpo levantado. Os únicos vestígios da raiva me deixavam lentamente enquanto eu recuperava o fôlego, mas não totalmente. Ainda podia senti-la, mas eu já a controlara e agora, ela dava lugar à culpa, por tudo o que estava acontecendo. Não segurei as lágrimas que se seguiram. Eu precisava liberar aquilo tudo, ou acabaria por enlouquecer. Soluço. Porquê tudo aquilo estava acontecendo? É pedir muito ter uma vida normal? Estava indo tudo tão bem...eu estava cursando a faculdade, ninguém mais do mundo mitológico lembrava de mim, minha mãe havia me esquecido e de uma hora para outra, tudo isso volta. Descubro que sou filha de Poseidon, sou uma semideusa poderosa que de acordo com Quíron tenho a bênção de todos os olimpianos e tenho um irmão gêmeo que quer me matar por conta disso. Desse jeito, não sei se sobreviveria até meus dezesseis.

Alguma coisa faz barulho à minha direita.

Venit.” Digo e me viro na direção do som em um reflexo, já com um arco e flecha armada para atirar no que quer que estivesse ali. Ainda soluçava e a visão estava embaçada devido as lágrimas e tudo o que vi, foi uma forma grande se aproximando lentamente. Solto a corda e a flecha corta o ar com um fushh alto, se cravando na árvore à centímetros de distância de quem se aproximava. “Vá embora.” Digo com a voz embargada.

“Maya?” Era Kye. Pisco algumas vezes até que minha visão focasse e vejo o ruivo com uma expressão de espanto olhando a destruição que eu causara. Seu peito subia e descia rápido, como se tivesse corrido até ali e carregava consigo uma FNP90 carregada com bronze celestial. Ele baixa a arma e vem até mim, apressado, se agachando ao meu lado. “Deuses, princesa! Ouvi os tiros e pensei que estivesse em perigo! O que aconteceu?”

“Nada, Kye. Só precisava de um tempo sozinha.” Respondo deixando o arco de lado e esfregando os olhos, tentando disfarçar o choro.

“Mesmo?” Aceno. “Então porquê parece que aconteceu uma guerra aqui?”

Dobro os joelhos na frente do corpo e apoio os cotovelos neles, massageando as têmporas.

“Eu estava tentando me livrar daquele bracelete.” Respondo indicando com a cabeça uma pilha de restos de árvores e terra de onde vinha um brilho prateado.

“E por que você estava chorando?” Suspiro e passo a mão nos fios, coçando a cabeça.

“Só fiquei irritada porque aquela merda não quebra por nada.” Minto. Ele ergue uma sobrancelha e cruza os braços.

“Maya, O que foi que aconteceu? De verdade.” Bufo de raiva.

“Nada Kye! Eu só…” suspiro. Por mais que quisesse gritar com alguém, não conseguia ficar brava com o ruivo, então controlo a raiva. “Eu só queria poder me livrar daquilo sem lembrar daquela noite, mas não consigo. É como se aquele momento estivesse ligado ao bracelete e não consigo simplesmente jogar fora! E isso me dá nos nervos!” Resmungo chutando um monte de terra. Kye olha de mim para o bracelete jogado ali e dá de ombros.

“Está bem, irritadinha. Se você não quer me contar não vou te obrigar.” Diz se levantando e indo até o monte com o bracelete.

“Não estou mentindo, cérebro de passarinho.” Resmungo.

“Eu te conheço há quase três anos, princesa. Não preciso que me diga que não quer me contar uma coisa para saber quando não quer me contar uma coisa.” Ele vem até mim já com o bracelete guardado no bolso da camiseta xadrez vermelha que vestia e oferece a mão para me ajudar a levantar. “Sei que você só chora por poucas coisas e para sua infelicidade, sei também que Tentar destruir objetos de chantageadores e falhar não é uma delas.”

Dou um meio sorriso e pego o arco, aceitando a mão de Kye que me ajuda a levantar.

“Como você faz isso? ” Pergunto estralando todos os ossos da cintura para cima do meu corpo com vários Cracks incrivelmente relaxantes.

“O quê? Ser bonito e incrível ao mesmo tempo?” Pergunta cruzando os braços e segurando o queixo como se fizesse pose para uma foto. “ Isso é um dom, princesa.”

Rio e dou um soquinho de leve em seu braço.

“Não, seu palhaço.” Ele ri comigo e esfrega o braço como se o soco tivesse doído. “É que você consegue me fazer rir quando estou assim, para baixo, sabe? Como você faz isso? ”

Ele dá de ombros e sorri.

“Isso também é um dom. E também, sei quando você precisa de um espaço.” Ele me abraça de lado. “Vamos, tenho algumas coisas para te contar.”

“Tenho certeza que pode esperar.” Uma voz não tão desconhecida fala do outro lado do espaço onde estávamos. Das sombras que as arvores faziam naquela manhã, uma pessoa se aproximava. “Ora, ora! Olha só o que eu encontrei. Dois passarinhos sozinhos no meio da floresta escura.”

O corpo de Kye se retesa. Ele pega a arma e rapidamente a aponta na direção do som. Faço o mesmo preparando o arco e instantaneamente a flecha apareceu, pronta para ser disparada.

“Apareça!” Ordena Kye, o dedo firme no gatilho para disparar. Da sombra das árvores, uma silhueta bem conhecida aparece e ele abaixa um pouco a arma. “O que você quer Uriah?”

Também teria abaixado o arco e seguido reto, ignorando o filho de Ares, mas o vislumbre que tive de seu rosto no segundo seguinte me impediu de fazê-lo e sem pensar, solto a corda.

A flecha corta o ar com um Zuuuuun e atravessa o peito do semideus, bem no lugar onde fica o coração. Ele é jogado para trás com o impacto e se apoia em uma árvore, sangue escorrendo da ferida. As mãos fortes de Kye me seguram pelos braços e me viram em sua direção, deixando a arma cair no chão.

“O que foi isso Maya?!” Pergunta me olhando no fundo dos olhos. “Enlouqueceu? Está certo que ele é um desgraçado, mas isso não é motivo para atravessa-lo com uma flecha!”

Me solto de seus braços.

“Viu os olhos dele? Aquele não era Uriah!”

“Como não era? Eu vi seus olhos e-” sua fala é interrompida por uma gargalhada que começou como nervosa e se seguiu alta.

“Ah sim. É realmente difícil enganar você, não é?” Ele se levanta e quebra o cabo da flecha, puxando-a para fora de seu corpo. Quando avança, seus olhos tornam-se mais nítidos, brancos como a neve e emitindo um brilho azulado. Matthew.

