A Herdeira do Olimpo escrita por Nogitsune Walker


Capítulo 18
A Princesa, O cavaleiro e O Rei


Notas iniciais do capítulo

2 semanas em galera. Desculpem a demora pra atualizar a fic, n gosto de entregar qualquer coisa mas uma coisa é certo: vou tentar manter o tempo pra atualizar de 2 semanas viu? kkk se quiser cobrar pode chamar no pv ent...enjoy :3



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/720282/chapter/18

Pietro

 

Quinze anos...em quinze anos, Maya passou por mais coisas que eu sequer sonharia em passar nos meus 18 anos de vida. Essa ideia ainda me assombrava. Seu corpo agora repousava frio e inerte recostado no meu, ferido como o corpo de um condenado, apenas por defender o lugar onde fora tratada como uma traidora qualquer. Fecho a cara. Que tipo de mãe faz isso com a própria filha? Querer matá-la para que seu corpo possa ocupar o espírito de alguém quase tão repugnante quanto ela própria e que tipo de pai divino assiste a tudo isso sem mover um dedo para ajudar? E essa tal profecia? Quer dizer então que A vida de uma adolescente inocente e a de todo o mundo era decidido por frases sem sentido que rimavam? Ridículo!

“Não pense muito sobre isso ou vai enlouquecer. ” Rachel diz ao meu lado. Ela caminhava séria, quase tão pensativa quanto eu. Parecia cansada, as olheiras em seus olhos estavam escuras devido ao cansaço e parecia que não tinha um bom descanso já há um bom tempo. Suspiro.

“É difícil não pensar sobre isso quando acaba de descobrir que seus dias na terra estão contados. ” Respondo. “É quase como se estivéssemos lutando contra a certeza de que vamos perder. ”

Ela respira fundo.

“Não é bem assim. O futuro pode mudar a qualquer momento. ” Penso um pouco.

“Não acreditava nessa coisa de profecias e destinos. Para mim não passavam de palavras para amedrontar as pessoas. Não sei mais em que acreditar. Nós não podemos simplesmente viver nossa vida em paz? ”

 Kye que caminhava em um passo ritmado acompanhando o cantar dos grilos, parou quando nos aproximamos do chalé 3 e indicou com a cabeça para que eu descesse. Com cuidado, acomodo Maya deitada em meu colo e desço do lombo do Grifo, que logo se transformou no robusto ruivo que eu vira mais cedo. Ele olhou para mim, o rosto banhado pela luz da lua misturados à sua expressão séria o faziam parecer mais amedrontador que o jovem risonho que presenciamos no café, como se ele tivesse envelhecido vinte anos apenas no meio tempo em que Matthew atacou. Ele tira o casaco moletom preto que usava e cobriu o corpo de Maya, pegando-a cuidadosamente no colo e deitando sua cabeça sobre seu tórax. Ele me olha de cima a baixo e pergunta sereno.

“Você já esteve em uma guerra? ” O encaro sem entender, como eu responderia à uma pergunta dessas? Ele suspira. “Foi o que pensei. Você não sabe. ” E se vira para entrar no chalé de Poseidon. Ao meu lado, percebo que a expressão de Rachel muda de séria para sombria. O que estava acontecendo?

“Espera! ” Digo, mas Kye já havia entrado e fechado a porta. Alguém segura meu ombro.

“Dê um tempo a ele, Pietro. Ele está sentindo a pressão quase tanto quanto a própria Maya. ” Fecho a cara.

“O que ele quis dizer com Já esteve em uma guerra? ” Os olhos verdes de Rachel se tornam sombrios.

“Quando você luta uma guerra, não se sabe quem pode sair vivo. Cada guerreiro entra na batalha com a consciência de que qualquer deslize pode significar a morte de um companheiro e que isso estará marcado para sempre em sua memória, você ganhando ou perdendo. ” Cita como um profeta. Franzo o cenho.

“Como você sabe? Parece até que já esteve em uma. ” Ela encarou a estátua de Atena no topo da colina e um suspiro nostálgico escapou.

“Não lutei exatamente, mas já estive em duas guerras. ” Diz calma. “ A primeira começou quando eu tinha por volta dos doze anos, mas só estive realmente presente em seu ápice. Eu tinha dezesseis e o olimpo quase foi destruído, mas vencemos no final e eu me tornei o oráculo. ”

“O das profecias? ” Ela acena sem desviar os olhos. “ E a segunda? ”

“Foi há um ano. Essa época foi o verdadeiro caos para todo o mundo. Ninguém permanecia morto, nem semideuses, mortais ou monstros, o que tornava praticamente impossível para qualquer um viver no mundo mortal. A morte havia sido literalmente acorrentada. ” Sua mente viaja para um tempo passado enquanto ela citava os acontecimentos como um historiador. “Não podíamos viajar por terra pois a própria estava contra nós, assim como os semideuses romanos e a chance de uma vitória era quase nula, mas não desistimos e não nos deixamos abater porque a profecia dizia que o mundo iria acabar e cá estamos nós, três meses depois, vivos e o mundo continua o mesmo mar de caos que sempre foi. ”

“O que isso tem a ver com a pergunta de Kye? Onde Maya se enquadra nisso tudo? ” Ela me encara.

“Em uma guerra, a maioria tem a certeza de que vão perder, mas eles não deixam de lutar por que o inimigo disse que eles se entregariam. ” Faz sentido. “Maya sabe melhor do que qualquer um aqui o que é lutar uma guerra. Você ouviu que ela lutou ao lado dos titãs, certo? ” Aceno. “Sequer sabe quantos anos ela tinha? ”

“Não. ” Um momento de silêncio se segue antes que Rachel explicasse. Ela olha para o céu, respira fundo e fala.

“Dez anos. ”

“Dez?!” Ela acena. “Mas...ela era…”

“Uma criança que mal sabia o que fazia? ” Aceno boquiaberto. Ela ri um riso sem graça e olha para a lua quase cheia, pensativa. “Acho que Maya era a única que realmente sabia o que fazia naquela guerra. Ela não estava lá porque tinha raiva dos deuses, ela mal sabia sobre eles na época. ”

“Porque ela estava lá então? ” Ela me encara.

