A Herdeira do Olimpo escrita por Nogitsune Walker


Capítulo 17
Só um tiro


Notas iniciais do capítulo

Sim, essa foi a unica vez que eu estava procrastinando com esse cap (deem uma folga, meu aniversário foi dia 30) e eu estava com um puta bloqueio criativo e nao queria entregar qualquer coisa. Entao, com vocês....o cap 17!



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Helkon

Ainda não podia acreditar em como Luana havia traído a minha confiança daquele jeito. Ela, logo a pessoa em que eu mais confiava, me apunhalando assim pelas costas…

“Alfa, o senhor está bem? ” Átila me pergunta. Levanto o olhar, ele ainda estava muito machucado depois da luta com Luana e estava custando se recuperar. Mesmo Luana tendo pegado leve com o garoto, os vários hematomas eram visíveis em sua pele clara.

“Estou bem, Átila. Só preciso de um segundo, vá ver como os outros estão que eu já vou descer. ”

“Sim, senhor. ” Diz e sai mancando da minha sala. Recosto a cabeça na cadeira, o lobo a quem Luana tinha se aliado era forte, quase no mesmo nível dela, mas aquele ruivo...ele era perigoso...muito perigoso. Ele ainda parecia estar se segurando quando lutou contra mim, e a forma como me desafiou estava me dando nos nervos!

Com raiva, esmurro a mesa de madeira e algumas lascas voam. Derrotado duas vezes na mesma porcaria de noite! O que eu estava fazendo? Esse não era eu. Essa bruxa estava me enlouquecendo, me mudando. Não posso deixar isso acontecer, já passou dos limites. Ouço o som de luta no andar de baixo e algo parecido com vidro se quebrando. Respiro fundo, “vamos acabar logo com isso. ”

Saio do quarto e desço as escadas devagar. Várias das crianças botavam a cabeça para fora num ato de curiosidade com o som que vinha do primeiro andar.

“Vão para os quartos, crianças. Já vou resolver isso. ” Digo passando a mão na cabeça de um garotinho. Eles acenam e entram nos quartos. Suspiro e desço as escadas e assim que ponho o pé no piso inferior, quase sou atingido por um vaso que se quebrou na parede à poucos centímetros de minha cabeça. A sala estava um caos, os semideuses que havíamos conseguido capturar estavam praticamente impossíveis de controlar, lutavam a todo custo tentando se libertar do agarre de meus Betas. O mais feroz era um meio loiro de olhos cinza que lutava no mano a mano contra Lucas e Dexter que tentavam imobiliza-lo sem sucesso. Uma perna de uma cadeira passou voando e eu tive que me abaixar para que não me acertasse.

“O QUE DIABOS ESTÁ ACONTECENDO AQUI? ” Dois dos semideuses se assustam com minha chegada repentina e nesse momento de distração meus betas os seguram. Lucas consegue agarrar os pulsos do loiro, mas este começa a pular e tentar acerta-lo com os pés e acaba por acertar Dexter na barriga que cambaleia para trás atordoado. Bufo. “Só pode estar de brincadeira comigo. ”

Vou até Lucas que lutava para manter o semideus sob controle.

“Me solta seu saco imundo de pelos! ” O semideus gritava enquanto se debatia. Poderia ter terminado isso logo se todos se transformassem, mas poderia acabar por ferir os semideuses gravemente. Lucas quando viu que eu me aproximava dele, fechou a cara e empurrou o meio sangue em minha direção. Dava para ver que estava com raiva de mim pelo que acontecera com Luana e que me culpava, mas assim como eu, colocava o bem da alcateia acima do próprio. Sinto algo se aproximando rapidamente do meu rosto e ergo a mão, parando no ar o soco que o semideus dirigia a mim. Ele arfava e suava com o esforço, garoto corajoso, tenho que admitir. Encaro seus olhos cinza tempestade e ele retribui com puro ódio. Aperto seu punho e deixo que minhas garras perfurem, fazendo o sangue escorrer.

Ele contrai a cara de dor e tenta acertar um chute no meu lado direito, mas amparo seu golpe e acerto um soco em seu estômago tão forte que o faz voar de encontro à parede. Ouve-se um crack agudo com o impacto causado e o semideus cai de bruços no chão, cuspindo sangue.

Provo seu sangue, ele é diferente dos outros. Ele é mais experiente, mais forte, viveu muitas coisas. Suas lembranças vêm a mim enquanto o sangue quente molhava minha boca: um orfanato, um quarto cheio de livros, vários monstros o atacavam e ele aprendera a se defender sozinho bem cedo, pois ninguém acreditava no que via e por fim...em uma floresta, uma coruja prateada sobre sua cabeça. Só me interessava até aí.

“Filho de Atena, 17 anos. Bem forte, experiente, mas não é ele. ” Olho para trás, os meus já haviam verificado os outros dois semideuses e negavam com a cabeça. Suspiro, a busca continuava. Me viro para voltar ao meu escritório mas ouço alguém gemer atrás de mim.

“Não vai encontra-lo, não agora. O acampamento não vai mais permitir que continuem com isso. ” O filho de Atena diz enquanto se sentava e recostava na parede. Viro-me para ele.

“Já derrotei seus amigos antes, um semideus à mais não vai fazer diferença. ” Ele ri.

“Olhe em volta, o orgulho de sua alcateia foi ferido há muito tempo, estão todos no limite. Acha que vai conseguir alguma coisa com uma alcateia desacreditada? ”

Encaro seus olhos, ele tinha plena certeza do que dizia e no fundo, bem no fundo, sabia que ele tinha razão. Estávamos a mais de um mês nisso, sem sucesso, todos estavam desgastados ao máximo e ninguém mais tinha alguma esperança de que conseguiríamos, então...porquê eu ainda continuava com isso? Estava sendo infantil, estúpido, como eu me deixei chegar a esse ponto?

“Então finalmente percebeu, pulguento. ” Uma voz feminina fiz. Poderia reconhecer aquela maldita voz em qualquer lugar, aquela desgraçada… “Sabe, o garoto tem razão, não vai conseguir capturar mais ninguém naquela espelunca de lugar. ”

“A madame se sentiu impaciente? ” Digo entredentes. “Talvez queira fazer o nosso trabalho sujo. ”

“Eu os observei, Helkon. Não conseguirão encontrar quem eu quero, o acampamento está com minha filha. ” Diz calma. Me viro para encara-la, ela estava com um sorriso maldoso e era como se olhasse no fundo da minha alma.

“Sua filha?!” Eu e o semideus perguntamos ao mesmo tempo, mas ele continua. “Maya é sua filha?!”

A bruxa pareceu adquirir um certo interesse especial por aquele semideus.

“Então você a conhece. Sim, ela é a minha filha. Sabe, não foi fácil conquistar o pai dela, os deuses são muito resistentes quando o assunto é feitiço e poções, mas no fim consegui, só não saiu exatamente como eu planejava. ” Ela começa a andar bem lentamente na direção do semideus. “Mas isso não vem ao caso agora, não é? Afinal, ainda precisam encontrar um semideus para mim. ”

Contraio a mandíbula.

“Como quer que encontremos se você mesmo disse que não teríamos chances? ” Ela para na frente do semideus e faz um sinal. Cordas brotam das paredes e se enroscam nas mãos, pés, tronco e pescoço, erguendo-o do chão deixando seus braços abertos e o tronco vulnerável.

