Capítulo 35 – Flor estelar

                - Eles são tão fofos juntos – Bodhi falou baixinho enquanto sorria e observava o casal a alguns metros de distância do acampamento.

                Baze colocava mais madeira na fogueira que haviam feito enquanto Chirrut estava quieto ao lado dos dois.

                - Os humanos se derretem com coisas que nada mais são além de instinto natural para gerar descendentes e perpetuar a espécie – K-2 falou.

                - Se ela te ouvir dizendo isso, as ameaças de te desmontar podem se tornar reais – Baze falou.

                Estavam em um deserto, escondidos entre as rochas. A missão havia sido completada e partiriam em algumas horas. Tinham que verificar possível influência imperial no planeta, o que havia sido descartado, havia apenas população civil naquela região e os habitantes não eram simpáticos a imperiais. Jyn e Cassian estavam de frente um para o outro, de mãos dadas e muito próximos, se olhando como se suas vidas dependessem disso e totalmente alheios aos demais cerca de quinze metros atrás deles.

                - Nunca pensei que eu fosse ver aquele capitão da inteligência frio e durão ficar totalmente desarmado e derretido na minha frente – Jyn falou com um pequeno sorriso.

                Cassian levou alguns segundos para reagir. Estava perdido nela, a olhando com devoção, um olhar tão terno que apenas Jyn tivera o privilégio de ver nos últimos anos.

                - O que fazer? A rebelde agressiva e perigosa que resgatamos é na verdade a pessoa mais amável e gentil que já conheci.

Jyn riu, fazendo-o sorrir. Cassian já dissera muitas vezes que o sorriso dela era lindo, e ela lembrava bem disso. A rebelde o provocou puxando-o um pouco para baixo e encostando sua testa na dele. Beijou a bochecha de Cassian, depois a mandíbula, então o canto dos lábios, lentamente, ouvindo um baixo grunhido impaciente de súplica.

— Como quer que eu fique com você fazendo isso comigo? – Ele perguntou baixinho.

Sorriu satisfeita contra o rosto dele e finalmente o beijou de fato. Suspiraram no beijo e se abraçaram.

                - Minha Estrelinha – ele sussurrou em seu ouvido ao se separarem.

                Não queriam falar da guerra naquele momento, nem de todas as chances que tinham de um deles morrer a qualquer momento. Estavam satisfeitos em poder desfrutar de um momento como aquele com a brisa fria da noite do deserto e com os milhares de estrelas no céu acima deles. A paisagem aberta deixava o céu muito mais visível e bonito, e manchas cintilantes de poeira estelar enfeitavam o manto azul escuro.

                - Estamos sendo observados – Jyn falou com o rosto escondido no pescoço dele.

                - Não importa. Eu estaria com inveja de mim se estive nos observando de longe, você é a melhor coisa do mundo, Jyn.

                Ela riu de novo, tanto pela falta de lógica do que ele havia dito, quanto pelo significado do que realmente queria dizer.

                - Eu também – respondeu – Pode ser a beleza da paisagem e o sucesso da missão confundido minha cabeça, mas você está ainda mais doce do que de costume.

                - É minha obrigação e meu direito ser doce com minha esposa.

                - Não estou reclamando.

                - Eu sei – falou com um sorriso.

******

                Chirrut e Baze estavam dormindo, Bodhi e Jyn pilotando. Cassian chegou à cabine para anunciar que era hora dos dois descansarem.

                - Vá dormir um pouco, eu e Kay assumimos agora – disse a Bodhi.

                Olhou para Jyn, encontrando-a apoiada de lado na cadeira, dormindo. Não conseguiu evitar um pequeno sorriso.

                - Eu disse pra ela descansar. Estamos em piloto automático mesmo – Bodhi falou sonolento.

                - Tudo bem.

                Cassian girou a cadeira da esposa para sua direção e cuidadosamente passou os braços por suas costas e por baixo dos joelhos, erguendo-a e a acomodando em seus braços.

                - Vá logo dormir, eu não vou carregar você também – brincou.

                Bodhi riu.

— Kay já está vindo – falou para o amigo uma última vez, vendo o notável cansaço em seu rosto.

                O piloto assentiu e levantou-se, checando os comandos da nave uma última vez. Cassian levou Jyn para o quarto onde apenas eles dois dormiam e a deitou. Soltou seu cabelo e a livrou de suas botas, coldre, blaster, jaqueta e luvas. Puxou o cobertor sobre ela e acariciou seu rosto.

                - Durma bem, querida.

                Beijou os lábios da rebelde suavemente e beijou sua testa, deslizando novamente os dedos por seu cabelo antes de sair do quarto.

*****

                - Te miro y más, y más, y más te quiero mirar. Te amo y sabrás que nadie como yo te amará...

