Capítulo 38 – Minha estrelinha

                Jyn se apressou pelos corredores da base ao concluir suas tarefas, um pouco mais tarde do que o habitual. Mesmo à noite a base de Yavin continuava movimentada com pessoas trabalhando numa série de coisas.

                - Jyn – K-2 surgiu quando ela virou mais um corredor – Cassian ficou preocupado que algo pudesse ter dado errado. Me pediu para encontrá-la.

                - Apenas uma checagem de documentos e relatórios que demorou mais que o esperado. Hope está dormindo?

                - Estava chorando quando saí, Cassian está cuidando dela.

                - Pode estar com fome – Jyn falou andando um pouco mais rápido.

                Dois minutos depois chegaram à porta e K-2 se despediu dizendo que estaria no transmissor da nave se precisassem dele. Cassian era um excelente pai, cuidava de Hope tão bem quanto Jyn, mas nem tudo ele podia resolver sozinho. A rebelde entrou em silêncio, mas ao passar pela porta parecia estar em outra dimensão. A primeira coisa que reparou foi a mamadeira que tinha deixado para Hope já vazia em cima da mesa. Uma melodia suave se espalhava pelo quarto e a voz mais linda e doce que ela já ouvira cantava tão suavemente quanto a música, a voz de Cassian. Jyn sorriu, não era a primeira vez que o ouvia cantar, nem a primeira vez que o via cantar para Hope, mas seu coração sempre se derretia, não importava o quanto a cena se repetisse.

“Wise men say

Only fools rush in

But I can’t help

Falling in love with you”

                Cassian cantava baixinho enquanto balançava delicadamente a menina de dois anos em seus braços. Hope dormia profundamente.

“But I can’t help

Falling in Love with you”

                Era a mesma canção que ele tinha cantado para Jyn na noite do dia em que haviam se casado. Mais uma canção de Fest, que sua mãe cantava para ele. O capitão tinha deixado o cabelo crescer um pouco ultimamente, embora continuasse bem barbeado. Jyn ainda o achava lindo assim. Se aproximou dele, que ainda balançava Hope devagar, o abraçou pelas costas e beijou a parte de trás de seu pescoço.

                - Também te amo, mi amor – ele respondeu, e Jyn percebeu que ele estava sorrindo.

                - Me desculpe por demorar tanto.

                - Eu entendo.

                - Ela está bem?

                - Melhor do que nós.

                Compartilharam um riso baixinho. Jyn se soltou dele para deixá-lo colocar a filha no berço e acomodá-la entre os cobertores. Então Cassian lhe deu um beijo nos lábios e repousaram as mãos entrelaçadas na borda do berço, observando com orgulho e felicidade a pequena dormir.

******

                - Do que está com medo? – Jyn perguntou.

                - Não sei... E se eu fizer algo errado e a nave cair. Imagine se cair bem em cima da sala do conselho?! – Hope dramatizou, fazendo os pais rirem.

                - Isso não vai acontecer – Jyn falou.

                - Como pode ter tanta certeza?

                - Por que você parece demais com sua mãe pra deixar alguma tarefa perigosa dar errado – Cassian falou.

                - As probabilidades são de...

K-2 surgiu no hangar ao lado deles carregando um embrulho de cobertores nos braços mecânicos, onde o menino recém-nascido dormia.

                - Não me diga as probabilidades – Hope pediu.

                - Puxou isso do seu pai. Ele me diz isso há anos.

                Jyn riu.

                - Han dizia a mesma coisa a C-3PO. Aliás... Ele estará aqui essa semana, é um dos melhores pilotos de quem já se ouviu falar. Ele pode te ensinar mais do que nós e os treinadores.

******

                - Feliz aniversário, estrelinha – o sussurro gentil chegou a seus ouvidos, fazendo-a despertar completamente.

                Hope abriu os olhos para ver os verdes de sua mãe, iguais ao seus, a encarando com um sorriso.

                - Bom dia – Jyn disse.

                Hope apenas sorriu e sentou-se, e as duas se uniram num longo abraço.

                - Te amo também – falou para Jyn, sendo retribuída com um afago carinhoso em suas costas e um beijo em sua bochecha.

                Horas mais tarde estavam todos no quarto de Jyn e Cassian. Haviam sido liberados de seus afazeres na base por algum tempo.

— Por que vinte e dois é especial? – Hope perguntou ao pai.

                - Sua mãe tinha vinte e dois anos quando a conheci.

                - E qual é a sua idade especial então? – A jovem perguntou sorridente.

                - Vinte e seis – Jyn respondeu.

                - Quanto tempo falta pra eu ter vinte e seis, mamãe? – O pequeno Galen perguntou.

                - Vinte anos.

                - Quanto é isso?

                - Muito mais tempo do que você já viveu. Ainda vai demorar muito. Você não tem que ter pressa – Casssian falou para o menino em seus braços – Tudo que eu e sua mãe queríamos às vezes era sermos crianças de novo, mesmo que pôr só alguns minutos.

                - Por que?

                - Você vai saber um dia – a irmã respondeu – Agora isso não é importante.

                - Chirrut, Baze e Bodhi irão encontrá-los lá fora dentro de uma hora – K-2 lembrou.

                - Podem precisar de ajuda com algo, vá encontrá-los e diga que logo iremos também – Cassian falou.

                - Certo.

                Quando o droid se foi Hope pensou sobre a razão do encontro. Ela sabia. A tripulação da Rogue One nunca deixava de lembrar o aniversário de todos os membros, ainda que nem fosse uma data tão relevante para alguns. Agora era o seu, e talvez o que mais tivesse algo a comemorar, pois meses atrás o Império havia sido derrotado, e embora o trabalho dos rebeldes continuasse intensamente, a vida agora era mais leve e feliz. Conforme ela e Galen cresciam outros quartos e cômodos em volta do de seus pais foram acoplados, e agora formavam uma pequena casa. Seu pai estava mexendo no rádio e sua mãe brincando com Galen e o BB8 no chão. Uma melodia lenta e bela encheu o ar e Hope não estranhou quando Cassian se virou para ela e a puxou para um abraço, começando a dançar lentamente pelo quarto. Sempre dançava com ela em seu aniversário. E Hope reconheceu a canção, a mesma que ele dizia cantar para ela dormir desde bebê, e que ele também cantava para sua mãe e Galen.

                - Wise men say...— o capitão cantou baixinho em seu ouvido.

                Ela sorriu e se manteve quieta até o fim da música.

                - Feliz aniversário, minha estrelinha – falou beijando seus cabelos – Eu te amo.

                - Também te amo, papai.

                Sentiu-se ser abraçada agora pelas costas e sua mãe beijou seu ombro.

                - Eu sei – a rebelde de cabelos escuros respondeu.

                Ficaram algum tempo unidos naquele abraço. Quando se soltaram Cassian surpreendeu Jyn a erguendo do chão, e fazendo-a rir, depois lhe dando um beijo e a devolvendo ao solo.

                - Galen preparou algo pra você.

                - O que? – Hope perguntou encarando o irmão.

                - Mostra pra ela – ele disse ao BB8.

                O droid olhou para Hope e começou a emitir os ruídos que sempre usava para se comunicar. Ela riu ao reconhecer o que ele estava dizendo, ou melhor, cantando, a mesma canção que seu pai acabara de cantar.

                - Você ensinou a ele?!

                - Nós ajudamos um pouco – Jyn falou.

                Hope sentou-se no chão e abraçou o irmão e o droid, enchendo-os de beijos e ouvindo Galen rir.