“Se ela não te falou, não acho que tenha que ser eu a fazer isso. Digamos apenas que ela teve uma escolha a fazer, e acho que se ela fosse de fato uma pessoa má, não teria feito a escolha que fez. Eu a admiro muito por isso, sabe? Passar por tudo o que ela passou sendo tão jovem, ser forçada a amadurecer e tomar decisões importantes tão cedo e ainda ser capaz de acordar de manhã sorrindo? Ela e muito mais forte do que aparenta. Não a subestime. ”

Olho mais uma vez para o chalé atrás de mim. Sim, ela era bem mais forte do que aparentava ser. Respiro fundo e começo a andar, saindo das áreas dos chalés.

“Aonde você vai? ” Não olho para trás.

“Preciso pensar um pouco. ” Respondo apenas e continuo minha caminhada.

Quando passei pelo chalé de Ares, vi que uma janela estava aberta e um soluço abafado vindo lá de dentro chamou minha atenção. Mesmo do lado de fora do chalé vermelho cercado por arame farpado, pude ver lá dentro um rapaz sentado sozinho num beliche soluçando enquanto chorava. Em suas mãos, havia uma espécie de pano de seda prateado com uma coruja bordada que supus ser uma mortalha.  Ele levantou o rosto e seu olhar se fixou em mim, encarando-me. Pensei que ele iria se levantar, vir até mim e me ameaçar para que não contasse a ninguém que eu o vira chorando, mas ele apenas enxugou as lágrimas e colocou a mortalha sob o travesseiro e se dirigiu ao banheiro do chalé, como se sequer tivesse me visto.

Respiro fundo e sigo meu caminho. Esse cara, Matthew, parece que eles o conheciam. Maya hesitou quando o atacou, como se temesse ferir um amigo próximo, e agora Uriah chorando com uma mortalha com uma coruja bordada, sim...eles o conheciam. Penso um pouco, os semideuses haviam dito um nome quando o cara tirou o elmo...Chris. Um calafrio sobe pela minha espinha. Só de pensar que uma mulher foi absurda à ponto de matar um inocente para usar seu corpo para atacar a própria filha? Isso é doentio.

Enquanto caminhava, passo pelo local onde semideuses e lobos haviam lutado. Will e Gina tratavam de vários feridos deitados em macas ali mesmo, incapazes de se levantar. Os gêmeos de Eros estavam sentados em um canto, um com uma faixa circundando-lhe a testa e uma bolsa de gelo na cabeça conversava com o irmão que possuía apenas alguns poucos arranhões. Volta e meia, eles olhavam para Gina e os olhos de ambos brilhavam como se estivessem em uma tarde ensolarada, sorriam como dois idiotas e voltavam a conversar. Dou um leve sorriso ao perceber como os dois estavam apaixonados pela loirinha, gostaria de ver como isso acabaria.

Sem prestar muita atenção aonde ia, continuo a caminhar, perdido em pensamentos. Lorena...a mãe dela, estava fazendo um jogo perigoso quando enviou Matthew para lutar contra ela. Usar o corpo de alguém que deveria ser um amigo próximo para enfrenta-la, revelar na frente de todo o acampamento que ela era a Herdeira do Olimpo e afirmar que ela se entregaria para ajudar o plano dela? Ela estava brincando com a mente de todos e, por mais que eu queira negar, estava funcionando. Metade do acampamento parecia estar contra ela, a maioria guardando receio por irmãos que foram sequestrados, e agora o chalé de Atena pareceu se virar todo contra ela depois da morte de Chris assim que ela disparou...temia que logo ela estivesse lutando essa guerra sozinha.

Paro e penso um pouco, havia algo diferente em Maya quando eu a segurei antes que caísse, mas o que era? O espírito dela parecia fraco..., mas de um jeito diferente, quase assustador. Pensar sobre isso fez um tremor percorrer todo meu corpo, arrepiando cada pelo existente nele. E ainda… aquele formigamento que eu sentira quando segurei em sua mão quando ela estava na enfermaria e outra vez quando nos separamos na área dos chalés… sentia que era importante, mas Porquê? Quando estendo a perna para dar outro passo e continuar a caminhada, um braço se materializa à minha frente me parando.

“Espere. ” Uma doce voz feminina diz. Levanto o olhar e quase dou um pulo de susto, não havia percebido ninguém se aproximar. A mulher que falara, era pouco mais baixa que eu, o manto negro que usava ressaltava a palidez de sua pele, cabelos negros desciam em leves ondas por suas costas. Ela encarava fixamente um espaço mais aberto um pouco mais à frente, como uma clareira. Olhos azuis tão claros como o céu em uma tarde ensolarada de primavera e que parecia emitir luz própria, unidos à uma testa franzia e finas sobrancelhas unidas em total atenção, aguardavam pacientes algo que deveria acontecer em breve segundo minha intuição. Seus olhos desviam-se para mim por um segundo e ela contém uma risada. “Guarde sua surpresa para mais tarde, meio-sangue. Não sou a coisa mais impressionante que vai ver hoje. ”

Me recomponho quando percebo que olhava boquiaberto para aquela mulher e gaguejo ao perguntar.

“Quem é-” ela me corta antes de completar a pergunta.

“Shhhhh, fale baixo. Vai espantar os espíritos falando alto assim. ” Diz. Fico meio confuso, mas abaixo minha voz para quase um sussurro.

“Quem é você? ” Ela revira os olhos como se fosse a centésima vez que ouvisse aquela pergunta.

“Mais de mil anos, e ninguém nunca ouviu falar de mim. ” Resmunga.

“Mil anos? Você é uma deusa? ”

“Não, eu sou o coelho da Páscoa. É claro que eu sou uma deusa! ” Responde irônica. “Agora fique quieto, você vai querer ver isso. ”

Deusa ou não, não havia gostado muito daquela mulher, mas não falei nada, a última coisa que eu queria era mais alguém na minha cola, então apenas olho para o mesmo lugar que ela.

