Go Rogue! escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 45
Capítulo 45 – Você é preciosa




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Capítulo 45 – Você é preciosa

                Jyn tinha oito anos outra vez. Ela estava correndo. Tentando ignorar tudo que possivelmente mudaria para pior com as consequências disso. Parou e virou-se por um instante, vendo a nave negra do Império no céu. Voltou a correr com ainda mais desespero.

******

                Cassian estava num lugar estranho. Um campo aberto e frio. O céu estava nublado e devia ser cedo da manhã, o sol nem parecia ter nascido ainda. Não entendia o que estava fazendo ali, ainda mais fora de um esconderijo. Não se lembrava de Draven ou Mon Mothma o terem mandando nessa missão, fosse qual fosse. Nem sabia em que planeta estava. E onde estava Kay? E sua tripulação? Chirrut, Baze, Bodhi... Jyn!

                Uma voz masculina familiar gritou alguma coisa que Cassian não pode entender e passos pesados se espalharam à distância. Ele correu cautelosamente para mais perto do som, onde pode ver uma casa, pequena e simples, com alguns droids e máquinas quebradas em volta. Um mulher estava caída, seu corpo se destacando onde havia afundado a grama alta, aparentemente morta, e suspeitosamente familiar a Cassian, embora pudesse jurar nunca tê-la visto antes. Junto a uma nave Imperial Delta, um homem vestido de branco, um Imperial, com toda certeza, falava com outro homem, ajoelhado no chão ao lado da mulher. Sua silhueta também era familiar, mas Cassian não parou para olhar com mais atenção, havia uma criança correndo do outro lado, e os troopers estavam indo em sua direção. Então Cassian correu, se alguém podia ser polpado, ele acabara de decidir que seria a criança.

Os troopers também o ignoraram quando ele se aproximou. Que raios de mundo paralelo era esse?! A menininha correu até o limite de suas forças e Cassian a viu desesperadamente abrindo uma escotilha disfarçada entre as rochas. A pequena olhou uma última vez para trás e quase pulou lá dentro, fechando a tampa imediatamente. Os olhinhos azuis, ou talvez fossem verdes, espiaram por uma fresta, Cassian notou, mas o stormtroopers, desatentos como quase sempre, não encontraram coisa alguma. E dessa vez Cassian teve certeza que estava louco, ou estava sonhando, quando um dos soldados passou a centímetros dele como se ele sequer estivesse ali. Em uma situação normal, em mundo normal, ele já estaria morto.

Os stormtroopers desistiram de sua busca, recuando para voltar até seu líder. Cassian não deixou de perceber o que um deles carregava na mão, um stormtrooper de brinquedo. Onde tinha visto aquilo antes mesmo? Não podiam enxergá-lo, isso era uma certeza agora, por mais inconcebível que fosse em sua mente, mas não podia arriscar a garotinha, então esperou. E esperou... Deviam ter se passado trinta minutos quando espiou a paisagem. Sem sinal de stormtroopers, sem nave, sem o Imperial de branco, nenhum corpo no gramado. A casa estava em chamas. Seu coração se contorceu. Vinte e um anos depois, ele não queria ver aquela cena outra vez. Afastando seus próprios fantasmas, virou-se na direção da escotilha, se questionando se valia a pena investigar quem aquela criança era. Estaria invisível para ela também? Ele estava aqui, e não sabia porque. Mas ainda estava. Por que não tentar? Se era mais uma criança deixada órfã e sozinha por culpa do Império, tinha certeza que Mon Mothma a receberia de braços abertos. Se ele conseguisse se lembrar onde estava sua nave e sua tripulação para voltar a Yavin 4.

Caminhou cautelosamente até a escotilha, pondo suas mãos sobre a tampa e refletindo por mais um segundo antes de puxá-la para cima. Tinha certeza de ter ouvido um murmúrio de choro, mas qualquer som parou quando a escotilha foi aberta. Cassian olhou para dentro e viu a criança se encolher como se tentasse se camuflar entre as paredes de rocha e as máquinas lá embaixo. Era tão pequena, parecia ter seis ou sete anos. Os cabelos castanhos claros estavam belamente trançados, apesar de alguns fios emaranhados, devia ter sido o último ato de sua mãe arrumando seu cabelo, outra pontada de tristeza atingiu o coração de Cassian.

— Ei – ele chamou com a voz mais suave de que era capaz – Está tudo bem, querida. Olhe pra mim. Eu não sou um deles.

A menina continuou imóvel e tão silenciosa quanto possível, embora seu pequeno corpo tremesse tentando conter o choro. Ela reconheceria a Rebelião se Cassian a citasse? Decidiu por não tentar. Ao invés disso ele entrou na escotilha e desceu pela escada, não esquecendo de fechar a tampa. O espaço lá dentro era limitado, quase interaimente preenchido por máquinas e peças. Mas o espaço livre era suficiente para duas pessoas ficarem sentadas no chão, embora não sem aperto. A criança voltou a chorar conforme ele se aproximava e pisava no chão em frente a ela, percebendo que de nada mais adiantaria tentar camuflar-se na escuridão. Uma mochila estava jogada ao seu lado. Aquela fuga fora planejada, seus pais, ou tios, ou fossem quem fossem, estavam esperando que alguém viesse atrás deles, e preparam sua criança para que ela se salvasse. Afastando outra vez a dor de seu próprio passado, Cassian agachou em frente a ela.