“Não, vocês são uns fracotes ridículos, não encontrariam esse semideus nem se estivesse bem na sua frente, mas não vão fazer isso sozinhos. ” Diz desembainhando um punhal e murmurando um encantamento que fez a lâmina emitir um brilho azulado estranho. “Maya tem poucas fraquezas, o que é um problema para vocês, mas se tem algo que ela não consegue fazer é lutar contra alguém que ela gosta. ”

“Não vou lutar com Maya. Pode fazer o que quiser comigo, não moverei um dedo para ajudá-la. ” O semideus contraria. A bruxa gargalha.

“Não Chris, eu sei que não. O que seus amigos diriam se o grande Chris se voltasse contra todos e ajudasse a terrível bruxa que capturou seus amigos, ninguém acreditaria. Mas não será você controlando seu corpo, não é mesmo? ” E, de uma vez, ela enfia o punhal no tórax do semideus. Sangue jorra da ferida, encharcando o chão e os olhos do semideus brilham completamente brancos, como dois faróis.  “Diga olá para Matthew, Chris. Ele vai pegar o seu corpo emprestado por algum tempo. ”

A bruxa tira o punhal do abdome de Chris e a ferida instantaneamente começa a se fechar, ela estala os dedos e as cordas o soltam, fazendo Chris cair de pé e completamente ereto.

“Este, senhores, é o meu filho mais novo, Matthew. Ele vai ajudar vocês a encontrar o Heres Olympus. ” O corpo de Chris se vira em minha direção, mas definitivamente não era ele. Seus olhos, não possuía mais íris nem pupila, era completamente opaco e brilhava num tom azul. “Claro, Chris não está mais aí, está morto. Matthew está usando o corpo dele como uma casca e, assim que ele sair, o corpo cairá sem vida. ”

“Ele é seu fantoche. ” Digo boquiaberto.

“Não. Matthew foi injustiçado quando nasceu. Como uma boa mãe, quero apenas que ele tenha o que era dele por direito em seu nascimento. ” Ela se aproxima e toca em seu ombro. “Essa forma, não é sequer a metade de todo o seu poder. Eu já tentei abrigar todo o seu espírito em um corpo, mas nenhum suporta seu poder e todos se desintegram em pouco tempo, por isso que preciso do Heres Olympus, só ele pode suportar o espírito de Matthew. ”

Um vento forte começa a soprar, a bruxa murmura outro encantamento e solta o punhal, deixando que o vento a conduzisse.

“Agora, me traga esse semideus, e saiba: Matthew não será tão delicado. ” E desaparece em uma lavareda. Agora...olhando para aquele fantoche sério, pergunto-me se tudo aquilo realmente valia a pena.

 

Maya

 

Poderia ter ficado embaixo da ducha por mais umas boas horas, deixando que a água quente relaxasse meus músculos tensos, mas minha barriga começou a roncar. Termino o banho e visto a roupa, que fica um pouco grande, mas não me importo com isso, sempre preferi roupas um pouco mais folgadas. Sinto como se tivesse lavado minha alma, me sentia tão leve que poderia flutuar bem ali, no banheiro cheio de vapor. Ouço uma conversa do lado de fora, no chalé e saio do banheiro enxugando o cabelo. Kye estava sentado na beirada de um boliche e em pé, recostados na parede, estavam Percy, Luana, Jonas (abraçando Luana por trás), Rachel, Nico, uma garota loira que eu não conhecia e gêmeos exatamente idênticos. Kye contava uma história para eles e todos pareciam estar se segurando para não rolar no chão de tanto rir.

“...e aí eu disse: sem chances que uma garota do seu tamanho vai aguentar comer isso tudo, e ela disse: você desafia minha capacidade, e sabem o que aconteceu depois? ” Todos negam. “Ela devorou tudo em menos de cinco minutos! E eu tive que dar aquele maldito moletom para ela. ”

Todos começaram a rir como hienas. Dou um meio sorriso e avanço até onde todos estavam reunidos.

“O que eu perdi? ” Pergunto encostando na grade do beliche. Kye abre um imenso sorriso quando me vê.

“Oi princesa! Estava contando sobre aquela vez que você me venceu naquele concurso de comer cachorro quente. ”

“Sério que você conseguiu comer quarenta cachorros quentes em cinco minutos? ” A garota loira pergunta, o rosto vermelho de tanto rir.

“Foi. Até hoje ele não acredita que eu comi mais rápido que ele e o moletom ainda está comigo. ” Ela parecia impressionada. “A propósito, acho que ainda não te conheço. ”

“Não, não conhece. Eu sou Gina Torres, filha te Apolo e esses dois cabeças de vento atrás de mim são Yan e Alex Valentine, filhos de Eros. ” Cumprimento os três. “Passamos aqui para lembrar Percy da captura à bandeira dessa semana e acabamos ficando para ouvir a história que seu amigo estava contando. ”

“O que você acha Alex? Ela ganha de nós? ” O gêmeo da esquerda pergunta.

“Não sei Yan, mas adoraríamos testar isso pessoalmente. O que acha Maya? Vamos aproveitar a oportunidade? ” O gêmeo da direita pergunta.

“Está marcado! ” Respondo. Os gêmeos comemoram com um hi-five e Gina revira os olhos como se pensasse: como eu aturo esses idiotas? Dou uma risada de leve e me viro para Kye.

“Onde você estava? Você sumiu do nada. ” Ele troca olhares com Luana e Jonas e dão um sorriso de cumplicidade. “Okay, eu vi isso, o que vocês estão aprontando? ”

“Nada! ” Os três dizem em uníssono. Kye limpa a garganta e segura o riso. “Nós estávamos na casa do seu pai. ”

“Do nosso pai? ” Pergunta Percy.

“Não, na casa do pai dela. ” Enfatiza Kye. Percy me olha com a cara confusa.

“Pai adotivo. ” Explico.

“Aaaaaaah. ” Ele diz. Olho para Kye.

“O que vocês três estavam fazendo na casa do meu pai? ” Pergunto. Jonas e Luana se entreolham e abrem um sorriso.

“Bem, ele me ligou e como Jonas e Luana estavam comigo, fomos nós três juntos. ” Explica Kye.

“Ele sabe? ”

“Não. ”

“Sobre nada disso? ”

“Nadinha. E ele pediu para eu te falar que está com saudades, que você deveria ligar mais vezes e que…” ele se levanta do beliche e vem até mim, inclinando-se e cochichando em meu ouvido. “...ele tem uma surpresa para você, para o seu aniversário. ”

Ele se afasta e vejo como seus olhos brilhavam de ansiedade. Não pude evitar de sorrir, Jonathan sempre me surpreendia, não conseguia evitar a empolgação.

“O que é? ” Pergunto curiosa.

“Se eu contar não vai ser surpresa. ” Faço uma cara de cachorro pidão. “Não faça essa cara para mim, princesa, sabe que eu não resisto. ”

“Então vai me contar? ”

“Não. ” Diz com o sorriso mais cínico do mundo. Todos no chalé riem e eu fecho a cara para ele. Kye ignora minha expressão. “E então, Vamos? Aposto que está todo mundo com o apetite lá em cima depois dessa história. ”

Todos começam a sair do chalé e quando eu já ia acompanhar a fila, uma mão me puxa para um canto. Era Rachel, ela parecia realmente preocupada.

“Maya, como você está com tudo isso? ” Sussurra para mim. Olho enquanto os outros saíam e ficamos só eu e ela chalé. Suspiro.