Não demorou muito até que algo estranho começasse a acontecer. A grama alta da clareira se agitou bruscamente quando um furacão se forma, levantando folhas secas do chão e agitando a copa das árvores. Algum tempo depois, uma névoa esbranquiçada surgiu em um ponto da clareira, crescendo e tomando a forma de um homem que trajava uma túnica como a dos gregos antigos e, além de um peitoral que supus ser de bronze já que sua imagem era translucida e pálida, abaixo de seu braço, havia um elmo com o formato da cabeça de uma coruja. Quando foquei seu rosto, quase levei um susto ao reconhecer o rosto de Matthew, ou ao menos o corpo que ele estava usando.

“Esse é o Chris? ”

“Sim, o verdadeiro. Uma pena que ele não pôde viver muito, mas ele teve uma boa morte, morreu em paz. ” Confirma a deusa. Um vento mais forte sopra atrás de mim e por um momento, os olhos da deusa pareceram brilhar mais intensamente. Ela fecha os olhos, inspira e sorri, revelando dentes brancos perfeitamente alinhados. “Ela está aqui. ”

“Quem? ” Mas a deusa não precisou responder. No segundo seguinte, senti como se uma nuvem de vapor gélido atravessasse meu corpo, fazendo meus ossos congelarem e a respiração se condensar no ar. Quando inspirei, o cheiro se assimilava à terra molhada em um dia de chuva, lavanda e maresia, cheiros que nunca pensei que causariam algum efeito sobre mim, mas naquele momento, fizeram meu coração disparar. “O que foi isso? ”

A deusa sorri.

“Em breve. ” Responde. Pouco tempo depois, uma névoa começa a se aglomerar, assim como aconteceu com o espírito de Chris, mas formando uma figura completamente diferente na extremidade oposta à clareira.

Esta, era semelhante à de uma mulher, mas diferente do espírito de Chris, seu espírito brilhava em cores vivas, como se estivesse cheia de vida.  Ela, trajava uma túnica de linho branco, como a que as mulheres da Grécia antiga usavam, o que ressaltava sua pele morena. Seus cabelos castanho-escuros desciam longos e ondulados por suas costas, adornados com algumas penas coloridas e presos apenas por duas tranças que partiam de um ponto acima das orelhas e se encontravam em um nó atrás da nuca e uma espécie de diadema de prata em sua testa. Ela estava descalça, suas mãos eram enfeitadas por anéis de prata e os braços por braceletes de ouro, além de alguns desenhos geométricos em vermelho em seu antebraço. Seu rosto era fino, delicado como o de uma princesa e seus olhos brilhavam em várias cores diferentes, como um arco-íris e sobre os seus ombros, havia uma espécie de manto que parecia ser feito com a pele de um lobo.

Um suspiro involuntário escapa quando me peguei admirando embasbacado a figura daquela mulher que eu poderia muito facilmente com uma princesa indígena ou uma deusa.

“Quem é ela? ” Sussurro para a deusa com um ar sonhador. Seus olhos brilham de diversão.

“Olhe novamente, meio-sangue. ” Sugere e o faço. Analiso seu rosto, os lábios médios, as covinhas quando ela sorriu, as orelhas levemente pontudas.

“Maya? ” Pergunto incrédulo, talvez um pouco alto demais. A mulher olha em minha direção, sorri e acena, como se atendesse à um chamado, depois se vira na direção do espírito de Chris e se dirige a ele. “Não pode ser, ela não tem as cicatrizes, e Maya está no chalé com Kye. ”

“Só porquê seu corpo é marcado não significa que a alma também seja. ” Explica a deusa. “Agora fecha a matraca, talvez você não tenha outra chance como essa. ”

Eu ia perguntar do que ela estava falando, mas ela simplesmente virou meu rosto para a cena que se desenrolava. Maya, andou pacientemente até Chris, com um sorriso encantador no rosto. Chris sorriu de volta para ela e curvou seu corpo para frente, como se cumprimentasse uma rainha. Maya, segurou em seu ombro e o levantou, de modo que estes ficassem cara a cara, ela baixou os olhos e tirou uma pena prateada de seu cabelo, oferecendo-a a Chris. O semideus, anda sorrindo, tomou gentilmente e pena de suas mãos, depositando um beijo de cortesia nas costas desta e prendendo a pena em seu manto, como um broche.

Sit deos benedicat tibi anima tua invenit aeterna pace. ” Recita Maya em latim. O significado veio até mim como se eu soubesse latim desde sempre. Que os deuses o abençoe e que sua alma encontre a paz eterna. Chris acena com a cabeça para ela e em seguida, seu espírito emite uma luz prateada e sua forma se esvai em névoa. Poucos segundos depois, o de Maya também começa a brilhar, as em um tom esverdeado, um vento forte passa por nós e sua forma se desfaz em névoa, deixando o cheiro de maresia, lavanda e terra molhada. A deusa sorri e suspira.

“O que acabou te acontecer aqui? ” Pergunto para a deusa.

“Ela pediu perdão para Chris, por ele ter morrido em seu nome. Ela se sentiu culpada pelo que aconteceu. A pena que ela lhe deu, foi como uma oração, para que sua alma encontrasse os campos dos Elísios no mundo inferior. ” Explica a deusa com um ar encantado. “Em mil anos, e nas poucas vezes que coisas assim acontecem, é como se eu levasse uma nova luz para iluminar o reino de meu pai. ”

“Reino de seu pai, Elísios...você é filha de Hades? ” Ela acena.

“Eu sou Macaria, a deusa da boa morte. Sou responsável por levar aos Elísios almas abençoadas como a de Chris. ” Diz orgulhosa.

“Como eu pude ver a alma dele? E por que você apareceria para mim? ” Pergunto temendo a resposta.