— Ei – chamou ainda mais suavemente que da primeira vez – Ei – repetiu, estendendo uma mão para afagar gentilmente seu ombro.

A menina grunhiu de medo e finalmente ergueu os olhos para ele. Cassian não conseguiu imediatamente definir a cor, mas tinha quase certeza que eram verdes. As lágrimas se misturavam às sardas em seu rosto. Ela fechou os olhos outra vez, com força, ainda incerta se estava em perigo ou não.

— Querida... Estou com a Rebelião. Eu não vou machucar você – ele falou lhe mostrando as duas mãos no ar.

A pequena abriu os olhos e ergueu todo o rosto para vê-lo. Alguns segundos depois seus olhos claros se arregalaram, como se finalmente o tivesse enxergado, e Cassian levou um susto. A garotinha se jogou em seus braços, chorando compulsivamente. As mãozinhas o apertaram com força em volta do pescoço como se ela precisasse dele para continuar viva. Definitivamente, essa era a situação mais estranha de sua vida com a Rebelião. Abraçou a pequena de volta, colocando-a no colo e sentando-se no chão contra a parede de pedra. Ela deslizou para seu peito, encolhendo-se ali e continuando a chorar. Cassian acariciou seu rosto e beijou seu cabelo. Não costumava lidar com crianças, mas sabia exatamente o que ele tinha precisado quando estava na mesma situação vinte e um anos atrás.

— Vamos sair daqui quando for seguro. Você estará bem – lhe disse baixinho.

Ela o encarou, não um olhar qualquer, um olhar de reconhecimento, ela sabia quem ele era. Não um soldado da Rebelião, não o capitão Andor, ele, Cassian.

— Você está aqui... – a vozinha infantil murmurou entre os soluços.

— O que...? – Ele não entendeu porque ela lhe dise aquilo, e também não entendeu quando parou de chorar e deitou calmamente contra ele.

Cassian encarou a criança outra vez, atentamente agora. Ela era linda, mesmo com o rosto triste e manchado por lágrimas. Não resistiu a usar a mão livre para secar sua pele delicada e macia e depois segurar uma das mãozinhas dela, a qual ela apertou como se temesse vê-lo evaporar.

 Ficou em choque por um segundo quando a compreensão bateu em sua mente. Ele conhecia esse rosto. Ele conhecia aquelas pessoas lá fora, ao menos duas delas. De repente ele sabia quem era a mulher morta! E sabia onde ele estava! E de quem era a casa em chamas! E sabia que a criança que estava segurando não tinha seis anos, ou sete, tinha oito.

— Jyn... – ele sussurrou, uma afirmação, não uma pergunta.

E de repente seus próprios olhos derramaram lágrimas. Como podiam fazer aquilo com ela? Como ele tivera coragem de olhar em seus belos olhos após quase matar Galen Erso e menosprezar a dor dela? O que estava vivendo agora era um sonho, não podia ser outra coisa, mas o que significava, o que estava fazendo ali, e por que?

— Você já chorou muito – ela murmurou o olhando com tristeza, e uma mãozinha gentil secou seu rosto.

— Você também.

A pequena Jyn de oito anos que ele estava segurando tinha consciência de tudo que haviam passado? Ou simplesmente o reconhecia? Sonhos não precisavam ter sentido, mas se Cassian podia escolher, ele diria a ela o que queria que tivessem dito a ele, o que Saw Gerrera provavelmente não dissera, o que ela não ouvira por quinze anos.

— Mamãe... Papai... – ela ameaçou chorar de novo.

Cassian a abraçou forte contra ele, segurando-a como se nada no universo importasse mais do que ela, o que não deixava de ser verdade. Suas mãos se firmaram envolvendo suas costas e a parte de trás da cabeça. O capitão afagou os cabelos emaranhados, sentindo as tranças ainda firmes sob seus dedos.

— Jyn, estou aqui pra você – falou em seu ouvido, não impedindo quando ela voltou a chorar, embora menos do que antes – Estou aqui... – ele repetiu – Você não vai ficar mais sozinha. O futuro parece assustador muitas vezes, eu sei disso, eu sei muito bem, mas eu vou ficar bem aqui. Ou levar você comigo aonde eu for, Estrelinha. Você é o que existe de mais importante pra mim, você é a luz da minha vida, Jyn. Eu não posso prometer que tudo estará bem daqui em diante, mas eu sempre vou estar aqui, sempre, pequena. Eu amo você – sussurrou antes de beijar sua bochecha.