Kye pega a arma do chão e dispara sucessivas vezes contra meu irmão, mas as balas apenas fizeram buracos no corpo de Uriah e o lançaram para trás com o impacto das balas. Também atiro várias flechas, na esperança de que algo o afetasse, mas Matthew apenas sorria, como se nossas tentativas de matá-lo o divertissem.

“Desistam, não vai funcionar, não neste corpo.” Diz com um sorriso de escarnio. Kye só parou quando toda a munição havia acabado, depois jogou a arma para o lado e sacou duas facas de seu cinto. Bufo de indignação e faço o arco mudar de forma para um par de katanas. “Ah, claro. Se tiros não fizeram efeito, me cortar vai adiantar muita coisa.” Ri.

“Por que você não morre? Funcionou quando estava no corpo de Chris. E como entrou no corpo de Uriah?” Pergunto. Ele dá de ombros.

“Aconteceu de uma forma diferente com eles. O corpo de Chris foi preparado com magia antes que eu me apossasse dele. Era mais forte, mas ao mesmo tempo mais vulnerável. Agora, este daqui…” ele mostra os antebraços de Uriah e, mesmo com as marcas dos tiros, era possível ver dois cortes por todo o membro, ainda em carne viva. Suicídio. Penso. Matthew ri. “Ah sim, é incrível como mentes pequenas desmoronam por tão pouca coisa, como o assassinato do amigo que era quase como um irmão.”

“Uriah...se suicidou?” Pergunto para mim mesma, incrédula.

“Sim. Uma pena, ele tinha muito potencial. Infelizmente, corpos sem preparo não são tão úteis. São fáceis de possuir e controlar, mas só servem para isso: meros fantoches. Mas é quase impossível matar algo que já está sem vida, não é mesmo?”

“O que quer aqui?” Pergunta Kye, sério. O rosto de Matthew toma uma expressão quase como o de um psicopata. Ele acena com uma mão e uma imensa espada completamente negra aparece em sua mão. (Ok, como ele fez isso?)

“Normalmente, esperaria até que já estivesse sob o controle de nossa mãe, mas você ainda não está preparada. ”fala se dirigindo a mim. Ele começa a avançar lentamente e entro em posição de ataque. “Sabe” continua “nossa família tem uma peculiaridade bem interessante. Temos sangue mágico, acredita?”

Hesito por um segundo.

“O que quer dizer?” Ele ri.

“Temos dons, irmã. Nossa mãe domina os rituais de possessão e selamento, eu os de materialização, como viu.” Mostra a espada. Ele para por um segundo e me olha de uma forma curiosa e ao mesmo tempo sonhadora e ambiciosa. “Mas você...ainda é um grande mistério para nós, e não pode continuar assim. Preciso que esteja no auge de seu poder.”

Ele volta a avançar. A ponta da espada desenhando na terra revirada e fazendo barulhos estridentes quando batia em pedras. Em um piscar de olhos, Kye se interpõe entre mim e ele.

“Maya, saia daqui.” Diz em minha mente, entrando em posição de ataque. Matthew sequer diminuiu o ritmo. Franzo o cenho.

“Não vou fugir e deixar você aqui.”

“Eu não estou sugerindo. Saia daqui. AGORA!” Ele não grita a última palavra, mas a forma como ele falou me causou um arrepio e dou um passo para trás inconscientemente. Nunca vira Kye daquele jeito e aquilo estava me assustando um pouco. Mas ainda me forço a ficar.

“Ele vai matar você.”

“Vai acontecer coisa muito pior se você não sair. Vou atacar e você foge, ouviu? Encontro você no acampamento.” E sem dar espaço para que eu argumentasse, ele avançou contra Matthew.

Suas lâminas se chocaram com um tin estridente quando Matthew defendeu, mas Kye não permaneceu parado. Ele desferia golpes com uma voracidade e velocidade inacreditáveis. Meus olhos mal conseguiam acompanhar. Matthew bloqueava com uma certa dificuldade seus golpes e eu, só consegui ficar ali, assistindo, sem reação. Em determinado momento, suas lâminas se travaram entre seus rostos e Kye desviou o olhar para mim.

“O QUE ESTÁ ESPERANDO? CORRA!” Grita e força Matthew para trás para me dar alguma vantagem. Dou alguns passos hesitantes para trás. Não queria deixar Kye ali, mas a forma como ele falava, com tamanha urgência. Ele para e se vira enquanto Matthew estava atordoado e aponta para a floresta. “VAI!”

Engulo em seco. Meus instintos apitavam para que eu fizesse o que ele pedia. Então, atravessei o trecho aberto correndo.

Milissegundos depois, quando já estava alcançando a parte densa, ouço um Zap agudo, como o som de um chicote estalando e algo se prende ao meu pulso direito.

“Não vai não.” Matthew diz. Ele apontava na minha direção com um sorriso malicioso. Olho pra baixo e vejo algo muito semelhante à uma raiz de árvore, porém mais grossa, brotando do chão e se enroscando em meu antebraço, mantendo-me presa. Bufo de indignação e ergo a katana da outra mão para cortar a raiz, mas Matthew estala os dedos e outra raiz sai do chão e se prende ao meu outro braço, puxando-o para baixo e me fazendo largar as espadas. “Não, irmã. Não ainda.”

Puxo os braços tentando me soltar do chão, mas aquelas coisas pareciam subir cada vez mais em meus braços, me puxando mais e mais para o chão. Meu coração estava disparado. Eu deveria ter corrido antes. Como sou estúpida!

Matthew sorri e bloqueia com a espada um ataque de Kye, se virando para o ruivo e acertando-lhe um soco que o faz dar vários passos para trás e arfar.

“Você também é um pé no saco, hein.”

“SOLTE-A!” Ele grita à plenos pulmões. Matthew dá de ombros.

“É claro que vou solta-la, mas antes…” ele olha para mim de uma forma ambiciosa. “Preciso que você desperte.”

E com um estalar de dedos, o mundo se fecha à minha volta. Completamente escuro. As raízes já não me prendiam mais, mas isso não importava, não quando o espaço em que eu estava era tão pequeno que eu mal conseguia dar meio passo e era tão escuro que era impossível ver meio centímetro à minha frente.