“Porquê...você é meu filho. ” O que? Como assim? A deusa torce o nariz. “Não me olhe com essa cara, não é a pior coisa do mundo ser filha de uma deusa da morte. ”

“Eu vou começar a ver espíritos e cadáveres em todo o canto? ” Pergunto. Sinto uma pancada de leve na cabeça quando a deusa me dá um cascudo. “Au! Por que fez isso? ”

“Olha o jeito que fala comigo, rapazinho! Ainda vai me agradecer por eu ter te revelado isso tão cedo. ” Diz. Eu meio que Conti o riso porquê acabara de levar um cascudo de uma deusa um palmo menor que eu que diz que é minha mãe. Definitivamente, não esperava que uma deusa se parecesse tanto com uma mãe mortal, mas agradeci silenciosamente por isso. “Quanto a o porquê de eu ter aparecido para você, tenho algumas coisas para te dar. ”

“Além de um galo na cabeça e patadas? ” Ela ri alto.

“Isso também estava na lista, mas vamos logo aos outros tópicos. ” Tá legal, já superei a fase inicial de deusa ranzinza e agora era substituída por deusa da morte piadista. Ela agita a mão no ar e uma espada embainhada aparece em sua mão. Tinha cerca de 90 centímetros de comprimento, a guarda formava uma meia-lua aberta para a lâmina, a empunhadura era de couro e havia um rubi em forma de uma rosa incrustada na base. Macaria segura a parte da bainha à frende e puxa um pouco a espada, revelando uma pequena parte da lâmina onde havia uma caveira com uma rosa na boca desenhada no metal. “Esta, se chama Prodromus mortis, precursora da morte. Sua lâmina é feita de ferro Estígio, forjada sob fogo dos campos da punição e resfriada nos cinco rios do mundo inferior. Use-a com sabedoria, meu filho, pois até a alma mais corajosa perece perante essa espada. ”

“Espada poderosa e assustadora. ” Murmuro para mim mesmo pegando a arma quando a deusa me ofereceu. Mesmo embainhada, senti meu braço gelar e um arrepio percorre meu corpo quando a prendo em meu cinto. A deusa me dá outro cascudo na cabeça com meu comentário sobre a arma.

“Mais respeito garoto! Ou eu mesma vou te punir com ela. ” Ameaça. Fecho a boca, mas não pude evitar de sorrir, acho que eu e minha mãe teríamos um ótimo relacionamento mãe e filho. Ela agita a mão no ar novamente e uma corrente de prata aparece flutuando, exibindo um pingente em formato de um simples retângulo com as bordas arredondadas e gravado nele, estava a mesma caveira com uma rosa na boca. (Supus ser o símbolo dela) “Este, é um colar encantado. Ele vai te ajudar a distinguir as almas boas das más e, quando chegar a hora, vai ser de extrema importância para o cumprimento da profecia. ”

“Quando vai ser a hora? E que profecia é essa? ” Pergunto já pegando o colar e colocando-o no bolso do casaco.

“Você vai saber quando a hora chegar. Quanto à profecia, você pode perguntar para aquela ruivinha amiga da menina de que você gosta. ” Sinto meu rosto corar.

“Quem? Não sei do que está falando. ” A deusa agita a mão como se dispensasse meus comentários.

“Me poupe de suas mentiras. Você pode esconder isso de qualquer um, mas eu vi a cara que fez quando viu a alma da garota e sei como fica quando está perto dela. ” Abro a boca para argumentar, mas ela e mais rápida. “Não adianta dizer o contrário, Pietro Mattore. Não se pode enganar o coração. Agora, quanto aos próximos presentes, preste muita atenção. ”

“Pode dizer. ” O rosto da deusa se torna sombrio.

“São alguns conselhos e respostas, mas serão de extrema importância para que vocês vençam essa guerra. Primeiro: cuidado com a garota, Maya. O poder da Herdeira do Olimpo, mesmo que por hora boa parte dele esteja adormecido, é perigoso e não apenas para seus inimigos. Se ela perder o controle por um segundo sequer, não estará em plena consciência para distinguir aliados de inimigos e você e seus amigos vão precisar de toda a ajuda que puderem reunir para contê-la, ou então...bem...não irá acabar bem. ” Engulo em seco. Não estava gostando muito dessa conversa. “Segundo: como se o poder da Heres Olympus não fosse suficiente, Maya descende de uma linhagem de magos e feiticeiros poderosos por parte de mãe que tem raízes no Egito, tão antiga quanto os próprios deuses. Em sua família, cada um possui um dom próprio, que se manifesta de forma diferente para cada um, e a medida que as gerações vão passando, os descendentes se tornam cada vez mais poderosos. Fique atento aos sinais. ”

Penso um pouco.

“Os olhos de Maya mudam de cor, dependendo do humor dela. ” Lembro. A deusa cola a mão no queixo de forma pensativa.

“Isso significa que o dom dela é a magia elementar. Bom, muito bom. Essa não é a mais rara, mas está entre as mais poderosas em sua família. Espero que ela aprenda a controlar logo pois os agouros não são bons. ” Explica. “Agora, o terceiro: aquele garoto, Uriah, fique de olho nele. Ele é uma boa pessoa, só está passando por muita coisa e faz coisas idiotas quando está de cabeça quente. Tudo bem que isso é normal dos filhos de Ares, mas se meu pressentimento estiver certo, o que infelizmente quase sempre está, ele vai fazer uma coisa que pode prejudicar todos aqui, e por isso chamo a atenção para o primeiro ponto: cuidado com Maya, ela será perigosa se perder o controle. ”

“O quão perigosa? ” Pergunto, sentindo minhas mãos tremerem e suarem. A deusa baixa os olhos como se estivesse em um funeral.

“Não queira ver isso, mas se chegar a ver, defenda-se como se sua vida dependesse disso, pois ela atacará sem piedade. ” Um trovão ribomba no céu e a deusa torce o Nariz. “Meu tempo se esgotou, preciso voltar à meus domínios. ” E como um passe de mágica, seu corpo começa a desaparecer lentamente em um vapor negro. Antes de desaparecer completamente, dá um último aviso. “Só mais uma coisa, meu filho: siga seu coração acima de tudo. ” E desaparece por completo, me deixando sozinho com uma espada assustadora, um colar encantado e avisos que diziam que aquela criança poderia matar a todos se perdesse o controle.