“Não sei se estou preparada para enfrentar tudo isso. Quer dizer, claro que vou ajudar vocês a convencerem a alcateia de Luana, mas...enfrentar minha mãe, são outros panos. ”

“Se você nos disser porquê tem tanto medo dela, poderíamos te ajudar a superar. Kye disse que ela fez coisas horríveis, te atormentou das piores maneiras possíveis, mas precisamos de mais para que possamos te ajudar a superar. ”

“Rachel, eu sinto muito, mais isso não é algo que eu gostaria de compartilhar, não agora. ” Ela abre a boca para tentar argumentar, mas eu a corto. “Por favor, não insista. Não estou preparada para contar isso, a ninguém. Se puder respeitar isso, eu agradeceria muito. ”

Ela fecha a boca e me olha, derrotada.

“Está bem, vou respeitar isso. ”

“Obrigada. ” Digo e juntas saímos do chalé. Lá fora, ouvimos o som da trombeta de concha de Quíron anunciando o café e os campistas de cada chalé subindo em fila para o refeitório. Gina e os Gêmeos se despedem e vão se juntar aos seus respectivos chalés, nico acompanha o de Apolo e ficamos eu, Percy, Kye e Rachel na frente do chalé de Poseidon.

“E aí, está com fome? ” Pergunta Percy enquanto acompanhávamos a multidão. Sorrio.

“Acha que topei o desafio dos gêmeos à toa? ” Kye ri.

“Isso vai ser interessante. ” Diz mexendo os dedos de forma maléfica. Dou um saquinho em seu braço.

“Ah, qual é. Sei que Maya come bastante, não engorda só de raiva, mas os gêmeos parecem que têm um buraco negro no estômago! Ela não vai conseguir ganhar deles. ” Kye e eu nos entreolhamos e um pensamento mútuo surgiu: Sim, ela estava me desafiando. Limpo a garganta e encaro Rachel com meu olhar mais determinado.

“Que os jogos comecem! ”

(···)

“Ai meu Zeus, só pode estar de brincadeira! ” Exclama Rachel boquiaberta. Kye, que estava de pé na ponta da mesa e de braços cruzados, ri.

“Não, ela ainda aguenta mais. ” E enquanto os dois trocavam essas míseras frases, toda uma multidão de semideuses curiosos contava em voz alta como uma torcida à cada panqueca doce que eu colocava para dentro.

“Quarenta e um…quarenta e dois…quarenta e três…” os gêmeos sentados à minha frente mal aguentavam ver o café que já enjoavam, mas eu só pararia quando um deles desistisse. A torcida continua. “Quarenta e sete…quarenta e oito…quarenta e nove…”

“Yan, não aguento mais. Acho que vou…” e antes que Alex concluísse a frase, Yan vomitou em suas calças. Assim que o primeiro vomitou, parei de comer e ergui as mãos em vitória.

“O que foi que eu disse? Ninguém ganha de mim nisso!!” E os semideuses gritaram vivas para mim, empolgados com essa agitação de manhã. Os únicos que haviam se recusado a se juntar à nossa brincadeira foi o chalé de Ares, que parecia aborrecido com o que acontecera entre mim e Uriah.

Depois de quase cinquenta panquecas, sento no banco na mesa de Poseidon e o resto dos semideuses volta para suas respectivas mesas, rindo e conversando.

“Ainda não acredito nisso...garota para onde vai tanta comida? ” Percy pergunta quase tão pasmo quanto Rachel. Dou de ombros.

“Um mágico nunca revela seus segredos. ”

“Acho que nem eu comia desse jeito quando era só um grifo. Às vezes você me assusta, mana. ” Kye diz sentando-se ao meu lado no banco e me abraçando pelo ombro.

“Ah é, eu estou com isso na cabeça desde ontem. ” Rachel se vira em nossa direção. “Como vocês dois se conheceram? ”

“Também gostaria de saber, e principalmente como um grifo pôde se transformar em humano. ” Percy diz também se animando.

“Eu me lembro desse dia como se tivesse sido ontem. ” Diz Kye com o olhar sonhador. “A princesinha aqui devia ter uns onze anos, ela ainda não tinha essas cicatrizes naquela época e era toda emburrada. ”

“Você também estaria se fosse eu naquela época. Eu estava a caminho do navio de Luke naquele ano, foi logo depois disso que consegui essa belezura. ” Digo mostrando o colar com os dedos. Percy franze a testa.

“Eu jurava que você o havia deixado no chalé. ”

“Deixei, mas ele aparece de novo no meu pescoço. ”

“Legal, é igual à minha espada. ”

“Enfim, eu estava em Seattle, me perdi na cidade e entrei numa agencia da Amazon para pedir informação, e aí as mulheres de terninho me atacaram com dardos tranquilizantes. Descobri depois que eram as Amazonas. ”

“Isso nem é coincidência, Amazon e Amazonas. Eu não teria nem suspeitado. ” Disse Jonas enquanto comia um prato cheio de brigadeiro. “Se fosse no Brasil iria entrar um bando de pivete maloqueiro com armas e meter bala em todo mundo lá dentro. ”

Todos na mesa olham confusos para Jonas devido ao termo em português. Ele para de comer o doce e fica com uma cara de “o que? ”. Rio.

“É uma gíria deles, quer dizer um bando de bandidos. ” Explico. Ouve-se um longo “Aaaaaaah” de compreensão e Jonas olha para mim.

“Você sabe português? ”

“Um pouco. ” Ele sorri divertido.

“Legal. Luana não entende nada quando eu falo com ela em português. Aproveito quando quero xingar ela. ”

“Quê?! Que história é essa, Jonas?!” Exclama Luana se levantando de uma vez e cruzando os braços para o moreno. Ele engole em seco.

“Acho que falei demais. Eu vou.…eh...vou dar uma volta. ” Diz se levantado também, mas assim que se pôs de pé, se transformou em um imenso lobo preto e saiu do refeitório correndo como um louco. Luana rosna.

“VOLTA AQUI SEU SACO DE PULGAS! QUANDO EU TE PEGAR, VOU TIRAR SEU COURO E USAR DE TAPETE! ” Diz e se transforma em uma loba branca, correndo atrás dele.

“Então...o que aconteceu depois? ” Pergunta Percy como se nada tivesse acontecido.

“Acordei um tempo depois numa espécie de Jaula, elas achavam que eu poderia ser um soldado inimigo. ”

“O que não era de tudo mentira. ” Diz Kye bagunçando meu cabelo.

“Cala a boca cérebro de passarinho. Então, elas me levaram para ver a líder deles, uma garota chamada Hyla. Elas chegaram a perguntar se eu estava disposta a me juntar a elas, assim não precisariam me matar. ”

“Eu sei como é isso, já estive com elas. Aquelas mulheres me dão arrepios. ” Diz Percy sério.

“Eu recusei, óbvio, tinha prioridades na época, então elas decidiram que iam me dar uma última chance, que se eu vencesse uma delas em uma luta elas me deixariam ir embora, me deram uma espada e me colocaram para lutar contra uma delas, foi quando avistei Kye. Ele era um imenso grifo castanho de cabeça avermelhada e estava sendo levado por correntes para algum lugar abaixo de onde estávamos. Se debatia como um louco, deduzi que não podia ser boa coisa o que elas fariam, então aproveitei a oportunidade. ”

“Foi engraçado. Ela se jogou contra a oponente derrubando-a, saltou pelo círculo que as cercavam e veio correndo em minha direção com a espada. Eu fiquei apavorado pois pensei que iam me executar ali mesmo, mas quando vi a multidão que a seguia entendi o que ia fazer e em vez de tentar puxar as correntes, fui na direção que me puxavam de uma vez. Isso desequilibrou as que me puxavam e deu uma brecha para que Maya se aproximasse. ” Acrescentou Kye entusiasmado.