                Jyn sorriu ao ouvir a voz suave cantando em seu ouvido, ao sentir os braços dele se fecharem em sua cintura, e o peito do capitão contra suas costas. Fechou os olhos quando o sentiu beijar seu pescoço e largou a comida que estava preparando para acariciar as mãos que a prendiam fortemente pela cintura.

— Te amo... Y más, y más, y más, y más... Quem é a rebelde mais linda e mais corajosa de toda a base de Yavin 4? – Cassian sussurrou em seu ouvido.

                - Não vou fugir se é o que está pensando – ela falou com um sorriso.

                - Eu sei.

                - Então por que o aperto tão forte? – Ela brincou, adorava provocar Cassian assim, só para ouvi-lo dizer o quanto era louco por ela.

                - Estou te machucando? – Perguntou em tom preocupado, afrouxando um pouco o aperto.

                - Não, só queria saber. Nos vimos há menos de duas horas quando eu te deixei dormindo.

                - No meio de uma guerra, qualquer minuto é a eternidade, mi amor. Bodhi e Kay estão pilotando, Chirrut e Baze estão discutindo formações de ataque pra missões em campo aberto. Temos um tempo sozinhos por enquanto. Então eu quis vir aqui dizer de novo o quanto eu te amo.

                Jyn sentiu todo seu corpo esquentar e o fôlego faltar, o que a obrigou a tomar uma longa inspiração ao sentir os lábios dele contra sua têmpora.

                - Como sabia onde eu estava? – Ela perguntou com um sorriso, erguendo a mão para acariciar o rosto dele e aproveitando a sensação agradável da barba arranhando sua pele.

                - Você não estava em nenhum outro lugar.

                Jyn se virou para ele e levou as duas mãos ao seu rosto. Cassian a puxou pela cintura e se beijaram demoradamente.

                - Te amo además, querido – Jyn sussurrou ainda com os lábios próximos aos dele naquele idioma que apenas os dois conheciam, o beijando de novo enquanto entrelaçava os dedos nos cabelos escuros.

                Cassian a apertou mais contra ele e a ergueu, sentando-a no balcão do pequeno refeitório da nave. Uma eternidade pareceu se passar até se separarem, respirando ofegantes. Cassian beijou sua testa e Jyn afagava a nuca do capitão. Uniram suas mãos e entrelaçaram os dedos, apenas se olhando por algum tempo.

                - Você deve estar com fome também – Jyn falou.

                - Por que não veio logo? Faz duas horas que levantou.

                - Me entreti ouvindo histórias de Chirrut e Baze. Vamos comer agora. Chegamos em Yavin em menos de uma hora.

******

                Jyn saiu do banho e se vestiu, já no quarto dela e de Cassian na base. Dessa vez sem o colete de utilidades que geralmente usava, o seu havia sido arruinado num momento de fuga em outro planeta, antes da missão da qual haviam acabado de voltar. Tinha que se lembrar de conseguir outro o quanto antes, e também um reserva. O que fora destruído já era o seu reserva na verdade. Havia usado um extra de Cassian em alguns momentos, mas era muito grande para ela e dificultava algumas tarefas.

                A porta do quarto se abriu de repente e por instinto Jyn levou a mão ao blaster preso em sua coxa, mas era apenas Cassian. Tinha que ser, apenas os dois conseguiam abrir a porta, e depois que haviam se casado, Kay só entrara sem chamar uma vez por ainda não estar acostumado às novas condições, e Cassian brigou com ele por quase pegá-los numa situação delicada.

                Jyn respirou aliviada, o viu fechar a porta e vir até ela com uma mão em suas costas. A outra mão de Cassian segurou a sua carinhosamente e a levou aos lábios. Depois lhe deu um selinho.

                - Por que está me mimando tanto desde ontem? – Ela perguntou num tom divertido antes de deixá-lo falar.

                - Mimar minha esposa é um dos meus afazeres favoritos – ele respondeu sorrindo – E você não achou que eu ia esquecer...

                - Esquecer exatamente o que?

                Ele lhe mostrou o que estava escondendo. Uma flor. Tão branca que parecia ser azulada. Suas pétalas pontiagudas se abriam como se fosse uma estrela. Jyn tocou as pétalas, tão macias que ela teria certeza que a flor era feita de tecido se já não a tivesse visto nos arredores de Yavin, mas nunca tinha chegado perto para observar. Pontos brilhantes se distribuíam pelas pétalas pálidas e o centro tinha uma cor um pouco rosada, que descoloria gradativamente para o branco azulado, e a imagem da flor parecia abrigar todo o universo.

                - Feliz aniversário, Jyn – Cassian falou amorosamente.

                Jyn queria dizer alguma coisa, mas sua atenção estava presa nos olhos castanhos dele. Sentiu as mãos de Cassiam se unirem com as suas enquanto colocava a flor em suas mãos. Os olhos verdes se encheram de lágrimas e com o presente já seguro em uma das mãos, ela o abraçou. Cassian a segurou ternamente, afagando seus cabelos até se unirem num beijo avassalador. Não muito rápido, mas não muito devagar. Ardente, mas cheio de carinho e cuidado.