Siga seu coração acima de tudo. Ela dissera. Sorrio comigo mesmo ao pensar que ela se referia à Maya.  Talvez ela tenha razão, eu estava gostando dela, mas não deveria pensar nisso agora, ou será que deveria? E com esse pensamento, caminho para fora do bosque, esperando que a intuição de minha mãe estivesse errada sobre Maya.

 

Kyetrus

 

Deito seu corpo sobre uma cama do beliche. Ela está fria, sua respiração não passa de um chiado, seu corpo estava repleto de feridas que demoravam mais que o normal para se curarem e ela balbuciava palavras sem sentido enquanto eu limpava suas feridas. Ouço a porta do chalé se abrir, um vento gélido passa por mim e o som de passos cansados ecoa no chalé vazio.

“Ela está no limite, não está? ” O filho de Hades pergunta, sombrio. Olho o corpo da pequena, ela mal respirava sem que seu rosto se contraísse de dor e seu corpo tremia. Aceno com a cabeça e Nico se aproxima até estar ao meu lado. “Ela não vai aguentar uma viajem ao mundo inferior nesse estado. ”

“Ela realmente precisa dessa memória? O que ela viu quando você a levou em sonhos não basta? ” Pergunto preocupado. O garoto nega.

“Há mais na mente dela. Se quisermos vencer a bruxa, mesmo com a ajuda dos lobos, ela precisa reclamar seu título de Herdeira do Olimpo para que possamos enfrentar a bruxa, e só vai saber fazer isso quando recuperar a memória. Está na cara que a bruxa não precisa dos lobisomens para nos vencer, ela só não quer sujar as mãos, mas e quando quiser? O que vai impedi-la? ” Reflito um pouco.

“Os deuses não poderiam simplesmente matá-la? Isso evitaria muita coisa desnecessária. ” Resmungo. Nico suspira.

“Queria que fosse assim também, mas eles acreditam que não devam interferir nos assuntos mortais. ”

“E isso quase custou a sanidade de Maya. ” Balbucio. Nico franze o cenho, sem entender o que eu quis dizer e foi quando me passou pela cabeça que eles não sabiam sobre as atrocidades que Lorena fizera com Maya. Nico puxa uma cadeira e se senta ao meu lado.

“Quando pretende nos contar porquê ela tem tanto medo da mãe? ” Não respondo e um momento de silencio se instaura no chalé. Nico insiste. “Se você contar, ficaria mais fácil para nós ajudamos Maya a superar isso tudo. ”

“Não cabe a mim tomar essa decisão. ” Corto-o, ríspido, fuzilando seu corpo pálido com o olhar. “Escute, não insista para que ela contar sobre seu passado com a mãe, não é uma história agradável. Eu mesmo só vou conta-la para vocês se ela permitir ou se for extremamente necessário. ”

Nico suspira, derrotado e se recosta na cadeira.

“Como quiser. ” Ficamos algum tempo observando enquanto Maya dormia, antes de ele voltar a falar. “Eu posso viajar sozinho ao mundo inferior, recolher um pouco da água da fonte de Mnemósine e trazer para ela, assim ela não precisaria fazer essa viajem. ”

“Faça isso. Obrigado, Nico. ” Ele acena e se levanta para sair. Ouço quando ele se dirigia até a porta do chalé, mas ele para antes de sair.

“Ela deve ser muito importante para você Kye, e você deve ser muito importante para ela também. Qualquer um que olhe para os dois percebe que o que vocês têm é algo especial. ” Sorrio.

“Não namoramos se é o que está sugerindo, mas sim, o que temos é algo especial. ” Ouço Nico saindo dessa vez e a porta do chalé se fecha, deixando-me sozinho com Maya novamente. Suspiro e acaricio sua bochecha. “Já imaginou nós dois como namorados, princesa? ”

“Você gostaria? ” Ela responde em um sussurro fraco, abrindo os olhos bem pouco e deixando que um leve sorriso iluminasse seu rosto. Sorrio de volta para ela.

“Há quanto tempo está acordada? ” Ela encara a grade do beliche de cima.

“Há algum tempo. Estou com medo de dormir, Kye. Ela sempre está lá quando tento. Não quero vê-la, não consigo vê-la. É tão difícil…” uma lágrima escorre por seu olho, abrindo caminho em meio à sujeira em seu rosto. Sinto meu coração apertar, odiava ver a pequena daquele jeito.

“Maya, você precisa dormir, precisa descansar. ” Ela fecha os olhos, alguns segundos de silêncio se passam até que ela os abre de novo e quando o faz, eles estão azuis.

“Não consigo, ela ainda está lá. ” Suspiro e seguro sua mão, descrevendo pequenos círculos na parte de cima com meu polegar.

“Você quer que eu deite com você? ” Ela fecha os olhos e acena lentamente, contraindo o rosto, como se o movimento lhe causasse dor. Levanto da cadeira e com cuidado, me deito de barriga para cima ao seu lado esquerdo, aconchegando seu corpo no meu em uma posição confortável. Ela se vira de lado e deita sua cabeça em meu tórax, abraçando-o como se eu fosse a única coisa real em seu mundo. Com a mão direita, abraço seu corpo e afago sua cabeça até que ela se sentisse melhor. “Tente agora. Você a vê? ”

Ela fecha os olhos e depois de alguns segundos, quando os abre, não estão mais azuis, mas sim o lindo verde-mar que sempre foram.

“Não, ela sumiu. ” Sorrio.

“Pode dormir agora, princesa. Aquela bruxa não vai perturbá-la enquanto eu estiver aqui. ” Ela aperta um pouco meu tórax e sinto sua respiração tornar-se lenta, procurando um ritmo para que dormisse.

“Você seria um ótimo namorado, Kye. ” Sussurra sonolenta. Sorrio.

“Eu não posso ser seu namorado. ” Respondo, acariciando seu cabelo.

“Porquê? ” Suspiro.

“Uma vez, um nobre e corajoso cavaleiro jurou proteger uma princesa. Jurou cuidar dela como se fosse uma parte de si e amá-la incondicionalmente, pois ela foi a flor que desabrochou para ele em meio às cinzas, mas o cavaleiro, mesmo amando-a e a princesa o amando também, sabia que não poderia tê-la como sua. ” Conto. Maya se aconchega em meu corpo.