“Eu usei a espada e cortei ad correntes que o prendiam, montei nas costas dele e ele levantou voo, circulou a sala desviando das flechas que as amazonas atiravam e voou pela escada. Escapamos por muito pouco, as amazonas nos perseguiram por toda a cidade, mas Kye era incansável e só pousou quando teve certeza absoluta de que elas não estavam mais nos seguindo. Passamos muito tempo juntos depois disso, Kye estava comigo sempre que eu estava desacompanhada de Cronos e seus capangas, independente do que eu estava participando. ” Ele me abraça por trás e apoia o queixo em minha cabeça.

“No fundo eu sempre soube que ela era uma boa pessoa, ela não tinha os olhos de um traidor como os outros semideuses que se aliaram a Cronos. Ela tinha uma alma pura, só precisava de alguém que visse isso nela. ”

Sinto meu rosto corar, esse grifo ainda vai me matar de vergonha.

“Tenho certeza que sim. ” Percy diz olhando de forma sonhadora, como se pensasse em alguém distante. “Mas, acho que ainda não chegamos na parte que ele passa a se transformar em humano. ”

Isso me faz voltar à realidade.

“Isso foi pouco tempo depois que meus avós morreram. Os titãs haviam perdido a guerra e eu estava morando na rua. Era isso ou minha mãe, então óbvio que eu escolhi a rua. No dia, um manticore estava me perseguindo, eu estava exausta, ferida e não comia há dias. O manticore me encurralou em um beco, era noite e todas as ruas estavam desertas. Naquele momento eu pensei “Bem, acabou. Não foi uma voa vida, mas aproveitei o que podia. ” Mas, quando o ferrão do monstro estava vindo em minha direção, fechei os olhos e senti algo descendo rápido. Não senti a ferroada e quando abri os olhos, vi Kye, ferido, mas o monstro não estava mais lá. Ele havia matado o monstro, mas teve que levar a ferroada no meu lugar. Eu me desesperei, não sabia o que aconteceria a ele, se ele se desintegraria como os outros monstros, então fiz a primeira coisa que me veio à cabeça: cortei minha mão e deixei que o sangue caísse na ferida. Parece loucura agora, que não funcionaria, mas se eu não tivesse feito aquilo, Kye não estaria aqui hoje. Eu fiquei no lado dele esperando que funcionasse até que caí no sono. ” Paro um pouco para respirar e um sorriso já se formava com o que viria a seguir e pude perceber que Kye também sorria.

“O que aconteceu depois? ” Pergunta Percy enquanto bebia suco de laranja.

“Eu acordei do lado desse ruivo aqui, mas completamente nu. ” Imediatamente, Percy engasgou e cuspiu todo o suco de laranja em um longo esguicho.

“COMO é? ” Pergunta enquanto tossia e limpava a boca toda melada. Ouço algumas risadinhas vindas da mesa de Ares e, quando olho por cima do ombro para ver especificamente quem ria, posso ver Pietro na mesa de Hermes me encarando. Encaro ele de volta e ele sorri tímido, baixando os olhos e voltando a comer seu prato de Waffles.

“Ela deu um pulo quando me viu, mas eu expliquei tudo para ela e aí ficou tudo bem. Arranjei uma roupa e agora eu podia ficar com ela na forma humana também, o que era bem menos estranho do que os mortais acharem que eu era um cachorro gigante que ficava seguindo ela. ”

“É, Kye tem a cicatriz daquela ferroada até hoje, bem no meio do peito. Depois disso, encontrei meu pai adotivo, Jonathan. Ele é incrível, engraçado, carinhoso, fofo e um pouquinho sem juízo, e ele e Kye foram minha família desde aquele dia. Então, há alguns anos eu conheci Rachel e fomos morar juntas já que ambas iríamos estudar na mesma faculdade e a partir daí você já conhece a história. ” Completo sorrindo. Sentia saudades de Jonathan, não a via já há um bom tempo e estava com saudade dele.

Ouço um som de batida vindo da mesa de Ares e logo em seguida a conversa lá fica em um tom mais baixo, quase um cochicho. Sinto um calafrio e fecho os olhos, tentando ouvir o que diziam.

“Maya? O que foi? ” Kye pergunta.

“Shhhhh. Espere. ” Peço silêncio e apuro meus ouvidos. Em poucos segundos, consigo identificar as vozes.

“Peter, você está legal, cara? ” Pergunta Uriah.

“Estou, só estou com um pouco de dor de cabeça. ” Responde Peter.

“É sua perna? Ainda está doendo? ”

“Não, cara. Minha perna está legal, só estou me sentindo um pouco enjoado. Vou melhorar logo. ”

“Está legal, vou confiar. ” E a partir daí eles mudaram te assunto, mas isso ficou martelando na minha cabeça. Alguma coisa estava errada.

“Percy, quando vocês levaram Peter, o filho de Ares para a enfermaria, ele estava com uma ferida na perna, não estava? ” Ele para e pensa um pouco.

“Acho que sim. Estava toda ensanguentada e ele teve que usar muletas até curar tudo. ”

“Que ferida era? ” Eu já estava ficando apreensiva, amanhã seria a lua cheia e talvez ele não aceitasse tão bem…

“Não sei, não cheguei a ver mais…” eu já estava me levantando. “Ei, aonde você vai Maya? ”

“Já volto, tenho que ver uma coisa. ” Digo, passando apressada pelas mesas dos outros chalés e indo para a de Ares. Eles param quase imediatamente de conversar quando veem que eu me aproximava, mas não dou importância. Me a0roximo de Peter, ele com a aparência de alguém que vomitaria a qualquer momento.

“Peter, posso falar com você um minuto? ” Ele me olha um pouco confuso, como se não acreditasse que eu estava ali pedindo para conversar com ele, mas não é ele quem responde. Uriah bate na mesa e se levanta de uma vez.

“Não, você não pode. Não precisamos ouvir nada de uma traidora. ” A atenção de todos se volta para nós e eu me sinto um pouco desconfortável, mas já havia começado...não tinha mais volta.

“Quando eu precisar falar com uma garotinha eu te procuro no jardim de infância, Uriah. ” À mesa de Ares solta umas risadinhas involuntárias mas tenta segurar por causa da cara que o irmão fez.

“Ouça, preciso conversar com você antes de amanhã à noite. Sua perna...não é só uma ferida como qualquer outra, e é importante que você saiba sobre isso para aprender a controlar logo, ou pode acabar ferindo alguém. ”

“Não vou ferir ninguém por causa de um machucado na perna, não é tão sério. ”

“É, não somos igual você que desmaia por qualquer coisa como uma voz do além. ” Acrescenta Uriah, arrancando risadas dos irmãos e de algumas mesas em volta. Pude sentir meu sangue começar a esquentar, aquele cara estava me irritando já. Respira fundo, Maya. Esse idiota não vale seu tempo.

“Peter, isso é sério. Amanhã é lua cheia, você foi mordido por um lobisomem, não percebe o que vai acontecer? Pode colocar todos aqui em risco. ” Sussurro para que só ele ouvisse. Ele arregala os olhos e me olha com uma pontada de desespero. Ele sabia, estava com medo, mas temia que os irmãos o renegassem. Ele hesita, mas acena, um movimento tão rápido que quase ninguém deve ter visto. Suspiro aliviada. “Obrigada. ”

“Qual é, volta lá para a mesa dos perdedores, sua cara feia está me fazendo perder o apetite. ” Intervêm Uriah e dessa vez, não consigo me controlar. Viro para encara-lo de frente.