“Não. Não não não não não!” Sussurro para mim mesma, desesperada. Minha cabeça começa a girar e ouço um zumbido agudo. Minhas pernas batiam umas nas outras de tanto tremer e se tivesse comido alguma coisa, aposto que teria vomitado. Empurro um lado com as duas mãos, já sentindo as lágrimas de medo molhando meu rosto. “De novo não…”

 

Kyetrus

 

Não…isso não era nada bom. Merda! Porque ela não correu? Era o que eu pensava enquanto avançava, atacando impiedosamente aquele pedaço de bosta de ciclope.

“SOLTE-A! SOLTE-A!” Eu gritava à cada golpe. Matthew sorria enquanto bloqueava meus ataques, como se estivesse brincando. Aquele desgraçado! Eu sabia que faria alguma coisa, mas prender Maya em uma caixa de bronze celestial? Era doentio.

Em uma brecha, cravo uma das adagas no abdómen dele até o cabo. Sangue escorre de sua boca, manchando seus dentes.

“Tire-a de lá. Agora!” Grito. Ele cospe o sangue em minha cara e recuo com a surpresa. Ele aproveita esse tempo e me acerta um soco forte na cara. Dou um passo para trás. Agora apenas com uma faca em punho. Matthew olha para o cabo da lâmina em seu abdómen e sem expressar reação, a tira de lá, fazendo sangue pingar.

“Acha que isso pode me deter? Sequer acha que pode me dar ordens?!” Ele atira a faca em direção ao meu rosto e quando ergo a outra para bloquear, ele avança de uma vez e me acerta com um chute poderoso, me lançando para trás e fazendo bater de costas em uma árvore.

Uma dor agonizante explode em meu tórax quando as costelas se quebram. Arfo de dor e tento me levantar, mas acabo caindo no chão de novo. Matthew cospe no chão aos meus pés.

“Monstro estúpido. ” Fala com desgosto. Ele gira a espada completamente negra e com um aceno e avança, cravando-a em meu tórax e perfurando meu corpo. Grito de dor, sentindo o metal rasgando minha carne e ardendo, como se queimasse meus órgãos. Eu arfava, tentando amenizar a dor, mas era tanta que eu mal podia mexer um músculo sem que me viesse a sensação que meu corpo era mergulhado em fogo grego.

Sentia que ele poderia me matar. Não atingira nenhum órgão vital mas sentia que o havia feito de propósito, quase como se me quisesse vivo mais um pouco. Da ferida, saía uma fina poeira dourada que tentava se aglomerar na ferida para regenerar meu corpo. Um monstro...Matthew parou um instante, como se ouvisse algo além de meus gritos de dor e esboça um sorriso vitorioso.

“Ouça! Parece que está começando.” Diz de forma cínica. Contraio o rosto de dor, mas tento ouvir. Infelizmente, o som a que ele se referia era bem distinto. Maya gritava da caixa. Me tire daqui! Suplicava enquanto esmurrava as paredes da caixa. Desesperada. Tentando sair. Sinto um aperto no coração.

“Ma-ya” digo, arfando. Tento forçar meu corpo para cima, tentando empurrar Matthew para ir ajuda-la, mas ele apenas afunda mais a espada negra e a gira, fazendo meu corpo inteiro explodir em dor. Fecho os olhos e grito.

“Não, você não vai lá. Atrasou meus planos por tempo demais, grifo.” Ele tira a espada do meu corpo em um movimento circular, fazendo um buraco na minha barriga. Não consigo me mexer. Ele ergue a espada. “Garantirei que não viva mais para atrapalhar minha ascensão.”

Um nó se forma na minha garganta. Nunca pensei que seria assim o momento de minha morte. Deitado no chão, ferido, imóvel, indefeso e com um buraco na minha barriga que demorava demais para se curar. Maya ainda tentava sair da caixa, seu choro cada vez mais alto. Uma lágrima escorre por meu rosto e fecho os olhos, engolindo em seco.

“Desculpe princesa. Não poderei me despedir.” Sussurro e Matthew desce a espada.

O mundo pareceu desacelerar por um segundo. Contei o tempo. Um...dois...esperando que o aço de sua lâmina partisse meu corpo em dois, mas ela não veio. Em vez disso, sinto um vento forte ao meu lado. Um calafrio percorre meu corpo e um som. Tiin. O som de duas espadas se chocando.

Abro os olhos de vagar, temendo a cena que poderia ver, mas o que me veio foi a surpresa. Ao meu lado, de pé, estava Pietro, bloqueando o golpe mortal com uma espada quase tão grande e negra quanto a de Matthew. Ele levantou sua arma de uma vez para afastar Matthew de mim e com um único golpe e um movimento rápido, atravessa o corpo do semideus como se este fosse feito de manteiga. Matthew olha da espada para o garoto e gargalha.

“Vocês são tão ingênuos. OLHE PARA MIM, FILHO DA MORTE! Acha que uma espada comum pode…” ele para pois engasga com alguma coisa. Tosse e cospe sangue no chão. Este ainda escorreu por sua boca, e não parecia que ia parar. “Como…?” Pergunta, incrédulo.

“Isso não é uma espada comum, Matthew.” Responde Pietro, sério. Ele afunda ainda mais a lâmina e a gira, fazendo o rosto de Matthew se contrair de dor. Uma aura vermelha o envolveu e a medida que ficava maior, seus olhos voltavam ao normal, deixando o corpo de Uriah. Pietro retira a espada do corpo de Uriah. “Deixe eles em paz!” Vocifera, descrevendo um arco com a espada e “cortando” o espirito de Matthew no ar.

Um grito agonizante como o te um monstro corta o ar, um vento forte sopra levantando terra e folhas secas e o corpo sem vida de Uriah desaba nos braços de Pietro. Ele o ampara e com um suspiro, descansa o corpo do semideus no chão. A grama estava manchada com seu sangue e havia um talho horrendo em seu tórax. Por mais desagradável que ele fosse, ninguém merecia partir daquele jeito.

Tento me levantar, mas meu corpo ainda doía e a ferida não havia terminado de cicatrizar. Pietro se vira, embainha a espada e vem até mim.

“Vim assim que ouvi os tiros. Você está bem?” Pergunta estendendo a mão. Aceito e ele me ajuda a levantar.

“Já estive melhor.” Me apoio em uma árvore enquanto meu corpo terminava de se curar. “Como fez aquilo?”

“Espada especial. Presente de minha mãe.” Ele olha em volta apreensivo. “Onde está Maya?”

Um barulho forte vem da caixa onde Maya estava presa e seus gritos mudaram de um tom humano para um quase bestial...como o som de uma fera. Engulo em seco e me apresso em direção à caixa, mancando.