“Por que o cavaleiro não podia ter a princesa? ” Pergunta sonolenta.

“Porque, o cavaleiro sabia que a princesa pertencia a outro, a um rei, que era unido a ela por uma promessa tão forte, que nem as fronteiras das eras podiam romper. Era o dever do cavaleiro garantir que ela fosse feliz, mesmo que isso significasse cedê-la a esse rei. ” O peito de Maya treme quando ela ri, cansada.

“O cavaleiro deveria ter uma chance com a princesa, não acha? ” Brinca. Beijo sua cabeça.

“Acho, mas o cavaleiro não ficou triste por não ter essa chance. Sabe porquê? ” Ela nega. “Porquê, o cavaleiro sabia que poderia sempre estar com a princesa e ama-la, sabendo que ela também o amaria independente de ele ser ou não o predestinado a tê-la, pois o amor dos dois era algo puro e eterno. ”

Maya ri, e posso sentir que sua respiração se regulava. Antes de cair no completo sono, ela balbucia.

“Espero que o rei ame a princesa tanto quanto o cavaleiro. ” Sorrio e encaro o beliche de cima.

“É, eu também. ” Sinto sua respiração através de minha camisa quando ela dorme e faço uma oração silenciosa para Hypnos, para que ela não tenha pesadelos com aquela mulher, não essa noite.

Mesmo com a porta fechada, uma quente brisa entra no chalé e observo quando uma mulher se materializava na cadeira em que eu estava sentado minutos antes. Hestia estava séria, mas se permitiu sorrir quando viu que Maya finalmente descansava.

“Como ela está? ” Pergunta.

“Esgotada. ” Respondo em um sussurro, com medo de acorda-la. Maya podia ter um sono pesado, mas duvidava que fosse ter um sono tranquilo como aquele novamente. Encaro os olhos castanhos da deusa. “Há alguma chance, qualquer uma, de que Matthew esteja errado e Maya não irá até eles? ”

Ela olha para Maya, que dormia como uma criança, fecha os olhos e recita:

Ao saber do real perigo, uma decisão terás que tomar; De prontidão ao inimigo, tua alma irás entregar; O filho do submundo a guiará nessa jornada; Ascenderás ou cairás ao reaver a memória roubada; Perante teu pior pesadelo, ajoelharas em submissão; Enquanto a tempestade direciona as chamas para libertar-te de tua prisão. ” Ela me encara. “De prontidão ao inimigo tua alma irás entregar. ” Enfatiza. “Lamento jovem, mas a profecia diz claramente que ela irá se entregar a eles. ”

“Mas isso...vai causar a destruição de todos! Ela não pode simplesmente se entregar! ” A deusa suspira.

“Talvez ela não vá simplesmente se entregar. O garoto disse sete dias. É certo que de uma maneira ou de outra, Lorena irá tê-la em sua posse, mas talvez você possa usar esses sete dias para impedir um desastre maior. ”

“Não vou deixar que ela se entregue àquela desgraçada! ”

“Muitos tentaram impedir profecias antes, Kyetrus, e todos falharam. Acha que você vai conseguir? Que dessa vez vai ser diferente? Ouça meu conselho: não tente mudar o que já está escrito. Use esse tempo para uma coisa que vá realmente ajudá-los. ” E sem aviso prévio, ela desaparece em uma nuvem com cheiro de chocolate quente. Minha vontade naquele momento foi a de socar a parede até que só restassem escombros, mas me contive, Maya ainda dormia.

Ouço passos do lado de fora do chalé e inspiro fundo. A última coisa que eu queria agora era mais alguém perturbando a paz, mas é claro, eu não tenho essa sorte. Alguém bate à porta e ela se entreabre devagar, deixando que um tosto familiar espiasse dentro da construção.

“Eu...hum...estou atrapalhando alguma coisa? ” Pietro pergunta. Eu ia pedir que ele fosse embora e deixasse Maya descansar um pouco, mas estranhamente, a princesa pareceu reagir ao som da voz do garoto, mexendo as orelhas procurando “captar” o som da voz dele. Sorrio levemente.

“Pode entrar, mas faça silêncio. ” Ele acena e entra no chalé, fechando a porta atrás de si e vindo até nós sem fazer um barulho sequer ao andar. Estranho, pois até o mais cuidadoso fazia barulho ao andar e ele não fazia nenhum ruído, como se seus pés mal tocassem o chão. Ele se senta na cadeira, em frente à cama e começa a esfregar um colar de prata que jurava que não estava com ele vinte minutos atrás, assim como a espada que trazia agora presa ao cinto. Parecia um pouco pálido e suas mãos tremiam. “O que foi cara? Parece até que viu um fantasma. ”

“Quase isso, mas não foi por isso que vim até aqui. ” Ele parecia realmente nervoso. “Depois que eu o ajudei a traze-la aqui e fui ao bosque para pensar, eu encontrei minha mãe. ”

O encaro espantado.

“Seu parente divino? ” Ele acena, ainda esfregando o pingente. A julgar pelo seu nervosismo, não foi um encontro muito bom.

“Macaria, a deusa da boa morte. Ela me deu alguns presentes como o colar e a espada, mas isso não vem ao caso agora. Ela me deu alguns avisos um tanto quanto preocupantes sobre Maya, e achei que deveria saber. ”

Ele olha para Maya como se ela pudesse explodir a qualquer segundo.

“Estou ouvindo. ” Digo sério. Ele suspira.

“Ela disse que Maya é descendente de uma linhagem de magos e feiticeiros muito antiga que tem raízes no Egito, o que faz sentido já que a mãe dela é uma bruxa e tal… Disse que a habilidade dos membros de sua família se manifestava de uma forma diferente em cada um, e foi quando eu falei sobre os olhos de Maya mudarem de cor e ela respondeu que a magia de Maya era elementar. ” Encaro o garoto com uma certa surpresa.