“Talvez você deva falar mais alto e na língua dos humanos Uriah, não é normal vermos um porco andando por aí e guinchando ordens para os outros. ” A cara dele fica vermelha de raiva. Ele dá a volta na mesa e fica de frente para mim.

“Me chamou de quê? Repete isso para mim. ” Ele já estava com a mão no cabo da adaga e parecia pronto para sacá-la a qualquer momento e começar uma briga ali mesmo. Encaro-o nos olhos, ignorando a visível ameaça dele.

“Porco. Fedido. Nojento e um notável idiota babaca. ” Ele fecha a cara mais ainda, os nós de seus dedos já estavam ficando brancos mas parecia que algo o impedia de começar uma luta. Todo o refeitório nos encarava, em silêncio…

“Maya, não é uma boa ideia...Certo que ele é um babaca, mas não é uma boa hora para começar uma briga com o chalé de Ares. Eles podem tomar isso como um ato de traição. ” Kye me adverte em pensamento. Eu não teria dado ouvidos, queria eu mesma mostrar àquele metido o lugar dele, mas ele tinha razão.

Ouço o som de cascos no chão de pedra do refeitório e uma mão repousa sobre meu ombro.

“Não é bom começar o dia brigando, não é? Voltem para os seus lugares, o café ainda não terminou e logo darei os avisos. ” Quíron diz num tom amigável tentando aliviar a tensão. Uriah resmunga algum palavrão em grego antigo e se senta. “Vamos querida. ”

“Perdi a fome. ” Respondo e saio do refeitório de cara emburrada, ouvindo o sangue zunir nos ouvidos.

“Está tudo bem, princesa? ” Kye pergunta, preocupado.

“Estou, só preciso de um tempo para esfriar a cabeça. ”

“Certo. Se precisar de alguma coisa me fale. ”

“Tudo bem. ”

Não precisei pensar muito para onde ir, a raiva me guiou instantaneamente para o primeiro lugar que eu ia quando criança para pensar, os estábulos. Os Pegasus estavam em sua maioria dormindo, ainda assim havia dois ou três que mastigavam algumas maçãs que foram deixadas lá mais cedo, um deles o Pégaso completamente negro de Percy, Blackjack. Ele relincha animado quando me vê e trota até mim.

“Ei chefa, você me trouxe uma rosquinha? ” Focinhando meu corpo.

“Ei! Calma aí cara, não tenho nada aqui para você! ” Digo, a raiva já se dissipando. Ele relincha.

“Porque nunca trazem donuts? Donuts são maravilhosos! ” Rio.

“Da próxima vez eu trago um donut para você. Mas não me chama mais de chefa, está legal? Soa estranho. ” Respondo acariciando seu focinho.

“Está combinado então. ” Ouço um relincho mais agudo de dentro do estábulo, seguido por alguns passos vacilantes. Um sorriso brota em meu rosto.

“Isso foi um filhote? ” Pergunto já entrando no lugar seguindo o som.

Em um espaço mais à frente, um filhote de Pégaso malhado dava o que suspeitei serem os primeiros passos, enquanto a mãe descansava deitada observando o filhote.

“Sim, Nyméria deu à luz a algumas semanas. O garoto é esperto, vai ser um grande Pégaso um dia.” Blackjack diz com um ar de orgulho. Sorrio e me agacho para ficar no nível dos olhos do filhote, e não devia ter mais que um metro e meio de altura. Estendo a mão para acariciar sua cabeça e ele recua assustado para a mãe e quase tropeça nas próprias patas, as asinhas abrindo e fechando em angústia.

“Tudo bem, garotão. Não vou machucar você. ” Ele me olha de lado e avança devagar, cheirando minha mão, desconfiado. Acaricio de leve seu focinho e ele abana o rabo, gostando do carinho. Em pouco tempo, ele já estava praticamente lambendo meu rosto enquanto eu coçava as manchas castanhas em seu pelo branco. “Você gosta disso, não é? Qual o nome dele, Blackjack? ”

“Brann. ”  É impressão minha ou até os Pegasus estão assistindo Game of Thrones?

“Brann...nome bonito o seu, garoto. ” Ele relincha animado e dá alguns saltos, agitando as asas.

“Wow. Isso é.…incrível! ” Alguém diz atrás de mim. Um gritinho de susto escapa e me viro de uma vez, caindo sentada no chão coberto de feno dos estábulos. Blackjack empina e relincha surpreso, quase pisoteando quem chegara.

“Ai caramba! Desculpa, não queria te assustar, Maya. ” Pietro se desculpa enquanto segurava o riso. O coração estava acelerado com o susto, como eu não o ouvira se aproximar? “Você se machucou? ”

“Como esse cara entrou aqui?!” Ignoro o comentário de Blackjack.

“Não...tudo bem Pietro, você só me pegou de surpresa. Quando você entrou aqui? Mal ouvi se aproximar. ” Pergunto me levantando e sacudindo o feno da calça.

“Há pouco tempo. ” Blackjack começa a focinha-lo também. “Ham...o que ele está fazendo? ”

“Hum...você cheira a donuts. Tem donuts aí? ” Reviro os olhos.

“Ele está procurando donuts. Deixa ele, Blackjack, ele não tem donuts. ” Repreendo Pégaso. Pietro olha de mim para boquiaberto.

“Você fala com cavalos?!” Pergunta espantado.

“Bem...descobri isso ontem também. Parece que é uma coisa de Poseidon, pelo fato de ele ter criado os cavalos e tal…”

“Isso é demais! ” Sinto algo quente passando por minha mão e quando olho para baixo, vejo Brann lambendo minha mão, pedindo mais carinho. Coço a cabeça dele e ele balança o rabo, satisfeito.

“Então...o que veio fazer aqui? ” Pergunto enquanto Pietro estendia a mão para o potrinho, que depois de focinhar um pouco a mão do garoto aceita um cafune. Ele limpa a garganta.

“Eh...bem...queria ver como você estava. Você saiu toda emburrada do refeitório e queria ter certeza de que estava bem. ” Explica.

“Eu estou bem, só precisava de um tempo para esfriar a cabeça, sabe? Com tudo isso acontecendo um tempo para pensar é bom. ” Não pude evitar de sorrir…A preocupação de Pietro era tão fofa, ele mal me conhecia e já agia assim comigo, como se fôssemos amigos há tanto tempo. “Então...como está sendo toda essa coisa de semideus para você? ”

Ele ri.

“Sinceramente? Estou me sentindo como o Luke Skywalker se sentiu quando descobriu que era filho do Darth Vader. E como se minha mãe pudesse aparecer a qualquer momento com uma máscara e uma respiração alta dizendo: Pietro...eu sou sua mãe. ” Diz com um sorriso brincalhão no rosto. Eu tento segurar, mas não consigo e logo caio na gargalhada.

“Esse foi o melhor trocadilho de Star Wars que eu já ouvi. Nem Kye faz piadas tão boas. ” Digo enquanto respirava fundo recuperando o fôlego.