“Merda.” Resmungo. Os golpes na caixa pareciam estar ficando mais fortes, mais agressivos e sentia que não era mais Maya que gritava. “Me ajude! Precisamos tira-la daqui!”

“Maya está dentro da caixa?!” Aceno. Ele parecia perplexo. “Não, não pode ser.”

“Por que?”

“Há uma alma em volta dessa caixa. Grande e branca, mas está escurecendo, e rápido. Parece até...um monstro. Não pode ser Maya.” Não dou atenção e começo a esmurrar a caixa, procurando frestas para abri-la, mas estava completamente vedada. Merda. Porque ela não sumiu junto com Matthew?.

“Não tenho tempo para metáforas! Maya está presa aqui e precisamos tira-la antes que-” subitamente, as batidas de dentro da caixa foram tornando-se mais lentas, porém tão fortes que o metal amassava com os golpes. A base começou a ser tomada por uma espessa camada de gelo, subindo rapidamente e de dentro dela, um urro como o de um monstro ecoa, fazendo minha cabeça doer. Engulo em seco. “Antes que algo assim aconteça.”

O metal começou a trincar, junto com o gelo, criando rachaduras que aumentavam a cada golpe que Maya dava. Recuo alguns passos. Minhas mãos começando a tremer e suor escorrendo.

“Pietro.” Chamo. “Como está a alma dela?”

“Completamente negra.” Responde em um fiapo de voz.

“Foi o que pensei.” E no segundo seguinte, a caixa explode.

Vários pedaços de metal congelado voaram, o som da explosão ecoando pelo vale do acampamento. A área em que estávamos foi tomada por uma névoa gélida, que fez com que meus ossos congelarem e a respiração minha e de Pietro condensassem. No centro da explosão, Maya se encontrava no chão, de quatro, arfando. Suas mãos estavam em carne viva, sangrando. No lugar de suas unhas, garras cresciam. Suas orelhas estavam pontudas e do fundo de sua garganta, saía um som semelhante ao rosnar de um lobo. Ela arfava muito e o chão onde suas mãos e pernas tocavam, estavam completamente congelados. Devagar, dou alguns passos tentando me aproximar.

“Maya?” Chamo baixinho. Suas orelhas se esticam na direção da minha voz e ela vira um pouco o rosto, como se quisesse escutar melhor. Dou mais um passo e a chamo, dessa vez mais alto. “Maya? Você está bem?”

Ela não responde. Simplesmente se ergue, bem devagar, e se vira em meio à névoa. Estava curvada para frente, como se seu corpo pesasse. O cabelo parecia mais espesso, como o pelo de algum animal selvagem. As sobrancelhas unidas e o nariz franzido em uma expressão raivosa. Seus dentes haviam se tornado em presas e seus olhos...o esquerdo estava um azul tão claro que parecia branco e o direito, era um vermelho escuro como sangue. Ambos brilhavam e sua pupila havia se alongado, ficando semelhantes a fendas finíssimas.

Ela fareja o ar e mostra os dentes em um rosnado poderoso. Põe-se de quatro novamente e anda, cautelosa, como um gato antes do ataque. Seu corpo parecia estar ficando cada vez maior, suas roupas se fundindo à pele que era lentamente revestida de uma pelagem castanha escura. Seu rosto se alonga até que se parecesse com o rosto de um lobo e ela mostra os dentes. Estava maior que um urso agora. Engulo em seco e ergo as mãos na frente do corpo.

“Calma Maya. Não queremos machucar você.” Ela rosna. Pietro se apressa do meu lado com a mão no cabo da espada. “Pietro.” Sussurro, sem tirar os olhos de Maya. Seu olho vermelho cintila e o chão onde tocava começa a fumegar.

“Diga.”

“Corra até o acampamento e traga ajuda. Toda a ajuda que conseguir reunir.” Maya dá mais passo e uma pilha de madeira começa a soltar fumaça e entrar em combustão. “Seja rápido. Quando eu der o sinal, corra o mais rápido que conseguir. E não olhe para trás.”

“Certo.” Responde.

“Muito bem então.” Respiro fundo. “Agora!”

Pietro corre em disparada para a floresta e Maya faz o que eu esperava. Cola as orelhas na cabeça e flexiona as patas, preparando-se para segui-lo. Ela salta e teria alcançado o garoto, mas pulo também e a intercepto no ar, derrubando-a no chão. Ela urra e sacode a cabeça, levantando-se mas vou mais rápido e empurro-a contra uma árvore, prendendo seu pescoço com meu antebraço e o resto de seu corpo com as minhas pernas. Ela tenta abocanhar meu rosto.

“Maya! Sou eu. KYE!” Ela continua tentando abocanhar meu rosto. Ela começa a se debater e tento continuar de pé, mantendo-a presa. “Maya. Acorda! Essa não é você. Vamos!”

Ela se debate mais forte e consegue soltar um braço, golpeando-me forte e me lançando do outro lado de encontro à uma árvore. O impacto me deixa sem ar, mas me recupero rápido, pois ela avançava rápido em minha direção. Flexiono as pernas e abro os braços, me preparando. O impacto teria me lançado longe, mas faço força e consigo segura-la. Ela rosna e crava os dentes em meu ombro em uma mordida forte. Urro de dor, mas prendo seu pescoço em um abraço e tento segurar por mais algum tempo.

“Por favor, Maya. Eu sei que você consegue. Eu estou aqui, sempre estarei aqui. Por favor, volta pra mim.” Ela rosna e aperta mais a mandíbula. Grito e a solto, golpeando seu corpo e a lançando longe. Um bolo se forma na minha garganta. Ela estava fora de si. Eu só a estava atrasando. Ela sequer parecia cansada.

Outra pilha de madeira explode em chamas quando ela se levanta e rosnando, começa a me rodear. A mordida em meu ombro jorrava pó dourado, mas já se regenerava. Concerto minha postura e suspiro, dando alguns passos.

“Você não consegue me ouvir, não é?” Ela rosna. Engulo em seco. Acima de mim, uma sombra passa rápido e olho de relance, vendo Pietro montado em um Pégaso, se afastando rápido. Olho pra Maya. “Está bem. Me desculpe.”

Ela avança de novo. Eu me transformo em lobo e com um uivo, começamos a lutar.

 

Pietro

 

Horas atrás, sinto que poderia ter evitado aquilo. Eu vi Uriah saindo do chalé de Ares e indo para a floresta e mais que isso, vi sua alma. Estava escura, como se fosse envolto em névoa completamente negra. Sua forma era como a de um homem e pairava sobre seu corpo, mas eu não consegui fazer nada. Até a alma mais poderosa perece sob esta espada. Claro, por que não pensei nisso antes? Talvez seja por que sou novo nessa coisa de ser semideus.