“Mas isso é uma boa notícia. Se Maya descobrir como usar esse poder a tempo, teríamos mais uma arma contra essa bruxa! Por que isso seria preocupante? ” Ele passou a mão nos cabelos escuros.

“Essa não é exatamente a parte preocupante, só estava no meio dos avisos. ” Ele me encara, seus olhos azuis brilhando em um misto de preocupação e medo. “A parte que me preocupa é: Esse poder da Herdeira do Olimpo, mesmo que ela ainda não o tenha reclamado, pode ser perigoso se ela perder o controle e se isso acontecer, bem...Macaria, minha mãe, falou que precisaríamos de toda a ajuda que pudéssemos conseguir e ainda assim, há uma possibilidade de que não possamos controlar a situação. ”

“Em todos esses anos que estive com Maya, ” começo sério “nunca a vi perder o controle, nenhuma vez sequer, a não ser…”

“A não ser…? ” Pergunta curioso. Baixo os olhos para Maya que permanecia em um sono profundo, desligada desse mundo. Suspiro.

“Pensando bem, há três coisas que eu sei que fazem Maya entrar em pânico, mas ainda assim a reação dela é diferente para cada uma delas. A primeira é a mãe e você viu como ela ficou. ”

“Ela ficou pálida, prendeu a respiração, começou a tremer e seu coração parou por alguns segundos, depois disparou. ” Aceno. Ele pensa um pouco. “E os outros dois? ”

“Ela tem medo de lugares fechados e muito escuros, mas não reage dessa forma. Ela é um pouco mais...agressiva” Pietro engole em seco.

“Quão agressiva? ”

“Uma vez, pouco depois de ela descobrir que podia se transformar em animais, estávamos fugindo de seis ciclopes no Brooklyn e tivemos que entrar em um prédio abandonado para despista-los. ” Senti um arrepio só de lembrar do evento. “Descemos até o porão da casa e entramos em um velho armário de vassouras, esperando que o meu cheiro e o da madeira podre do resto da casa disfarçasse o dela. Eu tinha visto que Maya estava tensa quando eu fechei a porta, mas ela entendia que era isso ou virar comida de monstro, então fechou os olhos tentando controlar o medo e pediu que eu a avisasse quando já fosse seguro sair. Tivemos a vantagem de que os ciclopes não conseguiram achar a entrada do porão e eventualmente foram embora, mas quando tentei abrir a porta…”

“Ela não abria? ” Nego com a cabeça.

“Eu tentei forçar, mas estava muito apertado e a fechadura estava emperrada, e então, a bomba estourou. Ela arfava como se estivesse com dificuldade para respirar, pôs as mãos na cabeça e chorando, começou a murmurar coisas como: de novo não, de novo não e depois, começou a empurrar a porta incansavelmente, tentando abri-la. Poderia ter ficado por isso mesmo, mas seu corpo pareceu mudar, como se ela estivesse se transformando em um urso ou algo do tipo e a medida que o fazia, seus golpes se tornavam mais violentos, arrancando lascas da porta e fazendo poeira cair sobre nós.  Me tira daqui! Ela gritava, chorando, e nada do que eu tentava surtia qualquer efeito para acalmá-la. ” Paro um pouco para respirar. “Eventualmente, a porta cedeu, reduzida a nada mais que uma pilha de lascas de madeira. Quando saímos, Maya caiu sentada no chão, cansada, e quando tentei me aproximar, ela fugiu de mim, como o diabo foge da cruz. Se encolheu em um canto e chorou por horas à fio e toda vez que eu tentava me aproximar, ela invocava uma lança e apontava para mim gritando: Não se aproxime, não vou voltar para lá, então eu esperei que o cansaço a vencesse e ela caísse no sono, para que pudesse tira-la dali. ”

Pietro parara de esfregar o colar, e agora olhava com um misto de solidariedade e compreensão para Maya, como se percebesse agora o quão humana ela era.

“Essa foi a única vez que ela perdeu o controle? ” Nego.

“Não, ela não chegou a perder o controle. Olhando agora, percebo que ela esteve à um passo de isso acontecer e só não aconteceu pois conseguiu sair a tempo, mas pela forma como ela atacou aquela porta...poderia ter levado toda a casa a baixo, mas mesmo assim, ser enterrado vivo seria o menor dos meus problemas. ”

Pietro acena devagar.

“Então...minha mãe estava certa. ”

“Receio que sim. Mas podemos evitar que isso aconteça, não precisa se preocupar. ” Ele baixa os olhos para a espada. “Há mais alguma coisa, não é? ”

“Não sei se é certo, mas segundo minha mãe, Uriah vai fazer alguma coisa. ” Bufo.

“Ele não vai machucar Maya. Vou mandá-lo para um hospital antes disso acontecer. ” Ele suspira cansado.

“Espero que possamos evitar isso, Kye. A situação está feia para ela. ” Diz com relação a Maya. Uma ideia surge na minha cabeça. Talvez possamos evitar isso! Não tente mudar o que já está escrito. Use esse tempo para uma coisa que vá realmente ajuda-los. Sorrio e lentamente, me levanto da cama, tomando cuidado para não acordar Maya. Essa provavelmente seria sua única boa noite de sono em muitos dias. “Espera! Vai deixa-la aqui sozinha? ”

“Não, eu vou deixa-la aqui com você. ” Respondo já me encaminhando para a porta.

“Mas...o que eu faço se acontecer alguma coisa? ” Ele fala de dentro do chalé, mas eu já estava do lado de fora. Uma coisa que eu aprendi desde cedo foi a confiar na minha intuição e agora, ela me dizia que a pessoa mais confiável com quem eu podia contar era Pietro.

Antes de seguir meu caminho, olho através da janela, apenas para ter certeza de que eu fazia a coisa certa. Pietro encarou ainda por alguns segundos a porta, mas se virou quando ouviu Maya resmungar na cama. Enquanto observava, ele deu a volta no beliche, se sentou ao lado dela e hesitante, acariciou seus cabelos, como se tivesse medo de machuca-la. Maya, por sua vez, respondeu ao gesto do garoto e se virou em sua direção, aconchegando sua cabeça no colo do rapaz e o pegando de surpresa. Mesmo com o lugar estando iluminado apenas por uma vela, vi quando ele corou, mas depois sorriu e, um pouco mais confiante, afagou os cabelos dela enquanto dormia. Sorrio para mim mesmo.