“O pequeno padawan ainda tem muito a aprender. ” Encena consertando a postura, pegando um pedaço de madeira o empunhando como um sabre de luz e engrossando a voz. “Venha para o lado negro da força, nós temos comida mágica e deuses malucos que poderiam acabar com nossos problemas num piscar de olhos mas parecem nem saber o que acontece aqui. ” Um trovão ribomba no céu e Pietro se assusta e deixa o pedaço de madeira cair no chão. “Eles ouviram, não é? ”

“É…ouviram. Mas não se preocupa, vamos bolar um código secreto para falar mal deles como o R2D2 ou o Chewbacca. ”

“Ótima ideia. ” Diz sorrindo, os olhos azuis brilhando de diversão. “Soube que você deu uma surra na guitarra naquele babaca da mesa de Ares. ”

“Foi, mas ele não aceitou muito bem a derrota. Eu estava um pouco limitada no momento e ele se aproveitou disso, mas isso não vem ao caso agora. Ouvi você cantarolando a abertura de Game of Thrones mais cedo, você toca? ”

“Violino e cello, uma coisa mais clássica. ”

“Me ajude a encontrar outros como você. ” Ele sorri.

“Batman vs. Superman. ” Rio.

“Cara, você é demais. ” Ele ri constrangido e ruboriza, olha em volta e passa a mão no cabelo preto.

“Hum...eu estava pensando, eu tenho um tempo livre antes das atividades do chalé de Hermes. Você...hum...pode me ensinar…? Eu nunca montei num Pégaso antes. ” Pergunta apontando para os espaços com os Pegasus. Aceno.

“Claro, vai me ajudar a distrair um pouco. ” Olho em volta procurando Blackjack e o vejo em um canto bebendo água. “Ei, Blackjack! Pode nos dar uma ajuda? ”

“Claro, chefa! Do que precisa? ” Pergunta vindo até mim.

“Já falei para não me chamar de...ah quer saber? Esquece. Será que você e um de seus amigos pegasus pode nos ajudar? ”

“Claro. O Gendry ali não sai daqui há dias. Os campistas não gostam muito dele, dizem que é um perigo para quem o monta. ”

“Gendry? Sério? Quem dá nome a vocês? O George R.R. Martin? ”

“Ei. Um Pégaso não pode assistir uma boa série hoje em dia? ”

“Equinos. ” Digo revirando os olhos. “Pietro, vou selar Blackjack para você, Percy não vai se importar. Eu vou no Gendry que...está aonde mesmo? ” Como se fosse sua deixa, um Mustang Spirit relincha e empina, quase batendo os cascos no teto. Ele parecia com o Spirit do filme, pelo castanho claro, crina e rabo pretos e manchas também pretas no focinho e patas. “Wow! Já entendi o que os semideuses quiseram dizer com perigo para quem o monta.

“Vamos lá, Garotinhas! O papai aqui está doido por uma corrida de novo. ” Gendry diz literalmente dando pulinhos de empolgação. Sorrio, isso vai ser divertido.

Passei o resto da manhã ensinando Pietro a selar um cavalo. Ele se atrapalhava um pouco com as correias, mas no final deu tudo certo. Blackjack falou que iria começar devagar com o cara já que ele era novo nisso de montar pegasus e eu como era mais experiente, concordei com Gendry que iria monta-lo à pelo.

“Então, prontos? ” Pergunto, Pietro e eu já montados.

“Pode apostar que sim. Vai ser o máximo! ” Exclama Blackjack.

“Não vamos começar voando de cara né? ” Pietro pergunta ajeitando as rédeas.

“Sério? Onde você achou esse cara, no jardim de infância? ” Zomba Gendry. Ignoro o comentário e olho para Pietro.

“Não se preocupe, não vou deixar você cair. ” Ele parece relaxar um pouco.

“Certo, tudo bem. ” Confirma nervoso. Rio.

“Relaxa, você vai adorar. Então, vamos lá rapazes! ” Exclamo. Gendry empina de empolgarão e seguro em sua crina para não cair. Assim que suas patas tocam o chão, ele dispara à toda velocidade pelo acampamento, Blackjack e Pietro nos acompanhando um pouco atrás.

“ISSO É INCRÍVEL! ” Ouço Pietro gritar.

“VOCÊ AINDA NÃO VIU NADA! ” Grito em resposta. Podia ver o píer do lago se aproximando rápido enquanto passávamos por semideuses desavisados, sátiros e ninfas. Alguns tiveram que se jogar para o lado quando passávamos para saírem do caminho e gritavam xingamentos, mas ignorei todos, fazia tempo que não me sentia tão bem e um ou outro palavrão não iria atrapalhar isso. Debruço-me sobre o pescoço de Gendry. “Está pronto, amigão? ”

“Nunca estive tão pronto em toda a minha vida. VAMOS NESSA BABY! ” Diz e acelera. Passamos à toda pela área dos chalés e quase atropelamos Jonas e Luana que estavam deitados na mata, namorando.

“DESCULPA! ” Grito para os dois. Ouço o som dos cascos de Blackjack se aproximando e Pietro aparece ao meu lado. “PEPARADO? ”

“NÃO. ” Responde rindo. Rio junto e o cais se trona mais próximo até que cavalgássemos sobre ele e então, os cavalos saltam e começamos a voar. Pietro grita de empolgação, como uma criança que vai na montanha-russa pela primeira vez e não consegue segurar e eu só fiz rir, pois me fizera a mesma coisa quando montei um Pégaso pela primeira vez.

(...)

Ficamos em cima dos pegasus por várias horas, até que o céu azul começou a tomar um tom avermelhado com o pôr do sol e pousamos no punho de Zeus. Os semideuses o haviam reconstruído depois do pequeno acidente uns dias atrás e agora nem parecia que minha asa havia sido praticamente esmagada por aquelas pedras idiotas.

Assim que Pietro desceu de Blackjack, ele andou um pouco mancando e caiu sentado com as costas na construção.

“Fantástico…” murmura com a voz cansada.

“O que? ” Ele me olha com um sorriso tão grande que poderia facilmente vê-lo de costas.

“Essa foi a coisa mais fantástica que já fiz em toda a minha vida. Obrigado. ” Desço de Gendry e me sento ao seu lado.

“Não me agradeça, ainda vai fazer muito isso por aqui. ”

“Só se for em outro Pégaso. Eu preciso de um descanso prolongado e donuts para me recuperar depois de ficar um dia inteiro com esse aí montado em mim. ” Resmunga Blackjack se deitando na clareira. Desço de Gendry e ele trota pela clareira.

“É isso aí crianças, é assim que se voa! O papai aqui está de volta! ” Rio com os cavalos e me sento ao lado de Pietro.

“Não acredito que já está anoitecendo, passou tão rápido. ”

“É, mas foi bom. Fazia tempo que não me divertia assim. Acho que eu estava precisando. ” Ficamos em silêncio por alguns segundos e olhamos enquanto Gendry pastava e Blackjack tirava um cochilo.

“Há quanto tempo tudo isso está aqui? ” Pietro pergunta. “Esses monstros, deuses, semideuses…”

“Sempre estiveram. ”

“E como nunca os havia percebido antes? Quer dizer, quem não perceberia um ciclope andando no meio de Nova York com uma harpia? ”

“Há um manto que esconde o mundo mitológico da maioria dos mortais e semideuses, chamado Névoa. ”

“Da maioria? ”

“É, bem, a maioria dos mortais e semideuses não consegue ver através da Névoa, o que de certa forma evita que enlouqueçam com o que veem. Para os semideuses pode ser perigoso já que como não veem o que está os espreitando não podem se defender e acabam...morrendo. ” Explico. “Mas há algumas raras exceções de semideuses e mortais que veem através da névoa, com Rachel e eu. ”

“Isso é muito estranho. Quer dizer, minha professora pode ser um monstro e eu nem sabia. ”

“A maioria tem sorte, são filhos de deuses menores e não chamam muita atenção, mas alguns filhos de deuses maiores não têm tanta sorte. ” Digo séria, lembrando de quando Luke me encontrou.

“Como Poseidon? ” O encaro.