Mesmo com aquela visão, aquilo não foi o que mais me assustou. A alma de Maya, que eu vira quando ela estava dentro na caixa, poderia ter feito eu ter pesadelos por dias. Ela era como a que eu vira na floresta mais cedo, porém, saindo de seu peito, havia naquele momento uma espécie de mancha negra, que se espalhava por todo o seu corpo, como uma praga. Quando chegou na cabeça, seu rosto, antes semelhante à uma linda princesa indígena, foi tomado pela escuridão e tomou a forma de algum ser sombrio, com os olhos vermelhos como sangue e que brilhavam como faróis. Em suas costas, imensas asas negras cresceram, apenas em sua parte óssea e toda ela estava de certa forma magra, como se sua alma estivesse há anos sem se alimentar.

Agora, no Pégaso, pude ouvir o som da luta de Kye contra Maya. Quando já estava no ar, o vi se transformando em um lobo e atacando Maya, mas ele não atacava para machuca-la. Ele temia por ela, e sentia que ele não aguentaria muito tempo assim, pois Maya ou o que quer que ela tenha se tornado, exalava instinto assassino. Minhas mãos começam a suar. Kye falara como ela ficou quando quase perdeu o controle, mas não passou pela minha cabeça que ela poderia se transformar naquilo. Ela parecia com o lobisomem do filme Van Helsing, só que maior, mais assassino e duvido que os daquele filme fizessem as coisas congelar ou explodir.

Kye falou para que eu procurasse ajuda…mas quem? Vira Luana e Jonas ajudando o garoto de Ares que havia sido mordido por um lobisomem. Eles tinham ido para a arena e duvido que saíram de lá tão cedo. Vi também, antes de me encontrar com Macaria, gina indo para a enfermaria com os gêmeos. Um deles parecia extremamente ferido então, cinco nomes riscados da lista. O que me deixou com Percy, Nico e Will. Vai ter que servir.

Podia ver o refeitório na linha do horizonte. Ainda era de manhã, eles deveriam estar no café ainda. Instruo o Pégaso na direção do pavilhão e ele avança, rápido. Em questão de segundos, a construção estava abaixo de mim e vários semideuses me encaravam com um olhar curioso. Pouso na entrada e passo correndo por todos, indo direto para a mesa de Poseidon onde Percy devorava uma pilha de panquecas azuis. Ele quase engasgou quando me percebeu.

“Caramba Pietro! Não me assuste assim.” Diz bebendo um gole de suco de laranja. “O que aconteceu?”

“Maya está descontrolada.” Digo arfando. Sua expressão fica séria. “Estão na floresta. Kye está tentando segura-la, mas não vai aguentar muito tempo. Precisa de ajuda.” Digo rápido.

“Quanta ajuda?” Pergunta sério, já se pondo de pé.

“Toda a que conseguirmos.” Respondo. Ele acena e olha para a mesa de Apolo, localizando Nico. Me puxa pelo braço e vai até lá, interrompendo o café do filho de Hades. “Nico, preciso de sua ajuda. É urgente!”

“Quão urgente? Estou no meio do café!” Resmunga.

“Maya perdeu o controle.” Explica. Nico empalidece e acena, já se levantando. Percy continua. “Vá até o acampamento Júpiter. Encontre Jason, Piper, Frank e Hazel e volte rápido. Hazel pode ajudá-lo na viajem das sombras.” Ele me olha. “Onde eles estão?”

Um clarão surge da floresta e quando olho, vejo uma coluna de fogo se erguendo. Engulo em seco e aponto na direção do fogo.

“Lá.” Digo. Percy empalidece.

“Seja rápido Nico, não sei até onde Maya pode ir com isso.” Pede o moreno. Nico acena, dá uma rápida explicação para Will e corre em direção à uma sombra no anfiteatro, onde desaparece com um som de sucção. Percy me pega pelo braço e corre em direção ao Pégaso. “Vamos! Já vi o que Maya pode fazer sob controle e se ela está mesmo descontrolada, não podemos deixar que saia da floresta.”

Ele monta no Pégaso e estende a mão para mim.

“Espera! Vamos só nós dois? Não vai nem esperar seus amigos chegarem?”

“Não sei quanto tempo Nico vai demorar para encontra-los e Maya não vai esperar eles chegarem. Suba logo!” Insiste.

“Mas isso é loucura! É suicídio!” Ele revira os olhos.

“Escuta: eu lutei contra Cronos e sobrevivi. Lutei contra Gigantes e sobrevivi. Caí no Tártaro e sobrevivi. Não vai ser minha irmã mais nova descontrolada que vai me levar para os Elísio. Agora suba de uma vez, ou irei sem você.” Ele estava falando sério. Olho de novo para a floresta, de onde agora subia uma de fumaça preta. Suspiro e aceito sua mão.

“Vamos lá.”

(···)

A situação não estava nada boa quando pousamos. A luta já havia se estendido por uma boa parte da floresta. Árvores estavam caídas pelo chão, chamuscadas ou congeladas. Havia vários trechos do chão onde o fogo não havia se extinguido e no centro da destruição, Kye lutava contra Maya, transformado em lobo. Eles rolavam, um mordendo o outro, arranhando, chutando, um tentando derrubar o outro.

Kye estava todo machucado. Mancava com a pata dianteira e mantinha um olho fechado, como se houvesse levado um golpe forte na cara, o que o deixava mais lento. Mas ele continuava tentando a todo custo manter-se de pé. Maya por outro lado, mal parecia estar cansada. Rodeava Kye e atacava à toda velocidade, tentando derruba-lo. Não havia sequer um arranhão em seu corpo e pela situação em que a batalha se encontrava, Kye desabaria a qualquer minuto.

Percy não esperou que ela atacasse o ruivo de novo. Tirou do bolso uma caneta esferográfica e a destampou, fazendo-a tomar a forma de uma espada de bronze celestial. Deu um toque no relógio de pulso e este se transformou em um escudo.

“EI!” Grita, chamando a atenção de Maya que parou a mão no ar em um golpe que acertaria Kye na cabeça. Ela se volta para o irmão e mostra os dentes, rosnando. Seu olho vermelho cintila e o chão onde sua mão tocava começou a fumegar. Percy avança. “Já basta Maya. Não percebe o que está fazendo?” Ela rosna mais forte e baixa a mão, rodeando Percy lentamente. Ele mantinha o escudo erguido e a espada pronta para atacar a qualquer momento. “Vamos lá, irmãzinha. Não quero ser obrigado a te machucar.”