                - Jyn... – Cassia riu quando se separaram muito tempo depois, ainda abraçados – Assim você vai me matar antes de eu te falar sobre a flor.

                A rebelde riu, livre e solta como uma criança, como Cassian a ouvira fazer apenas quando soubera que a Estrela da Morte tinha sido destruída e quando ele a pediu em casamento ao deixarem o centro médico depois de Scarif, quando finalmente ambos perceberam que ainda havia espaço no meio daquela guerra para que fossem felizes.

                - Eu te amo – ela beijou seu rosto demoradamente e trocaram mais um sorriso.

                - Essa flor – ele começou – Nós chamamos de Stardust, acho que não preciso dizer porque. Ela cresce em muito poucos lugares, e um deles é Yavin 4. Ela me faz lembrar de você, minha Estrelinha.

                Jyn ficou muda outra vez. Não sabia reagir diante de tanto amor, nem daquele olhar. Então o abraçou, concentrando-se nos batimentos do coração dele e nos afagos das mãos fortes em suas costas.

                - Faz tanto tempo que ninguém sequer sabe sobre esse dia que um tempo depois que Saw me deixou, achei que mesmo eu ia esquecer.

                Dessa vez foi Cassian que não soube o que falar, aquilo era muito triste. Uma de suas mãos se moveu para acariciar o topo da cabeça dela, e decidiu dizer apenas o que estava em seu coração naquele momento.

                - Isso nunca mais vai acontecer. Agora você tem a mim, e eu te amo mais do que tudo, Jyn.

                Sentiu os lábios dela pressionados bem em cima de seu coração, e a olhou. Os olhos verdes estavam fechados e ela apoiou o rosto nele outra vez.

                - Obrigada, Cass.

                Cassian sorriu notando a felicidade em sua voz suave, e beijou os cabelos claros.

                - É meu primeiro aniversário desde Scarif. Ainda não tínhamos falado disso. Como sabia?

                - Sou da Inteligência, querida. É meu trabalho descobrir coisas – ele sorriu.

                - Quando é o seu? Não me diga que já passou. E não me diga que eu já estava com você...

                Ele riu.

                - Ei... Você não está atrasada, ainda tem dois meses até lá.

                A rebelde sorriu contra sua camisa e ele se lembrou de algo.

                - Jyn, tem outra coisa – falou, a fazendo olhar para ele.

                - O que?

                Quando se afastaram Jyn pegou um copo e o encheu com água para deixar a flor em cima da mesa. Antes que se virasse para ver o que Cassian fazia, o sentiu segurar suas mãos por trás e vesti-la com alguma coisa. Depois ele a virou delicadamente para ele, arrumando a roupa em seus ombros. Jyn olhou confusa para o que ele havia colocado nela, um novo colete de utilidades, do tamanho perfeito para ela.

                - Você gostou? Há dois, o reserva está guardado junto com suas roupas no armário.

                - Cass... – ela sorriu sem palavras pela terceira vez em menos de uma hora – Como consegue fazer isso?

                - Isso o que?

                - É o único que consegue me deixar sem palavras em muitos anos e três vezes em um único dia. É perfeito – sorriu novamente para ele, se referindo ao presente – Obrigada, meu capitão – falou o beijando.

                Riram juntos por pura alegria, se abraçando e girando pelo quarto como se fossem duas crianças. Então Cassian a ergueu e a levou na direção da porta, ainda ouvindo-a rir, e a colocando no chão para abrir a porta.

                - Aonde vamos?

                - Eu não sou a única pessoa que quer comemorar com você hoje – ele sorriu.

                Quando saíram do quarto Cassian a puxou pela mão até chegarem à ala de alimentação da base, que devia estar vazia àquela hora. Mas Jyn ficou surpresa ao encontrar o restante da tripulação dos Rogue One, Han, Leia, Luke, Chewie e até mesmo Mon Mothma reunidos em torno de uma mesa com comida e bebida, incluindo leite de bantha, algo que nem sempre era visto na base. Todos a saudaram quando ela chegou com Cassian, e a rebelde não pode evitar um enorme sorriso. A líder da Aliança se aproximou do casal e sorriu para ela, lhe dando um forte abraço em seguida.

                - Eu não posso ficar, muito trabalho a fazer sempre. Vocês têm dias de folga após a missão e não faz mal um pouco de alegria no meio de tudo isso. Você merece, Jyn. E eu tenho certeza que de algum lugar entre as estrelas, há outras pessoas sorrindo por sua felicidade hoje. Então aproveite seu dia. Que a força esteja com você – Mon Mothma falou e sorriu para os dois antes de se afastar e desaparecer.

                - Vamos, querida – um sorridente e empolgado Cassian puxou a Jyn mais feliz que eles já haviam visto na direção da mesa.