“Você sabe? ”

“Os boatos correm rápido aqui. ” Ele não parecia muito orgulhoso de saber sobre meu passado. Dobro meus joelhos na frente do corpo e o abraço. “Olha...Não me entenda mal, não vou te julgar por aquilo. Quer dizer, eu nem sabia o que estava acontecendo, porquê guardaria rancor? ”

“Não quero falar disso. ” Digo apenas. Ouço passos vindo de algum lugar.

“Maya, eu não…”

“Shhhhh. ” O interrompo e apuro os ouvidos. Ele para e um silêncio se instaura na clareira.

“O que foi? ” Sussurra depois de alguns segundos.

“Shhhhh. Não faça barulho. ” Sussurro de volta. Espero alguns segundos e ouço o som de folhas secas se quebrando. Levanto de um pulo, não era só um, eram dezenas de coisas que se aproximavam, mas ainda estavam longe, tínhamos um tempo. Pego Pietro pelo pulso e o puxo em direção aos pegasus que já estavam à postos.

“O que foi esse barulho? ” Blackjack pergunta enquanto Pietro montava.

“Não sei, só sei que veio da barreira. ”

“Não é hora para conversarem sobre isso! ” Exclamo montando em Gendry. “Vamos rápido, estamos sendo invadidos! Temos que avisar aos outros. ”

“Maya, eu estou com um mau pressentimento. ” Suspiro.

“Eu também. ” E rapidamente, já voávamos em direção à área do acampamento.

Pela hora, todos deviam estar se dirigindo à fogueira, ainda havia tempo. Enquanto estávamos no ar, vi abaixo de nós, na floresta, várias formas grandes se movendo por entre as árvores. Eles estavam se aproximando rápido, quase nos alcançando, isso era ruim, muito ruim. Lobos. No lombo do que liderava o grupo, havia um homem de peitoral e elmo de batalha e que trazia um escudo nas costas e espada na bainha. Ele parecia emitir uma aura estranha, quase familiar, tão densa que parecia estar arrancando o ar de meus pulmões. Não pude ver o rosto, mas seus olhos extremamente brancos pareciam brilhar no anoitecer e emanava um sentimento de ódio. Senti um arrepio, isso não estava na bom.

 Mesmo que ainda havia muita floresta entre os lobisomens e os semideuses, os cavalos estavam cansados por voarem o dia todo, logo seríamos alcançados, eu tinha que fazer alguma coisa.

“Kye, está me ouvindo? ” Chamo.

“Estou. Onde você estava o dia inteiro? Eu já estava indo te procurar! ”

“Depois explicou, não temos tempo. Os lobisomens estão invadindo. Estão indo pela floresta. Avise os semideuses! ”

“O QUE?! Está bom, certo. Não faça nenhuma besteira. ”

Tá. ” Olho pra baixo, os lobos estavam nos ultrapassando.

“Pietro! Escute, quando chegarmos, a batalha já vai ter estourado. Pouse em um lugar seguro e procure uma arma, vamos precisar de toda a ajuda conseguirmos! ”

“Certo! ” Responde e avançamos. Mal sabia eu que, ao entrar nessa luta, meu destino estaria selado.

(···)

Por um milagre divino, conseguimos alcançar a área pouco antes dos lobos, os semideuses estavam acabando de se aprontar e o lugar estava uma correria. Avistei Kye orientando os que não podiam lutar para um lugar seguro e quando pousei ao seu lado, quase fui atingida por um escudo que passou voando pela minha cabeça.

“Kye, escuta, eles estão em mais de vinte, vinte e sete eu acho. Estão todos transformados e se aproximando muito rápido. Há um homem montado no lobo da frente, ele emite uma aura estranha, acho que é perigoso. ”

“Que tipo de aura? ” Penso um pouco.

“Morte. ” Seu rosto se torna sombrio.

“Vamos dar um jeito nisso, não se preocupe. ” Ele olha para a floresta, os passos dos lobos tornando-se cada vez mais altos. A batalha se aproximava. Kye solta um palavrão. “Não dá para avisar todo mundo. Maya, tome cuidado. Não sabemos o que Lorena tem em mente. ”

“Está bem. ” Digo. Olho em volta, vi Pietro pegando uma espada e um lobo preto e um branco se aproximando, Jonas e Luana, mas logo desapareceram na multidão. Uma sensação estranha no estômago faz meu corpo se arrepiar, tinha alguma coisa errada. “Kye, tem algo…”

Mas minha fala é interrompida quando vários uivos ecoam pelo vale, vindos da floresta e em poucos segundos, os lobisomens aparecem. Os semideuses se preparam e meus olhos se fixam no homem montado no imenso lobo negro. Suas feições me eram muito familiares, apesar de não ver direito por causa do elmo sabia que o conhecia. Senti que teria que lutar com ele, algo me puxava para enfrenta-lo e sem aviso prévio, os dois lados avançaram para a batalha.

Acompanhei a multidão e os dois lados se chocaram. Lutas estouraram por todos os lados, lobos contra semideuses lutavam com sangue nos olhos, nenhum pretendia recuar ou sair perdedor daquela batalha. Procurei em meio à confusão o homem, mas outros lobos se metiam no meu caminho e eu lutei. Invoquei espadas e entrei em ação como um furacão no meio dos confrontos. Eu desviava e atacava com uma velocidade tão grande que os lobisomens mal sabiam o que os acertava. Eu evitava seus pontos vitais, não era uma assassina, o que de certa forma dificultava pois estava claro que a intenção dos lobos era puramente sanguinária.

Em determinado momento, avistei um dos gêmeos que conhecera mais cedo extremamente ferido e o outro gêmeo e Gina encurralados por um lobo branco com manchas negras e corri para ajudar, mas algo me acertou pela direita no tórax, me lançando vários metros no ar e fazendo cair de costas no chão. Fiquei sem folego, minha visão ficou turva e quando tentei me levantar, algo pesado pressionou meu corpo contra o chão e sinto garras perfurarem levemente minha pele.

“Ora, ora. Olá irmãzinha. ” Quando minha visão foca, vejo o homem. O lobo negro me mantinha imobilizada. Minhas espadas sumiram quando fora lançada, mas...irmãzinha? Meu único irmão de sangue era Percy e Kye de coração. Quem era aquele cara?

Seguro a pata do lobo e tento força-la para cima, mas o lobo rosna para mim e aperta mais forte. O ar foge de meus pulmões e o homem sorri, tira o elmo e…

“Chris? ” Falo em um chiado e ele sorri.

Vejo um borrão castanho se aproximando pelo canto do olho e algo empurra o lobo e Chris de cima de mim, lançando-os longe

“Você está bem? ” Era Kye em sua forma de Grifo. Ele me ajuda a levantar, as feridas das garras dos lobos sangrando, mas já cicatrizando.

“O homem, e Chris. ”

“Quem? ”

“Um semideus do acampamento. Havia sido capturado. Mas não era exatamente Chris, os olhos estavam completamente brancos e ele me chamou de irmã. ”

“O quê? Mas isso…”

“É impossível, eu sei. Eu não tenho…” e então, naquele momento, as peças do quebra-cabeça se encaixam. As cenas que eu havia visto na fonte de Mnemósine, a história que Quíron havia me contado, a frase de Nico A fonte só mostra para a quem elas pertencem. “Céus...não pode ser.”