Ela cola as orelhas na cabeça, e salta sobre Percy. O moreno defende com o escudo e a joga para o lado, brandindo a espada para afasta-la. Isso serviu apenas para irrita-la pois no segundo seguinte, ela arrancou o escudo do braço do irmão com um golpe e quase o abocanhou, mas ele rola para o lado rapidamente e recupera o escudo. Ele se levanta e atrai Maya para a outra ponta da área, distraindo-a. Ouço passos e sinto quando Kye se aproxima, arfando. Ele se recosta em uma árvore e se transforma em humano, caindo sentado e contraindo o rosto de dor. Seu braço estava vermelho e inchado. Haviam vários hematomas e marcas de garras por todo o seu corpo e ele estava com um olho roxo.

Olho para Maya que fazia Percy recuar contra uma árvore qualquer. Ele estava sério e já estava com alguns machucados. Maya continha apenas alguns cortes superficiais causados por Percy, mas que já se curavam. Engulo em seco. Eu estou muito ferrado. E desembainhado a espada, corro para ajudar Percy. (Confesso que estava tremendo de medo, mas quem não estaria? Está há três dias num acampamento de semideuses e está enfrentando uma garota que se transformou em uma espécie de monstro que faz o chão explodir e congelar! Qualquer pessoa em sã consciência mijaria nas calças e correria para dentro de casa. Taí., não parece uma ideia tão ruim agora.)

Não conseguiria alcançar os dois, mas como o escudo de Percy estava no caminho, chuto-o para ele.

“PERCY!” Ele olha de lado e pega o escudo, bem a tempo de bloquear um ataque de Maya. Ele empurra a mão dela para o lado e lhe acerta um chute na boca do estômago, que a faz recuar. Percy aproveita a oportunidade e se levanta, correndo a meu encontro e preparando a arma.

“Você sabe usar a espada?” Pergunta.

“Sei.”

“Bom. Não consigo dar conta sozinho. Sinto como se estivesse enfrentando um dos gigantes.” Diz arfando, sem tirar os olhos de Maya.

“Foi tão ruim assim?” Ele concorda com a cabeça. “E como vocês os derrotaram?”

“Só conseguimos por que os deuses estavam conosco.” Maya faz menção de avançar e brando a espada, instigando-a a se afastar. “Só precisamos aguentar mais um pouco, Nico está a caminho. Seria melhor se Annie e Leo estivessem aqui também, mas vamos conseguir sem eles.”

Maya rosna novamente e o chão a seus pés se resfria, formando uma esteira de gelo que se estendia rapidamente em nossa direção.

“Espero que esteja certo.” Digo e salto, desviando da esteira de gelo.

Começamos a lutar. Eu e Percy atacávamos como dois furacões, girando e saltando, desviando dos golpes de Maya. Era difícil pois, apesar de estar em uma forma maior, ela era quase tão rápida como se estivesse em sua forma humana e ela parecia não se cansar em nenhum momento. Tentávamos ao máximo evitar que ela nos tocasse, pois, dependendo do momento, ela poderia nos queimar ou congelar. Em algum momento, Kye se recuperou e voltou à batalha, o que nos deu alguma vantagem. Mas à medida que o tempo passava, essa vantagem diminuía.

Depois de quase cinco minutos naquilo, minha camisa estava ensopada de suor, eu estava mais lento e meus braços doíam devido ao peso da espada. Havia deixado de tentar machucar Maya logo nos primeiros minutos, pois estava mais fácil ela causar um ferimento grave em mim e Percy do que o contrário. Percy também estava cansado e sua roupa estava rasgada em alguns pontos. Ele pragueja.

“Se houvesse algum rio aqui perto seria mais fácil.” Resmunga. “O mais perto está à quase duzentos metros daqui.”

“Não podemos atraí-la para lá?” Pergunto arfando. Ele nega.

“Estou exausto, não aguentaria correr. Além do mais, ela iria nos alcançaria e O Pégaso que nos trouxe voltou para os estábulos assim que nos deixou aqui. A não ser que Kye nos leve, aí teríamos uma chance.” Explica. Ouço o som de um grito abafado e um borrão passa no meio de nós fazendo um Kye acabado aterrissar a alguns metros. Percy solta um gemido cansado. “Ou não.”

“Aguente um pouco, eu já volto.” Ele ia contestar mas vou correndo até Kye. Esta luta estava levando tempo demais. Onde estava Nico? Me abaixo do lado do ruivo que já se levantava, pronto para voltar. “Kye, espera. Percy tem um plano!”

Ele arfa.

“Ele tem um plano agora?! Onde está o resto da ajuda?”

“Não chegou. Pode nos levar à um rio? Está a duzentos metros ao norte daqui. Percy teria uma vantagem maior na água.” Ele contrai o rosto de dor.

“Posso.” Ele respira fundo e se transforma em grifo, abaixando-se para me deixar subir. O faço e procuro Percy, que enfrentava Maya. Aponto para ele.

“Lá.” Kye acena e começa a correr em direção ao semideus. Quando já estava à uma distância boa, grito. “PERCY!”

Ele olha em nossa direção e arregala os olhos, girando para o lado e desviando de um ataque de Maya. Kye o pega com as patas de leão e salta, levantando voo e passando pela copa das árvores. Quando adquirimos altitude, consigo ver o rio. Uma linha azul cortando o verde. Kye também vê e acelera em direção a ele.

“Ela está nos seguindo?” Percy grita. Olho para trás e vejo Maya sair voando da floresta. Ela estava com duas asas negras crescendo nas costas, se aproximando rápido. Ela urra de raiva e me pergunto por um momento se ainda havia algum vestígio de humanidade dentro dela.

“Ela está. E se aproximando rápido!” Grito de volta. Percy olha para trás. Solta um palavrão em grego antigo.

“Não vamos conseguir. Está muito perto.”