— Vai...? – Ela murmurou tão baixinho que Cassian quase não ouviu.

— Eu prometo. Até o fim, meu amor.

Ela inspirou profundamente e ficou quieta no ombro de Cassian. Começou a chover. Cassian olhou para cima, sendo atingido por algumas gotas da chuva que ficou forte dentro de segundos.

— Espere um pouco, querida – ele pediu, a colocando de volta no colo.

Jyn o olhou pacientemente enquanto ele tirava seu parka azul, o arrumava em volta dos ombros dela e colocava o capuz sobre a própria cabeça, protegendo os dois dos respingos da chuva. Abraçou a criança outra vez, a aninhando contra o peito como um bebê. Secou mais uma vez as lágrimas de seu rosto e beijou sua testa. Voltou a encará-la, percebendo que ficava tão hipnotizado quanto quando olhava para sua esposa de 23 anos. Jyn tinha sido uma criança tão bonita! E agora a mulher mais linda que ele já viu.

— Vamos só esperar. Essa chuva vai passar em algum momento, e nós estaremos bem. Eu prometo.

Cassian por fim se atentou ao colar em seu pesoço, o cristal kyber! A única diferença é que o cordão marrom em volta do pescoço de Jyn parecia mais novo do que quando Cassian a conhecera. Decidiu não perguntar sobre ele. Ele tinha uma ideia de como chegara ali, e a cena não era feliz.

Se concentrou nos olhos verdes da pequena, de repente imaginando como seria uma filha, se ele e Jyn chegassem a ter uma, se seria parecida com ela. Parecida com a garotinha que ele estava protegendo agora.

— Eu te amo muito. Você está bem. Está segura, minha Estrelinha.

Afagou a testa de Jyn, e ela fechou os olhos, virando-se em seus braços para deitar no ombro. Ela sorriu brevemente, já dormindo, e Cassian a abraçou mais apertado, fechando seus olhos e repousando a cabeça contra a parede. Eles estariam bem agora.

*****

O beijo mais doce e lento que Cassian já sentiu repousou em seus lábios. Polegares cuidadosos acariciaram suas bochechas. Um peso reconfortante estava em cima dele. Pernas menores e mais delicadas estavam entrelaçadas com as suas.

— Te amo además – Jyn sussurrou em festian contra seus lábios, o beijando outra vez.

Cassian envolveu mais seus braços em volta dela, fazendo-a repousar a cabeça abaixo do queixo, e suspirou aliviado por acordar com ela segura em seus braços.

— Foi só um sonho – Jyn falou calmamente – Estamos seguros.

— Sua casa... – ele fez uma pausa antes de continuar – Eu vi tudo, Jyn.

— Eu sei...

Ela se ergueu, apoiando-se nele para encará-lo. Cassian a olhou de volta, não entendendo.

— Eu sei – Jyn repetiu – Eu estava com medo de novo, minhas memórias estavam confusas. Mas você estava lá dessa vez. Não tem ideia de como tornou essa lembrança mais fácil pra mim – falou calmamente.

— Jyn...

— Também não entendo... Como podemos sonhar a mesma coisa. E porque agora. A Força?

— Talvez...

A rebelde acariciou seu rosto, seu olhar transmitindo imensa gratidão e amor para ele.

— Obrigada, Cass.

— Você era uma criança linda, Jyn.

Ela sorriu, suspirando no peito do capitão e aproveitando o carinho em seus cabelos. Som de vozes, gritos e passos apressados do lado de fora chamaram a atenção dos dois. Levantaram-se e se vestiram o mais rápido que podiam, notando que ainda era madrugada pelas estrelas na janela. Saíram do quarto e viram rebeldes de toda a base correndo apresssados pelos corredores e falando todos ao mesmo tempo. Estavam sendo atacados? Chirrut, Baze, Bodhi e Kay surgiram entre as pessoas agitadas.

— O que está havendo? – Cassian perguntou.

— Acabou! – Bodhi falou com um sorriso enorme.

— Nós pegamos eles, irmãzinha – Baze contou a Jyn.

— A Força de Outros está conosco – Chirrut falou sorridente.

— Estão todos indo para o hangar – Kay informou – O conselho deve se pronunciar para todos lá.

O casal se entreolhou incrédulo, mudos durante alguns segundos. Então Jyn se jogou em seu abraço, e Cassian a apertou de volta. Eles riram enquanto também choravam. Estava acabado! Não mais crianças órfãs e famílias destruídas pelo Império. Agora eles poderiam trabalhar para acabar com a fome e a dor e cuidar das cicatrizes deixadas, e não para matar soldados e alcançar objetivos de guerra.

— Vamos, Jyn. Ver as primeiras estrelas da vida sem o Império – Cassian lhe mostrou o sorriso mais lindo que ela já vira em seu rosto – Você está comigo?

— Até o fim – ela riu sem conseguir conter sua felicidade enquanto Cassian a puxava pela mão e a equipe corria junta até o hangar.


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