“E o cavaleiro soube que sua promessa finalmente estava cumprida. ” Sussurro e ando pela escura noite no acampamento.

 

Luana

 

“Não...não, não, não, não! ” Repito para Kye. “Isso nunca vai dar certo! ”

A ideia do ruivo era insana! Mais até que a minha e por mais que estivesse claro, naquela madrugada e naquela roda que ele reunira para nos explicar sua ideia, parecia que eu era a única que via isso. Dos outros na roda, Jonas parecia ser o único em dúvida, mas Percy, Rachel e Nico estavam considerando a ideia.

“Não posso chamar Annabeth e Leo pois Annie está em Boston e Leo está envolvido em outra missão com Apolo, mas conheço quem pode ajudar. ” Percy diz pensativo.

“Sim...eles estão fora de ação há algum tempo mas tenho certeza que adorariam participar de uma ideia dessas. ” Concorda Rachel.

“Sim, mas levaria tempo para eles chegarem de São Francisco. ” Lembra Nico.

“Você poderia fazer uma viagem nas sombras. ” Sugere Rachel. O filho de Hades a encara espantado.

“Eu mal consigo transportar a mim mesmo! Trazer cinco de uma distância dessas me faria dormir por uma semana! ”

“Hazel pode te ajudar. ” Sugere Percy.

“EI! ” Jonas exclama, chamando a atenção de todos. Ele suspira. “Mesmo que tenhamos cinco à mais, são onze semideuses contra quarenta lobisomens! ”

“Exatamente! Ninguém mais no acampamento ficaria do nosso lado depois do que aconteceu, e ainda teríamos que fazer isso sem a Maya! ” Ao menos o brasileiro estava do meu lado. Kye ri.

“Eu nunca disse que faríamos isso sem a Maya. ”

“Como assim? ”

“O problema de Maya é Lorena e apenas Lorena. Se ela não estiver lá, o caminho estará livre para agirmos com sua ajuda e ainda assim, nós teríamos o elemento surpresa. Eles não saberão o que os atingiu, teríamos um problema à menos e consequentemente, um motivo à menos para ela se entregar. ” Explica.

“E um ótimo plano, Kye, exceto por um mínimo detalhe: NÓS ESTARÍAMOS LEVANDO ELA EXATAMENTE PARA O LUGAR QUE QUERMOS EVITAR QUE ELA VÁ! ” Grito. “A possibilidade de acontecer alguma coisa e esse plano dar errado é muito grande! ”

“Do mesmo jeito que o seu de lutar contra a bruxa? ” Ele me pegou de surpresa. “Vamos lá, Luana! Seu plano sequer tinha uma chance de sucesso, ao menos com esse, o acampamento ficaria do nosso lado de novo. ”

Cruzo os braços. Jonas fica de frente para mim.

“Lua, deixe essa birra de lado, por favor. Não percebe a gravidade da situação? Você é a que mais conhece a casa e os lobos, precisamos de você. ” Bufo, vencida.

“Certo, eu ajudo. ” Kye suspira aliviado.

“Obrigado, Lua. ” Agradece. “Percy, você pode chamar seus amigos? ”

“Vou mandar uma mensagem de íris assim que amanhecer. ”

“Obrigado, pessoal. ” Parecia que alguém havia tirado um peso enorme de seus ombros. “Podem deixar que eu falo com a Maya e o Pietro, eles vão entender. ”

“Se precisar, posso ajudar a falar com Maya. ” Rachel se oferece. Kye acena com a cabeça.

“Obrigada Rachel. Bom, quando eu falar com ela, aviso a vocês. ” Todos acenam com a cabeça e começam a se retirar, deixando a mim e Jonas sozinhos. Antes de sair, Kye vem até mim. “Obrigado mesmo, Luana. ”

“Tudo bem, melhor do que ficar sentada sem fazer nada. ” Ele acena e sai, seus passos fazendo barulho na areia fina enquanto subia a duna. Espero até que não pudesse mais o ouvir se afastando, descruzo os braços e suspiro. “Não sei, Jonas...estou com um mau pressentimento. ”

Ele prende uma mecha de meu cabelo atrás da orelha, me segura pela cintura e me puxa mais para perto de si.

“Não fique assim, mulata. Tenho certeza de que vai dar tudo certo e isso vai acabar logo. ” Diz de uma forma carinhosa. Sorrio para o brasileiro e passo meus braços por trás de seu pescoço, passando por cima de seu cabelo castanho. Seus olhos violeta brilhando com o sol que nascia. Nossas testas se unem em um carinho conjunto. “Vai estar aqui para mim quando acabar? ”

“ Sempre. ” Respondo. Ele sorri exibindo dentes incrivelmente brancos com caninos um pouco mais pontudos que o normal.

Sempre é uma promessa muito séria. Acha que vai conseguir mantê-la? ” Beijo seu queixo, subindo lentamente para seus lábios e mordendo o inferior carinhosamente. Ele rosna de leve e me aperta um pouco mais.  Olho em seus olhos que agora brilhavam.

“Sempre, meu lobo. ” Ele sorri de forma maliciosa, me dá um selinho e quando nossos lábios se separam, repete:

“Sempre, minha loba. ” Sorrimos um para o outro. Uma promessa e, durante todo aquele nascer do sol na praia, tendo apenas as últimas estrelas da noite, as primeiras nuvens do dia e o som do mar se quebrando na praia, nos beijamos, até parecer que éramos apenas nós dois e todo o resto de dissolvia em um nada, tornando aquele momento único. Eu era dele e ele era meu. Uma promessa, selada agora por aquele momento. Sempre.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

se a cena do beijo n ficou boa, gnt eu sinto mt mesmo, nunca escrevi uma cena dessas e é minha primeira vez. Dicas sobre como posso melhorar?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Herdeira do Olimpo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.