Kye pia e tenta acelerar. O rio se aproxima rápido. Cem metros. Oitenta. Cinquenta. Trinta. Quase lá...Maya nos alcança e golpeia a asa de Kye que começa a perder altitude, descendo em espiral e batendo em várias árvores antes de cair no chão, fazendo nós três capotarmos. Podia sentir uma dor agonizante em várias partes do meu corpo. Tinha quase certeza de que havia quebrado alguma coisa, mas não sabia o que. Sinto Percy ao meu lado, tentando se levantar. Podia ouvir o rio correndo a poucos metros, só precisávamos correr mais um pouco. Kye se levanta ao meu lado e nos ajuda a se levantar. Mancava, mas nos ajudou a avançar. Estava tão perto…só mais alguns passos...Percy estende a mão e tenta controlar a água, mas nesse momento, Maya pousa na nossa frente. Engulo em seco e procuro minha espada, ela não estava ali. Olho por cima do ombro e a vejo vários metros atrás, caída na grama. Não daria tempo. Maya pula em nossa direção, as garras a mostra. Penso: Acabou. E fecho os olhos, esperando o ataque. Ele não veio.

Um barulho de sucção se faz perto de mim e logo em seguida, o piar de uma águia. Me perguntei se tinha sido Kye, mas quando abro o olho, vejo o grifo ainda do meu lado. Em vez disso, uma Águia gigante havia impedido Maya e agora lutava contra ela no ar.

“Frank!” Comemora Percy do meu lado. Outros três apareceram. Um garoto loiro de olhos azuis, uma morena com traços indígenas e uma afro-americana com cabelos cacheados e olhos incrivelmente dourados. Todos vestindo camisetas roxas estampadas com as letras SPQR. Nico estava recostado em uma arvore e parecia que ia desmaiar. O loiro dá umas batidinhas no ombro de Percy.

“Olá Percy. E um prazer te rever. Nico nos falou que precisava de ajuda.” Nico solta um gemido na arvore e cai deitado em resposta. Percy suspira.

“Vocês demoraram. Mais alguns e Poseidon só teria uma filha meio-sangue.” Jason ri e olha para a luta que acontecia no ar. Esse tal Frank estava aguentando bem contra Maya.

“Então aquela é sua irmã mais nova? Ela parece um pouco estressada.” A que parecia uma índia falou. Percy ri.

“Você nem faz ideia, Piper.” Limpo a garganta.

“Podem deixar a saudade para depois? Estamos com um problema aqui.” Digo apontando para cima no exato momento que Maya acerta uma patada no rosto de Frank e o lança ao chão.

“É tem razão. Deixemos as formalidades para depois.” Diz a afro-americana. Seus olhos dourados cintilam e ela vai de encontro a Frank, ajudando-o a se levantar e montando nele logo em seguida, sacando uma espata de cavalaria e ambos partindo para o ataque. Jason estrala alguns ossos antes de sacar um gládio dourado.

“Aproveite a água, Percy. Não vamos demorar muito.” Diz e sai correndo em direção à Maya que enfrentava Frank e a outra menina no ar. Me perguntei como ele chegaria lá em cima, mas ele saltou e voou em direção aos três. (Okay, o cara sabe voar.) Piper, ajuda Percy a ir até o rio e depois segue para ajudar os amigos. Ela saca uma espada também mas fica no chão, parecia estar falando com Maya. Não sei como isso adiantaria, mas Maya pareceu ficar atordoada e um pouco confusa, o que deu uma brecha para que Frank acertasse suas asas e a lançasse de encontro ao chão, trazendo a luta para a terra. Ele pousa e em segundos, se transforma em um gigantesco urso pardo e luta com Maya no corpo a corpo.

“Vai ficar aí babando ou vai ajudar? ” Percy fala do rio. Ele parecia revigorado e pronto para outro daquelas. Sorrio.

“Tentem não matá-la até eu chegar.” Digo e vou buscar minha espada. Percy sorri e parte para cima da batalha, erguendo o rio atrás de si e o usando para atacar. Quando pego minha espada e já me encaminhava para a batalha, ouço uma voz familiar.

“Não se empolgue muito, ela ainda é minha irmãzinha.” Kye diz com uma voz cansada. Ele havia se transformado em humano novamente e estava sentado ao lado de Nico, se recuperando da batalha.

“Vou cuidar dela. Eu prometo.” Respondo. Ele sorri.

“Vou cobrar essa promessa.” Aceno e dando as costas para o ruivo, corro em direção à batalha.

Estava tudo indo maravilhosamente bem. A luta estava de certa forma equilibrada. Por enquanto. Éramos seis semideuses contra uma descontrolada. Ela estava perdendo a vantagem à medida que a luta se desenrolava. Sempre que achava que tinha pego alguém desprevenido, outro surgia para amparar o golpe e continuar a luta. Piper parecia usar alguma espécie de magia que, quando falava, parecia deixar Maya confusa, o que dava uma brecha para que alguém atacasse com uma espada. A garota afro-americana, que descobri se chamar Hazel, vez ou outra fazia uma espécie de névoa mágica aparecer, deixando Maya desorientada e lenta. Jason, Percy e eu atacávamos como furacões, sem deixar brechas para um ataque direto e quando essas brechas surgiam, Frank aparecia na forma de algum animal e nos cobria. Estava tudo indo muito bem, exceto pelo fato de que ela não parecia estar voltando ao normal, apenas ficando mais enraivecida e que nós estávamos nos cansando mais rápido que ela. Em certo ponto da luta, Percy fez com que o rio se deslocasse de seu curso e atingisse Maya e Jason se aproveitou disso e invocou raios direcionando-os à agua, o que causou um clarão imenso mesmo estando de dia e um choque e tanto ne Maya.

Ela caiu de bruços no chão, Imóvel. Parecia que finalmente havíamos conseguido derruba-la. Me senti mal por ela ter passado por aquilo, mas não tínhamos outra saída. A luta realmente parecia ganha, então por que eu estava com essa sensação de que algo estava errado? Como ela continuou deitada Percy e os outros se aproximaram para verificar se ela estava dormindo ou o que fosse.

“Maya?” Percy chama se aproximando devagar. “Estranho...não era para o corpo dela ter voltado ao normal?”

Frank, o cara que se transformava em animais, saiu de sua forma de urso pardo, se transformando em um garoto asiático com cabelo cortado em estilo militar.

“Acho que sim. Talvez leve um certo tempo para ela.” E enquanto eles discutiam, pensei ter visto o chão onde Maya estava começar a soltar fumaça. Seu punho direito se fecha e o chão se torna em brasa. Merda. Uma sensação de pânico toma conta de mim. Merda merda merda. Ela ia explodi-los? Resolvi não esperar para descobrir.

“PESSOAL! SE AFASTEM!” Grito. Eles me olham e depois olham para o chão.

“Oh, merda.” Ouço Piper dizer antes de eles começarem a correr em direções opostas e da explosão lança-los longe.