“O quê? ”

“Sou eu. ”

“Você o quê? ”

“Eu sou a herdeira do olimpo. ”

Eu já não ouvia mais a batalha, apenas o sangue correndo. De um ponto na batalha, um paredão de fogo emerge e todas as lutas cessam. Do centro das chamas, Chris caminha lentamente abrindo espaço entre semideuses e lobos que já não mais batalhavam, apenas assistiam. Chris desce do lobo.

“Então, finalmente percebeu a verdade? ” A voz extremamente grossa, não era Chris, mas meu cérebro não assimilava. Era outra pessoa no corpo de Chris.

“Vá embora, deixe-nos em paz. ” Ele sorri, um sorriso de pura crueldade.

“Eu esperei quinze anos por isso, não vou embora de mãos vazias, irmã. ” Múrmuros de incompreensão surgem. Irmã?

“Você não é Chris. Quem é você? ” Ele gargalha.

“Claro, você não me conhece. Eu sou Matthew Efair, filho de lorde Poseidon e da grande senhora das artes arcanas, Lorena Efair. Sou o verdadeiro merecedor do título que me foi roubado em meu nascimento e estou aqui para conseguir de volta o que é meu por direito: o título de Heres Olympus. ”

Mais múrmuros ecoam na multidão. Dessa vez, entendiam o que estava acontecendo. Matthew ou Chris ou o demônio que for, havia mostrado a todos o que todos estávamos procurando, eu.

“Oh, então não contou a eles? Tenho certeza que Quíron lhe contou a história, sobre o dia da nomeação. A menina de um casal de gêmeos receberia o título, a mãe que trocou as crianças no dia da nomeação e a punição quando os deuses descobriram…”

“Maya, precisa fazer alguma coisa. ” Kye diz em minha mente.

“Eu sei. Mas é o corpo de Chris! E se ele ainda estiver vivo? Não posso matá-lo. ” Matthew continua.

“Nossa mãe conservou meu espírito em um corpo destroçado que crescia como um mortal comum, mas inútil, apenas a fonte inútil de um poder inimaginável. Já imaginou estar preso em um corpo, sem poder se mover, andar, falar por treze anos? Apenas ouvindo o quanto fora injustiçado? É sufocante! ”

“Mas você está em outro corpo. ” Ele olha para os próprios braços.

“Apenas uma parcela de mim. Nenhuma forma suporta o meu espirito em sua totalidade por muito tempo, e é por isso que eu preciso de você...irmãzinha. ” Ele diz sacando a espada e o escudo. Engulo em seco.

“Você quer meu corpo…”

“Maya, não é Chris! A aura dele é muito forte, mesmo não sendo total, nenhum de nós conseguiríamos enfrenta-lo, só você. ” Mas eu não podia, minhas pernas pareciam estar coladas ao chão, incapazes de dar um passo. Um trovão ribomba no céu e uma chuva grossa começa a cair.

“Sim, um corpo gerado junto ao meu, pela mesma mãe. Sangue do meu sangue, seria perfeito para hospedar meu espírito e então, eu terei o que é meu e reinarei sobre esse mundo e eliminarei os que se opuserem a mim, a começar por esse acampamento. ” Fecho as mãos em punho, sentia meu colar voltando ao pescoço. Aquilo foi a gota d’agua.

“Não vai ter o que quer! Não vou permitir. ”   E sem pensar duas vezes, ataco.

Corro na direção de Matthew invocando minhas espadas. Uma coisa e mexer comigo, outra era mexer com meus amigos e isso não iria acontecer. Eu o atacava com uma fúria que eu nunca pensei que existia em mim, atacava com intenção assassina e ele defendia e desviava de todos meus ataques como se tivesse todo o tempo do mundo para isso. Ele não atacou nos primeiros minutos, via que estava me cansando, mas quando eu deixei uma brecha, ele acertou o escudo tão forte em minha barriga que pensei que meus órgãos iam sair pela boca.

“Maya! ” Kye grita em minha cabeça.

“NÃO! Não interfira! ” Respondo. Não queria que ninguém interrompesse. Eles estavam atrás de mim e não admitia que mais alguém se ferisse por minha causa. Solto a respiração e sinto o gosto metálico do sangue que escorre pela boca. Cuspo o sangue e limpo a boca, respiro fundo, me recomponho e volto a atacar. Podia ver que ele estava ficando mais lento, ou o corpo de Chris não estava preparado fisicamente, mas sentia que o meu limite se aproximava.

“Não vão me capturar e não vai conseguir o que quer. Vou resgatar cada um dos semideuses que vocês capturaram e terminarei com isso de uma vez por todas! ”

“Muito nobre de sua parte, mas não está esquecendo de nada? ” Nossas espadas se cruzam e ele se aproxima. “A profecia está se cumprindo, Maya. ”

Arregalo os olhos.

“Exatamente. ” Continua “ Eu não vou precisar te capturar, você virá até mim e neste dia, vai desejar que eu tivesse te matado, pior minha mãe não será piedosa. ” Zomba. Perco a concentração e quando percebo, já era tarde. Matthew atacou como um gladiador, sem piedade nenhuma. Usando o escudo, espada, chutes, tudo o que estava ao seu alcance. Senti ossos meus serem quebrados, sua espada rasgando minha pele em cortes fundos e seus movimentos me desorientando. Eu estava perdendo muito sangue, minhas pernas tremiam e ele me golpeia com o escudo me lançando longe. Todo o meu corpo doía. Matthew anda até mim.

“Sete dias, e você virá até mim. ” E sem cerimonias, começa a se retirar. Pelo canto do olho, vi os lobos o seguindo. O lobo onde Matthew estava montado passou por mim e vi em seus olhos um único sentimento: arrependimento, e ele deu meia volta.

Ainda sentia a espada em minha mão, podia sentir o osso quebrado da minha perna se regenerando...não. Ele não vai sair assim.

“Recensere. ” Sussurro quase engasgando com meu próprio sangue. Levanto com dificuldade, a Desert Eagle pesando em minha mão. Fiz um pedido silencioso para Ártemis e Apolo e apontei a arma. Só um tiro, por favor. Miro, ele estava de costas, o coração...e aperto o gatilho.

O som do tiro ecoou pelo vale e a bala atravessou o peito de Chris. Todos olham para Chris, os lobos param, ninguém esperava que eu ainda tivesse forças, mas eu não era assim tão fraca. Ele se virou lentamente, sangue escorrendo pelos cantos dos lábios abertos em um sorriso e o corpo de Chris emite uma aura vermelha que começa a se separar do corpo como uma alma deixando zua forma física.

“Em breve, irmãzinha. ” Diz e assim que seu espirito deixa completamente o corpo de Chris, avança em mim como um raio e atravessa meu corpo. Sinto frio e minha respiração abafa, o mundo começa a girar e meu corpo pende para o lado. Alguém me segura e meus olhos pesam. Tão cansada… um par de olhos extremamente azuis me encara de cima.

“Peguei você. ” Diz Pietro. Sorrio.

“A segunda vez. ” Ele sorri também.

“Está virando rotina. ” Diz de forma carinhosa e passa meu braço em volta de seu ombro, me ajudando a caminhar. “Venha. Vamos te levar para um lugar seguro. ”

Vejo Kye se aproximando e Pietro me põe sentado sobre as costas dele, sentando-se atrás e me abraçando com o braço esquerdo para não me deixar cair.

“Eu sou a Herdeira do Olimpo. ” Sussurro. O rosto de Pietro se trona sombrio.

“Não vou deixar eles fazerem nada com você. ” Diz Pietro.

“Muito menos eu. ” Enfatiza Kye. Dou um sorriso cansado.

“Obrigado, rapazes. ” E depois disso, mergulho em um profundo sono sem sonhos.

 


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