O som foi ensurdecedor e o calor foi insuportável. Sentia minha pele ardendo e me virei para me proteger. Quando cessou, eu ouvia um zumbido agudo e minha visão estava turva. Boa parte do lugar onde estávamos pegava fogo, fazendo subir uma fumaça preta.

Olho em volta. Todos estavam caídos, atordoados e de pé, permanecíamos apenas eu e uma Maya furiosa no centro da explosão. Ela estava de pé, os dentes à mostra em um rosnar poderoso e as mãos fechadas em punhos, estando a direita literalmente pegando fogo. Seus olhos, um vermelho e um azul cintilavam de raiva olhando fixamente para mim. Empalideço quando ela começa a se aproximar lentamente. Minhas mãos começam a tremer e uma gota de suor escorre por minha testa. Engulo em seco.

“Maya, pare. Você não quer fazer isso.” Tento dizer com a voz mais autoritária que conseguir, o que saiu com um gato assustado. Ela ignora e continua avançando, um pouco mais rápido. Recuo alguns passos e minhas costas batem em uma árvore. Ótimo. Se eu correr, morro. Se eu ficar, morro. Engulo em seco. “Por favor Maya. Essa não e você. Você só está assustada. Não quer fazer isso. Não está pensando direito.”

Ela ignora minhas palavras. Estava à quase quinze metros de distância e então, para. Mas não porquê me entendeu. Ela para, pois se preparava para correr. Para matar. A espada estava em punho, mas de que adiantaria? Ela derrotou cinco experientes em um piscar de olhos! Que chance eu teria?

Ela se agacha e cola as Orelhas na cabeça e respira. Fecho os olhos, faço uma prece rápida à minha mãe e tremendo, ergo a espada. Se eu fosse morrer, não seria como um covarde. Lutaria até meu último segundo de vida. Maya rosna e eu suspiro.

“Estou pronto.” Sussurro e vejo quando ela começa a correr, o instinto assassino brilhando em seus olhos. Ela urra, salta, as garras prontas para acabar comigo em um único golpe e quando preparava a espada, um borrão passa correndo perto de mim e me empurra para o lado, me fazendo cair de quatro no chão. Ouço no segundo seguinte o som de carne se rasgando e depois...silêncio.

Viro-me e a cena, me fez ficar sem fôlego e o mundo perder o som. Kye havia me empurrado, me tirado da frente do golpe que salvaria minha vida..., mas ao que parece, o barqueiro não iria para o mundo inferior de mãos vazias. A mão de Maya, atravessava o peito de Kye, no lugar onde ficava o coração. Da ferida, pó dourado jorrava, mas o que me surpreendeu, foi o fato de Kye encarar sorrindo uma Maya que não esbanjava mais espírito assassino, mas sim, um sentimento de dúvida e dor. Kye tossiu pó.

“Então você não conseguiu se controlar, não é, princesa?” Diz com a voz rouca calma e olhos marejados. Ele ergue uma mão e toca o rosto de Maya, que sequer recuou. “Volte pra mim. Eu estou aqui. Sempre estive aqui.”

O colar de Macaria se torna quente em meu pescoço e a visão da alma de Maya se forma. Ela não estava mais completamente negra. Estava voltando ao que era antes...a princesa indígena que eu vira e, à medida que sua alma voltava ao normal, seu corpo ia diminuindo, também voltando ao normal. Mas quando olho pra Kye...este não possuía uma alma. Nada estava acima de si, via apenas a ferida em seu coração que não parecia estar regenerando. Lágrimas escorrem do seu rosto e ele alisa novamente o de Maya, que agora, já mais humano, exibia apenas dor e tristeza. Ela começa a chorar.

“K-Kye…?” Pergunta gaguejando, a voz embargada. O ruivo limpa sua lágrima e sorri para ela, beijando-a na testa.

“Que bom que voltou para mim à tempo, minha princesa. Não aguentaria partir sem ter uma última visão sua.” Diz, chorando mais e tossindo mais pó dourado. Maya olha para a mão, que ainda atravessava o peito do ruivo e rapidamente a tira, sem acreditar no que estava acontecendo, mas isso não adiantaria...já era tarde. Ela olha para o ruivo, os olhos de um azul tão claro que mais pareciam brancos. As lágrimas abrindo caminho em meio à sujeira em seu rosto.

“N-Não...Kye. Deuses...o que eu fiz? Eu não… eu não queria!” Gagueja, escondendo as mãos no rosto e caindo de joelhos, em prantos. Kye se ajoelha na frente dela e a abraça, afagando seus cabelos enquanto chorava. Seus pés começaram a se desintegrar lentamente em poeira dourada. Ele funga.

“Shhhhh, não chore princesa. ” Sussurra entre soluços, apertando Maya mais ainda em.um abraço. Ela soluçava sem parar. Apertava os olhos, não querendo ver a partida do amigo. Ele a segura delicadamente pelo queixo e levanta sua cabeça. “Olhe para mim.” Pede gentilmente. Maya soluça e abre os olhos. Kye sorri. “Eu te amo, princesa. Independente do que aconteça. Eu sempre vou te amar, e sempre estarei com você, Ouviu?” Ela acena. Ele sorri e eles se abraçam, um abraço forte, de amor verdadeiro. Ambos choram e, antes que seu corpo fosse completamente desintegrado, ele sussurra mais uma vez. “Eu sempre vou te amar.”

E desaparece, deixando-a ali, chorando, sem chão. Ela não se segura, não reprime nenhum sentimento, chora tudo o que tinha direito. Seu melhor amigo, seu irmão, o que esteve com ela nos momentos mais importantes de sua vida se fora...e o que mais deveria doer, era o terrível fato de que ela o matara. Sinto lágrimas se formarem em meu rosto e me levanto, indo cambaleante até ela. Me ajoelho em sua frente e a envolvo, puxando em um abraço forte. Ela não me afasta, se aconchega em meu colo e encosta sua cabeça em meu peito, soluçando.

“Eu o matei...Eu o matei Pietro.” Dizia entre soluços e eu, só pude chorar com ela. Permanecer ali, abraçando-a em sinal de proteção e chorando também porquê no fundo, também me sentia culpado. Ele me empurrara para o lado, me tirara do caminho dela, então olhei para a pequena montanha de pó dourado que restara e me lembro das últimas palavras que disse a ele, repetindo-as, em uma promessa.

“Vou cuidar dela. Eu prometo.”


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Notas finais do capítulo

R.I.P. Kyetrus Vitturine ????--2017



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